segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
IPIXUNA - EIRUNEPÉ
Hiram Reis e Silva, Eirunepé, Amazonas, 17
de janeiro de 2013.
Ao partirmos de Ipixuna gostaria
de agradecer, mais uma vez, o apoio prestado à Expedição pelo empresário Sr.
Abraão Cândido, pelo 1º Tenente PM Rodney Barros Ferreira da Polícia Militar do
Estado do Amazonas e demais policiais militares do Destacamento de Ipixuna.
Vamos, igualmente, guardar carinhosamente na lembrança a atenção que nos
dedicaram os amigos Maria Consuelo e Raimundo da Pensão Juruá.
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Expedição Belarmino Mendonça
A Expedição composta pelo
Coronel Hiram Reis e Silva, do Colégio Militar de Porto Alegre,
RS, e os soldados Mário Elder Guimarães Marinho e Marçal
Washington Barbosa Santos, ambos do 8º Batalhão de Engenharia de
Construção, Santarém, PA,
está realizando o reconhecimento do Rio Juruá, afluente da margem direita do
Rio Amazonas. Estamos dedicando todos os esforços possíveis, dentro dos
escassos meios disponíveis para que a Missão em homenagem ao General Belarmino
Augusto de Mendonça Lobo esteja à altura de seu nome.
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Soldado Mário Elder Guimarães Marinho
O Sd Mário é o exímio piloto da
lancha de apoio e encarregado de nossa logística. Para evitarmos os piuns que
infestam as margens lodosas do Juruá e desnecessárias paradas, Mário nos
abastece com água, frutas e bolachas no talvegue do Rio. Ele é o encarregado,
também, de encontrar o local ideal para montarmos nosso acantonamento nas
comunidades ribeirinhas, no interior das escolas, templos ou residências, isso
é feito a partir das catorze horas, depois de termos remado aproximadamente 85
km em oito horas consecutivas. Algumas condicionantes alheias à nossa vontade
podem alterar esta programação como, por exemplo, longos trechos de até 40 km
dentro de áreas indígenas (Comunidade Condor – Comunidade Santa Maria) sem uma
única Comunidade não indígena. Quando eu e o Marçal chegamos à Comunidade, o
Mário já havia montado o acampamento e descarregou o material da lancha.
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Soldado Marçal Washington Barbosa Santos
O Sd Marçal é meu parceiro de
remadas e o cozinheiro da Expedição. Sabendo que os desafios do Juruá seriam
maiores que os dos Rios Madeira e Amazonas, treinou com afinco nas águas
turbulentas do Tapajós. Temos, eventualmente, remado mais de cem quilômetros em
um único dia e o formidável guerreiro Munduruku chega ao final da jornada
cantando sem esboçar qualquer sinal de cansaço. A primeira providência ao
aportar é preparar os caiaques para a próxima jornada e logo concluída esta
etapa o nosso cozinheiro se dedica à preparação do nosso delicioso “almojanta”,
já que fazemos uma única refeição ao dia. Algumas vezes o preparo dos alimentos
é feito na cozinha dos amigos ribeirinhos e condimentada com temperos retirados
da horta dos mesmos.
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Partida para a Comunidade Ituxi (10.01.2013)
Acordamos às 5h30, horário
antigo, e nos deslocamos para o Porto Juruá II, do empresário Abraão Cândido,
onde estavam estacionadas nossas embarcações. Partimos ao alvorecer, as poucas
nuvens tornavam a progressão mais difícil debaixo do sol abrasador. Informações
desencontradas quanto à distância das comunidades forçou-nos a ultrapassar a
meta dos 85 km e chegamos, finalmente, à Comunidade Ituxi, às 15h30, depois de
remar 102 km. O Mário tinha conseguido autorização para acamparmos na Escola
Manoel Fernandes, a residência do professor, contígua à sala de aula estava
ocupada pela família do pescador Francisco Sales da Silva que estava de mudança
para Ipixuna. Depois do banho e do “almojanta” ficamos ouvindo histórias
de pescadores.
