sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O CONTINENTE DO SÉCULO XXI

No admirável Pós-Guerra, o inglês Tony Judt traça um amplo painel da história recente, do início da Guerra Fria à União Européia


De Gaulle (no centro, de uniforme) celebra a libertação de Paris, em 1944: primórdios de um novo modelo europeu
Por Rinaldo Gama
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Exclusivo on-line
Trecho do livro

Ser contemporâneo dos fatos que pretende estudar pode representar uma perigosa armadilha para o historiador. Apesar de saber disso, muitas vezes ele não resiste ao empuxo de certos episódios do presente, que saltam da condição de meros acontecimentos para se alojar no patamar da história. Foi o que ocorreu em 1989 com o inglês Tony Judt – um intelectual londrino formado no King’s College e na École Normale Supérieure, e hoje professor titular de estudos europeus na New York University. Enquanto fazia uma baldeação no movimentado terminal ferroviário de Viena, proveniente de Praga, Judt teve a idéia de escrever um livro que sintetizasse a história européia entre 1945, quando as forças aliadas venceram o embate contra as potências do Eixo, e os tumultuados dias que estava vivendo. A inspiração não era gratuita – na capital checa, ele acabara de presenciar a derrocada do regime comunista. A resposta de Judt ao seu próprio desafio veio à tona em 2005 sob a forma do extraordinário Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945 (tradução de José Roberto O’Shea; 880 páginas; Objetiva; 79,90 reais), que chega agora às livrarias brasileiras.

O historiador reconstitui um período complexo e decisivo – sessenta anos de história, da derrota do nazi-fascismo à consolidação da União Européia, passando pelos anos da Guerra Fria – em um texto fluente e esclarecedor. Didático, ele se demora nos capítulos referentes aos projetos de reconstrução da Europa, uma terra devastada em 1945, com recursos do bem urdido Plano Marshall (1948-1951). Segundo Judt, para os europeus, o maior impacto do programa difundido pelo ex-secretário de estado americano George Marshall foi psicológico – a confiança na idéia de que era possível recomeçar –, embora os gastos tenham chegado a 13 bilhões de dólares (hoje, calcula o historiador, seriam 200 bilhões). Nesse vasto painel histórico, o ponto forte é o relato da desintegração do comunismo na Europa, que culminou com o desaparecimento da União Soviética. Ao contrário de historiadores como o americano John Lewis Gaddis, notável estudioso da Guerra Fria, Judt não atribui a Ronald Reagan nem ao papa João Paulo II o lugar de atores-chave da debacle comunista. Para o autor de Pós-Guerra, a figura central do processo foi o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev. "Ele não planejou os eventos e apenas vagamente entendia a importância dos fatos a longo prazo. Mas permitiu e precipitou os acontecimentos", enfatiza Judt, convencido de que os Estados Unidos não derrubaram o comunismo – ele "implodiu sozinho".

Pós-Guerra, adverte modestamente o autor, não traz nenhuma "grande teoria" a respeito da Europa atual. Mas mostra como o continente outrora imperialista forjou um novo modelo político, econômico e social que, consubstanciado na instituição da União Européia, pretende servir de parâmetro para o resto do planeta. Esse "modelo europeu" contempla mecanismos para regular as relações (muitas vezes complicadas) entre os diferentes estados-membros e, sobretudo, tenta conciliar o poder do estado e a liberdade econômica, numa alternativa ao liberalismo mais ortodoxo do "modelo americano" – assim como o estilo de vida à moda européia rivaliza com o american way of life. Se tal fórmula for bem-sucedida, é possível que "o século XXI seja o da Europa", diz Judt. Otimista em relação à força da história, o autor faz uma profissão de fé na ciência a que se dedica: "Se em anos vindouros quisermos nos lembrar por que nos pareceu tão importante construir um determinado tipo de Europa a partir dos crematórios de Auschwitz, somente a história poderá nos ajudar. A União Européia pode ser uma resposta à história, mas jamais poderá ser uma substituta", ensina.

Três faces da Europa

Avaliações do historiador Tony Judt sobre líderes
que marcaram a segunda metade do século XX

Charles de Gaulle, presidente da França de 1958 a 1969
"Tinha um estilo tradicional e um declarado descaso pelos detalhes do planejamento econômico. Os adversários atacaram a maneira pela qual o general exercera o poder, mas os recursos e ornamentos de um poder presidencial irrestrito agradaram aos sucessores do general, de todas as inclinações políticas."

Hulton Archive/Getty Images
François Lochon/Time Life
Pictures/Getty Images

Margaret Thatcher, primeira-ministra da Inglaterra de 1979 a 1990
"Seu fascínio era inegável. Uma surpreendente variedade de estadistas durões confessava, extra-oficialmente, achá-la sensual. François Mitterrand, bem versado no assunto, a descreveu como tendo ‘olhos de Calígula e boca de Marilyn Monroe’."

