quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A MAGIA DO CAMAQUÃ

Hiram Reis e Silva, Bagé, RS, 30 de novembro de 2011.

Poema da Água

Raul Machado

A água também tem a sua infância

- quando apenas riacho cantarola

brinca de roda nos redemoinhos

salta os seixos que encontra

e faz apostas de corrida - travessa -

por entre as grotas e peraus

e arranca as flores que a marginam

para engrinaldar a cabeleira solta

sobre o leito revolto das areias...

Granja do Valente

O Amigo Pedro Auso Cardoso da Rosa estava programando uma descida pelas águas do Rio Camaquã, com direito a acampamento e tudo mais, infelizmente contratempos de toda a ordem forçaram-me a adiar o evento. Vim para Bagé com o propósito de dar continuidade ao meu treinamento na Granja do Valente, de propriedade da Família Schiefelbein, mas com a firme determinação de conhecer o Rio Camaquã. Na barragem o ninhal de maguaris, cheio de vida em setembro, estava abandonado, apenas vestígios de cascas de ovos sinalizavam sua eclosão e a passagem das majestosas aves pela área.

Soneto

Augusto dos Anjos

(Ao meu primeiro filho nascido morto com 7 meses incompletos

2 fevereiro 1911)

Agregado infeliz de sangue e cal,

Fruto lubro de carne agonizante,

Filho da grande força fecundante

De minha brônzea trama neuronia

Que poder embriológico fatal

Destruiu, com a sinérgia de um gigante,

Em tua morfogênese de infante

A minha morfogênese ancestral?!

Porção de minha plásmica substância,

Em que logar irás passar a infância,

Tragicamente anônimo, a feder?!...

Ah! Possas tu dormir feto esquecido,

Panteisticamente dissolvido

Na noumenalidade do NÃO SER!

Apenas o grande ninho do João Grande continuava ocupado como se a ave ainda estivesse chocando, cuidadosamente consegui me aproximar e fotografar o único ovo que restara dos três que examinara em setembro. Peguei o ovo, curioso, pois o período de eclosão desde há muito se passara. Confirmando as expectativas verifiquei que o mesmo estava gorado e o retirei do ninho. Nos dias seguintes verifiquei que a zelosa mãe não estava mais no seu ninho liberada que fora do compromisso de chocar a calcária câmara mortuária. Se a pobre ave soubesse o que estava chocando talvez fosse capaz de entender a desconsolada e trágica essência da poesia de Augusto dos Anjos.

A barragem continuava me surpreendendo, um casal de marrecas pés-vermelhos apresentava um comportamento estranho como se estivessem com dificuldades para voar, se aproximando bastante do caiaque sem demonstrar medo. Depois de algum tempo pude verificar a razão do bizarro comportamento, os pais tentavam desviar minha atenção de três marrequinhas que mergulhavam procurando esconder-se de minhas vistas. Uma delas, mais próxima da margem mergulhava comicamente apenas a cabeça deixando a cauda de fora, me aproximei mais um pouco para fotografá-la, e a pequenina mergulhou completamente acabando por se emaranhar nas finas algas. Agarrei-a e a desembaracei da fluída e verdolenga armadilha e ao soltá-la ela nadou rapidamente, chegando a correr sobre as águas, na direção dos pais que grasnavam freneticamente.

Rio Camaquã

A Rosângela me apresentou o Dr. Diogo Madruga Duarte um vaqueano preservacionista e irmãos das águas. O Dr. Madruga coordena periódicas descidas no Rio Camaquã e me repassou algumas importantes dicas a respeito do trajeto que eu planejara para o sábado, sugerindo que eu partisse do Passo dos Enforcados (30°52’54,4” S / 53°35’53,3” O) e não da Ponte sobre o Rio Camaquã (30°51’46,1” S / 53°36’59,4” O) cujo acesso era praticamente impraticável. Disse que pretendia ir até o Passo do Cação (30°57’30,4” S / 53°28’56,6” O) onde a Rosângela me aguardaria para pernoitarmos na Fazenda Remanso da amiga Rosi Medeiros. Um deslocamento de aproximadamente 40 quilômetros que, graças à velocidade da correnteza do Rio poderia ser vencido em seis horas de navegação.

Parti do Passo dos Enforcados às 08h30 de sábado. O estreito canal fluía espremido por grandes paredões de arenito debruçados majestosamente sobre o Rio e que vez por outra se apresentavam somente em uma das margens. O arenito é o resultado da petrificação de partículas de areia que misturadas com minerais agregadores, como o quartzo e a calcita, foram submetidas à grande pressão, durante séculos. Imerso nas telúricas entranhas eu podia admirar as belas estratificações formadas pela alternância de camadas sedimentares com granulação e cores diferentes. As belas camadas de seixos de tamanho diferentes permitiam que eu comparasse os aspectos geológicos do erodido terreno atual com os do longínquo pretérito. No leito a ação das águas diluía a ação dos tempos, separando novamente as antigas partículas cimentadas em longínquas eras, permitindo que a imaginação vagasse pelo formoso túnel do tempo camaquense. As camadas sedimentares, qual páginas amarelecidas do livro da mãe Terra, contavam uma história de transformações mescladas de cataclismos radicais e pachorrentas acomodações ancestrais.

As belas formações moldadas pelas forças da natureza através dos tempos me encantavam e eu me sentia imensamente feliz em poder contemplar estas verdadeiras esculturas criadas pelas mãos do Grande Arquiteto do Universo. A diversidade de imagens, as nítidas colorações das camadas sedimentares, os seixos incrustados no arenito, o canto das aves, produziam um efeito transcendental em todo o meu ser, eu empreendera uma cruzada mágica.

Logo que iniciei minha jornada dois biguás me serviram de precursores. Assustados com a proximidade do caiaque voavam até a próxima curva do serpenteante manancial e esperavam que eu me aproximasse para repetir o gesto novamente. Fui encontrando outros grupos pelo caminho e quando cheguei a meu destino eram nove, as aves que me antecediam. Cruzei, no trajeto, por cinco veados-campeiros (Ozotocerus bezoarticus) que bebiam placidamente as águas do Camaquã e se afastaram vagarosamente ao notar minha presença. Dois grupos de capivaras, não foram tão discretos assim, atirando-se ruidosamente nas águas. Em um dos grupos pude perceber a presença de um grande macho, além do tamanho sua identificação é facilitada pela enorme glândula que possui entre o focinho e a testa. O cheiro forte e característico que dela emana serve para identificar as fêmeas conquistadas, seus filhotes e demarcar seu território. A pequena travessia foi uma das mais belas que empreendi até hoje e agradeço a todos que a tornaram possível e, em especial, minha cara Rosângela Schardosim.

– Livro

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false
.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Vice-Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio Grande do Sul (AHIMTB-RS)

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E–mail: hiramrs@terra.com.br

PENSAMENTO VIVO DE DOM JAIME LUIZ COELHO

MOURÃOENSE LANÇARÁ LIVRO SOBRE DOM JAIME

O professor e escritor Agnaldo Feitosa, lançará no próximo sábado dia 3, às 20 horas, na Estação da Luz "Dom Eliseu Simões Mendes", o seu décimo livro intitulado “Pensamento Vivo de Dom Jaime Luiz Coelho”, primeiro bispo e arcebispo de Maringá.

Três de dezembro é uma data sugestiva. É nesta data que Dom Jaime completa 55 anos da indicação para ser o 1º bispo de Maringá. No dia 7 de dezembro, o religioso completará 70 anos de ordenação sacerdotal. Ele fez 95 anos no dia 26 de julho. Na foto Dom Jaime com o livro ao lado do escritor Feitosa.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

PILOTANDO O INEXCEDÍVEL CABO HORN

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 29 de novembro de 2011.

