Do blog O Possível e o Extraordinário
por Wagner Moura
As preclaras virtudes que adornam Tua pessoa e as brilhantes demonstrações de singular dedicação que Nos deste a Nós e a esta Sé Apostólica, pareceu-Nos mereceriam sem dúvida um testemunho particular e insigne de Nosso Apreço e paternal afeto para contigo – Papa Leão XIII em carta à Princesa Isabel, cujo pedido de beatificação foi aceito pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, no mês passado.
Como beatificar alguém que faleceu há 90 anos? Como recolher mostras de suas virtudes? Como registrar, agora, qualquer coisa sobre a fidelidade católica de alguém que não possui mais qualquer testemunha, que conviveu com ela, a seu favor?
Os registros sobre as virtudes da Princesa Isabel, futura Santa Isabel do Brasil – se Deus quiser! -, existem e, apesar de valiosos, por alguma razão não adquiriram, em nosso tempo, tanta repercussão. De todos os registros, vale a pena conhecer o mais importante…
Simplesmente o Papa Leão XIII, contemporâneo da Princesa Isabel, premiou-a com a Rosa de Ouro, por ocasião da abolição da escravatura. Trata-se da primeira homenagem de um Papa a uma brasileira! Trata-se, inclusive, da única homenagem que uma brasileira recebeceu do Sumo Pontífice até hoje.
Mero ato protocolar, simbólico?
A carta de Leão XIII à Princesa Isabel demonstra o contrário. Disponível no Anuário do Museu Imperial, em Petrópolis (RJ), a carta foi preservada por Francisco Leme Lopes, em “Isabel, a Católica”. A princípio não há site brasileiro com o escrito na íntegra.
Arrisco a dizer que você lerá, a seguir, em primeira mão, na internet brasileira, o documento que chegou ao Brasil por intermédio do Cardeal Carlo Nocella.
À muito amada em Cristo Filha Nossa Isabel Princesa imperial Regente do Império do Brasil.
Leão XIII Papa
“À muita amada em Cristo Filha Nossa, Saúde e Benção Apostólica.
As preclaras virtudes que adornam Tua pessoa e as brilhantes demonstrações de singular dedicação que Nos deste a Nós e a esta Sé Apostólica, pareceu-Nos mereceriam sem dúvida um testemunho particular e insigne de Nosso Apreço e paternal afeto para contigo.
Para te apresentarmos, porém esse testemunho, nenhuma oportunidade mais favorável podia dar-se, conforme entendemos, do que a atual. Com efeito, novo esplendor acaba de realçar ainda mais os Teus louvores por ocasião da Lei que aí foi recentemente decretada e por Tua Alteza Imperial sancionada, relativa àqueles que, achando-se nesse Império Brasileiro, sujeitos à condição servil, adquiriram em virtude da mesma lei a dignidade e os direitos de homens livres.
Assim, pois, muito amada em Cristo Filha Nossa, Nós te enviamos de mimo a Rosa de Ouro que, ao pé do altar, consagramos com a prece apostólica e os demais ritos sagrados, consoante a usança antiga de Nossos Predecessores.
Por esta razão investimos do caráter de Nosso Delegado apostólico ao amado Filho Francisco Spolverini, Nosso Prelado Doméstico e Protonotário Apostólico, que exerce as funções de Internúncio e de Enviado extraordinário Nosso e desta Santa Sé, junto ao muito amado em Cristo Filho Nosso Pedro II Imperador do Brasil, e na ausência dele junto à Tua Alteza Imperial, com o fim de levar-Te a referida Rosa e de exercer o honrosíssimo ministério de fazer-Te a tradição dela, observando as sagradas cerimônias do estilo.
Nesse mimo, porém, que Te ofertamos, é desejo Nosso que Tua Alteza Imperial não olhe para o preço do objeto e seu valor, mas atenda aos mais sagrados mistérios por ele significados. Assim é que nessa flor e no esplendor do ouro se manifesta Jesus Cristo e sua suprema Majestade. É Ele que se denomina a flor do campo e o lírio dos vales. Na fragrância da mesma flor se exibe um símbolo do bom odor de Cristo, que ao longe rescendem todos os que cuidadosamente imitam as suas virtudes.
Daí é impossível que o aspecto deste mimo não inflame cada vez mais o Teu zelo em respeitar a religião e em trilhar a vereda árdua, sim, mas esplêndida da virtude.
No entanto, implorando toda a sorte de prosperidades e venturas para Ti, e todo o Império Brasileiro, muito afetuosamente no Senhor outorgamos a Benção Apostólica a Ti, muito amada em Cristo Filha Nossa, e à Tua Imperial Família.
Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o anel do Pescador, no dia 29 de maio do ano de 1888, II no Nosso Pontificado.
Cardeal Carlo Nocella.”
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