quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

CARTA DA CONFAMIL


Senhores Presidentes dos Clubes Naval, Militar e da Aeronáutica.
Antes de ler a carta, vejam o filme abaixo:
(Assista o filme e reflita o perigo de uma mente e atitude manipuladora)
A Onda - completo - (The Wave 1981) Um filme, várias reflexões
A Confederação Nacional da Família Militar – CONFAMIL, que congrega 5,2 milhões de inativos das FFAA em suas entidades que compõem o Sistema CONFAMIL, não poderia ficar alheia aos últimos acontecimentos colocados a público através da mídia, especialmente a escrita, com relação aos desdobramentos consequentes do Manifesto feito por Vossas Senhorias.
É realmente estarrecedora a reação oficial, principalmente partindo daqueles que respondem por cada uma de nossas Forças. O curioso em tudo isso é que não encontramos nenhum suporte jurídico para qualquer tipo de ingerência sobre entidades associativas como é o caso dos clubes e de todas as nossas entidades, e isso foi feito com a maior desfaçatez. 
Causou-nos especial estranheza a reação ameaçadora feita abertamente contra o Manifesto, e contra os militares da reserva. Tenho a impressão de que o passado realmente não passou e as mágoas e frustrações serão perenes, façam o que fizerem. O que não devia ser esperado eram as aleivosias daqueles responsáveis pela condução de nossas FFAA; da parte da Comandante Suprema não se poderia esperar outra coisa, pois sempre foi uma estranha no ninho sagrado que acolhe a nós militares; mas do restante da cadeia de direção das Forças é verdadeiramente uma péssima surpresa, pois se não são coniventes, são omissos e até mesmo indiferentes para com a chamada reserva.
Mais uma vez ficou patente o descompromisso dos militares em atividade para com o passado que grande maioria dos inativos vivenciou. Sempre soube que ao vestirmos os nossos uniformes era como se fosse colocado no corpo de cada um, um passado de lutas e glórias que construíram as nossas instituições militares. Parece que esse sentimento ficou relegado ao plano das conveniências, e tudo se passa como se a farda fosse apenas uma simples modalidade de uma vestimenta diferente. Digo todas essas coisas aos senhores para mostrar que a Família Militar não está alheia ao sacrifício que fizeram em insurgir-se contra comportamentos surpreendentemente equivocados, motivado por sentimentos inconfessáveis que trazem a ideia de uma relação com crianças rebeldes que precisam ser advertidas.
Senhores Presidentes - Em passado não muito distante, a CONFAMIL propôs a constituição de um colegiado para enfrentar situações como a do presente. Lamentavelmente isso não ocorreu, e os senhores ficaram sós numa atitude de ousadia que, face ao status quo vigente não teria desfecho diferente. Somos entidades associativas, e como tal, isentas de qualquer tipo de ingerência, a não ser que já tenhamos assumido a postura definitiva de uma autocracia, que rasga os textos legais, e nos trazem a convicção de estarmos vivendo uma interminável hipocrisia. É preciso que os nossos dirigentes se lembrem de que o texto constitucional é para ser cumprido por todos, indistintamente, o que significa desqualificar o uso de um reajuste salarial como objeto de barganha; isso é próprio de pelegos. 
A CONFAMIL, no uso da sua prerrogativa legal como entidade associativa, repudia, com veemência, todas as ações praticadas contra os clubes militares e particularmente, com os militares da reserva. Os senhores militares da ativa precisam estar conscientes de que, se tiverem sorte e saúde, um dia estarão incorporados a esta reserva que hoje rejeitam como um ser abjeto que só lhe causam transtornos em suas ambições. O tempo será o grande juiz que os julgará pelos atos praticados no presente de suas vidas. Sempre tenho dito e mais uma vez vou repetir: os militares da reserva estão inativos, mas não estão mortos. E enquanto houver um sopro de vida em cada um de nós, estaremos prontos a defender os superiores interesses da democracia do nosso País. Façamos nossas as palavras de Tamandaré:
"SUSTENTAR O FOGO
QUE A VITÓRIA É NOSSA". Ad Sumus.
Waldemar da Mouta Campello Filho - Capitão-de-Mar-e-Guerra
Presidente da CONFAMIL - Coordenador do Sistema CONFAMIL
Fonte: UPEC

EXEMPLO D'ALÉM MAR


Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 28 de fevereiro de 2012.

Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte, não haverá discriminação, privilégios ou compadrio. A partir da minha posse, serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política. (Dilma Roussef)

Manifesto Interclubes Militares, Rio de Janeiro, 16.02.2012.

(...) Na quarta-feira, 8 de fevereiro, a Ministra da Secretaria de Direitos Humanos concedeu uma entrevista à repórter Júnia Gama, publicada no dia imediato no jornal Correio Braziliense, na qual mais uma vez asseverava a possibilidade de as partes que se considerassem ofendidas por fatos ocorridos nos governos militares pudessem ingressar com ações na justiça, buscando a responsabilização criminal de agentes repressores, à semelhança ao que ocorre em países vizinhos. Mais uma vez esta autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF, instado a opinar sobre a validade da Lei da Anistia. E, a Presidente não veio a público para contradizer a subordinada.
Dois dias depois tomou posse como Ministra da Secretaria de Política para as Mulheres a Sra. Eleonora Menicucci. Em seu discurso a Ministra, em presença da Presidente, teceu críticas exarcebadas aos governos militares e, se auto-elogiando, ressaltou o fato de ter lutado pela democracia (sic), ao mesmo tempo em que homenageava os companheiros que tombaram na refrega. A platéia aplaudiu a fala, incluindo a Sra. Presidente. Ora, todos sabemos que o grupo ao qual pertenceu a Sra. Eleonora conduziu suas ações no sentido de implantar, pela força, uma ditadura, nunca tendo pretendido a democracia.
Para finalizar a semana, o Partido dos Trabalhadores, ao qual a Presidente pertence, celebrou os seus 32 anos de criação. Na ocasião foram divulgadas as Resoluções Políticas tomadas pelo Partido. Foi dado realce ao item que diz que o PT estará empenhado junto com a sociedade no resgate de nossa memória da luta pela democracia (sic) durante o período da ditadura militar. Pode-se afirmar que a assertiva é uma falácia, posto que quando de sua criação o governo já promovera a abertura política, incluindo a possibilidade de fundação de outros partidos políticos, encerrando o bi-partidarismo.
Os Clubes Militares expressam a preocupação com as manifestações de auxiliares da Presidente sem que ela, como a mandatária maior da nação, venha a público expressar desacordo com a posição assumida por eles e pelo partido ao qual é filiada e aguardam com expectativa positiva a postura de Presidente de todos os brasileiros e não de minorias sectárias ou de partidos políticos.

Retirada do Manifesto Interclubes Militares

Essa nota foi publicada intespentivamente e sem autorização. Houve precipitação...
(V. Alte Ricardo Antonio da Veiga Cabral - Presidente do Clube Naval)

Os Presidentes dos Clubes Militares, pressionados pela Presidenta, foram forçados a publicar uma nota desautorizando o texto do “Manifesto Interclubes”. O Palácio do Planalto é que agiu “intempestivamente” já que se vivêssemos, realmente, em um estado democrático de direito o direito de expressão deveria ter sido respeitado. A lei nº 7524 / 86, de 17 de julho de 1986, ainda em vigor, dá direito ao militar inativo de “opinar sobre assunto político e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público”. O Palácio do Planalto demonstrou à nação brasileira, que além não ser capaz de aceitar críticas à sua gestão, desconhece as leis de seu país e, sobretudo, que a “sua democracia” está muito mais próxima de um regime totalitário.

Lei 7524/86 de 17 de julho de 1986

Dispõe sobre a manifestação, por militar inativo, de pensamento e opinião políticos ou filosóficos

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art 1°  Respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público.
Parágrafo único. A faculdade assegurada neste artigo não se aplica aos assuntos de natureza militar de caráter sigiloso e independe de filiação político-partidária. (...)