A Canoa Fantástica

Castro Alves

Pelas sombras temerosas

Onde vai esta canoa?

Vai tripulada ou perdida?

Vai ao certo ou vai à toa?

Semelha um tronco gigante

De palmeira, que s'escoa...

No dorso da correnteza,

Como bóia esta canoa!... (...)

Que vulto é este sombrio

Gelado, imóvel, na proa?

Dir-se-ia o gênio das sombras

Do inferno sobre a canoa!...

Foi visão? Pobre criança!

À luz, que dos astros coa,

É teu, Maria, o cadáver,

Que desce nesta canoa?

Caída, pálida, branca!...

Não há quem dela se doa?!...

Vão-lhe os cabelos a rastos

Pela esteira da canoa!...

E as flores róseas dos golfos,

— Pobres flores da lagoa,

Enrolam-se em seus cabelos

E vão seguindo a canoa!...

Lagoas Litorâneas

No feriado de 15 de novembro, acompanhados pelo Professor Hélio Riche Bandeira, do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), do Sr. Pedro Auso Cardoso da Rosa e sua esposa Vera Regina Sant’Anna Py, de Camaquã, percorremos as Lagoas Litorâneas partindo da Lagoa da Fortaleza, em Cidreira, rumo Norte, até a ponte do rio Tramandaí, em Imbé.

Diferentemente da fúnebre canoa de Castro Alves, o professor Hélio estava buscando um caiaque de alta performance e eu lhe indiquei o caiaque oceânico do Coronel Flávio André Teixeira, chefe da minha equipe de apoio nas descidas do Rio Negro e Amazonas. O Professor Hélio ficou visivelmente impressionado com o desempenho, a estabilidade e o conforto do incomparável Cabo Horn fabricado pela OPIUM Fiberglass. Já naveguei mais de 25.000 km com este modelo, possuo dois, enfrentando ciclones extratropicais, ondas de até 2 metros de altura e afirmo categoricamente que não existe outro igual. A nova travessia da Laguna dos Patos, em abril de 2012, em homenagem ao Centenário do CMPA será realizada sem os percalços das duas últimas já que meu parceiro irá pilotar um caiaque que além de inspirar segurança e tranquilidade permite que se carregue, nos compartimentos de proa e popa, todos os apetrechos necessários para montar um confortável acampamento.

O amigo Pedro Auso teve a oportunidade de pilotar o Cabo Horn do Professor Hélio e se mostrou visivelmente entusiasmado com o caiaque do Mestre Fábio Paiva. Os amantes da canoagem que realizam longas travessias que ainda não conhecem este modelo não sabem o que estão perdendo.

- Caiaque Oceânico Individual Cabo Horn

O Cabo Horn é ideal para longas travessias nos mares, rios e represas. O amplo Cockpit permite que se embarque sem maiores preocupações mesmo em águas turbulentas. Apesar de ter um comprimento de 5,12 m, uma largura máxima de 60 cm e uma altura de 40 cm, pesa apenas 24 kg. Seu leme retrátil (inox), comandado pelos pés, permite manobras rápidas para um caiaque de suas proporções e no convés existem linhas de vida, amarras para carga externa.

- Canoísta Fábio Paiva

Fábio Paiva, engenheiro de formação, é Diretor e Proprietário da OPIUM Fiberglass, maior fabricante de caiaques e canoas do Brasil em números de modelos, pratica Canoagem Oceânica, Canoagem Havaiana e Rafting. Fábio foi o precursor da canoagem oceânica no Brasil, 1° Campeão Brasileiro, Heptacampeão Brasileiro de Canoagem Olímpica, Decacampeão Brasileiro de Canoagem Oceânica (categoria oceânico individual), 7° lugar na Maratona internacional Zanábria-Espanha, Vice-Campeão Sul-Americano no Uruguai, Bicampeão de Canoagem Oceânica (categoria Dupla Mista), Detentor do Record de 24 horas homologado, remando em mar com distância de 164 km, Medalha de bronze na Maratona Internacional de Canoagem Oceânica – III. Volta à Ilha da Madeira, Portugal, 1998. Como reconhecimento ao seu desempenho como desportista foi convidado para participar do revezamento da Tocha dos Jogos Pan Americanos, em 2007, representando a Canoagem.

O currículo do amigo Fábio é muito extenso e de causar inveja a qualquer desportista de alto nível, fizemos, aqui, apenas uma breve sinopse dele. Sua experiência internacional, como canoísta, lhe conferiu autoridade e conhecimento para definir os inexcedíveis requisitos técnicos do Cabo Horn.

Livro

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false
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Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Vice-Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio Grande do Sul

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E–mail: hiramrs@terra.com.br

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A NOSSA GERAÇÃO

Por João Bosco Leal

Apesar de ainda faltarem dois longos anos para lá chegar, eu me identifiquei bastante lendo um texto de Regina de Castro Pompeu "De repente 60".

A amiga de juventude que o enviou dizia perceber que já possui bem mais passado do que futuro, já não possuía mais tempo a perder e que agora procurava dar mais carinho, amor, cumplicidade e amizade aos que mais quer, mas cobrava receber o mesmo, pois o tempo passava e amanhã poderia ser tarde. Já ouvira muitas coisas semelhantes, mas dito assim, ao lado do texto enviado, despertou-me atenção para os raciocínios.

Por termos presenciado tantas mudanças radicais pelas quais passou a humanidade no período, realmente somos de uma geração extremamente privilegiada. Nesse período fizeram história John F. Kennedy, Martin Luther King, Frank Sinatra, os Beatles, Elvis Presley, Michael Jackson, Juscelino Kubitschek, Vinicius de Morais, Tom Jobim e Elis Regina, citando somente os que já não estão entre nós.

Presenciamos o surgimento das eletrolas, vitrolas, dos gravadores com fitas de rolo, cartucho e cassete - que os adolescentes provavelmente já nem sabem do que se trata -, o início e a proximidade do fim dos CDs, DVDs e mp3, que deram lugar aos pen-drives e blu-rays.

As televisões com as imagens em preto e branco eram um luxo e durante muito tempo só eram encontradas nas residências das famílias com maior poder aquisitivo. Vieram as coloridas e muitas prefeituras dos municípios do interior colocavam um aparelho na principal praça da cidade, para que todos tivessem acesso.

As máquinas fotográficas eram enormes e mesmo quando se tornaram portáteis eram caras, não acessíveis para a grande maioria da população e gravavam as imagens em filmes de 35 mm que precisavam ser revelados.

Na década de cinquenta eram muito poucas as opções de transporte, realizado por jardineiras, trens ou bondes urbanos, pois os poucos modelos de automóveis existentes possuíam custo inimaginável para a população. Assistimos a tudo isso, mas também vimos o homem pisar na lua.

As comunicações evoluíram desde o telefone com manivela, passando pela chamada através da telefonista, aparelhos automáticos, os sem fio e celulares, chegando aos atuais smartphones.

Atualmente, as televisões e os telefones, fixos ou móveis, são de qualidade muito superior, de tamanhos de bolso a verdadeiras telas cinematográficas, acessíveis para toda a população e onde quer que ela esteja.

As opções são muitas, com canais abertos ou pay-per-view, analógicos ou digitais, celulares pré e pós-pagos, além de Skype, VOIP, etc., com todas as transmissões de imagem e som por cabos, antenas parabólicas, radio-frequência ou satélites.

Nas cidades estranhas, a cada trecho percorrido, parávamos para pedir informações, mas com os atuais aparelhos de GPS portáteis, não se erra mais qualquer endereço, pois uma voz eletrônica não silencia enquanto qualquer erro no trajeto não for corrigido.

