segunda-feira, 30 de abril de 2012

OS CUSTOS DA LIDERANÇA BRASILEIRA

Por João Bosco Leal
Pelo tamanho de seu território, número de habitantes e riquezas naturais, o Brasil é o país que possui as maiores possibilidades de manter a liderança política e econômica já conseguida entre todos os situados na América Latina. Para isso, a existência de políticas destinadas ao fortalecimento econômico e social de todos os países vizinhos ou próximos é indispensável, mas algumas concessões realizadas pelo Brasil nos últimos anos têm extrapolado todo o bom senso que seria esperado de um governante.
O contrato para a construção de Itaipu, construída na divisa Brasil-Paraguai, na época a maior hidrelétrica do mundo, dizia que a energia por ela gerada seria de propriedade dos dois países em partes iguais, mas a construção seria realizada exclusivamente com recursos brasileiros com a condição de que toda a energia não utilizada pelo Paraguai da parte que lhe coubesse seria vendida ao Brasil por um preço e período pactuado contratualmente na época. O governo Lula, porém, aceitou alterar um contrato vigente com o Paraguai e passou a pagar para aquele país o triplo do valor pela energia gerada em Itaipu, além de, como maior contribuinte do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), autorizar a construção de uma rede de transmissão de energia, com 350 quilômetros de ex tensão para levar energia de Itaipu a Assunção, capital daquele país.
No mesmo governo Lula o país assistiu de braços cruzados a Bolívia se apoderar de todos os investimentos da Petrobrás naquele país e ainda aceitou uma brutal elevação nos preços do gás que de lá importamos, e a imposição por aquele país de uma quantidade de gás a ser importada maior que as nossas necessidades, mas que, mesmo não utilizando, por ela pagamos. Depois, assistiu também passivamente o governo Evo Morales assinar a legalização naquele país de aproximadamente cem mil veículos roubados do Brasil, mediante o simples pagamento de uma taxa entre 2 e 3,5 mil dólares.
Por determinação de Lula, a Petrobrás firmou com a empresa PDVSA, da Venezuela, um acordo para a construção da refinaria de petróleo Abreu de Lima, em Pernambuco, fora dos grandes centros de consumo brasileiro e consequentemente não estratégica para a empresa. A refinaria já está praticamente pronta, mas até agora a empresa venezuelana não participou com nenhum centavo da parte que lhe caberia na obra da qual é sócia.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, em seu próprio nome já declara o motivo para o qual foi criado, mas no governo Lula fez com que este financiasse a construção de portos e em Cuba, linhas de metrô em Caracas na Venezuela, indústrias da Argentina, estradas na Bolívia e usinas hidrelétricas no Equador, enquanto no Brasil faltam recursos para investimentos em infraestrutura.
A sanidade animal é outro grave problema enfrentado principalmente pelos estados que fazem divisa com Paraguai, de onde por diversas vezes vieram focos de febre aftosa que contaminaram nossos rebanhos causando prejuízos de milhões de dólares aos produtores e ao país. Além dos veículos aqui roubados para serem trocados por drogas nesses países, muitas armas são constantemente apreendidas pela Polícia Federal entrando no país, provenientes principalmente da Bolívia e Paraguai.
A imprensa brasileira divulgou esta semana que o governo da Argentina, que acaba de expropriar a empresa petrolífera YPF-Repsol, da Espanha, enviou um representante ao Brasil para cobrar maiores investimentos da Petrobrás naquele país. A nossa Presidente Dilma será irresponsável a esse ponto? Afinal, apesar de o Governo Federal ser seu maior acionista, esta é uma empresa privada que como tal deveria demitir o responsável por um investimento como este ou que continuasse usando a Petrobrás para controlar a inflação como já vem fazendo, impedindo o aumento do preço dos combustíveis de acordo com o mercado internacional.
Necessitamos de países economicamente fortes como parceiros comerciais, mas não de países que se utilizam do Brasil e depois impedem a entrada de nossos produtos, como constantemente faz a Argentina.
Produzam o que necessitamos, comprem o que produzimos e cumpram os contratos realizados, são as regras mais claras e determinantes para o bom andamento de qualquer tipo de parceria comercial.
*João Bosco Leal   Jornalista, escritor e produtor rural.

domingo, 29 de abril de 2012

ONGS's: MÉRITOS E DEMÉRITOS

Por Luiz Antonio Domingues em Planet Econômico
Em sociologia básica, a denominação "terceiro Setor" é empregada para designar iniciativas organizadas pela sociedade civil em prol da utilidade pública. O segundo setor é o dos meios de produção (privado, o mercado) e o primeiro setor diz respeito ao poder público. Nesse sentido, a chamada "organização não governamental", ONG, teoricamente é um suporte e tanto para a sociedade, chegando onde o poder público não alcança. Essas organizações atuam em diversos campos, tais como: Meio ambiente assistência social, saúde, educação & cultura, combate à miséria, direitos humanos, contra arbitrariedades, defesa da fauna & flora etc. É evidente que a maioria das centenas de ONGs que existem espalhadas pelo planeta, cumpre suas metas com grande determinação, idealismo e boa vontade, mas esse tipo de expediente também abre brecha para aproveitadores e oportunistas em geral. Aqui no Brasil, por exemplo, a presidente Dilma recentemente mandou suspender todos os contratos de locação de verbas para ONGs, lhes dando um prazo até o dia 29 de janeiro, último, para que comprovassem cabalmente como estavam empregando a verba cedida do erário público, mostrando realizações concretas de benefícios sociais. Como resultado, 181 contratos foram cancelados sumariamente. Ou seja, Essa quantidade enorme de ONGs estava recebendo verbas oficiais e simplesmente não as empregando nos seus projetos sociais. Se a ideia é melhorar a sociedade fazendo coisas que os governos deveriam fazer e não fazem, nesse caso, somos duplamente lesados, como cidadãos. Dos 1403 casos analisados na malha fina do governo, ainda 305 não justificaram suas contas e ações, portanto, o número de gatunos surpreendidos tende a aumentar. E estamos falando apenas de verbas oficiais. Não nos esqueçamos de que ONGs podem captar recursos de empresas privadas e doações livres, incluso de pessoas físicas. Portanto, se existe má fé, a tentação é grande em explorar esse filão. E mais uma coisa: É preciso ter cuidado para se engajar em causas promovidas por ONGs, pois nem sempre há uma certeza cristalina de suas intenções. Muitas vezes, podem estar manipulando a boa vontade de pessoas de boa fé, em prol de interesses escusos. É muito bonito ver artistas engajados numa causa ambiental contra a construção de uma usina hidrelétrica supostamente nociva; indústria poluidora; uma mudança de curso de um rio etc. Mas você sai cegamente marchando pelas ruas por uma causa que não conhece direito? Cuidado! Muitas vezes, o suposto bom mocismo ecológico apenas mascara outros interesses, tão ruins ou piores do que aqueles que você fervorosamente foi às ruas para protestar.

