A gralha e o pavão, s/d-Frans Snyders (Bélgica, 1579-1657) Óleo sobre tela |
Como os
pavões andassem em época de muda, uma gralha teve a ideia de aproveitar as
penas caídas.
– Enfeito-me
com estas penas e viro pavão!
Disse e
fez. Ornamentou-se com as lindas penas de olhos azuis e saiu pavoneando
por ali a fora, rumo ao terreiro das gralhas, na certeza de produzir um
maravilhoso efeito.
Mas o trunfo
lhe saiu às avessas. As gralhas perceberam o embuste, riram-se dela e
enxotaram-na à força de bicadas.
Corrida
assim dali, dirigiu-se ao terreiro dos pavões pensando lá consigo:
– Fui
tola. Desde que tenho penas de pavão, pavão sou e só entre pavões poderei
viver.
Mau
cálculo. No terreiro dos pavões coisa igual lhe aconteceu. Os
pavões de verdade reconheceram o pavão de mentira e também a correram de lá sem
dó.
E a pobre
tola, bicada e esfolada, ficou sozinha no mundo. Deixou de ser gralha e
não chegou a ser pavão, conseguindo apenas o ódio de umas e o desprezo de
outros.
Amigos: lé com lé, cré com cré.
Esopo, xilogravura |
Em: Fábulas,
Monteiro Lobato, São Paulo, Editora Brasiliense: sem data, 20ª edição
Esta fábula de
Monteiro Lobato é uma das dezenas de variações feitas através dos séculos das
fábulas de Esopo, escritor grego, que viveu no século VI AC. Suas fábulas foram
reunidas e atribuídas a ele, por Demétrius em 325 AC. Desde então tornaram-se
clássicos da cultura ocidental e muitos escritores como Monteiro Lobato, reescreveram
e ficaram famosos por recriarem estas histórias, o que mostra a universalidade
dos textos, das emoções descritas e da moral neles exemplificada. Entre os mais
famosos escritores que recriaram as Fábulas de Esopo estão Fedro e La Fontaine.
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José Bento Renato
Monteiro Lobato (Taubaté, 18 de abril de 1882 – São Paulo, 4 de julho de 1948)
foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. Foi um
importante editor de livros inéditos e autor de importantes traduções. Seguido
a seu precursor Figueiredo Pimentel ("Contos da Carochinha") da
literatura infantil brasileira, ficou popularmente conhecido pelo conjunto
educativo de sua obra de livros infantis, que constitui aproximadamente a
metade da sua produção literária. A outra metade, consistindo de contos
(geralmente sobre temas brasileiros), artigos, críticas, crônicas, prefácios,
cartas, um livro sobre a importância do petróleo e do ferro, e um único
romance, O Presidente Negro, o qual não alcançou a mesma popularidade que suas
obras para crianças, que entre as mais famosas destacam-se Reinações de
Narizinho (1931), Caçadas de Pedrinho (1933) e O Picapau Amarelo (1939).
Contista, ensaísta e
tradutor, este grande nome da literatura brasileira nasceu na cidade de
Taubaté, interior de São Paulo, no ano de 1882. Formado em Direito, atuou como
promotor público até se tornar fazendeiro, após receber herança deixada pelo
avô. Diante de um novo estilo de vida, Lobato passou a publicar seus primeiros
contos em jornais e revistas, sendo que, posteriormente, reuniu uma série deles
em Urupês, obra prima deste famoso escritor.
Em uma época em que
os livros brasileiros eram editados em Paris ou Lisboa, Monteiro Lobato
tornou-se também editor, passando a editar livros também no Brasil. Com isso,
ele implantou uma série de renovações nos livros didáticos e infantis.
Este notável escritor
é bastante conhecido entre as crianças, pois se dedicou a um estilo de escrita
com linguagem simples onde realidade e fantasia estão lado a lado. Pode-se
dizer que ele foi o precursor da literatura infantil no Brasil.
Suas personagens mais
conhecidas são: Emília, uma boneca de pano com sentimento e ideias
independentes; Pedrinho, personagem que o autor se identifica quando criança;
Visconde de Sabugosa, a sábia espiga de milho que tem atitudes de adulto, Cuca,
vilã que aterroriza a todos do sítio, Saci Pererê e outras personagens que
fazem parte da inesquecível obra: O Sítio do Pica-Pau Amarelo, que até hoje
encanta muitas crianças e adultos. (Origem: Wikipédia,
a enciclopédia livre).
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