sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O ENVELHESCENTE

Por Mário Prata
Se você tem entre 50 e 70 anos, preste bastante atenção no que se segue. Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá. E, se já passou, confira.
Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que entre a maturidade e a velhice (entre os 50 e os 70), existe a ENVELHESCÊNCIA.
A envelhescência nada mais é que uma preparação para entrar na velhice, assim com a adolescência é uma preparação para a maturidade. Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, a envelhescência. E, se você está em plena envelhescência, já notou como ela é parecida com a adolescência? Coloque os óculos e veja como este nosso estágio é maravilhoso:
— Já notou que andam nascendo algumas espinhas em você?
— Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de vinte anos.
— Os adolescentes mudam a voz. Nós, envelhescentes, também. Mudamos o nosso ritmo de falar, o nosso timbre. Os adolescentes querem falar mais rápido; os envelhescentes querem falar mais lentamente.
— Os adolescentes vivem a sonhar com o futuro; os envelhescentes vivem a falar do passado. Bons tempos...
— Os adolescentes não têm ideia do que vai acontecer com eles daqui a 20 anos. Os envelhescentes até evitam pensar nisso.
— Ninguém entende os adolescentes... Ninguém entende os envelhescentes... Ambos são irritadiços, se enervam com pouco. Acham que já sabem de tudo e não querem palpites nas suas vidas.
— Às vezes, um adolescente tem um filho: é uma coisa precoce. Às vezes, um envelhescente tem um filho: é uma coisa pós-coce.
— Os adolescentes não entendem os adultos e acham que ninguém os entende. Nós, envelhescentes, também não entendemos eles. "Ninguém me entende" é uma frase típica de envelhescente.
— Quase todos os adolescentes acabam sentados na poltrona do dentista e no divã do analista. Os envelhescentes, também a contragosto, idem.
— O adolescente adora usar uns tênis e uns cabelos. O envelhescente também. Sem falar nos brincos.
— Ambos adoram deitar e acordar tarde
— O adolescente ama assistir a um show de um artista envelhescentes (Caetano, Chico, Mick Jagger). O envelhescente ama assistir a um show de um artista adolescente (Rita Lee).— O adolescente faz de tudo para aprender a fumar. O envelhescente pagaria qualquer preço para deixar o vício.
— Ambos bebem escondido.
— Os adolescentes fumam maconha escondido dos pais. Os envelhescentes fumam maconha escondido dos filhos.
— O adolescente esnoba que dá três por dia. O envelhescente quando dá uma a cada três dia, está mentindo.
— A adolescência vai dos 10 aos 20 anos: a envelhescência vai dos 50 aos 70. Depois sim, virá a velhice, que nada mais é que a maturidade do envelhescente.
— Daqui a alguns anos, quando insistirmos em não sair da envelhescência para entrar na velhice, vão dizer:
— É um eterno envelhescente!
Que bom.

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 Mário Prata
    Nascido em Uberaba, Minas Gerais, em 1946 e criado em Lins, no interior de São Paulo, Mário Prata já escreveu de tudo. Peças teatrais, roteiros para o cinema e a televisão, romances, contos e as inconfundíveis crônicas, publicadas por onze anos, de 1993 a 2004, em O Estado de São Paulo e nas revistas Época e Isto É. Autor de mais de quinze livros, recebeu prêmios nacionais e internacionais.
    Em 1970 estreou no teatro com a peça “Cordão Umbilical”, montagem que obteve sucesso imediato. Na mesma década, trabalhou como jornalista em diversos veículos da imprensa brasileira. Na literatura, não se restringiu a nenhuma faixa etária e lançou publicações para todas as idades, com destaque para o livro infanto-juvenil “O homem que soltava pum”. Entre seu livros mais cultuados estão “O diário de um magro”, “Filho é bom, mas dura muito”, “Minhas vidas passadas (a limpo)”, “Minhas mulheres e meu homens”, “Os anjos de Badaró” e “O purgatório”.
    Nos últimos anos, vêm se aventurando pelos romances policias, deliciosamente bem escritos, recheados de citações e referências aos escritores do gênero, como Fred Vargas, Georges Simenon e Manuel Vásquez Montalbán. O personagem criado por Prata em seus livros, o investigador da polícia federal Ugo Fioravanti Neto e seu companheiro Darwin Matarazzo circulam e trabalham em Florianópolis, desvendando crimes e mistérios em perseguições hilárias, cheias de suspense e imprevistos, ao lado de heróis e vilões tipicamente brasileiros.    Um dos escritores mais queridos do Brasil, dono de uma linguagem fluente, desinibida, vibrante, esse mestre absoluto do humor vive  atualmente na mesma ilha do detetive Fiovaranti, onde continua  escrevendo de tudo – com o mesmo talento que o consagrou.

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