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Partida para a Comunidade Das Piranhas (11.01.2013)
Mantendo nossa rotina diária
partimos antes do sol nascer. Logo depois da partida iniciou uma chuvinha fina
e gelada que nos acompanhou até nosso destino na Comunidade das Piranhas, a 85
km de distância. O Sr. Antônio Santana da Silva permitiu que nos instalássemos
na casa do professor ao lado da Escola. A Falta de higiene nas Comunidades é
muito grande, na maioria delas não existe uma passarela de madeira que permita
um deslocamento seguro sem ter de pisar na fétida mistura de lama e fezes de
animais que perambulam livremente e se refugiam da chuva ou ao anoitecer sob as
casas. As casinhas (sanitários), quando existem, são meros estrados com um
buraco na madeira e os dejetos caem diretamente no chão onde os suínos dão
prosseguimento ao tratamento dos mesmos.
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Partida para a Comunidade Condor (12.01.2013)
No dia anterior o Sr. Antônio
nos informou que a Comunidade Monte Lígia, terra firme, estava a apenas uma
hora de uma voadeira com motor tipo rabeta de 8 Hp, não quis arriscar e optamos
por pernoitar na Comunidade das Piranhas. Alcançamos a Comunidade Monte Lígia
às 08h20, duas horas exatas depois de partir. Infelizmente as referências de
que dispúnhamos para tomar a decisão não eram suficientes para escolher a
melhor opção. Chegamos, às 11h30, à Comunidade Condor depois de remar apenas 55
km. Tínhamos um enorme vazio, de 40 km, a partir daí até a Comunidade Santa
Maria.
Instalamo-nos na escolinha,
como de praxe e depois do banho e do “almojanta” veio nos procurar um
dos membros da Comunidade, visivelmente embriagado, que suspeitava que fôssemos
da Polícia Federal. Argumentei que se fossemos da Federal a lancha seria muito
mais potente e não de 13 Hp como a nossa, e que se os agentes tivessem de
pernoitar no local o fariam em sua confortável embarcação e jamais em pequenas
barracas.
Novamente os ribeirinhos
relataram sua preocupação em relação ao comportamento dos Kulinas que promovem
saques nas residências em que gentilmente são acolhidos. Infelizmente, alguns
pequenos grupos liderados por chefes sem escrúpulo criam um estigma perigoso em
relação a todo povo kulina.
Kulinas: os Kulina têm seu
habitat tradicional nas planícies dos rios Juruá e Acurauá, afluentes do
Solimões e pertencem à família linguística arawá. Os Kulina se autodenominam Madija,
que significa “os que são gente”. Os Kulina formam um grupo de pouco
mais de 700 membros e ainda preservam sua língua e cultura. (Nota do autor)
Em Ipixuna topamos, diversas
vezes, com um bando sujo e maltrapilho de Kulinas que bebiam álcool puro indiscriminadamente.
Os homens agrediam violentamente suas crianças e mulheres durante estas
bebedeiras. É uma pena observar a decadência de alguns grupos contaminados por
tuxauas sem escrúpulo.
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Partida para a Comunidade São José (13.01.2013)
Somente depois de remar durante
quatro horas avistamos a Comunidade Santa Maria. Somente uma pequena Aldeia
Kulina às margens do Igarapé Penedo próxima da foz no Juruá. Ao ultrapassarmos
o Rio Gregório fomos informados da existência de um furo próximo à Comunidade
Cordeiro. Depois de certificar-me de que não havia nenhum acidente natural ou
Comunidade no laço que deixaríamos para trás decidi experimentar o furo na
forma de um “S” muito aberto. A correnteza obviamente era forte já que,
em vez dos quase 7 km, percorreríamos pouco mais de cem metros. O Marçal levou
uma queda, mas agilmente montou no caiaque e continuou a navegação. Passamos a
chamar o furo de Marçal já que este ainda não tinha sido batizado.
Lago maldito
Jonas Fontenelle da
Silva
Se hoje, em surdina,
o teu pesar disfarças,
Ouvindo o canto das
jaçanãs morenas,
Sentes, minh’alma,
as aflições e as penas
De um Lago azul sem
jaçanãs nem garças.
Lago em que havia à
superfície esparsas
Grandes
vitórias-régias e falenas
E em que hoje
existe a canarana apenas ...
