segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

RETRATOS INESQUECÍVEIS

Por Luiz Antonio Domingues

 Quando vemos no cinema, livros ou na mídia em geral, estórias envolvendo órfãos, geralmente reagimos com consternação.
Comovemo-nos, emocionamos e solidarizamos com os envolvidos, mas mantendo uma barreira regulamentar, como a estabelecer uma divisória clara.
Isso não é uma regra geral, ainda bem, e existem no mundo inúmeras pessoas absolutamente altruístas que dividem seu amor de forma visceral, em prol de crianças que não tiveram a sorte de ter um lar estruturado, com papai e mamãe carinhosos, irmãozinhos e vovós adoráveis.
Nesse caso, quando nos deparamos com essas pessoas cujo prazer na vida é doar amor equanimemente entre diversas crianças, sem nenhum laço sanguíneo que os una, percebemos claramente o quanto é relativo o conceito de amor, variando conforme fatores culturais, tão somente.
Chegou às minhas mãos um livro autobiográfico, escrito por uma amiga chamada, Elizabete Rodrigues Lima.
O nome da obra é "Retratos Inesquecíveis", onde narra com muita pungência, sua criação dentro de uma instituição de abrigo a crianças órfãs, na cidade de Lins, interior de São Paulo.
Muito bem escrito e documentado, impressionou-me positivamente, por vários aspectos.
Em primeiro lugar, a reflexão imediata que me provocou, foi a de repensar alguns conceitos referentes à orfandade.
Com um relato desses, percebemos claramente que aquele conceito de que o órfão sucinta pena, pode ser muito equivocado.
É claro que o ideal seria que todo mundo, sem exceção, nascesse num lar estruturado, com a criação sendo feita sob o teto e o amor da família biológica tradicional. Não se trata de discordar desse conceito social.
Contudo, tirante as instituições mal administradas e/ou mal intencionadas, acredito que em sua maioria, as instituições que abrigam tais crianças carentes, tem objetivo sério e caridoso, principalmente se levarmos em conta que a maioria é administrada por grupos religiosos, com objetivos morais concatenados com a ética espiritual.
Existem inúmeras instituições católicas e protestantes, mas é destacada a ação dos espíritas kardecistas nessa área, pois a caridade é um pilar básico da doutrina e exercê-la é ponto pacífico entre seus seguidores.
E foi esse o caso de Elizabete, que teve a sorte de ter sido conduzida à uma Instituição espírita, denominada "Lar Antonio de Pádua", localizada na cidade de Lins, noroeste do estado de São Paulo.
Logo no início da narrativa, Elizabete deixa claro que há um mito geral arraigado, dando conta de que todas as crianças conduzidas à tais instituições, não tem pais ou parentes próximos. Isso não é verdade, na medida em que muitas crianças são conduzidas à tais casas, por diferentes motivos.
Muitas, são levadas pela total impossibilidade de suas famílias garantirem o seu sustento; outras tantas por conta de ausências decorrentes de internações e/ou encarceramentos de pais e responsáveis, e muitas são "filhas da prostituição", como eufemisticamente a autora colocou.
Outro ponto, foi o do relato carinhoso de Elizabete ao se referir às pessoas que administravam o Lar.
É com muita emoção que escreve diversas passagens sobre uma funcionária muito amorosa, chamada Dinah, a quem as crianças, Elisabete incluso, chamavam carinhosamente de "mãe Dinah".
Através dessas passagens, onde descreve diversas facetas ocorridas por muitos anos e envolvendo a mãe Dinah, Elizabete deixa claro que naquele lar, teve todo a amor necessário à sua formação.
E com muita capacidade narrativa, descreve muitas lembranças, da tenra idade ao fim da adolescência, onde como regra da casa, aos 18 anos, as crianças precisavam sair, mas amparadas mesmo assim, com estudo fundamental concluído, encaminhadas para faculdades e vida social adulta, plena.
Com riqueza de detalhes, Elizabete traz em suas reminiscências, muitos aspectos : A rotina da Instituição; lembranças das amigas; brincadeiras; travessuras, os primeiros contatos com a socialização fora da casa; doenças infantis, tarefas, o aprendizado de preceitos sociais etc.
E segue adiante, fazendo um apanhado da transição para a adolescência e suas atribuições inerentes, tais como a descoberta da sexualidade, interesse pela escolha de uma profissão, etc. 
E um fato que considerei pungente: Com a proximidade da data limite para a saída do Lar, a preocupação em ter que deixar a casa e a família que tanto amava.
Com isso, ficou claro para mim na mensagem da obra, que nem todo órfão é um carente em potencial e que o amor não precisa ser exercido necessariamente entre pessoas de vínculo biológico.
Finalmente, o último ponto positivo a meu ver, foi a riqueza de detalhes, tanto nas lembranças descritas, quanto na farta documentação de fotos, manuscritos e impressos guardados com muito carinho e publicados no livro. 
Noite de Autógrafos do Livro
Elizabete Rodrigues Lima é uma pessoa feliz e grata pela criação que teve. Fora do Lar Antonio de Pádua, trabalhou, casou-se e teve dois filhos. 
Hoje é uma avó muito orgulhosa e passa aos seus, o amor que teve da mãe Dinah, e também de outras pessoas com as quais conviveu e recebeu muito carinho, como os tios Gil e Aurora Moura e tantos outros citados no livro.
Da maneira como Elizabete estruturou sua autobiografia, parece um roteiro pronto para o cinema.
Fica a dica para o sr. Oceano Vieira de Melo, famoso produtor de filmes de teor Kardecista, uma olhada com carinho no livro "Retratos Inesquecíveis", que em minha opinião, rende um bom e emocionante filme sobre o amor maternal.
Luiz Antonio Domingues-músico das bandas PEDRA, Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, Kim Kelh e os       Kurandeiros.   

Um comentário:

elisabete disse...

Muito obrigada Pedro da Veiga. Ficou ótimo a sua divulgação da resenda do Luiz Domingues. Obrigada por nos ajudar a divulgar o maravilhoso trabalho da "Fundação Gil Moura". Hoje é creche e tem mais de 120 crianças de ambos os sexos.
Mesmo não sendo mais internato como eu relato no final do livro.Eles continuam fazendo um maravilhoso trabalho com crianças necessitadas.
Um grande abraço!
Elisabete.