sábado, 28 de abril de 2012

TRAVESSIA DA LAGUNA DOS PATOS

Uma Ode ao CMPA

Hiram Reis e Silva, 28 de abril de 2012.
Canção do CMPA
(Letra: Barbosa e Souza, Música: Arão Lobo)

Somos espadas de um povo altaneiro,
Somos escudos de grande nação,
Em nossos passos marcham guerreiros
Avança a glória num pendão.
Na nossa escola forja-se a grandeza,
Temos no peito amor juvenil,
Em nossas cores toda a natureza,
Nós somos filhos do Brasil. (...)

Amigas e amigos de todos os rincões manifestaram-se preocupados com meu longo afastamento da web. Agradeço, sensibilizado, sua preocupação, mas estava por demais envolvido no treinamento, planejamento e execução de mais uma épica jornada na Laguna dos Patos. Infelizmente, meu treinamento para a Travessia da Margem Ocidental da Laguna dos Patos, em homenagem ao Centenário do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), tanto nas Lagunas Litorâneas, como no “Rio” Guaíba e na represa da Granja do Valente, de propriedade da família Schiefelbein, em Bagé, foi bastante prejudicado por diversos problemas alheios à minha vontade. Eu teria, desta feita, de enfrentar “inconstância tumultuária” da Laguna dos Patos sem estar gozando de minha condição física ideal.
–  Equipe de Apoio
O Coronel PM Sérgio Pastl e o Comandante Norberto Weiberg, da bela e hospitaleira cidade de Canela, RS, embarcados no “Hagar” um pequeno e versátil veleiro “Day Sailer”, capaz de nos apoiar nas águas rasas e ultrapassar os extensos bancos de areia dos “Pontais” da Laguna sem a necessidade de longas desbordagens, nos aguardavam desde a véspera, de 12 de abril, na boca da Lagoa Pequena, proximidades da Ponta da Feitoria. Graças ao Professor Paulo César Camargo Teixeira, Diretor da Escola Estadual de Ensino Médio Leopoldo Maieron – CAIC, de Bagé, minha querida e parceira de aventuras Rosângela Maria de Vargas Schardosim pode me acompanhar na primeira perna da Travessia desde a Praia do Laranjal, em Pelotas até São Lourenço do Sul. O Professor Paulo, desde que tomou conhecimento de nosso Projeto, tem sido um incansável incentivador do mesmo.
– Partida de Bagé (11 de abril)
Saímos de Bagé, eu e a Rosângela, depois do almoço, do dia 11 de abril, rumo à Praia do Laranjal, em Pelotas. Contatamos, pelo celular, o Professor Hélio Riche Bandeira, por volta das 16 horas, na Praia do Laranjal e nos deslocamos até a Pousada em que ele estava. A tarde sem vento prenunciava uma largada tranquila e sem as dificuldades enfrentadas em setembro do ano passado. Depois de devidamente instalados recebemos a visita do Sr. Joel Ramos, um veterano e entusiasta canoísta da região com quem permanecemos conversando até tarde.
 – Partida da Praia do Laranjal (12 de abril)
Os Lusíadas
(Luís Vaz de Camões)
Canto I – 43
Tão brandamente os ventos os levavam,
Como quem o Céu tinha por amigo;
Sereno o ar e os tempos se mostravam
Sem nuvens, sem receio de perigo. (...)
Partimos às 05h40 e aportamos, às 07h57, na Ponta da Feitoria (31°41’36,50”S / 52°02’22,18”O), depois de percorrer pouco mais de 21 km a aproximadamente 9,2 km/h.  Desta vez os ventos suaves de popa nos permitiram atacar o primeiro ponto mantendo uma trajetória bastante retilínea. Contatamos a equipe de apoio e depois de descansar, uns trinta minutos, partimos. Contornamos a Ponta da Feitoria e avistamos, na sua face Este, diversos acampamentos de pescadores envolvidos na pesca do camarão. Este ano a salinidade vinda do oceano, através da Barra de Rio Grande, chegou até São Lourenço. A falta de chuvas nas cabeceiras dos Rios que deságuam na Laguna manteve o nível do Mar de Dentro bastante baixo, permitindo a entrada de água salgada, própria para o desenvolvimento do camarão produzindo uma safra abundante.
Aportamos às 09h35, sob as belas raízes de uma enorme figueira próxima às belas ruínas da centenária sede da Estância Soteia (31°37’52,31”S / 52°00’57,38”O) mais conhecida como Casarão da Soteia (casa com terraço),  construído pelos índios Guaranis, nos idos de 1780, e que remonta à época da Real Feitoria de Linho Cânhamo embora não tenha sido a sede da mesma. Apesar do triste estado em que se encontram as ruínas ainda é possível visualizar-lhe o belo terraço, de frente para a Laguna dos Patos, que lhe empresta o nome.
Ano passado, depois de enfrentar ventos fortes de proa durante todo o trajeto, tínhamos chegado exaustos à Soteia por volta das dezesseis horas onde o senhor Flávio Oliveira Botelho gentilmente nos abrigou e nos brindou com um saboroso carreteiro. Este ano, ao contrário do ano passado, a sujeira gerada pelo desleixo dos pescadores que acampam no entorno e nas instalações da Soteia maculavam a centenária construção. Já estávamos partindo quando avistamos a equipe de apoio, conversamos com os amigos reiniciamos nossa jornadas às 10h40 rumo ao Arroio Grande onde fizemos uma parada para o almoço antes de rumarmos para São Lourenço do Sul onde aportamos às 16h02.
– São Lourenço do Sul
Na Pérola da Laguna, “Terra de Todas as Paisagens”, ficamos hospedados na Pousada da Laguna Apart Hotel administrada, com esmero, pelo Sr, Alberto Furlanetto, onde consegui me preparar para a próxima empreitada. O atendimento cordial da gerência, o preço diferenciado para idosos e a qualidade das instalações, colocam a Pousada na Laguna como ponto de referência para os turistas que procuram bons preços e qualidade de serviços ao visitar São Lourenço do Sul. Aproveitamos o bom tempo da sexta-feira, 13 de abril, para conhecer um pouco o belo Município e sua história visitando a Fazenda do Sobrado, Boqueirão, São João da Reserva e a Coxilha do Barão, onde conhecemos a casa de Jacob Rheingantz.
 -  Jacob Rheingantz
    Vivaldo Coaracy - A Colônia de São Lourenço e seu fundador - Jacob Rheingantz
Jacob Rheingantz, comerciante e administrador alemão, nasceu no dia 13 de agosto de 1817 em Sponheim, Hamburgo. Filho de Johann Wilhelm Rheingantz e Anna Maria Kiltz, dedicou-se inicialmente ao comércio e, em 1839, partiu para a França, onde trabalhou como produtor de Champagne. Em 1840, foi para os Estados Unidos da América onde permaneceu até 1843, quando veio para o Rio Grande do Sul, estabelecendo-se em Rio Grande, como empregado na casa comercial de Guilherme Ziegenbein.
Em 9 de julho de 1848, casou-se com Maria Carolina Fella, passando a residir em Pelotas. Em 1856, comprou terras devolutas na Serra de Tapes, com o objetivo de fundar uma colônia. Fundou a Colônia São Lourenço, em 1958, em sociedade com José Antônio de Oliveira Guimarães.
Na Pátria-mãe, a Dúvida, o Sonho
No Mar, a Vela, a Incerteza, a Dor, a Saudade.
Em São Lourenço do Sul, a Fé, a Esperança, a Coragem, a Vida.
A primeira leva de imigrantes partiu de Hamburgo com 88 pessoas, vindos no navio holandês “Twee Vrienden”. Mudou-se com a família para a própria colônia onde era a autoridade máxima. No ano de sua morte sua colônia era um sucesso, já tinha um total de 52 mil hectares e mais de 6.000 moradores, além de 16 escolas particulares destinadas à educação da nova geração.
– Partida de São Lourenço (14 de abril)
Às 06h00, partimos confiantes para a segunda etapa de nossa travessia na Laguna dos Patos rumo à Fazenda Flor da Praia. A suave brisa permitia que apontássemos proa diretamente para a Ponta do Quilombo (31°20’00,83”S / 51°51’20,96”O) onde aportamos às 07h40 e fizemos uma parada de vinte minutos. A partir do Quilombo, enfrentando ventos de 20km/h vindos de Sudeste, rumamos diretamente para a Foz do Camaquã onde aportamos em um bosque de eucaliptos (31°16’44’’S / 51°44’16’’W).
A Procela
(Fausta Nogueira Pacheco)