A ciência e a medicina evoluíram de tal maneira nesse período que a expectativa média de vida dos brasileiros passou de quarenta para setenta e cinco anos.

Com os jovens, presenciamos o surgimento da geração i... Pod, Phone e Pad, dos diversos sistemas operacionais dos PCs, notebooks, smartphones e tablets, da "computação em nuvem", além da morte de um gênio visionário, que criou ou possibilitou a criação da maioria dessas invenções, Steve Jobs.

Os que já possuem mais de sessenta anos podem se orgulhar de terem vivido no período mais fértil de progresso que a humanidade já conheceu.

domingo, 27 de novembro de 2011

ELEIÇÃO PARA DIRETORES, VOTO E RESPONSABILIDADE

"O ser humano pode ser a medida do que medita"-(Gudé)

Por José Eugênio Maciel

“... nada melhor do que exercer a democracia na própria escola. O lema,

aliás, que nos pautou a conceber o projeto, era o de que a

democracia se aprende na escola, sobretudo”.

Rubens Bueno – deputado federal

Na democracia a liberdade é imprescindível. A expressão livre, para ser democrática, ocorre plenamente através do voto. O voto é a escolha com autonomia de uma vontade engendrada na opção de cada um a ser somada ao que chamamos de vontade geral, da maioria, uma suprema afirmação coletiva.

Sem embargo, o ponto mais notável e culminante da democracia é o ato de votar. As eleições são a mais cristalina condição e demonstração do processo político-institucional. Entretanto, ao mesmo tempo em que não se pode afirmar a existência da democracia se não existir o voto, é preciso advertir, somente o voto não configura a democracia. Mas infelizmente tem sido essa a visão e a prática encontrada em significativas parcelas da sociedade. O povo age como se bastasse apenas comparecer às urnas. O eleitor vota e volta para a casa achando que não lhe cabe nada mais significativo. Terminado o processo eleitoral são muitos que compreendem ser a responsabilidade integral cabível aos eleitos. O tão elevado momento, o do voto, se torna arrefecido, diluindo no cotidiano da esfera pública à medida que a participação popular é inexistente ou sazonal, situada na maioria das vezes no âmbito da formalização engessada do poder e a sociedade.

Seguramente a eleição para diretores das escolas públicas do Paraná é por si só extremamente representativa em razão da escolha livre e aberta por parte dos funcionários de cada estabelecimento de ensino, dos professores, dos estudantes e pais deles, enfim da comunidade educacional. A Lei que a instituiu, nº 7.961/84, de autoria do então deputado Rubens Bueno, teve o mérito imediato de acabar com a indicação político-partidária tantas vezes divorciada dos verdadeiros interesses educacionais. A Lei, com a sua realização, se antecipava a Constituição Federal, aprovada em 88, em termos do conteúdo que primava pela cidadania, o que nas escolas do Paraná já era uma prática executada também com prisma político-pedagógico.

Embora todas as escolas possuam características semelhantes ou muito parecidas entre elas, cada estabelecimento de ensino tem a sua própria história, identidade e peculiaridades específicas. Em cada uma existe o modo de ser que espelha o que são seus integrantes, considerando ainda o contexto social no qual o estabelecimento se situa. Por isso, mesmo que o poder público proporcione em geral o repasse igualitário de recursos e verbas para a sua mantença, elas têm uma aparência, feição, conteúdo e funcionamento que ensejam até mesmo profundas diferenças. Nesse diapasão, as eleições têm no bojo da escolha aspectos concernentes a realidades exclusivas: candidaturas únicas; disputa de chapas; maior ou menor participação no processo eleitoral; grau de politização; número de comparecimento daqueles que vieram exercer o seu direito democrático, configuram estágios que podem refletir uma multiplicidade de variantes.

Para se fazer uma feijoada completa é indispensável logicamente o feijão. Porém, somente com o feijão não se faz a feijoada. O voto é o feijão da democracia. Democracia que, portanto, não existe se não tiver o feijão. Entretanto, existem outros ingredientes que precisam compor uma feijoada. Assim sendo, a democracia é um processo político-institucional que não começa e nem termina com o voto, ainda que – repita-se – seja a eleição o ponto mais visível/culminante de todo o processo de uma escolha. A liberdade como bem irrenunciável por parte de todos, conteúdo substancial da democracia, deve estar associada com o estado de direito, com a organização social acima de objetivos de grupos ou de corporações. E não carece tecer maiores comentários o quanto é essencial à prática democrática na educação, em cada escola. É na escola onde o pensamento crítico da política deve ser informado, analisado, formado, elencando a junção salutar da teoria e da prática. É nela em que a liberdade de escolha e a escolha com liberdade é para ser semeada, cultivada e florescer como viço da maturidade e normalidade democráticas.

Se o voto é o feijão, a feijoada completa antecede e se desdobra após a ida às urnas. Principalmente na elaboração e execução do Projeto Político-Pedagógico, a comunidade educacional tem o dever cotidiano construir permanentemente a melhor escola, eis o papel e a responsabilidade de todos, a prosseguir e se consolidar após essas eleições, com mobilização para que cada momento do ensinar/aprender seja de realizações positivas da qualidade do conhecimento voltado para a formação e o despertar da cidadania.

Imagens do Google - fotoformatação PVeiga

VATICANO PROPÕE GOVERNO MUNDIAL PARA REALIZAR REFORMA FINANCEIRA

Escudo vaticano
Image by Efrén Sánchez via Flickr


O Pontifício Conselho do Vaticano Justiça e Paz, propôs a criação de uma autoridade política e um banco central mundial que possam fazer frente à atual crise financeira mundial.
O pedido está no documento "Por uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva de uma autoridade pública com competência universal", apresentado pelo cardeal Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz.
O líder e a entidade teriam a função de promover “mercados livres e estáveis, disciplinados por um quadro jurídico adequado”, além de fazer frente à atual crise financeira e econômica.
De acordo com a publicação paranaense O Diário, a Congregação do Vaticano explicitou que tal autoridade deve ter um “horizonte global e servir ao bem comum”. Por outro lado, essa liderança não poderia ser imposta pela força, mas servir pelo acordo livre e compartilhado.
“O exercício de tal autoridade deve ser necessariamente supranacional”, disse o comunicado divulgado pela Rádio Vaticano.

O Vaticano justifica a criação de uma Autoridade Pública Mundial por causa da crescente interdependência entre os estados.
A criação de um Banco Central Mundial também é incentivada pela Santa Sé, que deveria exercer a função de regular o fluxo e o sistema dos intercâmbios monetários, segundo a agência Efe.

De acordo com o texto, o Fundo Monetário Internacional perdeu sua capacidade de garantir a estabilidade das finanças mundiais.
Com vistas a criar uma autoridade supranacional, o Vaticano assinala que os estados devem ceder de forma gradual e equilibrada uma parte de suas atribuições nacionais à chamada Autoridade Mundial.
"Hoje se vê como surrealista e anacrônico que um estado considere que pode conseguir de maneira autárquica o bem de seus cidadãos. A globalização está unificando os povos, levando-os a um novo 'estado de direito' em nível supranacional, a um novo modelo de sociedade internacional mais unida, respeitosa com a identidade de cada povo", diz o documento.
Fonte: www.christianpost.com e Nova Ordem Global

sábado, 26 de novembro de 2011

A LENIÊNCIA QUE REQUER RESPOSTA IMEDIATA

Por Fernando Alves de Oliveira

É ponto pacífico que Carlos Lupi está praticamente fora do Ministério do Trabalho e Emprego. Aliás, nunca disse a que veio de vez que sua atuação institucional desde que foi guindado ao cargo foi de inteira nulidade. O que a esta altura começa a ser temerário é apostar na manutenção da pasta ao PDT quando da próxima reforma ministerial, conforme quer a presidente Dilma visivelmente agastada com tanta constante faxina. Ao que se sabe só se antecipará em caso de novo incontido escândalo na área. Afinal, “nunca antes” se deparou com o surgimento de tantos nefandos e nefastos artífices especialistas em saltear a República.

