domingo, 4 de novembro de 2012
SEM MEDO DE MISTIFICAR
EDITORIAL “O
Estado de S.Paulo”
É inacreditável a capacidade que o PT tem de
mistificar quando a situação lhe é adversa, e de jogar abertamente com dois
pesos e duas medidas quando se trata de defender seus próprios interesses.
Nos últimos dias, os companheiros de Lula deram
pelo menos dois magníficos exemplos de como não se encabulam de subestimar a
inteligência do distinto público e fazer pouco do senso comum.
O primeiro,
ao avaliar o resultado das eleições municipais paulistanas.
O segundo,
ao afrontar mais uma vez a Suprema Corte a propósito do mensalão.
A executiva estadual do PT, reunida para fazer uma
avaliação do pleito, emitiu nota oficial em que afirma: "A sociedade
falou em alto e bom tom que o PT não está e nunca esteve no banco dos
réus", porque o resultado das urnas "abafou as vozes daqueles
que tentaram fazer do julgamento do Supremo Tribunal Federal - STF - (mensalão)
um instrumento de desgaste e de destruição da sigla".
De fato, a Ação Penal 470 jamais colocou no banco
dos réus o PT, mas apenas seus dirigentes máximos, pelo menos do número dois
para baixo, durante o primeiro mandato presidencial de Lula.
E condenou-os um colegiado constituído, na maior
parte, de ministros nomeados por dois presidentes da República petistas.
Esses juízes consideraram procedente a peça
acusatória apresentada por dois chefes do Ministério Público Federal colocados
no cargo por Lula: Antonio Fernando de Souza, que iniciou as investigações, e
Roberto Gurgel, que formalizou a denúncia.
Se, como quer o PT, sua vitória em São Paulo
significa uma clara manifestação de desaprovação dos paulistanos às condenações
do STF e um atestado de inocência conferido aos acusados petistas, isso quer
dizer também, contrario sensu, que as derrotas do PT em Belo Horizonte, Recife,
Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Manaus, Belém, Campinas e outras centenas de
municípios significam apoio às decisões da Suprema Corte.
Por esse critério, as coisas vão muito mal para o
PT, que afinal venceu as eleições com candidato próprio em apenas 635 cidades,
que equivalem a uma população de 58 milhões dos 190 milhões de brasileiros.
Fica combinado, então, que mais de 130 milhões de
brasileiros condenam José Dirceu & Cia.
Por outro lado, o presidente nacional do PT, o
iracundo Rui Falcão, anunciou que o partido divulgaria um manifesto contendo
críticas ao que classifica de "politização" do julgamento do mensalão
pelo Supremo, que, pressionado pela mídia "de direita", estaria
ameaçando as liberdades individuais consagradas pela lei penal e pela
Constituição.
Os petistas estavam esperando apenas a realização
do segundo turno do pleito municipal para saírem em defesa de seus dirigentes
condenados por corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e outros delitos.
E Falcão deixou claro, ao arrepio do Estatuto do
PT, que os apenados não serão expulsos.
Afinal, os petistas consideram Dirceu, Genoino,
Delúbio e João Paulo Cunha "prisioneiros políticos" julgados
por um "tribunal de exceção" - todos eles cidadãos que têm
"serviços prestados ao País".
Na verdade, é o PT quem está politizando o debate
sobre o mensalão. Insistem os seguidores de Lula que os ministros da Suprema
Corte estão julgando sob pressão da mídia e de uma opinião pública por ela
manipulada.
É quase um insulto à biografia dos ministros, a
maioria dos quais passou pelo crivo do comando petista no processo de escolha
para compor o STF. Além disso, o argumento tropeça em outra incongruência.
Se a opinião pública está pressionando a favor da
condenação do mensalão, por que teria colocado nas urnas, "em alto e
bom tom", um voto de absolvição dos mensaleiros?
Persistindo nas incongruências, afirmam os petistas
que o mensalão é "uma farsa", ou seja, nunca existiu, mas
asseguram que foi inventado, em Minas Gerais, em 1998, pelo mesmíssimo Marcos
Valério, a serviço da campanha de reeleição do tucano Eduardo Azeredo.
Esse escândalo já foi denunciado ao STF pelo
Ministério Público e está entregue à relatoria do ministro Joaquim Barbosa.
Só falta o PT - para
manter-se coerente com sua incoerência - sair também em defesa dos mensaleiros
tucanos, acusados das mesmas práticas criminosas que estão levando a cúpula
petista à cadeia. (03.11.2012)
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