Sucumbido pela tempestade,
entre ondas gigantescas em cega fúria,
debate-se contra a força atróz dos
o barco frágil nas águas desses mares
A terrível procela destemida avança,
Arrebentando suas onda no convés.
A tripulação vê o horror se aproximando
E de joelhos prostrada clama aos céus!

Os ventos aumentaram significativamente, a temperatura despencou e uma chuva gelada começou a cair antes de partirmos. Partimos para a Ponta do Vitoriano e tivemos de fazer uma parada intermediária, para nos aquecermos, em um pequeno bosque próximo a um captador de água (31°16’11’’S / 51°38’40’’W) depois de remar quase 10 km.
Havíamos enfrentando ventos de través, vindos de Sudeste, de 30 Km/h com rajadas de 50 Km/h e ondas de até 1,5 metros. Depois desta parada resolvemos remar diretamente para a Fazenda Flor da Praia (31°08’25,59”S / 51°37’06,85”O).
As enormes ondas nos forçavam a fugir da rebentação e a apenas 1,7 km de distância de nosso objetivo me distraí, por um momento, e permiti que uma enorme onda rebentasse sobre o indomável Cabo Horn virando-o. Apenas um pequeno e gelado susto já que eu estava próximo a margem, foi com muito esforço que arrastei o pesado caiaque até a praia e retirei a água que invadira o seu “cockpit” até a altura do convés superior. O Jornal O SUL estamparia na edição do dia seguinte:
Jornal O SUL, 15.04.2012
Velejadores são resgatados no Guaíba
Quatro velejadores foram resgatados ontem após acidente com um barco no Rio Guaíba, em Porto Alegre. A embarcação virou com forte vento. O grupo ficou agarrado nos pilares da ponte. Após este salvamento, os bombeiros foram ao Arroio das Garças, em Canoas, atender outra ocorrência de barco que virou. Ninguém ficou ferido.
Aportei na praia da Fazenda Flor da Praia às 15h30 e procurei o capataz que permitiu que acantonássemos em um dos galpões da Fazenda. Tivemos de deixar a luz acesa à noite, pois o galpão estava infestado de ratos.
– Partida da Fazenda Flor da Praia (15 de abril)
O sol reinava soberano e apenas uma leve brisa acariciava levemente a superfície da Laguna, condições bastante diferentes do dia anterior. Iniciamos nossa remada, às 08h05, até o Pontal Dona Maria (31°05’16’’S / 51°26’19’’W) aonde aportamos, às 11h20, e de onde podíamos observar o canal de acesso à Lagoa do Graxaim em cujas margens se encontra o povoado de Santa Rita do Sul, Distrito de Arambaré. As figueiras e pequenos arbustos bioindicavam a direção predominante dos ventos oriundos de Este e Nordeste que açoitam sistematicamente a vegetação nativa.
Do Pontal Dona Maria aproamos, às 11h40, diretamente para o conjunto de figueiras que ostentavam grinaldas de bromélias e orquídeas (31°01’35,98”S / 51°29’09,89”O) e cuja beleza eu não pudera  materializar, no ano passado, tendo em vista que minha Canon emperrara. Os monumentos arbóreos tinham cravado suas raízes nas voláteis e alvas dunas tentando, em vão, manter o equilíbrio enquanto as areias lenta, inexorável e criminosamente escoavam cômoro abaixo expondo mais e mais as magníficas fundações das centenárias figueiras. Depois de fotografar de todos os ângulos possíveis daquela paisagem fantástica partimos para o monumento que “homenageia” o General Francisco Pedro de Abreu (31°00’10’’S / 51°29’35’’W), onde chegamos às 14h20.
Nas proximidades deste local, em 16.04.1839, o Gal Francisco Pedro de Abreu desembarcou Tropas Imperiais para o malogrado ataque ao estaleiro  Farroupilha  na  Barra  do Camaquã. Independentemente do alinhamento ideológico daqueles bravos, o CTG Camaquã, entidades tradicionalistas e o povo de Arambaré reverenciam suas memórias.
Continuamos nossa jornada rumo a Arambaré. Navegamos bem próximo à bela praia da Costa Doce, entramos no Arroio Velhaco e aportamos no Clube Náutico (30°54’38,01”S/51°29’47,50”O) onde estacionamos nossos caiaques e fomos procurar abrigo no Destacamento da Brigada Militar comandado pelo Sargento PM Juliano.
– Capital das Figueiras (16 de abril)
No dia seguinte o Sargento PM Juliano nos proporcionou um pequeno “tour” pela cidade e depois nos levou até Santa Rita do Sul onde visitamos a “Arrozeira Camaquense”, fundada em 10 de junho de 1948, onde um enorme e antigo gerador a lenha ocupava lugar de destaque. O equipamento, na época, proporcionava energia suficiente para alimentar além do complexo industrial a Vila. Depois de Santa Rita fomos até a Fazenda da Quinta.
-  Arrozeira Camaquense 
Silvio Luís, Franscisco Luís e Lauro Azambuja constituíram a Arrozeira Camaquense, em 10.06.1948, uma Sociedade Anônima, com participação de outros associados, de Barra do Ribeiro e Tapes. A sociedade adotou o processo de arrendamento de suas terras. O sistema de arrendamento da empresa de secagem e beneficiamento do arroz fez crescer o número de produtores de arroz, aumentando a mão-de-obra onde predominava o trabalho braçal. No final da década de 1960, a empresa passou a ser propriedade exclusiva de um dos acionistas. A partir de então se iniciou o declínio do empreendimento e de Santa Rita do Sul. A Arrozeira Camaquense foi comprada por José Cândido Godói Neto, um grande acionista da empresa que comprou as ações de todos os outros sócios. Após a Revolução Redentora de 1964 o governo investiu em uma política agrícola que priorizava a produção e produtividade. Adotou-se um sistema de créditos e subsídios fomentando a pesquisa, a assistência técnica, a adoção de tecnologia, o que aumentou intensamente a utilização de máquinas e insumos de origem industrial.