Os rumores que nos últimos dias passaram a ecoar, ainda que furtivamente e cercados de cuidadosos off the record na Secretaria Geral da Presidência da República, ocupada pelo pressuroso ministro Gilberto Carvalho, indicam que o feudo outorgado pelo antecessor de Dilma ao PDT -a exemplo dos demais ministérios entregues pelo PT aos aliados e usualmente de porteira-fechada- corre sério risco de ser reconsiderado. No caso de Lupi, vale lembrar a sua condição de perfeito análogo de Lula. Ambos mistificam a posse de suas correspondentes siglas partidárias. De donatários, passaram a ser contemplados pelo séquito com o pomposo rótulo de “presidente de honra”.

Mas, afinal, quem estaria para ser contemplado como felizardo sucessor de Lupi? É óbvio que só poderia ser um ente petista. Como tal, de absoluta confiança do Planalto. A preferência é pela figura de Ricardo Berzoini, ex-ocupante da mesma pasta no Governo Lula, que por sinal acaba de revelar grande mágoa por sua exclusão da montagem do novo governo. Ao mesmo tempo, na tentativa de desmentir a hipótese de seu retorno ao cargo, afirmou “que o PT não faz conspiração contra ninguém”. A perspicácia e sagacidade contidas na frase são encantadoramente reveladoras do oposto...

Mas insatisfações pessoais menores e desinteressantes à parte, o que motiva essa mudança? Está claro que dentro da lógica inerente ao modelo de quem governa na base do “toma lá, dá cá”, quando da defenestração de um ente físico, o procedimento “ético” é o de se contemplar outro membro do mesmo partido. Como, aliás, tem ocorrido nessa constante azáfama profilática de última instância do Governo Dilma, quando o envolvido em constantes “malfeitos”. Invariavelmente depois de acusado pela mídia ser execrado pela sociedade, o personagem é “convidado” a retirar-se, sempre “a pedido”, como ocorreu desde Waldomiro Diniz, o precursor dos então “malfeitos” do governo Lula. Certo? Não necessariamente, tanto na ótica do Governo Dilma e muito menos do PT, principal sustentador de sua política.

A exemplo do que já ocorrera no anterior, o PT ocupa todos os ministérios estratégicos e majoritários do Governo Dilma, não só de contexto de importância política, mas, e principalmente, nos que lideram as maiores dotações orçamentárias... Prova material disto? Já se sabe que Haddad sairá da pasta da Educação para concorrer à Prefeitura de São Paulo e seu colega Mercadante, da Ciência e Tecnologia tomará o seu lugar e outro petista será o seu substituto. Afinal, na doutrina petista prevalece o sagrado mandamento constante de seu evangelho: “Matheus, primeiro os meus”.

O PT só é compelido a dividir sem tergiversar, quando a discussão é com seu principal “sócio” de sustentação de poder, isto é, o velho PMDB que, invariavelmente, nunca precisa dar-se ao trabalho de ter candidato próprio à presidência da República. Está sempre associado a todos os governos, não importando a índole ou as ações programáticas. Aliás, se o PMDB tivesse a obrigação de ter candidato próprio, aí sim residiria sério problema... Faltam-lhe quadros à altura. É como briga de rua. Ele é forte, robusto e extremamente valente, mas somente quando em turma. Isoladamente, a tibieza e mediocridade imperam.

Mas, claro está que o PDT não perderá seu quinhão. Não fará o sucessor de Lupi, até porque qual seria o nome mais lógico dentro do âmbito trabalhista e sindical do partido para suceder Lupi? Paulinho da Força? Fala sério! Assim, o PDT perderá o anel, mas conservará o dedo. E para novo adorno, que tal o ministério das Cidades, cujo seu titular, Mário Negromonte, também está metido em fétidas complicações?

Essa é a conseqüência da leniência resultante da postergação daquilo que a moral e a ética inerente ao zelo do exercício da coisa pública exigem providências imediatas e sem contemplações, especialmente de quem tem o dever de pautar-se não pelo tempo da demanda, mas pela necessidade da pronta ação da demanda.

Mas ainda que no âmbito do trabalhismo e sindicalismo o atual Governo tenha pouca ou nenhuma diferença do anterior, diferindo apenas no quesito de estilo, é inquestionável que uma eventual substituição de Lupi por Berzoini será retroagir ainda mais nas áreas trabalhista e sindical, que padecem de memorável atraso, absolutamente incompatível com o gigantismo do País.

Pois não foi o mesmo Ricardo Berzoini que em maio de 2000 (dois anos e meio antes da eleição de Lula e do PT) subscreveu a PEC 252 que, dentre outras preciosidades em seu texto, figurava estas: “(...) A unicidade e a contribuição compulsória são exemplos de uma estrutura sindical que não mais condiz com a realidade da classe trabalhadora, hoje mais dinâmica e consciente. A Constituição de 1988, embora tenha trazido alguns avanços e proclamado alguns princípios para o movimento sindical, ainda manteve a forma corporativa de organização inaugurada na Era Vargas, que coloca o sindicato à sombra da ação estatal. Valendo-se dessa estrutura anacrônica, alguns sindicatos desprovidos de qualquer legitimidade, sobrevivem em razão das contribuições compulsórias e da visão protecionista do Estado. (...)”.

Pois não foi ele próprio que como ministro do Trabalho em 2005 também subscreveu a PEC-369? Leiam e comparem o prometido com o realizado! Atentem e comprovem a oratória, desprovida da prática, de um partido que desde os idos tempos dos discursos flamejantes de seu principal artífice, em São Bernardo do Campo, clamava por reformas viscerais. Não foram os mesmos petistas que, depois de eleitos, jogaram-nas no lixo! Típico e triste papel da empulhação de histriões de palanque e vazios da prática!

Já desmistifiquei –e com todas as letras- a fábula sindical do Governo Lula. Ele foi explicitado em minúcias em meu último livro e em artigos específicos anteriores. Já esgotei o assunto. Não quero e não vou ser repetitivo. Quem ainda duvidar de sua existência que recorra à leitura oficial do texto das duas propostas de emenda à Constituição, ambas arquivadas na Câmara dos Deputados, e efetue seu cotejamento. E coisa do céu ao inferno!

Destarte, a se confirmar os rumores de bastidores, nada haverá mais de esperança quanto à moralização do sindicalismo e o aprimoramento das relações do Trabalho, de vez que a legislação que rege as duas matérias é a mesma implantada por Vargas em maio de 1940, totalmente retrógrada e caduca distante do hodierno exigido pelas relações do Trabalho, especialmente de uma nação que se gaba de ostentar a glorificante colocação do ranking da economia mundial.

Além de não ter extirpado o câncer representado pela figura da contribuição sindical compulsória, mãe de todos os vícios e mazelas do sindicalismo brasileiro, o Governo anterior ainda brindou as centrais sindicais com seu reconhecimento oficial e engajamento no bolo do rateio sindical. De dinheiro público e imune de fiscalização, conforme veto que Lula fez questão de sancionar ao aquinhoar à dinheirama à CUT, braço direito do PT, à Força Sindical, idem do PDT e às restantes, competindo notar que todas elas têm por trás um partido político. Os mesmos que desde então formam a base de sustentação. Farra e estelionato político. Comprovação escancarada que reforma sindical não dá votos. Tira!