Mikhail Gorbachev, o último secretário-geral do partido comunista soviético, de 1985 a 1991
"O feito de Gorbachev foi inusitado. Nenhum outro império registrado pela história abandonou seus domínios de maneira tão súbita. A Gorbachev, diretamente, não pode ser atribuído o crédito pelo que ocorreu em 1989. Mas ele precipitou os acontecimentos. Foi a revolução de Gorbachev."

Fonte: Revista VEJA.

DESCUBRA PORQUE É DIFÍCIL RESISTIR À TENTAÇÃO DOS DOCES

Reprodução
Alimentos açucarados liberam serotonina, substância que proporciona bem-estar e melhora o humor
Possivelmente não há um ser humano que nunca tenha tido a curiosidade de saber por que é tão difícil resistir a uma bela sobremesa ou mesmo a um 'inofensivo' bombom. Os chocólatras que o digam! Consumir alimentos doces nos dá grande prazer, já que mais do que deliciar o paladar, uma guloseima alivia a ansiedade, a tristeza e nos dá a senssação de 'plena satisfação'.

Tudo isso acontece porque quando comemos alimentos açucarados nosso cérebro libera a serotonina, substância que desempenha um importante papel no sistema nervoso, com diversas funções, como a liberação de alguns hormônios, a regulação do sono, da temperatura corporal, do apetite, do humor, da atividade motora e das funções cognitivas.

Essa substância é responsável por melhorar o humor, causando uma sensação de bem-estar. Logo, é natural que busquemos sempre alguma forma de estimular a liberação de serotonina, neste caso, comer doces.

Já a sua falta tem sido relacionada a doenças graves, como mal de Parkinson, distonia neuromuscular e tremores. Depressão, ansiedade, comportamento compulsivo, agressividade, problemas afetivos e aumento do desejo de ingerir doces e carboidratos também foram relacionados a ela.

"Quando você estiver ansioso ou deprimido, observe se recorre a massas ou doces. Se houver falta de autocontrole e você estiver sempre desejando ingerir carboidratos e doces, pode ser uma indicação de um desequilíbrio da taxa de serotonina no cérebro. O desejo por certos tipos de alimentos nem sempre está associado à busca de prazer e saciedade. Poderá evidenciar um desequilíbrio químico e exigir um tratamento", explica a psicóloga Flávia Leão Fernandes.

Com taxas normais de serotonina, a pessoa atinge mais facilmente a saciedade e consegue maior controle sobre a ingestão de açúcares. Medicamentos que aumentam a taxa de serotonina são cada vez mais utilizados para emagrecer. A sibutramina e a fluoxetina, medicamentos antidepressivos, costumam proporcionar maior controle sobre o apetite, especialmente para doces, porque equilibram a produção de serotonina. Alimentos ricos em proteínas, como carne bovina e de peru, peixe, leite e seus derivados, amendoim, tâmara, banana, entre outros, contêm triptofano, um nutriente que ajuda a combater os efeitos da falta de serotonina.

Flávia Fernandes lembra que somente a avaliação de um médico especialista poderá esclarecer a necessidade, ou não, de algum medicamento que equilibre o funcionamento químico do cérebro. "A fome e o prazer de comer podem induzir a erros de nutrição. Devemos nos alimentar conscientes de que podemos beneficiar ou prejudicar nossa saúde e nosso estilo de vida. A química cerebral agradece e contribui quando nossa alimentação é equilibrada e
saudável", sentencia.
Fonte: Portal Bonde.

ORIGEM

Foi motivado por um pensamento sobre a diversidade da população mundial, atualmente contada aos bilhões, seja no que se refere a idioma, cor da pele, estatura, cultura e ideologia, seja no tocante a outros pontos de distinção que, se enumerados, devem chegar a várias centenas, que resolvi escrever esse texto.

Logo concluí que a inquestionável maioria das pessoas prefere passar pela vida anonimamente, de forma pacífica, ordeira, cuidando da própria vida, de modo a sequer serem notadas. Outras, com suas atitudes, fazem de tudo para serem vistas, notadas, na maioria das vezes de modo até deselegante.

Os raros que, por sua inteligência, se destacam entre os bilhões, conseguem criar algo que beneficiará ou alegrará a todos os outros por décadas ou séculos, como Einstein, Thomas Edison, Beethoven, Mozart, Santos Dumont, Sabin e, atualmente, Bill Gates. E outros, por sorte muito raros, conseguem prejudicar milhões, como Hitler.

Raros também são os que, mesmo cuidando da própria vida, deixam marcas que serão lembradas por gerações. São aqueles que estiveram mais próximos de nossas vidas e que as marcaram de tal forma que deixaram exemplos a serem seguidos, e que nos provocam um enorme sentimento de saudades.

Independentes e responsáveis, ainda cedo já demonstram e assumem essas características, tanto no trabalho quanto em família, e mesmo com essa responsabilidade costumam ser geniais, fazer coisas muito modernas, ainda pouco usadas em sua época, e que anos depois normalmente se tornam comuns, mas não o eram em sua época, quando assim fizeram.

