sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
RECOMEÇOS
Por João Bosco Leal
Depois de alguns meses sem
escrever, encontrei um motivo para recomeçar. Uma visita a um amigo de longa
data me fez refletir sobre nossas atitudes durante a vida.
Extremamente educado,
trabalhador, bom pai e marido, sempre zelou por seu comportamento ético e moral
em sua profissão, seus negócios e diante de toda a sociedade, tanto que minha
visita tinha como finalidade, além de revê-lo, de me aconselhar comercialmente
com o mesmo.
Como não conversávamos em particular
há tempos, ouvi uma história de dificuldades financeiras, causadas por um
contrato assinado com um banco - onde as entrelinhas diziam coisas diferentes
do que entendera -, e o prejudicara muito, fazendo com que tivesse de se
desfazer de vários bens adquiridos com sacrifício durante décadas, para honrar
seus compromissos comerciais.
Antes de chegar a esse ponto,
quando percebeu a dificuldade que o contrato o levaria, contou que procurou o
banco na tentativa de realizar algum tipo de negociação que lhe permitisse
saldar seu compromisso com maior prazo, pagando os juros e dando garantias, mas
sem a necessidade de se desfazer de patrimônio.
Tendo suas solicitações
negadas, perguntou ao gerente se sua história como cliente durante todo aquele
tempo de nada valia, e ouviu que, para o banco, histórias comportamentais não
existiam e o que importava era o “de agora em diante”.
Na conversa pude perceber o
quanto essas palavras surpreenderam aquele homem que, por sempre ter sido
honesto, esperava que isso de algo lhe valesse em um momento de dificuldade.
Era inacreditável para ele que naquele momento fosse tratado por um gerente e
um banco que o conheciam há décadas, em igualdade de condições dos que sempre
foram desonestos.
Após ouvir seu relato, pensei
em como o mundo tem sido cruel com os homens de bem. A concessão de crédito no
sistema bancário ou no comércio trata todos os tomadores de empréstimos como
maus pagadores e, pelo risco de não receberem, cobram de todos os juros que
todos conhecem. Com a informatização, todos eles possuem acesso às listas dos
maus pagadores e recentemente também dos bons, mas os juros cobrados são os
mesmos.
Sempre soube que um mau negócio
poderia levar o mais poderoso dos homens a enfrentar enormes dificuldades ou
mesmo liquidá-lo financeiramente, mas durante a vida observei que os que passam
por dificuldades sem se distanciar da honestidade, conseguem se reerguer, e
normalmente, agora em bases mais sólidas.
Entretanto, com esse
comportamento, os banqueiros e comerciantes estão destruindo exatamente aqueles
para quem poderiam conceder crédito com riscos muito menores, criando, para
eles mesmos, maiores dificuldades futuras.
Mas não são somente os
banqueiros e comerciantes que poderão determinar o futuro de alguém que em
determinado momento realizou um mau negócio. Outras pessoas, entidades,
empresas e organizações continuam buscando caráter e honestidade em seus pares.
Creio, sinceramente, que os
maiores bens a serem buscados não são os financeiros e materiais, mas a
dignidade e a honra.
Um grande homem não é o que
consegue derrubar os outros, mas o que, a cada queda, se levanta sabendo mais.
- Olá caro Amigo João Bosco, é
um prazer tê-lo de volta com suas crônicas muito bem elaboradas, narrando o cotidiano
de nossas vidas.
Abraços: PVeiga.
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