quinta-feira, 15 de novembro de 2012
TEMPOS SOMBRIOS, TEMPOS PETISTAS
Por
Marco Antonio Villa in Blog do Villa
Luiz
Inácio Lula da Silva está calado. O que é bom, muito bom. Não mais repetiu que
o mensalão foi uma farsa. Também, pudera, após mais de três meses de julgamento
público, transmitido pela televisão, com ampla cobertura da imprensa, mais de
50 mil páginas do processo armazenadas em 225 volumes e a condenação de 25
réus, continuar negando a existência da "sofisticada organização
criminosa", de acordo com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
seria o caso de examinar o ex-presidente. Mesmo com a condenação dos seus
companheiros - um deles, o seu braço direito no governo, José Dirceu, o
"capitão do time", como dizia -, aparenta certa tranquilidade.
Como
disse o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), Lula é
"um sujeito safo". É esperto, sagaz. Conseguiu manter o mandato, em
2005, quando em qualquer país politicamente sério um processo de impeachment
deveria ter sido aberto. Foi uma manobra de mestre. Mas nada supera ter passado
ao largo da Ação Penal 470, feito digno de um Pedro Malasartes do século 21.
Mas
se o silêncio público (momentâneo?) de Lula é sempre bem visto, o mesmo não
pode ser dito das articulações que promove nos bastidores. Uma delas foi o
conselho para que Dilma Rousseff não comparecesse à posse de Joaquim Barbosa na
presidência do STF. Ainda bem que o bom senso vigorou e ela vai ao ato, pois é
presidente da República, e não somente dos petistas. O artífice de diversas
derrotas petistas na última eleição (Recife, Belo Horizonte e Campinas são
apenas alguns exemplos) continua pressionando a presidente pela nomeação de um
"ministro companheiro" na vaga aberta pela aposentadoria de Carlos
Ayres Brito. E deve, neste caso, ser obedecido.
O
ex-presidente quer se vingar do resultado do julgamento do mensalão. Nunca
aceitou os limites constitucionais. Considera-se vítima, por incrível que
pareça, de uma conspiração organizada por seus adversários. Acha que tribunal é
partido político. Declarou recentemente que as urnas teriam inocentado os quadrilheiros.
Como se urna fosse toga. Nesse papel tem apoio entusiástico do quarteto petista
condenado por corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha. Eles continuam escrevendo, dando entrevistas, participando de festas
e eventos públicos, como se nada tivesse acontecido. Ou melhor, como se
tivessem sido absolvidos.
O
que os petistas chamam de resistência não passa de um movimento orquestrado de
escárnio da Justiça. José Dirceu, considerado o chefe da quadrilha por Roberto
Gurgel, tem o desplante de querer polemizar com o ministro Joaquim Barbosa,
criticando seu trabalho. Como se ele e Barbosa estivessem no mesmo patamar: um
não fosse condenado por corrupção ativa (nove vezes) e formação de quadrilha e
o outro, o relator do processo e que vai assumir a presidência da Suprema
Corte. Pior é que a imprensa cede espaço ao condenado como se ele - vejam a
inversão de valores da nossa pobre República - fosse uma espécie de reserva
moral da Nação. Chegou até a propor o financiamento público de campanha. Mas os
petistas já não o tinham adotado?
Outro
condenado, João Paulo Cunha, foi recebido com abraços, tapinhas nas costas e
declarações de solidariedade pelos colegas na Câmara dos Deputados. Já José
Genoino pretende assumir a cadeira de deputado assim que abrir a vaga. E como o
que é ruim pode piorar, Marco Maia, presidente da Câmara, afirmou que a perda
de mandato dos dois condenados é assunto que deve ser resolvido pela Casa,
novamente desprezando a Constituição.
O
julgamento do mensalão desnudou o Partido dos Trabalhadores (PT). Sua liderança
assaltou o Estado sem pudor. Como propriedade do partido. Sem nenhum
subterfúgio. Os petistas poderiam ter feito uma autocrítica diante do resultado
do julgamento. Ledo engano. Nada aprenderam, como se fossem os novos Bourbons.
Depois de semanas e semanas com o País ouvindo como seus dirigentes se
utilizaram dos recursos públicos para fins partidários, na semana que passou
Dilma (antes havia se reunido com o criador por três horas) recebeu no Palácio
da Alvorada, residência oficial, para um lauto jantar, líderes do PT e do PMDB.
A finalidade da reunião era um assunto de Estado? Não. Interessava apenas aos
dois partidos. Fizeram uma analise das eleições municipais e traçaram planos
para 2014. Ninguém, em sã consciência, é contrário a uma reunião desse tipo. O
problema é que foi num prédio público e pago com dinheiro público. Imagine o
leitor se tal fato ocorresse nos EUA ou na Europa. Seria um escândalo. Mas na
terra descoberta por Cabral, cujas naus, logo vão dizer, tinham a estrela do PT
nas velas, tudo pode. E quem protesta não passa de golpista.
Nesta
República em frangalhos, resta esperar o resultado final do julgamento do
mensalão. As penas devem ser exemplares. É o que o STF está sinalizando na dosimetria
do núcleo publicitário. Mas a Corte sabe que não será tarefa nada fácil. O PT
já está falando em controle social da mídia, nova denominação da "censura
companheira". Não satisfeito, defende também o controle - observe o leitor
que os petistas têm devoção pelo Estado todo-poderoso - do Judiciário (qual,
para eles, deve ser a referência positiva: Cuba, Camboja ou Coreia do Norte?).
Nesse ritmo, não causará estranheza o PT propor que a Praça dos Três Poderes,
em Brasília, tenha somente dois edifícios... Afinal, "aquele"
terceiro edifício, mais sóbrio, está criando muitos problemas.
O
País aguarda o momento da definição das penas do núcleo político, especialmente
do quarteto petista. Será um acerto de contas entre o golpismo e o Estado
Democrático de Direito. Para o bem do Brasil, os golpistas mensaleiros
perderam. Mais que perderam. Foram condenados. E serão presos.
Marco Antonio Villa
- historiador; é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade
Federal de São Carlos (Ufscar) - O Estado de S.Paulo
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Um comentário:
Este artigo é realmente muito bom. Obrigado por compartilhar, eu não conhecia, apesar de grande admirador do trabalho deste historiador. Gosto do blog e sempre que venho me surpreendo positivamente. Já coloquei um link no Ordem Natural.
Abraços e muito sucesso!
Ale
http://ordem-natural.blogspot.com
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