Por João Bosco Leal
Na maturidade, após descobrirmos o que é verdadeiro amor, descobrimos também a necessidade de sermos amados.
Tenho observado pessoas maduras, que já descobriram o amor, encontraram a pessoa que amam, mas ainda assim não são totalmente felizes.
Isso me levou a pensar nos motivos pelos quais isso ocorre e na dificuldade da existência de um amor completo para uma pessoa.
Na juventude raramente se ama. Temos atrações e paixões, mas o amor profundo, mesmo quando iniciado com uma paixão, só virá com a maturidade, quando as pessoas passam a entendê-lo de outra maneira.
Esse amor envolve cuidados, atenções, carinhos e preocupações constantes com a felicidade e o bem estar de seu parceiro. Só amamos verdadeiramente uma pessoa quando a queremos ver feliz, mesmo que não seja conosco.
Entretanto, para que esse amor seja completo, tornando feliz também aquele que ama, esse sentimento necessita ser retribuído na mesma proporção que se dá.
Os cuidados para com nosso parceiro necessitam de uma resposta e, portanto, é necessário que ele entenda que, se quer ser cuidado, também precisa cuidar.
O casal só será completamente feliz quando o amor ocorre em mão dupla. Se a dedicação, o cuidado, o carinho e as preocupações só ocorrem de um lado, ele certamente se cansará de só fornecer, sem nada receber.
Os detalhes na convivência diária de um casal poderão transformar a paixão em amor, mas se isso lhe ocorrer e seus cuidados não forem retribuídos na mesma proporção que fornece, provavelmente estará amando quem só sente admiração, paixão, tesão ou qualquer outra coisa, mas não amor por você.
Vejo pessoas que praticamente se anulam, deixam de fazer o que gostam, fazem o que não desejam, ou o que gostam pouco, na tentativa de agradar seu companheiro, mas acabam percebendo que, em situações semelhantes, o mesmo não ocorre no sentido inverso.
É fundamental que quando estamos amando não nos anulemos, pensando exclusivamente no parceiro, sem cuidar de nossa própria felicidade, pois acabaremos sem brilho próprio para sermos amados por nosso par ou por outra pessoa.
A atenção com o outro deve ser equilibrada com aquela dispensada em nossa própria felicidade, pois nem uma grande dedicação ou carinho será suficiente para que nos amem se esse amor não existir.
Só com a maturidade se consegue perceber a profundidade e amplitude do sentimento por nós já confundido com outros que já experimentamos, mas agora conseguimos entender que não era o verdadeiro amor, que só alguns terão a chance de realmente viver.
No verdadeiro amor, as rugas serão admiradas como marcas de experiências vividas e não como traços físicos da idade. As cicatrizes nos lembrarão de histórias vividas, jamais como esteticamente prejudiciais. A barriga, a celulite, a falta ou a cor dos cabelos já não serão tão importantes, como já foram na época em que o amor ainda era uma paixão.
Quando se ama, as pequenas indelicadezas, se ocorrerem, serão desconsideradas, superadas pelas diversas atitudes inesperadas de carinho e afeto demonstradas no dia dia.
No amor, a lembrança do ente querido é uma constante, mas não como nas paixões, quando ocorria aquele desejo louco de estar junto, tocar, apertar, beijar ou até morder. Agora ela é mais tranquila e normalmente é observada em pequenas atitudes, como na aquisição de determinada fruta encontrada no supermercado, que não lhe é muito apetitosa, mas seu parceiro gosta muito.
A maturidade mostra não só o verdadeiro amor, mas a necessidade de reciprocidade nos cuidados, para que seja duradouro.
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