No final da década de 1980 a política agrícola sofreu profundas alterações e os proprietários das terras voltaram a vender o patrimônio fundiário. Apenas uma pequena quantidade de produtores conseguiu manter-se na condição de orizicultor. O maior empregador local passou a ser a indústria de beneficiamento de arroz, mas como não conseguia absorver toda a mão-de-obra da atividade agrícola, os trabalhadores migraram em massa aos trabalhadores da Vila.
– Partida de Arambaré (17 de abril)
Preocupados com nossa equipe de apoio que partira de Tapes tentamos, sem sucesso, contato via rádio. Permanecemos, até ao anoitecer, postados no trapiche e nada, resolvemos então deixar  rádio ligado para que quando eles se aproximassem mais pudéssemos fazer contato. Mais tarde tomamos conhecimento que eles estavam operando no Canal 16 e não no Canal 6 como havíamos combinado anteriormente. Nesse ínterim veio nos visitar no Destacamento da Brigada o amigo Pedro Auso, de Camaquã, e quando este já estava de saída aproveitamos a carona para ir até o Clube Náutico de Arambaré.  Lá chegando deparamos com nossa equipe de apoio que estava aportando.
A equipe de apoio chegou à noite ao Clube Náutico orientada pelo Sr. Charles Rodrigues Berçot. Berçot é um nauta, com espírito de escoteiro, que se compraz em auxiliar o próximo. Seu relato pessoal a respeito da recuperação do Farol do Cristovão Pereira mostra muito bem esse seu lado de bom samaritano (http://www.popa.com.br/diarios/arambareh_cristovao.htm)
No dia 18 de setembro corrente, eu, Charles Berçot, juntamente com o Adriano Becker, em um Guanabara (Ibaré) e, a reboque, um O'Day 12(Beluga), cruzamos a Lagoa dos Patos em direção ao farol Cristóvão Pereira, saímos as 9:45 do dia 18 e chegamos ao outro lado(atracamos) as 16h15mim, exatamente 6h30min de travessia, muito tranquila, apesar da fome, o que nos ansiava para chegada e o início do almoço. (...) No domingo dia 19, pela manhã, resolvemos fazer um rapel no farol, o que conseguimos com facilidade, lá chegando fomos a exploração, ao subir no farol nos deparamos com a placa solar, caída e com um dos fios de alimentação solto, fizemos o conserto da melhor forma que nos possibilitou e fixamos novamente a placa solar.
O Coronel PM Sérgio Pastl faz o seguinte relato a respeito do deslocamento dele e do Comandante Norberto Weiberg desde o Clube Náutico Tapense (CNT) até o Clube Náutico de Arambaré no “Hagar”:
Saímos com o Hagar do CNT às 15h30 de 16 Abr 12, contornado a Ponta da  Helena ao anoitecer, e velejamos à noite na enseada de Arambaré. O Farolete que marca o ponto do canal está ás escuras, de modo que fomos pelas luzes da cidade e por marca do GPS da Foz do Arroio Velhaco, capturado no google pelo Norberto. A cerca de umas duas milhas ainda longe da cidade, o Norberto chamou no rádio portátil na freqüência marítima, canal 16, e o Charles Berçot atendeu, estava de plantão, como aficionado radio amador que é, além de grande nauta. Gentilmente deslocou-se até a extremidade Norte da cidade, sinalizando com os faróis de seu carro, e depois foi até a Foz do arroio, que está literalmente bloqueada não por um banco de areia, mas sim por um morro de areia. Orientou-nos a prosseguir mais 500 m para o Sul, rente à costa, e então subir rumo Norte, já por dentro do alfaque (Banco de areia). Não fosse ele, sem nenhuma chance, teríamos que aportar na praia e arrastar o Hagar a braços até a Foz. Ainda na Foz, nos indicou um tronco encalhado a desviar, e nos acompanhou até ancorarmos na marina. Como reza a tradição do mar, o homem é hospitaleiro, sábio e voluntarioso.
Apenas para ilustrar, nos anos 2004 ele foi com um veleiro guanabara e parceiros até o Farol Cristóvão Pereira, e restaurou sua luz de sinalização, sem ônus para o Estado nem para a União. Soube, também, pelo guarda da noite do Clube que quando ele estava na Comodoria do clube ele instalou às suas expensas uma estação de rádio, e treinou os funcionários para ficarem na escuta 24 h, para apoiar navegadores ao largo, mas a nova Comodoria decidiu retirar o equipamento. O homem é um grande altruísta, além de outras cavalheirescas virtudes, brindando-nos com um gostoso vinho naquela noite fria, quando o Nordeste nos incomodava (molhadinhos até os ossos, né). No Clube nos ajeitou local para a barraca, o uso da cozinha do Clube e seu quiosque e demais dependências, sem custo, um fidalgo verdadeiro. Estou em dívida com ele e espero poder retribuir oportunamente.