Valentes, não fogem de desafios colocados à sua frente e os encaram com todo o empenho necessário, como mais um desafio a ser vencido, o que os estimula inclusive a buscar novos desafios e também superá-los.

Amigos, estão sempre prontos a participar das alegrias e das tristezas de seu próximo, seja um membro da família ou um desconhecido, fazendo e distribuindo o bem por onde quer que passem, mesmo que num primeiro momento isso não seja sequer percebido.

Leais, defendem a todo custo os seus ideais e os do grupo que deles comunga, mesmo que, contrariando muitos interesses, isso lhes custe a vida.

Donos de um coração enorme, não aceitam injustiças, principalmente contra indefesos, e delas retiram ideias que os fazem buscar soluções que, baseadas naquele exemplo e na saída encontrada, continuem beneficiando muitos, e por décadas.

Objetivos, com um simples olhar por onde passam já percebem os erros e os acertos e, ao mesmo tempo em que elogiam os acertos, cobram energicamente soluções para os erros, normalmente deixando incrédulos quem lá estava e não conseguia ver.

Local ou época em que estivermos não mudam a reação das pessoas que os conheceram, que reagem com alegria expressa na face quando citamos seu nome, e as portas imediatamente se abrem, independentemente da distância que estivermos de onde elas viveram, pois sempre encontraremos amigos ou conhecidos comuns.

Exigentes, sempre cobram de seus próximos a retidão moral e ética que possuem, não se conformando com desvios nessa área, por menores que sejam.

As raízes muito sólidas de honestidade, caráter, trabalho e amor ao próximo, criadas durante suas vidas, os tornam assim, essas pessoas fantásticas, que a tantos encantam e em milhares deixam saudades.

Ligando todos esses fatos, me lembro que são raros os que possuíram o privilégio de ter convivido com alguém assim, como eu tive, e que mesmo sendo por pouco mais de uma década, convivi com aquele que me originou, que já se foi há quarenta e cinco anos e ainda tanta falta faz e do qual tanto me orgulho, meu pai.

Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

AOS NOSSOS LEITORES UM FELIZ ANO NOVO

À luz da ciência, a virada de ano não passa de um limite cronológico, o período de 365 dias e 6 horas da translação, quando a Terra completa uma volta ao redor do Sol.
E a tradição nos permite dar a essa passagem o clima feérico que nos leva a pular ondas, fazer brindes, vestir o branco, comer lentilha, romã e distribuir louros.
Debaixo das superstições, contagiados pela oportunidade que o novo começo nos dá de recomeçar, talvez seja a hora de mudar. E a mudança brota da consciência para se concretizar na química que nasce da união de coração e mente.
Quem sabe seja a hora de parar de fumar, de recuperar a boa forma, de buscar o novo trabalho, de comprar um carro, encontrar a cara-metade, morar na casa própria...
Mas, melhor seria que, ao mesmo tempo, tivéssemos olhos para as conquistas abstratas, para a renovação dos valores e das prioridades.
Já passou do tempo do ser humano entender que a felicidade não é um bem material, mas um estilo de vida que se adota e se preserva em cada atitude, em cada pensamento, em cada palavra. Demoramos a notar que as mansões de nada valem quando seus ocupantes são incapazes de transformá-las em lares. Desperdiçamos tempo sem perceber que anéis não reluzem sem dedos que os ostentem, carrões não se justificam quando rodam com passageiros e rumo a destinos incertos.
O mundo ainda gira em torno do homem e o homem se perde na vertigem de rodar numa busca desesperada do que só se encontra dentro de si próprio.
Que o ano novo exerça a magia e o poder de nos induzir à reflexão para que, nas entranhas do pensamento e do sentimento, cada um de nós se conscientize de que o erro que nos beneficia hoje pode ser a cobrança do amanhã em forma de tragédia. Que as pessoas sejam capazes de fazer o bem sem olhar a quem, para receber o bem sem saber de quem. Que o respeito seja a moeda essencial nas relações humanas. Que a ética e a moral sejam práticas rotineiras em nome do bem coletivo. Que o mundo resgate o dom de se reinventar em suas verdadeiras evoluções, sem maquiar as mazelas que nos fazem reféns de sonhos vazios.