Quando será aberta a caixa preta do sindicalismo brasileiro? Quando se porá um fim às sinecuras e balcões de negócios? Quando, por fim, se extirpará essa malfadada e criminosa reserva de mercado que privilegia os operadores do sistema e não os contribuintes dos sindicatos, tanto dos laborais como dos patronais?

São as indagações que ficam sob resposta do Governo Dilma. Sua titular desejará perpetuar ou, finalmente, dar um basta nisto?

Consultor sindical patronal independente, autor dos livros S.O.SSINDICALpt e O sindicalismo brasileiro clama por socorro, editados pela LTr, além de dezenas de artigos (vide em http://falvesoiveira.zip.net) e de palestra direcionada. Contatos: falvesoli40@terra.com.br

CENTENÁRIO DE ROBERTO BRZEZINSKI É COMEMORADO PELA FAMÍLIA E AMIGOS

Um evento de vulto aconteceu ontem à noite no Recanto do Criador, realizado pela família Brzezinski, para homenagear o ex-prefeito de Campo Mourão, Roberto Brzezinski, pelo centenário de nascimento, oportunidade em que foi lançado um selo comemorativo pelos Correios e, também, o lançamento do livro “Roberto Brzezinski, semeador de esperanças”, escrito pelo historiador Jair Elias dos Santos Júnior, reunindo um seleto grupo de pessoas da sociedade mourãoense, amigas da família e boa parte da história viva da política de Campo Mourão. O evento fez parte das comemorações dos 100 anos de nascimento de Brzezinski, que foi prefeito do município de 1955 a 1959. Ele morreu num acidente, ainda no mandato.

Participaram do lançamento cinco ex-prefeitos, quatro ex-deputados e dois deputados atuais. Também estiveram por lá quatro pré-candidatos a prefeito. Juntos, os ex-prefeitos presentes somam 33 anos de mandato, ou seja, mais da metade dos 64 anos de Campo Mourão.

QUEM ESTAVA LÁ

Ex-prefeitos

Augustinho Vecchi, José Pochapski, Renato Fernandes Silva, Rubens Bueno eTauillo Tezelli.

Ex-deputados
Amélia Hruschka, Augusto Carneiro, Darcy Deitos e Irineu Brzezinski.

Deputados
Douglas Fabrício e Rubens Bueno.

Antes do lançamento do livro, à tarde, houve a entrega de um quadro com a foto de Roberto Brzezinski para a Biblioteca Municipal “Professor Egydio Martello”, pela Academia Mourãoense de Letras, onde Brzezinski é um dos patronos e o plantio de uma árvore (pinheiro), pelos familiares de Roberto Brzezinski, foto acima, na Praça Getúlio Vargas. A Biblioteca Municipal foi criada na gestão de Brzezinski, assim como a construção da praça, denominada na época “Praça 10 de Outubro”.

Fotos no Recanto do Criador e fotoformatação de PVeiga.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ROBERTO BRZEZINSKI, SEMEADOR DE ESPERANÇAS

Hoje se comemora o centenário do ex-prefeito de Campo Mourão, Roberto Brzezinski

O ex-prefeito faleceu em 21 de setembro de 1959, (ele tinha apenas 47 anos de idade), em acidente automobilístico, no exercício do cargo, juntamente com o candidato a sua sucessão, Harrison José Borges.

“Roberto Brzezinski foi lapidado desde a sua adolescência. Estudou no Ginásio Paranaense, celeiro que deu ao Paraná e ao Brasil, homens altamente capacitados, voltados para o humanismo nas suas ações políticas”.

Solenidades

Como parte das comemorações dos 100 anos, acontecerá o plantio de um pinheiro do Paraná, às 17 horas, na Praça Getúlio Vargas, com apresentação da Banda Municipal. Em seguida, a Academia Mourãoense de Letras fará a doação de um quadro, com uma fotografia de Roberto Brzezinski para a Biblioteca Pública. A segunda parte das comemorações será realizada no Recanto do Criador, com o lançamento do livro “Roberto Brzezinski, Semeador de Esperança” escrito pelo historiador Jair Elias dos Santos Júnior, onde é narrada a participação do ex-prefeito na Revolução de 1930. “O livro mostra um homem desapegado, justo nas suas decisões e promotor da igualdade e justiça social”. Na ocasião também será lançado um selo comemorativo pelos Correios.

Quem foi Roberto Brzezinski

Nascido em Almirante Tamandaré, em 25 de novembro de 1911, filho de Francisco Brzezinski e Maria Kaminski. Casou com Tecla Mussak Brzezinski. Tiveram cinco filhos: Francisco Irineu, Iracema, Iria, Iran Roberto e Irene. Voluntário da revolução de 30, com 22 anos, Brzezinski ingressou no serviço público, na condição de agente fiscal do Município de Mallet. Foi professor, diretor de escola e inspetor municipal de ensino. Ali, em 1941, tornou-se Juiz de Paz.
Em 1948, tomou conhecimento do eldorado no vale do Ivaí, as terras de Campo Mourão – na época, imagem de prosperidade sonhada por todos os imigrantes.
Roberto Brzezinski dedicou-se à atividade madeireira e as plantações de café. Desde 1952 até sua morte, viveu em Campo Mourão.

Prefeito de Campo Mourão

Foi eleito prefeito de Campo Mourão em 1955 com uma soma de votos que superava a somatória de votos dos outros três candidatos. Sua vitória uniu a sigla PSD-UDN (Partido Social Democrático e União Democrática Nacional), aliança inédita em território brasileiro.

Durante seu mandato, Roberto construiu a Praça Getúlio Vargas e promoveu a igualdade social. Construiu escolas, abriu estradas para diversos distritos e ergueu o Estádio Municipal que, mais tarde, recebeu o seu nome. Instalou a Coletoria Estadual, o Serviço de Metereologia, criou a primeira Banda e a Biblioteca Municipal. Sua morte antes de terminar o mandato, e na condição de líder regional, o favorito nas futuras eleições para mandato legislativo, comoveu o noroeste e o Paraná. Virou nome de rua, de escola e até de um distrito chamado Vila “Roberto Brzezinski”. Em 1993, por iniciativa do deputado estadual Namir Piacentini, lhe foi concedido o título de Cidadão Benemérito do Paraná, honraria entregue em 2005.

Roberto estava em seu último ano à frente da prefeitura de Campo Mourão. Foi o terceiro gestor eleito pela população a ocupar o cargo. Enquanto prefeito manifestou a vontade popular em várias frentes. Não possuía ideias isoladas. Realizava as necessidades de um povo. Dono de uma oratória invejável recebia o apoio de pessoas que nem ele mesmo conhecia. Roberto era antes de tudo um educador. A própria educação recebida dos pais já o apresentava. Preocupado com o ensino, dedicava grande parte de suas realizações ao ensino da região.

O dia da morte

No dia 21 de setembro de 1959, Roberto Brzezinski, Harrison José Borges e Alberto Bueno Ribeiro, coletor estadual, deixaram Campo Mourão com destino a Maringá. Iriam fazer parte da comitiva do governador Moysés Lupion que visitava Maringá. Saíram de Campo Mourão num veiculo jipe. Em Engenheiro Beltrão, trocaram de veiculo e mais dois passageiros seguiram na comitiva. Joaquim Bueno Godoy, prefeito de Engenheiro Beltrão e Aldevino Santiago, candidato a prefeito daquela cidade. Cinco quilômetros depois de Engenheiro Beltrão, nas proximidades da fazenda Chapadão, o acidente que mudaria a história política de Campo Mourão. A intensa poeira da estrada fez com que o motorista do carro, Aldevino Santiago, colidisse com um caminhão transportando bebidas. O choque se deu no momento que o carro foi ultrapassar um ônibus. Com a poeira, o motorista perdeu a visão do caminhão que vinha no sentido Maringá-Campo Mourão. O impacto foi tão grande que o veículo praticamente se desmanchou.