Carta do TGen Eduardo Eugénio Silvestre dos Santos, 15.02.2012

Como no Brasil tudo o que está ruim pode ficar ainda pior, vamos ter que aturar o embaixador Amorim, que por longos 8 anos deslustrou o Itamaraty e comprometeu a nossa tradicional e competente diplomacia. Sem afinidade com as Forças, alheio aos seus problemas e necessidades mais prementes, com notória orientação esquerdista, só o tempo dirá se a sua indicação valeu a pena.
No fundo, creio mesmo que só ao Senhor dos Exércitos caberá cuidar das nossas Forças Armadas. (General-de-Exército Luiz Gonzaga Shroeder Lessa)
O Tenente-general Silvestre dos Santos (foto ao lado), na Reserva desde dezembro de 2002, concluiu o curso de Aeronáutica da Academia Militar em 1964, fez parte da Comissão de Serviço em Moçambique (TETE, 1969/71), foi 2º Comandante do Comando Aéreo dos Açores, Chefe da 4ª Divisão do EMFA e Comandante da Base Aérea n° 1. Como Oficial General, foi Chefe de Estado-Maior do Centro de Operações Conjunto do EMGFA, Inspetor-Geral da Força Aérea e Juiz Vogal do Supremo Tribunal Militar. Completou 3.300 horas de vôo.
A ideia da criação do Ministério da Defesa, dadas as circunstâncias sob as quais vicejou em nosso País, é, por si mesma, o triunfo dos “políticos” – quando não somente a submissão irrefletida aos ditames supranacionais – e impôs-se em processo que, por si mesmo, desmoralizou as FFAA, desmoralizando e, por fim, extinguindo o EMFA em suas funções, e liquidando a ideia de uma Política do Estado ao implodir os Ministérios Militares.
(Vânia L. Cintra)

A carta do Tenente-general português nos remete a uma antiga indagação: estarão nossas autoridades civis, tão apegadas a ranços ideológicos, capacitadas a tratar dos complexos e especializados assuntos inerentes às Forças Armadas Brasileiras?
Ex.° Sr. General Chefe do Gabinete de S. Ex.ª o Ministro da Defesa Nacional, Caro camarada:
Apresento a V. Ex.ª os meus cumprimentos.
Ministro da Defesa
Aguiar Branco
Tomo a liberdade de me dirigir a V. Ex.ª para lhe solicitar que transmita a S. Ex.ª o Sr. Ministro a minha indignação relativamente à forma pouco respeitosa e mesmo insultuosa como se referiu às Forças Armadas, aos militares e às suas Associações representativas, no passado dia 1 de Fevereiro. De todos os governantes, o Ministro da tutela era o último que deveria proferir palavras dessa estirpe.
Sou Tenente-General Piloto-Aviador na situação de Reforma, cumpri 41 anos de serviço efectivo e possuo três medalhas de Serviços Distintos (uma delas com palma), duas medalhas de Mérito Militar (1.ª e 2.ª classe) e a medalha de ouro de Comportamento Exemplar. Servi o meu País o melhor que pude e soube, com lealdade e com vocação, sentimentos que S. Ex.ª não hesita em por levianamente em causa. Presentemente, faço parte com muito orgulho, do Conselho Deontológico da Associação de Oficiais das Forças Armadas.
Diz o Sr. Ministro que “a solução está em todos nós. Em cada um de nós”. Não é verdade! A solução está única e exclusivamente na substituição da classe política incompetente que nos tem governado (?) nos últimos 25 anos, e que nos tem levado, de vitória em vitória, até à derrota final! Os comuns cidadãos deste País, nomeadamente os militares, não têm qualquer responsabilidade neste descalabro. Como disse o Sr. Coronel Vasco Lourenço no seu livro, “os militares de Abril fizeram uma coisa muito bonita, mas os políticos encarregaram-se de a estragar…”
Diz também S. Ex.ª que as Forças Armadas estão a ser repensadas e reorganizadas. Ora, se existe algo que num País não pode ser repensado nem modificado quando dá jeito ou à mercê de conjunturas desfavoráveis, são as Forças Armadas, porque serão elas, as mesmas que a classe política vem sistematicamente vilipendiando e ultrajando, a única e última Instituição que defenderá o Estado da desintegração.
Fala o Sr. Ministro de algum descontentamento protagonizado por parte de alguns movimentos associativos. Se S. Ex.ª está convencido que o descontentamento de que fala se limita a “alguns movimentos associativos”, está a cometer um erro de análise muito sério e perigoso, e demonstra o desconhecimento completo do sentir dos homens e mulheres de que é o responsável político. Este descontentamento, que é geral, não tenha dúvida, tem vindo a ser gerado pela incompetência, sobranceria, despudor e, até, ilegalidade com que sucessivos governos têm vindo a tratar as Forças Armadas. É a reacção mais que natural de décadas de desconsiderações e de desprezo por quem (é importante relembrar isto) vos deu de mão beijada a possibilidade de governar este País democraticamente!
As Forças Armadas não querem fazer política! Não queiram os políticos, principalmente os mais responsáveis, “ensinar” aos militares o que é vocação, lealdade, verticalidade e sentido do dever. Mesmo que queiram, não podem fazê-lo, porque não possuem nem a estatura nem o exemplo necessários para tal.
Quem tem vindo a tentar sistematicamente destruir a vocação e os pilares das Forças Armadas, como o Regulamento de Disciplina Militar, destroçado e adulterado pelo governo anterior? Quem elaborou as leis do Associativismo Militar, para depois não hesitar em ir contra o que lá se estabelece? Quem tem vindo a fazer o “impossível” para transformar os militares em meros funcionários do Estado? Apesar disso, tem alguma missão, qualquer que ela seja, ficado por cumprir? Fala S. Ex.ª de falta de vocação baseado em que factos? Não aceita S. Ex.ª o “delito de opinião”?
Não são seguramente os militares que estão no sítio errado! Por tudo o que atrás deixei escrito, sinto-me profundamente ofendido pelas palavras do Sr. Ministro.