Mensagem compartilhada com Mensageiro da Paz.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

COMO CRISTO, MAS ANTES DELE

Uma lápide de pedra indica que a ideia de um messias sofredor que ressuscitou ao terceiro dia já existia no judaísmo
Getty Images
Ecce Homo, de Juan Macip, conhecido
como Juan de Juanes (1510-1579):
a redenção pelo martírio
É o sonho dourado de todo colecionador: descobrir que o objeto comprado meio que por acaso possui, na verdade, valor incalculável. Essa é a constatação a que vários estudiosos estão chegando a respeito de uma lápide de pedra de menos de 1 metro de altura, com 87 linhas de texto em hebraico, que o suíço David Jeselsohn adquiriu há cerca de uma década. Por muito tempo, a peça passou despercebida. Há alguns anos, a pesquisadora israelense Ada Yardeni a examinou e ficou boquiaberta: de acordo com ela, a lápide seria um equivalente em pedra de um dos manuscritos do Mar Morto, cujas ligações com as origens do cristianismo são até hoje, sessenta anos após sua descoberta, objeto de acalorados debates. O texto pintado na lápide (e não gravado, como seria habitual) está apagado em partes, e um fragmento se perdeu. Mas, conforme os vários estudiosos que analisaram o artefato desde o ano passado, o texto fala de um messias sofredor, e acredita-se que faça alusões também à sua ressurreição no terceiro dia após a morte. Exatamente como teria acontecido com Cristo, segundo os Evangelhos. Só que a lápide é anterior em provavelmente várias décadas ao nascimento de Jesus – daí a comoção que vem causando entre arqueólogos e pesquisadores bíblicos.
Dominic Buettner/The New York Times
Jeselsohn, com a lápide: objeto
sem preço, adquirido ao aca





Não é, claro, que a comunidade científica acredite estar diante de uma "profecia". O texto vem se juntar com grande peso às evidências cada vez mais numerosas, e polêmicas, de que o surgimento de Cristo na Palestina de 2.000 anos atrás não foi um evento isolado e anômalo, mas estaria ligado de forma estreita à mística judaica do período e à atmosfera política de uma nação sob ocupação romana. Um dos mais ardorosos defensores dessa tese é Israel Kohl, professor de estudos bíblicos da Universidade Hebraica de Jerusalém. Segundo Kohl, o messias específico a que a lápide (que vem sendo denominada "Revelação de Gabriel", já que o arcanjo seria seu orador) se refere seria um homem chamado Simão, assassinado pelo exército do rei judeu (e colaborador romano) Herodes. O texto menciona o sofrimento como etapa necessária para a redenção – da mesma forma como os cristãos crêem que Cristo salva a humanidade do pecado com seu martírio. Na tradição judaica clássica, o messias tem, ao contrário, uma imagem triunfal.

A parte mais controvertida da lápide é o ponto em que aparece a frase "em três dias". Ada Yardeni e seu co-pesquisador, Binyamin Elitzur, consideram ilegível o trecho que se segue a ela; Kohl, especializado na linguagem da Bíblia e do Talmude, argumenta que ela forma o complemento "você viverá". Ou seja, ressuscitará. Vistas sob essa perspectiva, as várias profecias que Jesus fez sobre sua própria morte ganhariam um outro matiz – seriam não mais vaticínios sem um precedente histórico e cultural, mas noções já fincadas nas crenças de seu tempo e lugar. A lápide, é evidente, deve ensejar décadas de discussão. Mas sua autenticidade vem sendo dada como genuína – e esse já é um ponto fundamental.

Fonte: Revista VEJA

WIKILEAKS PÕE BRASIL NA ROTA DA DROGA

Embaixada dos EUA em La Paz estima que, em apenas dois meses de 2009, 175 aviões suspeitos de carregar cocaína saíram da Bolívia com destino ao território brasileiro; Brasília também expôs receio de vínculos entre governo boliviano e traficantes

Fonte: Jamil Chade – O Estado de S.Paulo

Para a diplomacia americana, o Brasil é peça central na rota do tráfico de drogas no mundo, segundo uma série de telegramas enviados de diversas embaixadas dos EUA e vazados pelo WikiLeaks. Os documentos ainda mostram como o Itamaraty estaria “preocupado” com a “conexão entre o governo boliviano e os produtores de coca” e revela dados alarmantes sobre o volume do tráfico centre Bolívia e Brasil.

Ed Ferreira/AE-8/7/1999
Cultivo legal. Agricultor em plantação
autorizada de coca na região do Chapare,
berço político de Evo

O Estado mostrou ontem como a droga que sai do Brasil estaria ajudando a financiar as atividades da Al-Qaeda no Magreb. Agora, os telegramas indicam que as rotas são ainda mais complexas e o Brasil, para muitos traficantes, tornou-se o caminho para permitir que a droga chegue à Europa, EUA e Ásia.

Uma das preocupações centrais dos americanos refere-se ao governo do boliviano Evo Morales. Os documentos mostram um debate que chegou a contaminar a eleição presidencial brasileira: o suposto envolvimento de autoridades no tráfico.

Em um telegrama de 19 de fevereiro, o governo americano diz que o Itamaraty vê com grande preocupação a relação entre o governo boliviano e os produtores de coca. Em uma reunião entre o embaixador americano no País, Thomas Shannon, e a subsecretária de Política da chancelaria, Vera Machado, a brasileira não esconde o temor.