Partimos cedo, 06h30, contando mais uma vez com o apoio dos amigos brigadianos. Os ventos de proa freavam nosso deslocamento e só aportamos na Ponta da  Helena (30°52’43,87”S/51°23’22,13”O) às 08h20. Depois de contornar a Ponta da  Helena observamos contritos (mortificados, tristes) os bosques de “pinus”, ao longe, ultrapassando as permeáveis cercas que os confinam e invadindo inexorável e progressivamente as belas áreas de mata nativa. Como talibãs verdes, as hordas bárbaras vão estendendo seus tentáculos sufocantes envolvendo as majestosas figueiras que estóicas aguardam as impiedosas mortalhas. Os proprietários destes funestos bosques deveriam ser cobrados no sentido de manter incólume a região vizinha às suas plantações caso contrário as próximas gerações só terão conhecimento dos pretéritos bosques nativos por fotografias.
Prosseguimos rumo Norte e antes de penetrarmos na enorme enseada conhecida como “Saco de Tapes” fizemos uma parada, às 12h20, em um canal onde o Cel Pastl preparou um lauto almoço. Depois do almoço remei rápido para escapar da poluição das águas, do Saco de Tapes onde o mau cheiro e a espuma flutuando na superfície marcam sua presença. A enseada que protege Tapes de poluições de outros centros não permite esconder o descaso dos seus governantes em relação ao sagrado manancial que poluem sem qualquer critério, um crime ambiental para uma cidade que se propõe a abrigar um balneário turístico às margens da Laguna. Aportamos no Clube Náutico Tapense às 15h45.
– Tapes a Namorada da Lagoa (17/18 de abril)
O Cel Pastl regressou, de ônibus, à Porto Alegre, depois de nos instalar confortavelmente na residência de seus parentes. No dia seguinte (18.04.2012) de manhã, nos despedimos do Comandante Norberto Weiberg, e à tarde nos instalamos na sauna do Clube Náutico Tapense o que nos permitiria realizar as pesquisas necessárias na cidade e partir de manhã sem grandes transtornos. Depois de visitar a Casa de Cultura, onde selecionamos o material relevante, e jantar na cidade nos recolhemos às instalações da sauna do Clube para pernoite.
– Partida para a Ponta da Formiga (19 de abril)
Partimos às 06h30 depois de pernoitar na sauna do Clube Náutico Tapense. Os ventos de Oeste de 6 nós (10,8 km/h) permitiam que atacássemos diretamente o estreito da Restinga do Pontal de Tapes, a 13 km de distância, para onde apontamos a nossa proa. No ponto da travessia terrestre havia um pequeno rebaixamento que certamente, na cheia, deve permitir a passagem das águas da Laguna dos Patos até o Saco de Tapes. Chegamos ao estreito às 08h05, uma média superior aos 8 km/h, carregamos os caiaques e as tralhas pelo estreito para a face Este do Pontal. Comuniquei nossa passagem ao Cel Pastl e ao Cel Araújo, do CMPA.
Fizemos uma parada às dez horas na única ilha de mata nativa imersa no emaranhado dos pinus, onde existia o acampamento de um solitário pescador e uma matilha de cães, e depois, às 11h55, nos eucaliptos na costa de Santo Antônio (30°32’37’’S / 51°17’33’’W).
Fizemos uma outra parada, às 13h48, na região onde havíamos resgatado o caiaque Anaico pilotado pelo Hélio no ano passado (30°29’44,2”S / 51°16’23,5”O). Procurei a maior duna e informei, via celular, ao Cel Pastl que iríamos continuar até o Morro da Formiga aproveitando as condições do tempo.
Resgate do Anaico ð (http://www.pantanalnews.com.br/contents.php?CID=77279)
Aportamos nas Falésias (30°26’07’’S / 51°14’19’’W) às 14h24. Subimos nas enormes Dunas de areia onde consegui contatar minha filha Vanessa, a Rosângela e o Cel Araújo e desfrutar da visão panorâmica privilegiada do local. Do alto podia-se avistar a Nordeste a Ilha do Veado e o Morro da Formiga, a Este a Ilha do Barba Negra e ao Sul o Pontal de Tapes. Partimos às 15h10 para nosso objetivo final que se encontrava a apenas 10 km de distância.
Chegamos ao acampamento de pescadores na Praia do Canto do Morro da Formiga (30°25’34’’S / 51°08’31’’W), às 16h20, onde fomos muito bem recebidos pelos amigos pescadores. Nosso anfitrião foi o Sr. Vlademir S. Rodrigues que nos proporcionou um beliche para dormir, e um jantar soberbo onde não faltou uma saborosa feijoada e peixe frito sem espinha que ele mesmo preparou. O Vlademir é um gráfico aposentado que complementa sua renda familiar com a pesca, cidadão bem informado discorre com fluência invulgar sobre os mais diversos temas.
Tive a oportunidade de apreciar, neste dia, um pôr-do-sol magnífico carregado de matizes suaves e nostálgicos sobre a Laguna. Era um sinal carinhoso de despedida desta querida amiga que por diversas vezes nos recebeu em seu seio, algumas vezes mal humorada e agressiva outras, porém, terna e carinhosa.
– Partida para a Vila de Itapoã (20 de abril)
Saímos sem pressa, às 07h25, estávamos muito adiantados na nossa programação, poderíamos aportar hoje mesmo em Ipanema, mas resolvemos manter a data/hora da chegada sem alteração. Os cardumes de tainhas brincavam nas águas rasas e mornas ao longo da Ponta da Formiga e da Ponta da Faxina. Fizemos uma parada numa enorme duna dourada na Ponta da Faxina e de lá ficamos observando as belas paisagens da Laguna e do Guaíba.
