sábado, 3 de novembro de 2012

AS TRÊS VIRTUDES TEOLOGAIS

A finalidade desta admoestação é a caridade, que procede de coração puro, de boa consciência e de fé sem hipocrisia. (1Tm 1 ,5)

São Roberto Belarmino, bispo (século XVIII)
Vamos iniciar pela , que é a primeira das virtudes que existem no coração do homem justificado pela fé. Não sem razão, o apóstolo acrescenta "sem hipocrisia" a fé. Pela fé vêm a justificação, desde que seja verdadeira e sincera, não falsa e afetada. A fé dos heréticos não conduz à justificação, pois não é verdadeira, é falsa; a fé dos maus católicos não conduz à justificação por que não é sincera, mas afetada. É afetada de duas maneiras: quando nós não acreditamos realmente, mas somente fingimos acreditar; ou quando, apesar de acreditar, não é vivida, como acreditamos que deve ser. Nestas duas situações é que as palavras de São Paulo na epístola a Tito devem ser compreendidas: "Afirmam conhecer a Deus, mas negam-no com seus atos". (Tt 1,16a) Desta maneira os santos padres Jerônimo e Agostinho interpretam estas palavras do apóstolo.

Agora, desta primeira virtude de um homem justo, nós podemos facilmente entender quão grande deve se a multidão daqueles que não vivem bem, e, da mesma maneira, morrem no pecado. Eu vejo infiéis, pagãos, heréticos e ateístas que são completamente ignorantes da arte de morrer bem. E entre católicos, quantos existem que "afirmam conhecer a Deus, mas negam-no com seus atos". Quem reconhece ser virgem a mãe de Nosso Senhor, mas não teme blasfemar contra ela? Quem preza orar, jejuar, ser caridoso e outras boas obras, mas ainda se permite vícios opostos? Eu omito outras coisas que são conhecidas de todos. Aqueles dizem possuir fé "sem hipocrisia", que não acreditam naquilo que dizem crer, ou não vivem de acordo com os mandamentos da Igreja Católica; e, por isso, demonstram pela sua conduta que ainda não começaram a viver bem, nem podem ter esperança de uma morte feliz, exceto se por uma graça de Deus aprenderam a arte de morrer bem.

Jacques Du Broeucq, Estátua da Esperança
(entre 1541-1545), Igreja Sainte-Waudru
de Mons, Bélgica
Outra virtude de um homem justo é a esperança, ou uma "boa consciência", como São Paulo no ensina. Esta virtude vem da fé, pois não há como ter esperança em Deus sem conhecer o Deus verdadeiro ou não acreditar Nele como todo-poderoso e misericordioso. Mas, para exercitar e fortalecer nossa fé, para que possa ser chamada não apenas esperança, mas também confiança, uma boa consciência é necessária. Como se aproximar de Deus e pedir seus favores, quando sabe ter cometido pecados e não tê-los expiados por uma correta penitência? Quem pede um benefício ao inimigo? Quem pode esperar ser perdoado por ele, se reconhece ter estado contra ele?

Escute o que um homem sábio pensa da esperança dos ímpios: "A esperança do ímpio é como a palha levada pelo vento, como espuma miúda que a tempestade espalha; é dispersa como fumaça pelo vento, fugaz como a lembrança do hóspede de um dia" (Sb 5, 14). Assim o sábio admoesta o ímpio, que sua esperança é fraca, não forte; fugaz, não persistente; eles, enquanto estão vivos, ainda tem alguma esperança, em algum momento devem se arrepender e reconciliar-se com Deus; mas quando a morte lhes chegar, a menos que o Todo Poderoso por alguma graça especial mover seus corações e inspirá-los verdadeiro arrependimento, sua esperança será transformada em desespero, e eles dirão junto aos demais ímpios: "Sim, extraviamo-nos do caminho da verdade; a luz da justiça não brilhou sobre nós, para nós nasceu o Sol. Cansamo-nos nas veredas da iniquidade e perdição, percorremos desertos intransitáveis, mas não conhecemos o caminho do Senhor! Que proveito nos trouxe o orgulho? De que nos serviram riqueza e arrogância? Tudo isso se passou como uma sombra" (Sb 5, 6-9a).

Portanto, deixemos o sábio nos corrigir, se queremos viver e morrer bem, nós não devemos permanecer no pecado, mesmo que por um momento, nem nos permitir enganar por uma vã confiança, que ainda teremos muitos anos para viver e poderemos utilizar estes anos para ganhar nosso perdão. >(via Tesouros da Igreja Católica).
 
-- Do Livro A Arte de Morrer Bem, de São Roberto Belarmino, bispo (século XVIII)

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