"(Vera) Machado acredita que a situação na Bolívia se estabilizou, mas se mantém preocupada sobre as conexões entre o governo e os produtores de coca", registra Shannon. "Ela (Vera) admitiu a ameaça para a região do tráfico de drogas, mas identificou como principal fonte o problema do consumo nos países ricos", disse.

Telegramas da Embaixada dos EUA em La Paz dão uma demonstração de como o Brasil de fato tem motivos para estar preocupado. Em 17 de dezembro de 2009, um telegrama estima em 175 o número de aviões suspeitos de carregar cocaína que cruzaram a fronteira entre Bolívia e Brasil em apenas dois meses.

Autoridades americanas teriam traçado um cenário sombrio a diplomatas americanos: "A falta de controle sobre seu espaço aéreo resulta em praticamente uma liberdade total para o narcotráfico."

Mas, em outro telegrama, de julho de 2010, o presidente do Senado boliviano, Oscar Ortíz, prefere colocar a culpa no Brasil. Em conversa com o embaixador Shannon, Ortíz "lamentou o aumento do tráfico de drogas e o fato de brasileiros e a União Europeia tolerarem isso".

Via Maputo. Mas não é apenas a droga direcionada à Europa que passa pelo Brasil. Em um telegrama de 16 de novembro de 2009, a embaixada americana da capital moçambicana, Maputo, informa Washington como "a rota principal para a cocaína por via aérea que chega em Maputo vem do Brasil".

Segundo a informação, a queda no volume de droga confiscada no aeroporto de Maputo nos últimos meses não seria motivada pela redução do tráfico, mas pelo aumento do controle da polícia e das autoridades de imigração. "Domingos Tivane, o diretor da Aduana, está diretamente envolvido em facilitar o transporte da droga", acusa o telegrama americano.

Parte importante do tráfico seria feito pelo empresário Mohamed Bashir Suleiman, que usaria ainda o porto de Dubai e contêineres com televisão e mesmo carros para esconder a droga. Segundo os americanos, ele teria conexões na Somália, Paquistão, América Latina e Portugal.

O telegrama ainda revela que Suleiman "tem uma relação próxima com o ex-presidente de Moçambique Joaquim Chissano e o atual presidente, Armando Guebuza". "A corrupção endêmica em Moçambique leva a uma situação em que traficantes de drogas têm acesso livre ao país", aponta o telegrama.

Ainda de acordo com o documento, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) - movimento histórico que libertou Moçambique do colonialismo português - "esconde o nível de corrupção da imprensa e da comunidade internacional".

DEISE NISHIMURA, A SAMURAI DE MAMIRAUÁ

Hiram Reis e Silva, Manaus, AM

“O Ai do samurai não é um grito de dor:

é a precisão do corte, a velocidade da morte

na defesa da manhã”.
(Arnaldo Garcez Teixeira)

Café Regional

Convidei os caros amigos do Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA) Tenente Roberto STIEGER e a pesquisadora chefe do laboratório de Mamíferos Aquáticos Amazônicos, VERA F. Silva, para um café regional de agradecimento, por terem viabilizado minha visita a um dos mais fantásticos santuários ecológicos do mundo: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá.

Na oportunidade, a Vera, como sempre, nos brindou com seus fantásticos relatos, sendo que um deles – o ataque de um jacaré a uma de suas pesquisadoras, a bióloga paulista Deise Nishimura, chamou-me a atenção em especial. Vera comentou que o anjo da guarda de sua pesquisadora, na oportunidade, deu um cochilo quase fatal, mas, logo em seguida, procurou corrigir sua burrada através de uma série de felizes coincidências.

O ataque de Dorotéia, a guardiã

do Flutuante Boto Vermelho

A bióloga Deise Nishimura que perdeu
uma perna no ataque do Jacaré "Dorotéia".
Em 30 de dezembro, quando limpava peixe
na varanda da casa flutuante onde morava,
em uma reserva florestal isolada no Alto
Amazonas, foi atacada por um gigantesco
jacaré-açu que pulou cerca de um metro para alcançá-la.
O bicho a levou para o fundo do rio
--com aproximadamente três metros de
profundidade-- e arrancou sua perna.

Foi em dezembro de 2009, véspera do Ano Novo, nas instalações do Flutuante do Boto Vermelho, RDS Mamirauá, município de Tefé, Amazonas. A pesquisadora Deise Nishimura preparava um enorme tambaqui para a passagem do ano. Iniciou a limpeza do saboroso peixe na cozinha e, logicamente, os pequenos detritos puseram em alerta a Dorotéia, a enorme Jacaré-Açu que morava sob o Flutuante. Na hora de cortá-lo preferiu fazê-lo na borda do Flutuante, a menos de um metro d’água. Dorotéia, já na espreita, atacou Deise e puxou-a, pela perna, para dentro d’água, dando início à rotação mortal.