Com respeitosos cumprimentos de camaradagem
Eduardo Eugénio Silvestre dos Santos - TGen Piloto-Aviador
P.S. – Informo V. Ex.ª que tenho a intenção de tornar público este texto.

Livro

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Vice- Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

MAIS UMA INDÚSTRIA DE INSPEÇÃO


Por Luiz Antonio Domingues

Vimos recentemente desastres no Rio de Janeiro e São Bernardo do Campo/SP, onde a opinião pública ficou realmente apreensiva sobre o perigo de edificações em péssimo estado de conservação, simplesmente desabarem, ceifando vidas, destruindo patrimônios particulares etc.
Isso sem contar os desabamentos provocados pelas chuvas de verão, que geralmente castigam diversas cidades brasileiras, não importando seu porte.
Não resta dúvida de que o poder público tem que esmerar-se em seus cuidados no tocante às vistorias, liberação de "habite-se", e laudo do Corpo de Bombeiros, com minuciosa inspeção por parte de engenheiros e arquitetos.
O que é inconcebível é a medida adotada pelo atual prefeito de São Paulo, propondo Lei que obriga inspeção a cada cinco anos, com custos elevadíssimos na conta dos proprietários, como se o poder público não tivesse nada a ver com isso e dessa maneira, como se não arrecadasse impostos altíssimos, onde uma das atribuições seria manter a máquina pública de vistoria gratuita, como contrapartida dos impostos cobrados no caríssimo IPTU.
E como se não bastasse, alguns vereadores acenam com a vontade de diminuírem o prazo para dois anos, demagogicamente se fazendo de preocupados com a sociedade, mas certamente animados com o lucro advindo dessa nova indústria que querem criar.
Fala-se numa conta grosseira por estimativa, que chegaria até a R$ 15.000,00 uma inspeção dessas. Multiplique pelo número de edificações que existem na cidade de São Paulo e certamente a dinheirama arrecadada causaria inveja ao Tio Patinhas.
Nada contra a obrigatoriedade dessa inspeção periódica. Pelo contrário, é uma medida salutar, mas assim como em relação à inspeção veicular, onde antipaticamente a prefeitura cobra uma taxa salgada e indevida (já não basta o IPVA, licenciamento, seguro obrigatório e todos os outros impostos embutidos em cada componente do veículo, incluso o combustível?), mais uma vez a atual administração municipal de São Paulo, opta por cobrar por um serviço que já foi muito bem pago nos altos impostos que o cidadão desembolsa todo ano.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

