Capa do panfleto que exalta as realizações de Lula e Dilma traz os
requisitos estéticos do realismo socialista, adotado na então União Soviética
na década de 1930
Ricardo Galhardo , iG São Paulo
O PT, por meio do publicitário João Santana,
recorreu ao estilo conhecido como realismo socialista, a estética artística
oficial adotada pela União Soviética do ditador Joseph Stalin, no material de
divulgação do ato que celebra os 10 anos do partido à frente do governo
federal. O mesmo material traz uma frase do ex-presidente dos EUA Abraham
Lincoln.
Festa de 33 anos: PT usa 10 anos no governo para consolidar base aliada
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Reprodução Material de divulgação do ato que celebra os 10 anos do PT à frente do governo federalperfumes importados |
A capa do panfleto com o texto principal do evento
é composta por um desenho com os rostos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e da presidenta Dilma Rousseff em tamanho maior, fundidos como se fossem um só. Ao
fundo uma bandeira do Brasil ladeada por um conjunto de casas populares, à
direita, e uma grande cidade à esquerda. Em primeiro plano, aparecem em tamanho
menor, abaixo das imagens de Lula e Dilma, uma família pobre, um grupo de
militantes do PT com camisas e bandeiras vermelhas e um trabalhador vestindo
uniforme e capacete. O desenho atende todos os requisitos estéticos do realismo
socialista, segundo definições acadêmicas. Lula e Dilma surgem em imagens
idealizadas como heróis nacionais coroados pela bandeira do Brasil. A família
pobre, o trabalhador e os militantes petistas são apresentados também de forma
idealizada, sorridentes e fisicamente vigorosos, numa representação de força e saúde.
Segundo fontes petistas, a família significa projetos sociais como o Bolsa
Família e o conjunto de casas populares representa o programa Minha Casa Minha
Vida. O realismo socialista foi adotado oficialmente pela União Soviética na
década de 1930 como padrão estético para artes visuais, teatro e literatura e
vigorou até meados da década de 1960. Seu principal objetivo era propagandear
os feitos e personagens do governo. Leia também: Dilma exalta sucesso do Bolsa
Família e ataca 'correntes conservadoras' 2014: Para socialistas, candidatura
de Campos dependerá de desempenho de Dilma O conceito de uma arte “proletária e
progressista realista na forma e socialista no conteúdo” foi elaborado por
Andrej Zdanov, braço direito de Stalin para assuntos de cultura. A ideia
fundamental era passar mensagens claras e simples. O padrão gráfico, também
usado no panfleto do PT, pressupunha letras grandes e textos curtos para
facilitar a compreensão do povo, na maior parte semianalfabeto. Artisticamente,
o realismo socialista suplantou o movimento chamado Vanguarda Russa,
responsável por grande parte do material de propaganda oficial nos primeiros
anos do regime comunista, e foi alvo de críticas de importantes artistas
comunistas como o pintor espanhol Pablo Picasso.
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Reprodução Exemplo de pôster de propaganda da antiga União Soviética sob o comando de Joseph Stalin (1951)perfumes importados |
Com a intensificação da polarização política e o
início da Guerra Fria, o realismo socialista foi exportado para os países
comunistas do Leste Europeu, China, Oriente Médio e passou a ser associado a
regimes autoritários nacionalistas ou de esquerda. No livro "A Revolução
Traída", Leon Trotski classifica o realismo socialista como "uma
espécie de campo de concentração das letras". "A arte da época
stalinista entrará na história como a expressão mais espetacular do profundo
declínio da revolução proletária", disse Trotski, então exilado no México
fugido da ditadura stalinista. O poeta surrealista francês Andre Breton, também
comunista, escreveu em 1937, sobre o realismo socialista, que considerava
"errônea a concepção do realismo socialista que pretende impor ao artista,
excluindo-se qualquer outra, a pintura da miséria proletária". A vertente
comunista conhecida como stalinismo, marcada pelo centralismo decisório, é o
berço ideológico e político de várias lideranças petistas mas foi abandonada
nos anos 1980, quando o PT surgiu com o objetivo de implantar no Brasil um
modelo socialista com amplo respeito à democracia. O contraponto à estética do
realismo socialista é a frase “do povo, pelo povo, para o povo”, que também
aparece na capa do panfleto petista. O trecho foi extraído do célebre Discurso
de Gettysburg, feito por Abraham Lincoln em 1863, no final da Guerra da
Secessão, considerado até hoje uma das mais concisas definições da democracia
moderna. “A democracia é o governo do povo, pelo povo, para o povo”. Segundo o
PT, o material foi elaborado pelo publicitário João Santana. Pessoas próximas
ao núcleo dirigente do PT notaram que Santana já havia usado estética
semelhante em algumas peças da campanha de Fernando Haddad para a prefeitura de
São Paulo, no ano passado. Santana não foi encontrado para comentar o assunto.
(do Blogdo Beto)
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