Nesta hora achei que tinha morrido, mas lembrei de um documentário que havia visto que, quando você é atacada por um tubarão, a parte mais sensível dele é o nariz. Aí pensei qual seria a parte mais sensível do jacaré. Coloquei a mão na cabeça dele, não sei se era o nariz ou o olho, e enfiei meus dedos e apertei com toda força, foi quando ele me soltou e nessa hora percebi que já estava sem a minha perna”, relata Deise.

A Reserva Mamirauá, no Amazonas, concentra
uma das maiores populações de jacarés
na região. Alguns pesquisadores garantem
que em Mamirauá existem
90 jacarés para cada habitante
da reserva. O jacaré-açu é o maior
predador da América do Sul: alguns medem
mais de 6 metros.

Deise nadou rapidamente para o Flutuante procurando se colocar a salvo antes que outros jacarés fossem atraídos pelo seu sangue. Arrastou-se pela rampa de acesso aos barcos que fica ao nível d’água e conseguiu, depois muito esforço, pedir socorro pelo rádio. A Vera comenta que, a partir do ataque, o anjo da guarda deve ter acordado sobressaltado e procurou remediar a besteira que tinha deixado acontecer com sua protegida. A artéria femural, na rotação, deu praticamente um nó, impedindo que a pesquisadora viesse a se esvair em sangue. Em Mamirauá, normalmente, ninguém está na escuta nos postos-rádio e, às vezes, não se entende absolutamente nada do que está sendo dito,contudo, nessa ocasião, seu pedido de socorro foi ouvido e, em quinze minutos, uma equipe lhe atendia, acompanhada de um especialista, com curso de primeiros socorros - uma raridade na RDS.

Deise Nishimura no Flutuante do Boto Vermelho, em Mamirauá, município de Tefé, Amazonas.

Outro problema crítico seria a evacuação imediata para o Hospital de Tefé. Nesse momento, ocorreu mais uma intervenção do anjo dorminhoco: eis que o Gerente Operacional do Instituto Mamirauá, César Modesto, fazia sua ronda periódica pelos diversos Flutuantes do Instituto numa lancha dotada de possante e barulhento motor. No mesmo instante em que Deise fazia seu apelo pelo rádio, o César havia diminuído a velocidade em virtude dos banzeiros e, graças a isto, pôde ouvir a mensagem, deslocando-se, imediatamente, para o local, fato que possibilitou uma evacuação em tempo recorde.

Deise chegou em estado de choque ao Hospital de Tefé, e foi prontamente atendida pelo Doutor Alberto Villa Lobos.

O Doutor Alberto é um perito em amputações e, graças a ele, a pesquisadora não sofreu nenhuma infecção,recebeu um tratamento especializado, o qual foi elogiado, mais tarde, pelos médicos de São Paulo, local para onde Deise foi transferida, para dar continuidade ao tratamento, e depois ser submetida à fisioterapia.

Nishimura, mostrando ter a fibra dos verdadeiros Samurais, voltou para RDS Mamirauá para dar continuidade às pesquisas sobre o boto vermelho, e lamentou-se ao saber que os ribeirinhos haviam matado sua algoz Dorotéia.

Rotação Mortal

Achei estranho o comentário de alguns “especialistas” em jacarés, afirmando que o ataque seguido de rotação era privilégio dos crocodilianos. Lembrei-me de ter lido há algum tempo afirmação do ex-presidente americano Theodore Roosevelt e ornitólogo amador que afirmava: “Durante o vôo, o maguari e alguns outros pernaltas esticam o pescoço em linha reta...” fato que pude desmentir através de observação pessoal e fotos mais tarde. Com os jacarés e os crocodilianos, a mesma coisa acontece. Quando a presa é grande e não pode ser abocanhada de uma única vez, é usado o recurso da rotação, para arrancar membros, partir ossos ou matar. Pude observar esse recurso sendo empregado pelos jacarés do Pantanal, quando o alvo era uma capivara, veado ou porco do mato.

Memória Curta

Quando estive na RDS Mamirauá, de 27 a 31 de dezembro de 2008, naveguei sem qualquer receio entre gigantescos animais que podem chegar, em casos excepcionais, a sete metros de comprimento, maiores que os crocodilos americanos (aligátor mississipienses). Na Pousada Uacari, numa conduta altamente condenável, os guias locais atraíam os enormes animais atirando pedaços de carne na água para que os turistas pudessem fotografá-los. No Flutuante Mamirauá, onde fiquei hospedado havia um gigantesco sauro, conhecido como Léo, animal que considerava o Flutuante como sua propriedade, garantindo sua posse graças aos seus formidáveis cinco metros. Ele, como os outros, eram alimentados, para deleite dos visitantes ou durante a preparação das refeições, o que com o tempo, fatalmente, os levaria a associar o cheiro de comida na Pousada Uacari ou Flutuantes à refeição fácil. Não tínhamos qualquer tipo de cuidado com os grandes animais e todos os consideravam como grandes animais “domésticos”. O acidente cruel com a Deise, segundo a Vera, parece que, depois de quase um ano, já caiu no esquecimento, uma vez que os procedimentos reprováveis voltaram a acontecer.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E–mail: hiramrs@terra.com.br

Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A DITADURA BEM PASSADA DOS BUROCRATAS

Fonte: Leite de Pato e Artigos e Notícias.