Foi ali, naquela estrada de chão, entre grades de bebidas e vidros quebrados, ferros retorcidos e a poeira vermelha, que o corpo de uma das maiores personalidades já vistas por Campo Mourão repousava, já sem vida. Naquele momento, Roberto Brzezinski deixava a forma de homem, e passava à figura de lenda. Seus ensinamentos, sua honestidade continuaram sendo seguidos por alguns, principalmente, pelos filhos e netos. O legado de toda uma vida não acabou. Continua vivo em cada um dos servidores que agem de boa fé e fazem da vida pública uma missão honrosa em favor da coletividade.

Do Blog de Jair Elias - extraído de textos de Dilmércio Daleffe e de Jair Elias dos Santos Júnior.

MEUS CABELOS BRANCOS

Por João Bosco Leal

Como faço com todos os que me lembro, liguei para uma amiga de infância para parabenizá-la por seu aniversário e começamos a falar sobre nossas idades atuais, como o tempo passou rápido, o que pensamos agora e outros assuntos, que normalmente tratam todos os que atingem idades inimagináveis para eles quando jovens.

Engraçado como realmente uma espécie de filme nos vêm à mente, com lembranças de nossa infância, juventude e pequenos detalhes de situações vividas durante décadas são recordados em frações de segundos.

Somos capazes de nos lembrar de minúcias, palavras, locais, e cores de fatos ocorridos muitos anos atrás. Algumas músicas da juventude ainda podem ser cantadas sem erros, quando muitas vezes já nos esquecemos do que ocorreu ontem ou mesmo há poucas horas.

Ficam em nossa mente as coisas importantes ou que nos importaram, e se apagam aquelas sem importância, que podem até ter nos deixado alegres, tristes, magoados no momento, mas com o tempo acabamos percebendo que não eram realmente significativas, importantes.

Muitas dessas ocorrências são apagadas de nossa mente sem que sequer percebamos. É uma seleção natural, quando o que realmente importou ficou arquivado e todo o resto foi excluído do cérebro, impedindo que nos lembremos de fatos que na realidade, tiveram pouco valor.

As aparências mudam com a falta de cabelos, a celulite, a barriga, a flacidez do corpo, as rugas e as cicatrizes, mas nada disso têm importância alguma diante da experiência e sabedoria da pessoa que está ao nosso lado, achando graça, sorrindo de seu próprio passado.

Passamos a valorizar coisas mais profundas, menos fúteis, muito mais o ser do que o ter, como sempre nos mostraram os mais velhos, e então jovens, não acreditávamos.

Muitas tristezas emocionais, que deixaram cicatrizes no coração, agora provocam sorrisos, por terem sido de pequenas paixões da juventude, sem importância alguma.

Percebemos que uma boa conversa, um gesto, um olhar profundo ou uma única palavra, podem ser muito mais provocantes, insinuantes, que um corpinho ainda firme, sem celulite, que carrega uma mente vazia.

Ficamos maravilhados com o canto de um sabiá, pousado em uma árvore cercada de cimento e passamos a dar valor a centenas de pequenos detalhes da natureza, antes sequer notados.

O desabrochar de uma flor, o nascer e o pôr do sol ou um pássaro construindo seu ninho nos faz sacar uma máquina fotográfica, tentando perpetuar aquela maravilha.

As opiniões de terceiros sobre o que somos, temos ou fazemos, passam a ter muito menos ou nenhuma importância. Deixamos de fazer tantas críticas aos outros e a nós mesmos e quando com vontade, damos uma boa gargalhada e caminhamos de sandálias, mesmo que em um local público, quebrando algumas regras bobas de convívio social.

Quem nos censurará por, sorrindo, perguntarmos como se chama mesmo seu filho ou por, naquele momento, estarmos desarrumados, com roupas mais velhas e confortáveis? Pessoas que partiram muito cedo, como meu pai, deixaram de viver essa liberdade que só a maturidade nos proporciona.

Só os de cabelos brancos são capazes de, sorrindo, deixar escorrer pelo rosto a mais bela das lágrimas, a da saudade.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

NOTICIAS DE JORNAL VELHO - FATOS QUE VOCÊ PRECISA SABER

Resumo: Uma série de fatos que servem para relembrar a verdade sobre o terrorismo no Brasil. © 2005 MidiaSemMascara.org

VOCÊ SABIA?
- Que no governo João Goulart algumas organizações de esquerda condenavam a luta pela reforma agrária, porque seu triunfo daria origem a um campesinato conservador e anti-socialista? Isso está escrito na página 40 do livro “Combate nas Trevas”, de Jacob Gorender, que foi dirigente do PCB e um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, em 1967.

- Que no governo João Goulart já existiam campos de treinamento de guerrilha no Brasil? Em 4 de dezembro de 1962, o jornal ”O Estado de São Paulo” noticiou a prisão de diversos membros das famosas Ligas Camponesas, fundadas por Francisco Julião, num campo de treinamento de guerrilhas, em Dianópolis, Goiás.

- Que afora o PCB, por seu apego ao ortodoxo “caminho pacífico” para a tomada do poder, foram os trotskistas o único segmento da esquerda brasileira que não pegou em armas nos anos 60 e 70?

- Que o primeiro grupo de 10 membros do Partido Comunista do Brasil - então partidário da chamada linha chinesa de “guerra popular prolongada” para a tomada do poder - viajou para a China ainda no governo João Goulart, em 29 de março de 1964, a fim de receber treinamento na Academia Militar de Pequim? E que até 1966 mais duas turmas foram a Pequim com o mesmo objetivo? (livro “Combate nas Trevas”, de Jacob Gorender).

- Que no regresso da China, esses militantes, e outros, foram mandados, a partir de 1966, para a selva amazônica a fim de criar o embrião da “guerra popular prolongada” que resultou naquilo que ficou conhecido como Guerrilha do Araguaia, somente descoberto pelas Forças Armadas em abril de 1972, graças à prisão de um casal, no Ceará, que havia abandonado a área, desertando?

- Que mais da metade dos cerca de 60 jovens que morreram no Araguaia, para onde foram mandados pela direção do PC do B, eram estudantes universitários, secundaristas ou recém-formados, segundo as profissões descritas na Lei que, em 1995, constituiu a Comissão de Desaparecidos Políticos?

- Que a expressão “socialismo democrático” - hoje largamente utilizada por alguns partidos e candidatos - induz a um duplo erro: o de apontar no rumo de um hipotético socialismo que prescindirá do Estado da Ditadura do Proletariado, acontecimento nunca visto no mundo, e o de introduzir a idéia de que o Estado mais democrático que o mundo já conheceu, o Estado Proletário não é democrático? (livro “História da Ação Popular”, página 63, de autoria dos atuais dirigentes do Partido Comunista do Brasil, Aldo Arantes e Haroldo Rodrigues Lima).

- Que no início de 1964, antes da Revolução de Março, Herbert José de Souza, o “Betinho” já pertencia à Coordenação Nacional da Ação Popular? (livro “No Fio da Navalha”, do próprio “Betinho”, páginas 41 e 42).

- Que em 31 de março de 1964, quando da Revolução, “Betinho” era o coordenador da assessoria do Ministro da Educação, Paulo de Tarso, em Brasília? (livro “No Fio da Navalha”, páginas 46 e 47).