Saímos, às 09h47, rumo à ilha do Junco. Contornamos sua face Sul e aportamos nas praias de Leste, às 10h10. Aproveitei para lavar minha roupa e enviar uma mensagem para o Cel Pastl que partira de Tapes, acompanhado do Major PM Martins no veleiro Ana Claci. Fomos abordados por uma equipe de fiscalização do parque que informaram que era proibido aportar na Ilha. Havíamos parado apenas para descanso antes de continuar nossa jornada, mas, segundo eles, nem isso era permitido. Leis idiotas em um país onde tantas outras insanidades prevalecem sobre o bom senso e as leis maiores.
Partimos às onze para o último lance deste curto dia rumo à Vila de Itapoã. Passamos pela Ilha das Pombas, às 11h35, e aportamos na Vila, às 12:15. Instalamo-nos em uma Pousada e aguardamos notícia da equipe de apoio que chegou por voltadas das 14h00. O Major PM Martins assou algumas tainhas no quiosque da Pousada que degustamos com prazer. Depois do almoço a equipe de apoio se dirigiu ao estaleiro do Sr. Lessa.
– Partida para a Ilha de Francisco Manoel (21 de abril)
A Ilha Francisco Manoel, ou “Chico Manoel”, como os frequentadores a chamam, sempre foi um ponto de atração dos velejadores em seus passeios e excursões pelo Guaíba. Oferece abrigo natural a todos os ventos e o seu uso indiscriminado estavam causando a sua gradativa depredação, quer por navegadores inescrupulosos, com relação à ecologia, como por pescadores que ali acampavam. Ao assumir a Comodoria, Mário Bento Hoffmeister, ouviu do ex-Comodoro Jorge G. Bertschinger que a ilha Francisco Manoel estava abandonada e seria oportuno tentar conquistá-la para o Veleiros. Em entrevista com o governador Ildo Meneguetti, ele mostrou franca receptividade. Em segunda audiência, o governador comunicou que não “doaria” a ilha ao Veleiros, mas concederia o seu uso por 99 anos. Foi assim que, em 30.06.1966, o governador do Estado, Ildo Meneguetti, o secretário da fazenda Ary Burger e o secretário dos transportes Tertuliano Borfill assinaram o Decreto n° 17946 com cessão por 99 anos à Sociedade Náutica Veleiros do Sul, da Ilha Francisco Manoel. Na ocasião da doação, a Chico possuía apenas, além de dois molhes de pedra, uma casa velha de madeira do ex-Deprec, a cabana do velho pescador que lá residia, além do marco de triangulação geodésica, colocado em seu ponto culminante. (Folder do Veleiros do Sul, 28.01.2011)
Parti somente às onze horas, o tiro era curto. O Hélio ficou aguardando a esposa e a filha na pousada. Contatei no caminho alguns amigos canoístas e aportei na Ilha por volta das quinze horas onde fiquei aguardando o Hélio que estava com a barraca para montar acampamento. O Hélio me comunicou, mais tarde, que viria somente no dia seguinte. Improvisei um acampamento debaixo de uma mesa, ao relento, e me preparei para descansar até que o pessoal do Clube Veleiros do Sul apareceu e preocupados com meu conforto insistiram para que eu ocupasse as instalações do Clube para acantonar. Foi um socorro muito bem vindo, pois durante a noite a temperatura caiu muito. De manhã fiquei conversando com um grupo de velejadores dentre os quais se incluía o Comandante Luiz Alberto Pereira Morandi a quem eu havia solicitado, anteriormente, autorização para pernoitar na Ilha.
É impressionante verificar como a irmandade de remos e velas se entende, temos, sem dúvida, a mesma afinidade e respeito pelas águas e a natureza em geral, conduta muito diferente daqueles que fazem uso das embarcações a motor. Lembro que, no ano passado, visitando a paradisíaca Ilha do Chico Manoel, eu observava encantado os velejadores e familiares desfrutando do aprazível local e degustando placidamente seu almoço até que chegou um  grupo de seis pilotos de Jet Ski. Os mal-educados aceleravam ao máximo seus motores a poucos metros da praia provocando além da poluição sonora a poluição química.
– Partida para a praia de Ipanema (22 de abril)
O que importa é o grau de comprometimento envolvido numa causa, e não o número de seguidores! (Harry Potter)
O Hélio finalmente chegou e permanecemos durante algum tempo na Ilha conversando com os velejadores até as onze horas quando partimos, sem pressa, para nosso objetivo final. Fomos acompanhados por um dos velejadores até as proximidades da Ponta Grossa. Aportamos pouco antes da quinze horas e, embora nossa Travessia constasse como uma atividade oficial das Programações do Centenário do CMPA, apenas o Ir:. e amigo Coronel Leonardo Araujo, Chefe da Seção Comunicação Social do CMPA nos aguardava. Obrigado “Mano Velho”, são pessoas como você que nos motivam a prosseguir.
Após vocês enfrentarem uma tempestade com ondas de mais de 2 m, virarem os caiaques, arriscarem a vida e remarem tanto, era o mínimo que eu poderia fazer. Ficou célebre a frase de Harry Potter em “As Relíquias da Morte: Parte 2”: “O que importa é o grau de comprometimento envolvido numa causa, e não o número de seguidores!” (Leonardo Araujo)