Tenho visões nada animadoras do futuro. Uma delas é a seguinte: você precisará de uma autorização do governo para comer numa churrascaria, assinar e reconhecer no cartório um documento dizendo que você está ciente de que a carne ali servida pode elevar o seu colesterol e levá-lo à morte e que, se você entrar num destes estabelecimentos mais de duas vezes por ano, deverá se contentar com um pedaço de fraldinha, frango desossado e picanha (bem passada), desde que coma também folhas e folhas das saladas do buffet. Só os burocratas sabem o que é bom pra você. Só o Estado realmente se importa com você. Só as agências públicas podem dizer o que você deve ou não fazer mesmo que você esteja solenemente cagando para elas.

É dessa mania de um bando de come-e-dorme que agora governa através de portarias autoritárias sem que tenham recebido sequer um único e escasso voto que João Ubaldo fala no artigo abaixo.

VIVER CORRETAMENTE

Por João Ubaldo Ribeiro

Não sei bem a que se pode atribuir a crescente moda de intervir na vida pessoal do cidadão brasileiro. Inclino-me a acreditar que isso se deve à falta do que fazer de um número cada vez maior de burocratas e tecnocratas. Todos eles detêm certezas sobre tudo o que julgam ser de sua alçada. Em matérias "técnicas", não há espaço para posições divergentes. Afinal, a técnica provém da ciência e a ciência fornece certezas. E essas certezas são tão poderosas que devem sobrepor-se até mesmo aos valores de indivíduos ou coletividades. O conceito de normalidade, tão enganoso não só científica como filosoficamente, parece para elas assente e inequívoco.

Claro que tais certezas, que amiúde se expressam em arrogância, autoritarismo e condescendência enfarada, não são certezas de coisa nenhuma, são apenas ignorância e estreiteza de horizontes em ação. O resultado é que nos vemos ameaçados a todo instante de sermos obrigados a nos comportar "normalmente" ou, pior ainda, corretamente. Volta e meia, alguma autoridade baixa regras sobre como devemos fazer compras em farmácia, que tipo de tomada nos convém usar ou que equipamento passou a ser compulsório nos automóveis. Com o nosso tradicional temperamento de rebanho ovino e de "tudo bem, contanto que não me incomode diretamente", vamos deixando que esse negócio se espalhe e tome conta de nossa vida.

Além do combate ao uso do tabaco e do álcool, creio que devemos esperar, a julgar por sinais aqui e ali, que nos ditem o que podemos comer. Em cantinas escolares, isso já é feito. Mas creio que os nossos mentores, protetores e tutores não considerarão seu trabalho concluído enquanto o pai que dê uma gulodice açucarada a seu filho não puder ser denunciado e enquadrado e perder o pátrio poder, se persistir em seu comportamento reprovável. Aliás, imagino que, com a vigência da lei da palmada, cedo chegará o dia em que pais e mães denunciados por palmadas desobedecerão a ordens judiciais e instruções de psiquiatras para serem corretos e normais e, portanto, o Estado os meterá na cadeia e lhes tomará os filhos, que terão seu futuro garantido, sob a guarda eficiente, carinhosa e científica de instituições modeladas na Funabem.

Assim como os fumantes oneram a saúde pública com as doenças causadas por seu feio vício, também o fazem os obesos, com seus problemas cardíacos, sua diabete, sua hipertensão. E não se pode esquecer que, caso essas pessoas de conduta e aparência condenáveis tenham filhos, estarão delinquindo ainda mais, pelo mau exemplo. Espero que em breve um dos mil braços do governo estabeleça padrões alimentares a que as famílias terão que obedecer, pelo bem de sua saúde e sob pena de suas compras de alimentos só poderem ser feitas sob a orientação de um técnico credenciado. Claro, ovo já foi um horror e hoje é permitido e até encorajado. Margarina já foi aclamada como o substituto sadio da manteiga e hoje é execrada. São as verdades científicas.

Ao contrário do que chegou a divulgar-se, os defensores da censura a Monteiro Lobato não foram derrotados nem alteraram suas posições. O livro pode ser lido, mas sob a supervisão de um professor com qualificações específicas. Ou seja, em última análise, um técnico em leitura literária, um guia. Diretamente, sem intermediários, o livro não pode ser lido. Acredita-se que existe a maneira certa de ler, entender e apreciar um determinado livro. As maneiras que não se encaixem no padrão correto são, por consequência, errôneas e inadmissíveis. Daí se passará, imagino eu, à exigência de que os livros, não somente na escolas, mas entre o público em geral, só possam circular depois de lidos pelos técnicos, que escreveriam uma espécie de bula ou modo de usar, para que os leitores apreendessem corretamente a leitura. Claro, não é censura, é apenas a aplicação da verdade científica ou objetiva.