- Que pouco tempo antes da Revolução de Março de 1964, o coordenador nacional do “Grupo dos Onze”, constituídos por Leonel Brizola, era “Betinho”, designado pelo próprio Brizola? (livro “No Fio da Navalha”, páginas 49 a 51).

- Que em março de 1964 o esquema armado de João Goulart “era uma piada”; e que “o comandante Aragão, comandante dos Fuzileiros Navais, era um alucinado e eu nunca vi figura como aquela”? (livro “No Fio da Navalha”, página 51).

- Que já em 1935 Luiz Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, era um assalariado do Komintern (3ª Internacional)? Isso está escrito e comprovado no livro “Camaradas”, do jornalista William Waak, que teve acesso aos arquivos da 3ª Internacional, em Moscou, após o desmanche do comunismo.

- Que Luiz Carlos Prestes foi Secretário-Geral do Partido Comunista Brasileiro por 37 anos, ou seja, até maio de 1980, uma vez que foi eleito em setembro de 1943, quando ainda cumpria pena por sua atuação na Intentona Comunista? (livro “Giocondo Dias, uma Vida na Clandestinidade”, de Ivan Alves Filho, cujo pai, Ivan Alves, pertenceu ao partido).

- Que 4 ex-militares dirigiram o PCB desde antes de 1943 até 1992: Miranda, Prestes, Giocondo Dias e Salomão Malina? Ou seja, dirigiram - ou melhor, comandaram - o PCB por cerca de 50 anos?

- Que após o desmantelamento do socialismo real, que começou pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, foi considerado que “o marxismo-leninismo deixou de ser uma ferramenta de transformação da História para tornar-se uma espécie de religião secularizada, defendida em sua ortodoxia pelos sacerdotes das escolas do partido”? (livro “Nos Bastidores do Socialismo”, de autoria de Frei Betto).

- Uma frase altamente edificante: “Quero deixar claro que admito a pena de morte em uma única exceção: no decorrer da guerra de guerrilhas”. Seu autor? Frei Betto, em seu livro “Nos Bastidores do Socialismo”, página 404.

- Que em fins de agosto de 1995 - 16 anos após a anistia - o governo enviou ao Congresso Nacional um projeto, logo transformado em lei, dispondo sobre “o reconhecimento das pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979”?

- Que esse projeto definiu que deveria ser criada uma Comissão Especial, composta por 7 membros, com a atribuição de proceder ao reconhecimento de pessoas que tenham falecido de causas não naturais “em dependências policiais ou assemelhadas”?

- Que da relação de pessoas desaparecidas que acompanhou o projeto constavam os nomes de 136 militantes da esquerda considerados desaparecidos políticos que, por opção própria, pegaram em armas para instalar em nosso país uma República Democrática Popular semelhante àquelas que o povo, nas ruas do Leste Europeu, derrubou, nos anos de 1989 e 1990?

- Que entre esses nomes, estavam os de 59 guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, quando tentavam implantar o embrião do modelo chinês de “guerra popular prolongada”?

- Que as famílias de todos esses guerrilheiros do Araguaia já foram indenizados com quantias que variam de 100 mil a 150 mil reais?

- Que, por conseguinte, à vista do que está escrito na lei, para que essa indenização fosse concedida, a área de selva de cerca de 7 mil quilômetros quadrados em que a guerrilha se instalou, foi considerada uma “dependência policial ou assemelhada”?

- Que duas senhoras, integrantes da Comissão que representam as famílias dos desaparecidos, Iara Xavier Pereira e Suzana Kiniger (ou Suzana Lisboa) foram militantes da ALN e receberam treinamento militar em Cuba?

- Que Iara Xavier Pereira participou de diversas “ações” armadas, conforme ela própria revela, na página 297, do livro “Mulheres que Foram à Luta Armada”, de autoria de Luiz Maklouf?

- Que essas senhoras ou suas famílias foram indenizadas pela morte de 4 pessoas? Iuri Xavier Pereira, Alex de Paula Xavier Pereira e Arnaldo Cardoso Rocha (todos membros do Grupo Tático Armado da ALN, com treinamento militar em Cuba, mortos nas ruas de São Paulo em tiroteio com a polícia), irmãos e marido de Iara Xavier Pereira, que também recebeu treinamento militar em Cuba, e Luiz Eurico Tejera Lisboa (treinado em Cuba), marido de Suzana Lisboa, que com ele também recebeu treinamento na paradisíaca “ilha da liberdade”? Que, no total, 600.000 mil reais, foi quanto os contribuintes pagaram a essas duas senhoras?

- Que a mídia, a famosa mídia que faz a cabeça das pessoas, jovens e adultos, nunca registrou esse “pequeno trecho” altamente edificante da História recente de nosso país?

Mas, há mais, muito mais! VOCÊ SABIA que o guerrilheiro do Araguaia, Rosalino Cruz Souza, conhecido na guerrilha como “Mundico”, incluído na relação de “desaparecidos políticos”, sabidamente “justiçado”, no Araguaia, pela também guerrilheira “Dina” (Dinalva Conceição Teixeira) - cujos familiares foram também indenizados - teve sua família indenizada? Não pelo Partido que o mandou para lá e o matou, mas por nós, contribuintes?

VOCÊ SABIA que a família do coronel aviador Alfeu Alcântara Monteiro, morto em 2 de abril de 1964 - cuja esposa, desde sua morte, recebe pensão militar - foi também aquinhoada com os tais 150 mil reais, com o voto favorável do general que, na Comissão, representava as Forças Armadas? Que, depois, esse mesmo general, em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, buscando justificar seu voto, disse que no processo organizado pela Comissão constava que o coronel havia sido morto com “19 tiros pelas costas”? E, diz o general: “depois vim a saber que ele foi morto com um único tiro”.

Caso o ilustre general, que também é advogado, antes de dar seu voto, tivesse consultado o Inquérito Policial Militar instaurado na época, para apurar o fato, arquivado no STM como todos os demais inquéritos, teria constatado a versão real: dia 2 de abril de 1964, o brigadeiro Nelson Freire Lavanère Wanderley deveria receber o comando da então Quinta Zona Aérea, em Porto Alegre, do mais antigo oficial presente que era o coronel Alfeu Alcântara Monteiro, reconhecidamente janguista. O coronel recusou-se a transmitir o comando e reagiu, atirando e ferindo o brigadeiro Wanderley, sendo morto com um tiro de pistola 45 pelo também coronel-aviador Roberto Hipólito da Costa, que acompanhava o brigadeiro. Ou seja, o coronel Hipólito matou em legítima defesa de outrém, conforme concluiu o Inquérito, sendo absolvido pela Justiça Militar.

- Que Carlos Marighela, morto nas ruas de São Paulo, delatado voluntária ou involuntariamente por seus companheiros do Convento dos Dominicanos, e Carlos Lamarca, morto no sertão da Bahia, tiveram seus familiares indenizados, embora a esposa de Carlos Lamarca já recebesse pensão militar? Ou seja, as ruas de São Paulo e o sertão baiano foram considerados, também, pela Comissão, “dependências policiais ou assemelhadas”.

Mas não terminou; eles querem mais, muito mais. VOCÊ SABIA que membros da Comissão pensaram reivindicar a promoção de Lamarca a general?

VOCÊ SABIA que o atual Ministro da Justiça também propôs a promoção de Apolônio de Carvalho (um ex-militar expulso do Exército em 1935 e posteriormente fundador e militante do PCBR e, posteriormente banido do país em troca de um embaixador seqüestrado) a general?

