quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
O COMPRIMIDO DO VESTIBULAR
Por Luiz Antonio Domingues
Uma lenda urbana começa geralmente de forma
sorrateira.
Nem todas vingam, mas uma ou outra acaba
espalhando-se e ganhando notoriedade. Não se sabe quem foi o autor, mas o fato
é que se espalhou o boato de que um medicamento vendido normalmente em
farmácias, embora tenha função medicinal completamente diferente, auxiliava na
concentração mental, estimulando o foco e a memória e indo além, potencializava
a inteligência.
Dessa forma, virou coqueluche entre vestibulandos e
concurseiros, o seu uso indiscriminado, sem critério científico e evidentemente
assumindo-se os riscos de efeitos colaterais indesejáveis.
O Metilfenidato, cuja finalidade medicinal é coibir
o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, nada ajuda pessoas a
terem desempenhos melhor nos estudos.
Mas como tal prática começou a sair do controle, as
autoridades de saúde preocuparam-se e assim, um estudo mais aprofundado precisou
ser feito.
Para comprovar ou não, essa lenda urbana, a
psicóloga Silmara Batistela da Universidade Federal de São Paulo, empreendeu
uma série de experiências e chegou à conclusão de que o medicamento não promove
nenhuma melhora cognitiva.
A questão do foco, relatado por estudantes
impressionados com seus supostos resultados, segundo os estudos, era pela
coibição do sono. Efeito esse evidentemente promovido pela anfetamina e não
muito diferente dos efeitos de drogas usadas com objetivos recreativos.
Claro, o perigo assumido pelo consumidor é grande,
pois o medicamento pode desencadear problemas cardíacos graves, arritmia, por
exemplo. Por ser um medicamento de uso psiquiátrico, faz-se necessária a
apresentação de uma receita.
Fora o famoso e execrável "jeitinho
brasileiro", tem se ouvido relatos de jovens procurando consultas
psiquiátricas e simulando sintomas de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade), perante os doutores, com o objetivo torpe de obter uma
receita.
Nesse caso, não dá para deixar de lamentar que
tenha gente com talento para a dramaturgia, desperdiçando sua vocação por uma
causa tão pobre... Também é alarmante como saúde pública, quando dados
revelados pelo sindicato das indústrias farmacêuticas, indicam que tal medicamento
teve acréscimo de 50% em sua vendagem, nos últimos quatro anos.
Encerrando, não existe remédio para aumentar a
inteligência... o jeito é estudar mais...
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