-  Livro

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na AACV – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

DIFERENÇAS CULTURAIS OU CRIME?


Pouco foi divulgado pela imprensa brasileira sobre o caso de um diplomata iraniano que, segundo denúncias das próprias vítimas, de salva-vidas e de parentes das crianças e dos adolescentes, teria abusado sexualmente de crianças e adolescentes brasileiros, acariciando as partes íntimas de meninos e meninas de 9 a 14 anos enquanto mergulhava na piscina do Clube Vizinhança, na Asa Sul de Brasília, área nobre da cidade.
Inicialmente a embaixada do Irã no Brasil estava tratando o caso como um mal entendido resultante das diferenças culturais entre iranianos e brasileiros e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Ramin Mehmanparast, chegou a declarar que as denúncias eram infundadas, falsas e irreais.
Informado pela Polícia Civil do Distrito Federal sobre as acusações, o Ministério das Relações Exteriores notificou oficialmente a embaixada do Irã no Brasil, solicitando explicações do governo do Irã, pois como o iraniano, de 51 anos, possui imunidade diplomática e não pode ser investigado ou incriminado como um cidadão comum.
A Convenção de Viena, da qual o Brasil é signatário, diz que um diplomata só pode sofrer punições ou ser processado de acordo com as leis de seu próprio país e só seria responsabilizado aqui se o Irã retirasse sua imunidade diplomática, o que é praticamente impossível. Outra possibilidade seria o Brasil adotar uma medida diplomática extrema, declarando-o persona non grata, o que provocaria sua expulsão do país e o impedimento de seu retorno.
No Irã, uma república orientada pelos preceitos religiosos desde a revolução islâmica de 1979, o diplomata seria julgado de acordo com as leis do Sharia, o código de conduta moral regido pelo Alcorão.
Independentemente de regime político adotado ou de sua predominância religiosa, penso ser necessária a imediata revisão, por todos os países e pelos órgãos mundiais de justiça, de certos preceitos legais ou religiosos, que praticamente protegem casos como esse, ainda admitem a inimputabilidade dos povos indígenas e acobertam os mais diversos crimes cometidos por políticos brasileiros e de diversos países do mundo.
Salvo raríssimas exceções de tribos indígenas que ainda não tiveram contato com o mundo civilizado, no mundo globalizado e informatizado em que vivemos, com antenas parabólicas captando sinais de canais televisivos nos locais mais distantes e pouco habitados, não se admite a possibilidade de uma pessoa - por mais isolada que esteja -, não possuir o mínimo de conhecimento sobre regras básicas do convívio social.
As populações indígenas, que atualmente transitam pelas mais diversas cidades brasileiras portando aparelhos de telefonia celular, título de eleitor e carteira de motorista, não poderiam continuar aqui com os mesmos costumes de vestimentas ou culturais utilizados em suas aldeias ou não poderiam delas sair e nem possuir os mesmos direitos sociais dos outros cidadãos.
Tratando-se de um diplomata, por seu preparo cultural e posição social frequentada, deveria ter seu crime julgado com rigor ainda maior, pois pelo menos teoricamente, teria de saber sobre os costumes, tradições e leis do país onde está trabalhando.
Os políticos brasileiros corruptos, que teoricamente foram eleitos para legislar em benefício do povo ou para administrar bens públicos e deles se aproveitam em benefício próprio, não poderiam se utilizar de imunidade parlamentar ou de fórum privilegiado. A corrupção é um crime e os corruptos deveriam ser, além de condenados, obrigados a ressarcir os cofres públicos.
Alegações de diferenças culturais, desconhecimento legal, imunidades diversas ou fóruns privilegiados, não poderiam ser aceitos na defesa de nenhum tipo de crime.
*João Bosco Leal-Jornalista, escritor e produtor rural.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O SINDICALISMO DO ATRASO