- Que amplos setores da mídia e toda a esquerda vêm difundindo por todos esses anos a versão de que “a resistência armada” à “ditadura” no Brasil dos anos 60, foi uma resposta ao Ato Institucional nº 5, que “fechou” o regime?

- Que isso não é verdade, pois o Ato Institucional nº 5, que teria “fechado” o regime, foi assinado em 13 de dezembro de 1968?

- Que, antes disso, a esquerda armada já havia atirado uma bomba no Aeroporto dos Guararapes, em 25 de julho de 1966, matando um jornalista e um Almirante e ferindo um General?

- Que já havia atirado um carro-bomba contra o Quartel-General do II Exército, em São Paulo, matando o soldado sentinela Mario Kosel Filho, em 26 de junho de 1968?

- Que já havia assassinado, ao sair de casa, na frente de seus filhos, o Capitão do Exército dos EUA Charles Rodney Chandler, tachado nos panfletos deixados sobre seu corpo, de “agente da CIA” ?

- Que um dos assassinos - um sargento expulso da Polícia Militar de São Paulo pela Revolução de 1964 - várias vezes entrevistado, vive hoje, tranqüilamente, em São José dos Campos, após ter sido anistiado pela ditadura militar “fascista”, indenizado e reintegrado à PM, como reformado?

- Que em 1968, antes, também, do Ato Institucional nº 5, o Major do Exército da Alemanha Edward Von Westernhagen, que cursava a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, foi morto na rua por um grupo do Comando de Libertação Nacional (COLINA), constituído por dois ex-sargentos, um da Aeronáutica e outro da Polícia Militar do Rio de Janeiro, sendo o crime, na época, atribuído a marginais?

- Que ele foi morto por ter sido confundido com o capitão do Exército boliviano Gary Prado, que participou da caçada a Che Guevara, no ano anterior, em seu país, e que, por isso, deveria ser “justiçado”, que também cursava a Escola de Comando e Estado-Maior? (livros “A Esquerda Armada no Brasil”, e “Memórias do Esquecimento”, de Flávio Tavares).

- Que antes do Ato Institucional nº 5, guerrilheiros do PC do B chegados da China em 1966 já se encontravam no Brasil Central preparando a Guerrilha do Araguaia?

- Que era essa a tática utilizada pela esquerda armada para instalar no Brasil um pleonasmo (uma República Popular Democrática): matar, matar e matar?

- Que a alucinada esquerda armada não matava apenas seus “inimigos”, mas também os amigos e companheiros?

Veja a relação dos companheiros assassinados, a título de “justiçamento”, sob a alegação de que sabiam demais, demonstravam desejo de pensar com suas próprias cabeças e que, por isso, representavam um perigo em potencial. Não que tenham traído, mas porque poderiam (futuro do pretérito) trair:
- Márcio Leite Toledo (ALN) em 23 de março de 1971;
- Carlos Alberto Maciel Cardoso (ALN) em 13 de novembro de 1971;
- Francisco Jacques Alvarenga (RAN-Resistência Armada Nacionalista) em 28 de junho de 1973;
- Salatiel Teixeira Rolins (PCBR) em 22 de julho de 1973;
- Rosalino Cruz - “Mundico”, na Guerrilha do Araguaia;
- Amaro Luiz de Carvalho – “Capivara” (PCR), em 22 de agosto de 1971, dentro de uma Penitenciária, em Pernambuco;
- Antonio Lourenço (Ação Popular), em fevereiro de 1971, em Pindaré-Mirim/MA;
- Geraldo Ferreira Damasceno (Dissidência da Var-Palmares) em 19 de maio de 1970, no Rio de Janeiro;
- Ari da Rocha Miranda (ALN), em 11 de junho de 1970, em São Paulo.

- Que o militante da Resistência Armada Nacionalista, Francisco Jacques Alvarenga, “justiçado” dentro do Colégio em que era professor, no Rio de Janeiro, por um Comando da ALN, teve seus passos previamente levantados por Maria do Amparo Almeida Araújo, também militante da ALN?

- Que foi ela própria quem revelou esse detalhe no livro “Mulheres que Foram à Luta Armada”, de Luiz Maklouf ?

- Que Maria do Amparo Almeida Araújo é atualmente a presidente do “Grupo Tortura Nunca Mais” de Pernambuco, entidade criada para denunciar as torturas e assassinatos da chamada “repressão”?

- Finalmente, leiam este trecho, altamente significativo, considerando a identidade de seu autor: “No curso de Estado-Maior, em Cuba, esmiuço a história da revolução cubana e constato evidentes contradições entre o real e a versão divulgada pela América Latina afora (...) Muitas ilusões foram estimuladas em nossa juventude pelo mito do punhado de barbudos que, graças ao domínio das táticas guerrilheiras e à vontade inquebrantável de seus líderes, tomou o poder numa ilha localizada a 90 milhas de distância de Miami. Balelas, falsificações (...) O poder socialista instituiu a censura, impediu a livre circulação de idéias e impôs a versão oficial. Os textos encontrados sobre a revolução cubana são meros panfletos de propaganda ou relatos factuais, carentes de honestidade e aprofundamento teórico (...) O Partido Comunista é o único permitido, e em seus postos importantes reinam os combatentes de Sierra Maestra ou gente de sua confiança, em detrimento dos quadros oriundos do movimento operário (...) Os contatos com as organizações de luta armada (de toda a América Latina) são feitos através do S2 (Inteligência), conseqüência das deturpações do regime. A revolução na América Latina não seria uma questão política e sim, usando as palavras do caricato Totem, “de mandar bala”. Nos relacionamos com os agentes secretos, que tentam influenciar na escolha de nossos comandantes, fortalecem uns companheiros em detrimento de outros, isolam alguns para criar uma situação de dependência psicológica que facilite a aproximação, influência e recrutamento; alimentam melhor os que aderem à sua linha e fornecem informações da nossa Organização, concedem status que vão desde a localização e qualidade da moradia à presença em palanques nos atos oficiais; não respeitam nossas questões políticas e desconsideram nosso direito à auto-determinação”.

Totem, acima mencionado, é o general Arnaldo Ochoa, comandante do Exército em Havana, no início dos anos 70, fuzilado nos anos 80, sob a acusação de ser narcotraficante.

O que acima foi transcrito está nas páginas 178 a 181 do livro “Nas Trilhas da ALN”, de autoria de Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz (“Clemente”), o último dos “comandantes” da Ação Libertadora Nacional que recebeu treinamento militar em Cuba. “Clemente” foi autor de vários assaltos a bancos, estabelecimentos comerciais, assassinatos e “justiçamentos” - ou planejamento deles - como o do seu próprio companheiro Márcio Leite Toledo e do presidente da Ultragaz em São Paulo, Henning Albert Boilesen, em 15 de abril de 1971.

Ao concluir o curso em Cuba, nos idos de 1973, “Clemente” foi viver em Paris, somente regressando ao Brasil após ter sido um dos anistiados pelo presidente Figueiredo, derrubando outro mito até hoje difundido pelas esquerdas de todos os matizes: o de que a Anistia não foi Ampla, Geral e Irrestrita. Hoje, vive no Rio de Janeiro. Dá aulas de violão para crianças e participa de eventos culturais organizados pelo Movimento dos Sem-Terra.

Carlos Eugenio Sarmento Coelho da Paz, "Clemente", jamais foi preso, apesar se gabar de ter assassinado cerca de 10 pessoas. Veja seus depoimentos nos links:
http://www.youtube.com/watch?v=rWZUhnGsavc&feature=youtu.be
http://www.youtube.com/watch?v=ATte_AsJSL8&feature=youtu.be

Carlos I. S. Azambuja é historiador.

Do blog do Dr. Marco Sobreira