NOSSA INFINDA AUTOCRACIA SINDICAL



Por Fernando Alves de Oliveira

Em junho de 1948, após a derrubada do Estado Novo do ditador Getúlio Vargas e a redemocratização do País, e já na presidência do general Eurico Gaspar Dutra, o Brasil foi um dos signatários da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Assinada, mas não ratificada até os dias atuais. Por quê?
Como importantes referências históricas, vale recordar que Dutra liderou o movimento de novembro de 1945 que destituiu o caudilho Vargas do poder. Em setembro de 1946 viria ser promulgada a quinta Constituição Federativa. Restabelecido o regime democrático, Dutra foi eleito em dezembro do mesmo ano como novo presidente da República. Após cassar o Partido Comunista e romper relações diplomáticas com a União Soviética, Dutra foi o responsável pela criação do Serviço Social da Indústria (SESC) e Serviço Social do Comércio (SENAC) e de valer-se do Decreto-lei 9070/46 para a regulação do direito de greve em atividades essenciais, além de outros importantes feitos para a época, no âmbito interno e externo.
Estava claro que o sindicalismo intervencionista do Estado autoritário, baseado na “Carta Del Lavoro” de Benito Mussolini, não era o modelo ideal para o Brasil da época, que começava a sair da fase eminentemente colonial e engatinhava para os avanços do parque industrial. Ademais, o País sofria as agruras econômicas advindas de um mundo saído de uma segunda guerra mundial. Os mais perspicazes já enxergavam ali o embrião da globalização.
Então, por qual razão a Convenção 87 da OIT não foi ratificada e sempre postergada?
Ocorre que desde a promulgação da legislação sindical no glorioso primeiro de maio de 1943, concebida com sua irmã gêmea, a Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei 5.452, de Vargas) os responsáveis pelo sistema sindical brasileiro insistiram em trilhar pela bitola estreita da unicidade, que veda a existência de mais de uma categoria (laboral ou econômica) em dada base territorial, além, é claro, na plácida sustentação financeira da contribuição sindical obrigatória. Como tal, garantidas a exclusividade da representação e da arrecadação compulsória, trabalhar ou não em prol da categoria laboral ou patronal representada jamais passou de mera opção de escolha.
Ora, partindo da premissa de que a Convenção 87 proclama, dentre outros tantos fundamentos de igual ou ainda maior importância “da necessidade de melhorar as condições de trabalho e a afirmação do princípio da liberdade da associação sindical”, aliadas “à liberdade de expressão e de associação, como valores basilares para o progresso constante”, tornou-se profundamente estranhável (para não dizer vergonhoso) que o Brasil nunca tivesse optado por sua formal validação. Em verdade, nosso Parlamento –onde tal documento jaz há 65 anos- nos dias atuais nem teria mais condições formais de ratificá-lo, ante o preceito constitucional capitulado no artigo 8º da Constituição Federal promulgada em outubro de 1988, que consagrou a representação sindical fincado na unicidade e manutenção da contribuição compulsória. Ter-se-ia de mudar essa prescrição constitucional. O que é impensável.
Claro está que os Constituintes liderados pelo finado Ulysses Guimarães foram anfibológicos e incongruentes. Utilizaram-se do enganoso expediente formal de desatrelar o Estado do movimento sindical, mas mantiveram não só a unidade como a contribuição obrigatória (que possibilitaria que o mesmo Estado persistisse participando do rateio do bolo sindical e embolsando 20% do seu total). Conclusão: o Estado segue dando as cartas e jogando de mão na constituição dos sindicatos. Primeiro através de sucessivas Instruções Normativas, como a inicial que criou o “Cadastro Nacional das Entidades de Sindicatos”, afora outras que se sucederam, desaguando na Portaria 186/08 que regula o registro sindical. Em verdade, uma concessão oficial maquiada da antiga “carta sindical”...
Assim sendo, Executivo e Legislativo são tutores do corporativismo representado pelos interesses dos pelegos que infestam o sindicalismo nacional, e que em troca de apoio político-eleitoral, são credores do Estado da dádiva do dinheiro fácil, oriundo da contribuição sindical compulsória sustentadora de sinecuras, balcões de negócios e meio de vida. E para ficar muito bem explicitado: não só de dirigentes de entidades de empregados, como também de patrões.