Fomos informados do Furo Cavado
(06º47’36,5”S / 70º32’16,2”O), próximo à Comunidade São José e partimos para
ele. O Furo que fica no final de um enorme “M” invertido. O furo, pela
lógica deveria estar localizado no meio da curva à esquerda, mas considerando
que os rios de terras baixas mudam constantemente enveredamos pelo primeiro
furo que achamos, mais a montante do “Cavado”. Era na realidade o
Igarapé do Pinheiro que dá acesso a um Lago interior coberto de canaranas e a
um Igapó que mais parece um labirinto. Retiramos os troncos que fechavam a
entrada e enveredamos pela estreita montanha russa fluvial.
Enganchamos eu e o Marçal sob
um enorme tronco, o Marçal caiu do caiaque e empurrou o meu que estava trancado
sobre enormes toras. Não consegui frear e fui levado pela rápida correnteza.
Depois de diversas curvas, cheguei a um escuro e enorme igapó à direita de
minha rota uma claridade chamou minha atenção e rumei para lá. Chamei, em vão,
pelo Marçal, perdera minhas cartas na descida abrupta e não encontrava meus
óculos, eu estava desorientado. Achei que se seguisse a correnteza poderia sair
daquele medonho labirinto. Esperei pelo companheiro e nada, naveguei sobre as
canaranas enroscando nos intransponíveis cipós tiriricas, as afiadas bordas das
canaranas cortavam e enchiam minha pele de minúsculas farpas.
Meu colossal caiaque “Cabo
Horn” não fora projetado para aquelas paragens o suporte do leme enroscava
na vegetação, o esforço era sobre-humano. Fui forçado a passar por cima de
enormes vitórias amazônicas (vitórias régias) e depois de me arrastar por uns
quinhentos metros que mais pareceram dezenas de quilômetros desisti de
encontrar caminho pelo maldito Lago do Pinheiro.
Voltei até o ponto de onde
abandonara o igapó e tentei navegar entre as árvores submersas e, novamente, a
progressão era dificultada pelo tamanho do “Cabo Horn”, depois dessa
frustrada tentativa voltei para o Lago para descansar. Recuperei o fôlego e
tentei, de novo, achar o caminho pelo igapó. Exausto voltei para o Lago e
decidi me preparar para dormir naquele local e tentar novamente no dia
seguinte. Tentei me amarrar em uma árvore para dormir, mas fui expulso pelas
terríveis tachi (formigas) voltei para uma área limpa do Lago e me preparei
para passar a noite embarcado. Fiz uma limpeza sumária no caiaque vesti o
salva-vidas e coloquei em cima da embarcação um material alaranjado que o
Angonese comprara para servir de acento no caiaque e que poderia ser avistado à
distância. O sol já estava quase sobre o horizonte quando ouvi, ou senti, o
ruído de uma rabeta. Ao longe consegui distinguir a silhueta do Marçal sobre
uma voadeira, o suplício havia terminado.
O Sr. Francisco de Assis
Cassiano da Costa e seu filho Antônio José da Silva Costa colocaram o caiaque
sobre a voadeira e com uma habilidade extrema me conduziram pelo mesmo Igarapé
que entrara. Enquanto o filho Antônio, na popa, manejava a rabeta com muita
agilidade seu pai Francisco, na proa, corrigia o rumo com o remo. Um final
feliz para um dia de pouca progressão, mas que servirá de ensinamento para o
resto da vida de cada um de nós.
Seja em operações militares ou
mesmo nos deslocamento de ribeirinhos os furos devem ser usados com muita
cautela tendo em vista as radicais modificações a que estão sujeitos. Da noite
para o dia seu curso pode ser interrompido ou obstaculizado por árvores caídas.
Nos deslocamentos onde se utilizem diversas embarcações deve-se empregar
precursores devidamente assessorados por habitantes locais. A economia de tempo
e combustível indica que estes atalhos sejam utilizados devidamente. Não há
condições de se manter atualizadas as informações sobre cada um deles tendo em
vista a inconstância tumultuária do Rio Juruá, basta ver a quantidade de
arrombados, sacados e furos que são criados continuamente.