Por Fernando Alves de Oliveira

Ao redor de mais um primeiro de maio, trava-se disputa entre as duas mais importantes centrais. Antes, de bastidores. Agora, de domínio público. A CUT procurando defender a substituição da atual contribuição obrigatória pela “negocial”.
Em verdade, troca não de seis por meia dúzia, mas por dúzia inteira, face ao valor muito mais elevado. Aliás, prova muito mais consistente do que essa marqueteira “renúncia financeira” - cujo propósito não é outro senão o de deixá-la propositalmente se esboroar ao vento - seria a devolução dos milhões recebidos desde 2008 da partilha com o Ministério do Trabalho, que por sua vez divide com as centrais a metade do que lhe cabe do rateio do bolo sindical. E sem nenhuma fiscalização do TCU, como impôs o paizão Lula, que, além da generosa concessão, fez questão de vetar o artigo da lei dessa destinação. Este sim seria um significativo exemplo de abjuração... 
Já a Força Sindical, defende obstinadamente a preservação da atual contribuição obrigatória, sob a alegação de que ela mantém o sindicalismo “forte”.
Quanto ao patronato, basta cotejar o discurso de ontem com o mutismo de hoje. Há menos de uma década, a Confederação Nacional da Indústria divulgava animador trabalho sob o titulo “Associativismo em Foco; ações e resultados”, que já em seu prólogo enfatizava com todas as letras “que a reforma da organização sindical, mesmo que postergada, virá e exigirá movimento de antecipação e preparação”. Pena que tenha ficado só no papel. Nos dias atuais, resta apenas prudente silêncio sobre o tema. Aliás, Idêntico do que ocorre com demais entidades patronais. Todas não escondem sua preferência pela continuidade infinda da contribuição. Ainda que veladamente.
Ora, verdadeiramente vigoroso e potencialmente institucional é o sindicalismo pluralista, sujeito à concorrência. Que exige extremado labor, competência, ética e transparência, invertendo o atual sistema e indo de encontro às reais necessidades do sindicalizado. Simplesmente fulmina a atual e nefasta “reserva de mercado”, acabando com as contribuições compulsórias, pois ao torná-las espontâneas, obriga as entidades  a trabalharem mais e melhor no trabalho de angariação de maior número de associados e, por conseguinte, obtenção de maiores receitas. Como ocorre nas entidades civis. De forma idêntica à antiga fase sindical, em que somente após dado estágio é que as entidades obtinham do Estado concessão da chamada “carta sindical” que lhes permitia a percepção de contribuições compulsórias.
Não é por outra razão que se constata no carcomido sistema a existência de milhares de entidades (de trabalhadores e de patrões) cuja direção está aferrada ao poder há décadas. Algumas, conhecidas como insofismáveis capitanias hereditárias...
Este é o retrato da legislação varguista, empedernida no atraso. Os tempos são outros, mas o modelo perempto é o mesmo. Que equipara os sindicatos a meras agências governamentais. Com sinal verde para muitos se servirem sem nenhum pejo, sugando suas obesas e generosas mamas, das quais escoam infindáveis vícios e mazelas, genitores do rentável meio de vida e de múltiplas concorridíssimas sinecuras. Ingrata e inglória a tarefa da chamada vanguarda sindical. A banda nada sadia lhe é infinitamente maior. Em tamanho e poder. Bem comparável a “cosa nostra”. Somente sob o férreo respaldo do clamor popular é que o sindicalismo brasileiro será salvo, já que o Estado -através de seus governantes ávidos por preservação e perenidade de poder- habilmente se finge de morto. Afinal, (e com a escusa da inevitável repetição) é incontestável que nesta terra reforma sindical não dá voto (expediente que mais importa aos donos do Poder). Tira. E muito!
E em razão de claras peculiaridades de conduta política em relação ao seu antecessor, pelo menos no que diz respeito aos estritos termos de reforma da estrutura sindical, não esperem absolutamente nada da sucessora do governo do PT. Muito menos do Legislativo, exceto alguns trôpegos rompantes e casuísmos, os quais, se ocorrerem, quando muito, não passarão de enxertos e remendos meramente cosméticos. Do tipo “é preciso fazer alguma coisa para que tudo permaneça como está...”
A própria denominação da contribuição obrigatória já mudou de rótulo, sem alterar o conteúdo. Até novembro de 1966, era cognominada de “imposto”, virando a partir daí “contribuição”. Mudança meramente semântica, pois não perdeu a personalidade jurídica de tributo, e como tal, obrigatório, por amparado no artigo 149 da Constituição.
Rendamo-nos, pois, à inquestionável evidência. Somos mesmo um país campeão na invenção de nomenclaturas que, geralmente, mudam somente a casca. Pródigo em governantes e legisladores com profunda avidez pela maquiagem semanticista. Pois não é que de uns tempos a esta parte, corrupção, falcatruas e desvios de conduta, sempre saqueando o erário e praticadas por salteadores da República, passaram a ser evocadas pelo ameno adjetivo de “malfeito”?
Ora, apenas os parvos, mal-esclarecidos ou os sempre mal-intencionados, deixarão de reconhecer que a septuagésima legislação prevalecente, cevada por Getúlio Vargas nos resquícios corporativistas e fascistas do regime italiano de seu colega Benito Mussolini e numa época longínqua em que o Brasil não passava de uma colônia agrícola, está –e de forma inequívoca- em posição diametralmente oposta às óbvias necessidades das relações do Trabalho exigidas pelo hodierno. Especialmente as de uma nação que se gaba de ocupar a sexta economia no ranking do mundo globalizado.
É justamente aí é que reside grave e inegável contradição: o Brasil economicamente gigantesco e que nos enche de orgulho, é o mesmo que nos envergonha pelo atraso de um sistema sindical fossilizado e de portas escancaradas ao sistema sindical corrupto e corruptor.
Urge, sim, a adoção do associativismo, em sua mais profunda acepção. Imperativo, sim é a ratificação da Convenção 87 da OIT, assinada pelo Estado brasileiro em 1948 (há 54 anos) e até hoje permanece amarelecida na gaveta.
Grotesca e estapafúrdia é a contradição dos nossos governantes. Acaba de travar-se uma briga de foice pelo cumprimento de um tratado de Estado (Lei Geral da Copa) assinado pelo ex-presidente com a FIFA. Todavia, sequer foi, é ou continuará a ser lembrado (e cobrado com a responsabilidade exigida) obrigatório cumprimento firmado a mais de meio século, como signatário de igual tratado internacional, firmado com a OIT- Organização Mundial do Trabalho... Coisa muito mais séria do que sediar uma Copa do Mundo de futebol, de efêmeros 30 dias. Mas esta, além de votos, é claro, rende também muitas outras benesses à classe política dominante... E como rendem!
Enfim, o que espera o sindicalismo brasileiro que em 2013 completará formais 70 anos? Já não passou da hora de dar-lhe um salutar e benfazejo “bem-feito”, mudando o caduco, pecaminoso e vergonhoso modelo por de conteúdo digno, ansiado e exigido pelos mais comezinhos princípios republicanos do Brasil da atualidade?

Consultor Sindical Patronal, autônomo e independente, autor dos livros O sindicalismo brasileiro clama por socorro, e S.O.S.SINDICALpt –ambos editados pela LTr- de palestra direcionada e dezenas de  artigos sob o tema sindical. Acervo em http://falvesoiveira.zip.net/ Contatos: falvesoli40@terra.com.br