quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

E SE OS BEATLES TIVESSEM GRAVADO ASA BRANCA?

O que a sanfona tem a ver com o rock n' roll?
Aparentemente nada, mas na verdade, tudo! Pelo menos para Carlos Imperial e Luiz Gonzaga...

Texto de Luiz Antonio Domingues:
Na década de sessenta, não havia artista mais famoso no mundo do que os Beatles. O quarteto de Liverpool era referência máxima no Rock e ultrapassava seus limites, sendo mito da música mundial.
A partir de 1966, dando uma guinada histórica na carreira, abriram-se à todo tipo de experimentalismo em sua música, deixando o estilo simples da primeira fase da carreira, e passando a dar arranjos suntuosos para as suas músicas.
Não só pela grandiosidade, mas pela loucura explícita de incluir instrumentos étnicos, os mais inusitados.
Nesse aspecto, quem trouxe a sonoridade indiana para o som dos Beatles, foi o guitarrista George Harrison.
Profundamente impressionado com a cultura indiana, tratou de estudar cítara com o mestre Ravi Shankar e claro, com o peso de sua fama, tornou o mestre das ragas, uma celebridade pop, com a possibilidade inusitada dele, Shankar, apresentar-se em festivais de Rock no ocidente (Monterey Pop de 1967; Woodstock em 1969 e Concert for Bangladesh, em 1971, só para citar os maiores), fora turnês individuais para um público jovem e hippie, que passou a idolatrá-lo.
E dentro da obra dos Beatles, Harrison acabou contribuindo com algumas canções de roupagem tipicamente indiana, tocando cítara e trazendo músicos indianos como convidados para executar Tabla, Tamboura e outros instrumentos típicos.
A primeira inserção de uma canção de estilo indiano nos discos dos Beatles foi,  "Norwegian Wood, do LP "Rubber Soul", lançado em 1966  (segunda faixa do lado "A"), mas ainda mesclando o padrão de uma canção pop, com o acréscimo de uma cítara em meio aos instrumentos tradicionais do ocidente. "Love You To", terceira faixa do LP "Revolver", de 1966, foi no entanto, a primeira inteiramente concebida na estética e sonoridade da cultura indiana. Já mergulhando na fase psicodélica da banda, "Love You To" trazia a sonoridade da India, in natura.
No LP seguinte, "Sgt° Peppers Lonely Hearts Club Band", Harrison contribuiu com "Within' You, Without You", ainda mais radical e belíssima.
Outras bandas britânicas embarcaram na tendência. Brian Jones, o saudoso e genial guitarrista dos Rolling Stones, tratou de familiarizar-se também com a cítara e na faixa "Paint in Black", faz lindos fraseados na cítara durante essa música, por exemplo.
Quando saiu o próximo trabalho dos Beatles, "White Álbum", o LP duplo de 1968, Harrison, não incluiu nenhuma composição sua de estilo indiano, mas um pouco adiante, saiu uma música nova como "single" (compacto), chamada "The Inner Light".
Era mais um exemplo de canção de estilo indiano, com a letra falando sobre espiritualidade, como sugere o seu título ("A Luz Interna").
Enquanto isso, no Brasil, um comunicador muito perspicaz e conhecido por ser um tremendo marqueteiro, muito tempo antes desse tipo de ação ser valorizada, teve uma ideia insólita.
Era Carlos Imperial, o sujeito. Radialista, apresentador de TV, dublê de ator e compositor sazonal.
Nessa época, 1968, Imperial tinha o programa "Os Brotos no 13", da TV Rio, quando soltou uma notícia bombástica : A música "Blackbird", contida no então último LP dos Beatles, tinha influência do baião e o quarteto de Liverpool estava interessado em regravar "Asa Branca"!!!
Claro, a notícia espalhou-se rapidamente e Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, os autores da clássica canção, foram procurados para expressarem sua opinião a respeito.
O grande Gonzaga, andava numa fase de baixa na carreira e resmungava contra os cabeludos na música, deixando sempre farpas de ressentimento com o fato da juventude sessentista estar numa outra faixa de interesse e sua sanfona não estar fazendo mais parte desse rol.
Mas quando o boato se espalhou e a imprensa o procurou para repercutir a notícia, Gonzaga que sempre foi muito inteligente, aproveitou o momento para dar sobrevida à carreira e afinal de contas, não fora ele o autor da mentira...
E assim, disse nas páginas da Revista Veja, que achava que os cabeludos ingleses tinham tudo para gravar bem a música, dando-lhe roupagem moderna etc. etc...
E os boatos não paravam. Dizia-se que ganharia um adiantamento de 50 mil dólares, uma fortuna naquela época, fora os direitos autorais que seriam mastodônticos em termos de repercussão, na mão dos Beatles.
Da parte dos Beatles, seja em seu escritório ou na gravadora, ninguém sabia de nada. Paul McCartney certa vez declarou que havia uma certa influência de Bossa Nova, na música "The Fool on the Hill", única coisa que conhecia vagamente a respeito da música brasileira.
Muita gente no Brasil, defendia a ideia de que o Rock internacional e o baião eram parecidos. Carlos Imperial, o autor intelectual dessa mentira sobre os Beatles regravarem "Asa Branca", era um dos que batiam nessa tecla da semelhança.
Objeto de estudos dos musicólogos, sem dúvida que há um fundo de verdade nessa afirmativa.
Num esforço de síntese digo que, se somos latinos e colonizados pelos portugueses, é óbvio que a cultura ibérica (Portugal e Espanha) sofreu brutal influência da cultura moura, afinal de contas os árabes dominaram a península ibérica por séculos.
Na Espanha ficaram ainda mais, mas mesmo com o Infante Dom Henrique os tendo expulsado de Portugal bem antes, a influência estava amalgamada. Portanto, quando o Brasil foi colonizado, a música portuguesa e seu folclore que aqui chegou, tinha muito da cultura do oriente médio.
Este por sua vez também era influenciado pela cultura da Ásia. E quando se ouve música do Oriente Médio, é nítida a influência indiana, também. Portanto, não é de se admirar que muito da musicalidade do baião, xote e outros ritmos do nordeste, possam ter semelhanças com o Rock internacional, visto que este é influenciado por diversas correntes do Folk europeu e daí, terem raízes semelhantes.
Voltando à mentira marqueteira de Imperial, o desfecho foi confessado pelo velho Lua, numa entrevista ao jornal "Pasquim", em 1971, quando afirmou que graças ao boato, gravou muitos programas de TV, concedeu entrevistas e vendeu muitos shows. Indo além, dizia que fora tudo isso, essa estória costumava render muitas risadas, sempre que se encontrava com Carlos Imperial...
Os Beatles nunca gravaram "Asa Branca", mas o cantor Demis Roussos, ex-vocalista/baixista da banda de Rock grega, "Aprodite's Child" (que aliás eu gosto muito e recomendo), a gravou em sua carreira solo, com o singelo título em inglês de "White Wings". 
Portanto, quem disse que um Rocker não gravou o Gonzagão???->Limonada Hippie<
MADE IN BRASIL e divulgada pelo mundo por Demis Roussos, Asa Branca (White Wings) de (LUIZ GONZAGA / Humberto Teixeira)

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