O Mário, preocupado conosco
desencadeara uma verdadeira operação de guerra. Abastecera as rabetas dos
ribeirinhos da Comunidade São José e do Bóia (Srs. Daniel Gomes da Silva e
Francisco Gomes de Souza) com nossa reserva de combustível e graças a isso não
tivemos de experimentar um solitário e perigoso pernoite no Lago do Pinheiro.
Ficamos hospedados nessa noite na sala da casa do Sr. Francisco. O Marçal
preparou um saboroso carreteiro para treze pessoas, nosso anfitrião tem quatro
filhos homens e quatro mulheres. Durante a refeição comentei com ele que o
santo padroeiro dos engenheiros militares é são Francisco de Assis, seu
homônimo, e que meu pai se chamava Cassiano.
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Partida para a Comunidade da Praia do Hilário (14.01.2013)
Chegamos à graciosa Comunidade
cedo, o dia anterior tinha exigido por demais de nossos corpos e precisávamos
recuperar nossas energias antes de nos atirarmos a uma longa jornada. Dizem que
a primeira impressão é que conta e esta foi a mais agradável possível. As
residências da Comunidade estão perfeitamente alinhadas e ostentam à sua frente
uma bela passarela de madeira construída pela Prefeitura de Eirunepé e a
Escolinha embora careça de manutenção é muito melhor projetada que as dos
Municípios de Guajará e Ipixuna. O único problema que vimos foi novamente
porcos perambulando soltos. O Sr. Francisco, líder da Comunidade, gentilmente
convidou-nos para jantar. Durante a refeição os porcos alojados sob a sua casa
faziam o maior estardalhaço e ele nos confiou que os animais eram do vizinho e
que não reclamava para não comprometer a amizade entre eles. A grande
reivindicação da Comunidade era a respeito da Escola Nossa Srª. da Auxiliadora
que precisava de dedetização para desalojar morcegos e formigas e que fosse
concluída a instalação dos sanitários.
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Partida para a Comunidade Miriti (15.01.2013)
Recuperados decidimos remar cem
quilômetros para deixar os últimos 70 para o último dia. Novamente os botos deram
seu ar de graça e um casal deu um show à parte executando piruetas com seus
belos corpos totalmente fora d’água. Chegamos bastante cansados à Comunidade
Miriti da família Evangelista de Souza. Os Evangelistas permitiram que
ocupássemos as instalações da Assembleia de Deus. A gurizada se encantou com os
filmetes de nossa amazônica jornada.
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Partida para a Eirunepé (16.01.2013)
Partimos cedo e nossa jornada
foi abreviada por conta de mais um destes “arrombados” do Juruá. Logo
que a operadora do celular deu sinal liguei para o Tenente PM Ricardo pedindo
apoio. Fomos encaminhados pelo Comandante Ricardo ao Hotel Líder capitaneado
pela Srª. Eny Martins de Alencar. Fomos acomodados no primeiro andar e
cordialmente tratados. Depois do banho fomos convidados gentilmente pela
simpática Srª. Eny para almoçar apesar do adiantado da hora. Logo em seguida
apareceu o Venerável Francisco Dejanir da Grande Loja Maçônica de Eirunepé e tentamos localizar, em vão, o Prefeito.
Mais uma vez apelamos a nossos
investidores para que continuem colaborando, cada um dentro de suas posses,
para que possamos cumprir a meta de chegar a Manaus. Aqueles que ainda não
conhecem nosso projeto peço que visitem o Blog:
-
Investimento em Soberania
Conta
Bancária de Hiram Reis e Silva
Banco
do Brasil (001) - Agência: 4848 - 8
Conta
Corrente: 117 889 - X
CPF:
415 408 917-04
Endereço:
Rua Dona Eugênia, 1227
CEP
90630-150 - Porto Alegre - RS
Telefone:
(51) 9234 2378
E-mail:
hiramrs@terra.com.br
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Livro do Autor
O livro “Desafiando o
Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre,
na Livraria EDIPUCRS – PUCRS e na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura. com.br).
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
Coronel de
Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da
Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional.
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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