quinta-feira, 24 de abril de 2008

Poema: insignes ficantes


insignes ficantes

sim, eu já fui um índio, meio bicho,
meio homem, espécime mui rara,
daqueles que não eram ainda arara
e nem coisa de se jogar no lixo

por estar entre a boca e incerto bico
por nem ter decidido se pele ou pêlos
ou penas ou plasma apenas, sem umbigo
sem ossos e sem nervos nem cabelos

mas o tempo que forma e deforma
por mim e pelos outros decidiu
utilizando-se da velha fórmula
e apareceu o que nunca se viu

um muito estranho hábito de fala
pela boca copiada de um peixe
foi reunindo idéias, formando um feixe
que a nada se equipara e nem se iguala

da caverna ao apê, do iglu ao spa,
da pena ao computador só um lapso
desse maravilhoso transformar
permanentemente em total colapso

eu já fui índio, pássaro, mamute,
hoje sou poeta, vírus programado
para acabar o mundo inacabado
e alcançar o prazer do real desfrute

Nabuto Almada (1990-2007)
Osaka – Japão


(tradução de Kevin Kojo Wojciechowski

e Thadeu W)

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