quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

RUMO À FOZ DO RIO MADEIRA

Hiram Reis e Silva, Itacoatiara, AM, 16 de janeiro de 2012.

- Rumo à Fazenda do Sr. José Holanda (16.01.2012)

Resolvi passar a última noite, em Nova Olinda do Norte, nas confortáveis instalações do Palace Hotel. Precisava descansar para enfrentar o último lance que faltava do Rio Madeira e o Porto Hidroviário, onde aportara o Piquiatuba, com sua movimentação constante não permitiria um sono reparador. Havia prometido ao grande Amigo e Mestre José Holanda que chegaria à sua Fazenda, a 78 km de distância, exatamente às onze horas e para isso precisava manter uma média de 13,8 km/h, um ritmo bastante forte para o final dessa 1ª Etapa da 4ª Fase do Projeto Desafiando o Rio-mar.

Acordei às 4h45 e fui direto para o Porto, às 05h30 partimos, eu e o Soldado Marçal Washington Barbosa Santos (Cozinheiro do B/M Piquiatuba), embarcado no caiaque “indomável” de propriedade do José Holanda. A correnteza forte, a ausência de troncos, as nuvens encobrindo o sol causticante tudo conspirava para que atingíssemos nosso objetivo no tempo estipulado. O Marçal resolveu deixar o João Paulo remar comigo os últimos quinze quilômetros. Uma esperada garoa começou a cair refrescando nossos corpos, o Grande Arquiteto, por intermédio de São Pedro, resolvera dar uma “forcinha” para que atingíssemos nosso objetivo com mais tranquilidade ainda. Chegamos às 11h01, um minuto além do programado para o tão esperado churrasco. O Mestre Holanda fora abastecer sua lancha e chegou logo em seguida. Degustamos uns saborosos jaraquis e carne de porco assados enquanto ouvíamos atentamente as histórias de sua vida.

Jaraqui (Prochilodus brama): peixe teleósteo, caraciforme, caracídeo, muito comum no Amazonas, o corpo apresenta listras negras horizontais na parte superior da linha lateral, mais acentuadas na parte posterior. Semelhante ao curimatá.

Sua biografia é um exemplo de luta e determinação de um homem que jamais se conformou, nunca se acomodou e, que se hoje tem condições de levar uma vida confortável é porque o fez por merecer. É um privilégio poder dizer que sou seu Amigo e mais que isso que ele é, sem dúvida, um de meus Mestres. O Mestre perguntou a meu filho se ele estava satisfeito com o caiaque que ele emprestara e como ele respondesse positivamente ganhou o caiaque de presente, ele já tinha deixado, também, em Itacoatiara, um carro para ficar à nossa disposição.

Por volta das 14 horas partimos para Manaus, eu precisava conhecer a Ponte sobre o Rio Negro depois de pronta, checar alguns projetos rodoviários, visitar alguns diletos amigos em Manacapuru e Iranduba, comprar alguns livros e buscar bibliografia especializada na Biblioteca Pública. A ida também tinha um aspecto logístico importante, precisávamos reabastecer o Piquiatuba para continuar nossa jornada pelo Rio Amazonas de Mauari, Costa do Amatari, AM, até Santarém, PA, renovar o estoque do rancho e trocar nossas roupas de cama por outras limpas já que as águas amareladas do Madeira tinham deixado sua marca nelas.

- Irmão Rio

A sensação de navegar de madrugada é mágica, as luzes e as lembranças de Nova Olinda aos poucos foram ficando para trás e desvanecendo-se. As pás do remo mergulhavam carinhosamente nas águas tranquilas que mais pareciam um colossal espelho a refletir infindáveis emoções. Redescobri o Madeira ao meu estilo, vasculhei impressões colhidas pelos “civilizados” desde o século XVII, extasiado aprendi com o engenheiro e escritor Manoel Rodrigues Ferreira a verdadeira história da “Ferrovia do Diabo”, tive a oportunidade, graças ao Jornalista José Carlos de Sá Júnior, de conhecer as obras e as características técnicas da Hidrelétrica de Santo Antônio, vivenciei com citadinos, ribeirinhos e garimpeiros suas experiências, suas histórias, seus sonhos. Naveguei mais de 1.100 km do Rio Madeira durante 24 dias, dos quais 14 dias de navegação e 10 dias de estada em 5 cidades e 1 comunidade, e, em todo este período, ele foi meu Mestre e eu seu atento discípulo. Fizemos uma média de 45,8 km/dia se considerarmos os deslocamentos e as paradas e 78,5 km/dia se considerarmos apenas os dias de deslocamento.

- Livro

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:

http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Vice- Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

Blog: http://www.desafiandooriomar.blogspot.com

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