Aliás, a não ratificação da citada Convenção 87 ou edição de ampla e saneadora reforma sindical derivam, ambas, da velha e surrada ausência de vontade política do Legislativo e do Executivo. Neste tema, o  honroso e tão decantado jargão de um Brasil globalizado e líder absoluto dos emergentes, que tanto orgulha o povo brasileiro, possui pouco ou nenhum valor. Para os donos do Poder, mais vale o atraso sindical de sete décadas. Afinal, se sindicalismo propositivo, de vanguarda, é prioridade nacional, ela é a menos importante do elenco das mais importantes. Então, para que correr o risco de mudar o que rende votos nas urnas, que, afinal de contas é o que vale a governos ávidos de perenidade de poder?
Já provei, em meus livros e em artigos anteriores, que o único governante que rivalizou com o Congresso pela extinção da contribuição sindical foi Fernando Collor de Mello. Baldados seus esforços. Foi derrotado por ele em duas oportunidades. E de goleada!
Dos contemporâneos, Fernando Henrique Cardoso, entrou e saiu mudo na questão sindical. Já seu sucessor, vindo do meio, discursou, escreveu e assinou aquilo que seria a redenção institucional, moral e ética do sindicalismo. Ledo engano. Logrou todas as expectativas, manchando sua biografia. Sua preocupação foi com o oposto, beneficiando exclusivamente os sindicalistas, seus ex-colegas. Foi solícito em ampliar a reserva de mercado onde os sindicalistas ganham a vida e sobem degraus da escada política. Prova disso? Quase 50% dos cargos públicos e das estatais estão ocupados pela casta.
Ora, a verdadeira liberdade sindical é a representada no direito de trabalhadores e empregadores se organizarem e se constituírem sem o arbítrio do Estado, tendo como manutenção econômica uma contribuição de cunho espontâneo. Como o estatuído na Convenção 87 da OIT.
E como se prova ao longo de décadas passadas e no presente quanto à total aversão pela pluralidade sindical, também é evidente o desinteresse em abdicar da contribuição impositiva em favor das de caráter voluntário. Destarte, prevalece zero de interesse em ratificar a tal Convenção, bem como levar a cabo uma reforma sindical que tire o Brasil do malsinado atraso, que envergonha os componentes da vanguarda sindical, que lutam com denodo por transformações profiláticas e que devolvam dignidade, ética e transparência ao sistema prevalecente, regido pelo defasado e caduco modelo varguista.
Até um tempo não muito distante, a CUT, braço direito do PT, recomendava de boca cheia aos sindicatos a ela filiados para que devolvessem o dinheiro recolhido da contribuição obrigatória aos contribuintes das entidades. Como no PT o discurso costuma ser o antônimo da prática, deveria ser ela, a CUT, a primeira a dar o bom exemplo, restituindo ao ministério do Trabalho e Emprego os milhões de reais que tanto ela como as demais centrais colegas recebem desde 2008, por nímia generosidade de Lula, proveniente do rateio do bolo sindical. E o que é mais grave: sem qualquer fiscalização do Tribunal de Contas da União...
Aliás, os dirigentes de todas essas centrais também deveriam explicar não só aos trabalhadores a elas filiados, mas à sociedade brasileira, quais são os reais valores institucionais e de representação sindical de suas confederações e federações (que identicamente recebem 5% e 15%, respectivamente, do idêntico bolo sindical). Afinal, quais são, na realidade, as funções institucionais dessas federações e confederações depois do advento das centrais? Como tal, quais as justificativas merecedoras da continuidade da percepção desses obesos aportes?
E em termos de política sindical, o próprio ministério do Trabalho e Emprego virou um mero carimbo. Depois da saída de Carlos Lupi (outro defenestrado com rótulo de quem saiu, como todos os demais, “a pedido”) está sendo dirigido por um burocrata de carreira. Pelo mesmo secretário-executivo, subalterno de Lupi, que, por sua vez, ainda arvora a si o direito de participar do processo de escolha de seu sucessor, cujos critérios, naturalmente, estão longe de ser os qualificativos de mérito e competência e sim os dos conhecidos critérios de divisão do latifúndio político, tão a gosto do partido que, no passado, era histriônica e visceralmente contrário a isso tudo que hoje, no Poder, pratica com tanta desenvoltura...
Por fim, a indagação é extremamente recorrente: De qual setor de atividade são originários muitos dos partícipes do governo, instalado há 10 anos e umbilicalmente metidos no mais escabroso período da vida republicana deste País em matéria de corrupção e de seguidos escândalos?
É este o quadro do nosso autocrático e senil regime sindical. Quando e quem se habilitará a reformá-lo?

Fernando Alves de Oliveira-Consultor sindical patronal, autônomo e independente, autor dos livros O sindicalismo brasileiro clama por socorro, e S.O.S.SINDICALpt, editados pela LTr e de palestra direcionada, além de dezenas de  artigos sob o tema sindical. 
 (“Por um sindicalismo patronal melhor”).