segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CASA MODERNISTA

*Por Luiz Antonio Domingues
Instalada na Rua Santa Cruz, próxima à Estação Santa Cruz do Metrô de São Paulo, encontra-se a Casa Modernista.
Trata-se de um equipamento cultural importante da cidade de São Paulo, aberto à visitação pública, gratuitamente.
Gregori Warchavchik
imagem do arquivo da família
A relevância de tal museu arquitetônico é justificada pelo fato dessa construção ser considerada a primeira no estilo modernista, erguida no Brasil. Sua concepção foi de Gregori Warchavchic, um arquiteto ucraniano, nascido na cidade de Odessa, em 1896.
Warchavchic estudou na Universidade de Odessa e concluiu sua graduação no Real Instituto de Belas Artes de Roma, no ano de1920.
Em 1923, surgiu a oportunidade de ir trabalhar num exótico país tropical da América do Sul, chamado Brasil...
Chegando aqui, seu primeiro trabalho foi numa construtora sediada na cidade de Santos, litoral de São Paulo.
Nessa companhia, considerada moderna para os padrões da época, as edificações tinham caráter leve, trazendo conceitos novos dentro da arquitetura e certamente foi terreno propício para que Gregori Warchavchic pudesse sentir-se livre para criar, rompendo com conceitos obsoletos. Seguindo os propósitos do modernismo instaurado após a Semana de Arte Moderna de 1922, lança um manifesto de arquitetura modernista em São Paulo, no ano de 1925.
No mesmo ano, estabelece amizade com o arquiteto Lucio Costa e torna-se professor na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Sua carreira como professor foi curta, mas sua fama de bom professor ficou registrada através de muitos alunos que posteriormente declararam a importância de Warchavchic como influência em suas respectivas carreiras. 
Em 1927, projeta sua residência na capital paulista, que é construída finalmente em 1928.
Considerada a primeira construção modernista do Brasil, a Casa Modernista impressiona pelas linhas arrojadas, conceitos de iluminação e ventilação, muito interessantes, destoando completamente das habitações padrão dos anos vinte do século passado em São Paulo e todo o Brasil.
Convidado por Le Corbusier, torna-se representante sul-americano dos CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna).
Gregori casou-se com Mina Klabin, filha de imigrantes do leste europeu e o casal habitou a casa da Rua Santa Cruz. Mina Klabin foi responsável pelo paisagismo do amplo jardim, implementando diversas espécies tropicais, garantindo assim o frescor da moderna habitação.
Claro, forças obtusas não se conformaram com tal ousadia arquitetônica e não foram poucas as críticas irônicas perpetradas pelos retrógados de plantão, reação esperada, como sempre.
A casa é desprovida de ornamentações e para obter a aprovação da prefeitura para o projeto, Warchavchic teve que apresentar um projeto falso, com linhas arquitetônicas tradicionais. Posso imaginar a estupefação de um ucraniano diante do "jeitinho brasileiro" e naquela época onde a austeridade era muito maior nos costumes...
Hoje, Warchavchic não teria dificuldades de obter materiais no mercado, mas naquela época, sofreu ao deparar-se com a falta de componentes industrializados, tais como maçanetas, placas, tintas e ferragens em geral. Queixava-se também do alto preço cobrado para materiais básicos como cimento, cal, areia e sobretudo por não encontrar mão de obra especializada. A burocracia da prefeitura e essas dificuldades atrasaram a obra, mas mesmo com esses empecilhos, conseguiu construir e habitar a bela residência.
Família Klabin-da esquerda para a direita,
os filhos: Jenny (nascida em 1898), Luiz
(1900), Mina(1896) e Emannuel (1902).
Bertha Osband (em pé) e Maurício Klabin.
Foto da reportagem
O Klabin “pobre” – da Gazeta Russa.
Segundo a reportagem, a foto pertence à
“Coleção Gregori
Warchavchik
Fonte Bibliográfica: Aquino, Paulo Mauro
Mayer
de (org.). Gregori, Warchavchik – Acervo
Fotográfico
vol.I e vol.II, São Paulo,
edição Família Warchavchik, 2005 e 2007
Nos anos 1940, a residência passou por modernizações. Mina Klabin refez a jardinagem, plantando muitos eucaliptos. Segundo se conta, o objetivo era resguardar a privacidade da residência, diante do fato de um hospital de grande porte estar sendo construído como vizinho. Era o Hospital Nipo-Brasileiro, que se erguia, fruto dos esforços de mutirão da imensa colônia japonesa residente em São Paulo.
Mas existem registros de certas hostilidades, além da privacidade ameaçada, visto que os japoneses e os judeus estavam em conflito por conta de suas respectivas posições antagônicas, durante a II Guerra Mundial.
E uma oficina de gasogênio foi instalada na garagem, pois com o racionamento de combustíveis, essa parecia ser uma alternativa para abastecer os carros da família.
Warchavchic faleceu em 1972 e a família ainda residiu ali por algum tempo, até que decidiram vender a propriedade.
Vendida em 1983, para uma construtora, o objetivo era demoli-la impiedosamente para a construção de torres residenciais.
Mas os moradores do bairro mobilizaram-se e nessa pressão popular, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), tombou a Casa Modernista. Claro, iniciou-se uma guerra jurídica que se arrastou até 1994, quando finalmente o Estado de São Paulo foi obrigado a pagar pela casa, tornando-a seu equipamento de uso cultural.
Casa Modernista – Vista do quintal (Foto: Paulo Ciclista)
Eu recomendo a visitação. É uma bela construção e hoje em dia, um refúgio refrescante para descansar em meio à agitação do bairro.
Fica muito próximo também ao Museu Lasar Segall, outro centro cultural agradabilíssimo, da Vila Mariana, zona sul de São Paulo.
A Casa Modernista abre de terça a domingo, das 9:00 h às 17:00 h, com entrada gratuita e com possibilidade de visita monitorada, se desejar.
*Texto de Luiz Antonio Domingues (músico das bandas PEDRA,Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, Kim Kelh e os Kurandeiros)-(Orra Meu!).
1ª Casa Modernista no Brasil
Há 80 anos, o arquiteto Gregori Warchavchik abriu as portas de uma de suas casas para a primeira exposição modernista dentro de uma construção desenhada nos moldes dessa escola artística. Naquele 26 de março de 1930, não eram poucos os amigos famosos do arquiteto: Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Lasar Segall – este último, seu concunhado. A casa, que recebeu mais de 20 mil visitantes, exibia telas dos amigos, além de móveis e luminárias projetadas por ele. À Rua Itápolis, num Pacaembu quase periferia daquela São Paulo com apenas 900 mil habitantes, os traços retos, sem adornos e utilitários estabeleceram Warchavchik como o pioneiro da arquitetura modernista. A primeira casa ficara pronta dois anos antes, logo depois que o arquiteto se casou com a pianista Mina Klabin. Hoje, tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) e reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a área – de 13 mil m² – da famosa casa da Rua Santa Cruz pertence ao Estado de São Paulo e se transformou num parque.

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