Aliás, falando em livros há outras novidades, ainda no terreno da cultura. O plano é mudar a lei dos direitos autorais. Os proponentes das mudanças dizem que não estão de fato querendo mudar nada, porque todas as suas ideias estariam contidas em dispositivos legais já vigentes. Pergunta-se, nesse caso, por que é preciso fazer uma nova lei. Não sei bem, mas sei, pelo que já me foi contado, que a produção de cópias de livros ou textos sem pagar direitos autorais será permitida, contanto que para fins educativos. Ou seja, qualquer coisa, ainda mais no mangue educacional que é o Brasil. O sujeito escreve um livro que é adotado em classe e esse livro pode ter praticamente uma edição à parte, pois há máquinas que possibilitam isso, copiando um livro inteiro e cuspindo do outro lado volumes já encadernados, com capa e tudo. O autor não vê um centavo, embora os produtores da edição pirata se remunerem pelo seu trabalho de "difusão" e, principalmente, os fabricantes das máquinas ganhem.

Interessante isso. Acredita-se que um estudioso dedique anos de pesquisa e trabalho duro a produzir algo pelo qual não será pago, a não ser pela distinção de ser adotado nas escolas. Por que os funcionários do governo que lidam com cultura não abdicam de seus salários, já que a verdadeira cultura não pode ter preocupações materiais e o artista pode viver de brisa? Trabalhar para a cultura é isso, é ser filósofo e poeta aos olhos do grande público. Morrendo bêbado, tuberculoso e na sarjeta é ainda melhor, compõe o quadro romântico.

A interferência do Estado na elaboração, venda e circulação de livros e, acima de tudo, a tutela de seu uso, sua interpretação e sua avaliação não é mais nem autoritarismo, é totalitarismo fascistoide mesmo, é controle do pensamento. Mas moda é moda e, como ninguém reage, vão nos empurrando essas e outras goela abaixo, até o dia ideal em que não pensaremos mais, porque os pensadores certos já terão pensado tudo por nós.

Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).

FILHOS DE LULA SÃO SÓCIOS DE HOLDING. SUCESSO EMPRESARIAL

Sucessos empresariais, os filhos de Lula são mesmo fenômenos da genialidade em gestão empresarial e financeira.


Agora acabam de criar duas holdings - a LLCS Participações e a LLF participações.
Elas foram criadas para gerir um pool de empresas destes notáveis empresários.
As seis empresas dos filhos de Lula atuam ou se preparam para atuar nos ramos de entretenimento, tecnologia da informação e promoção de eventos esportivos.
São segmentos em alta na economia, que ganharam impulso do governo federal Lula, que foi o padrinho
das candidaturas vitoriosas do Brasil para organizar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
A maioria dos negócios dos gênios têm como sócios pessoas próximas a Lula, claro.
Um dos mais novos empreendimentos da dupla, a holding LLCS, por exemplo, foi registrada no endereço da empresa Bilmaker 600.
A Bilmaker tem como controlador o engenheiro Glaucos da Costamarques, 70, que é primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do presidente Lula.
Os outros sócios da Bilmaker, Otavio Ramos e Fabio Tsukamoto, são sócios de Luís Cláudio, filho do presidente, na ZLT 500, empresa de produção e promoção de eventos esportivos.
Assim como a holding, a ZLT também só existe no papel. Está registrada num endereço no Morumbi onde há só uma casa abandonada.
Criada em julho, a ZLT tem ainda como sócio José Antonio Fragoas Zuffo, empresário da região do ABC.
Luiz Cláudio
Sócio na Bilmaker e na ZLT, Otávio Ramos disse à Folha que não sabia que os filhos de Lula haviam registrado uma empresa na sede da Bilmaker.
"Isso me preocupa. Vou ligar para eles. Não sabia nem da existência dessa holding. Não sei nem do que se trata nem quero saber", disse.
Ramos afirmou que a empresa não faz negócios com o governo para não gerar especulações. "Somos amigos deles e já iriam ver maldade." A Bilmaker, disse, é uma empresa de exportação e importação de "qualquer coisa".
A outra holding criada pelos filhos de Lula neste ano, a LLF, foi registrada no prédio da PlayTV, emissora de jogos on-line.
Os programas da PlayTV só são veiculados na Sky, que distribui o canal como cortesia, e pela OiTV. A PlayTV é controlada pela Gamecorp, o maior dos empreendimentos de Lulinha.
Lulinha
Em troca de 35% das ações da Gamecorp, a Oi pagou a Lulinha cinco milhões de Reais.
Em reconhecimento a benevolêcia da Oi em adquirir 35% das ações da Gamecorp, uma empresa com capital inicial de cem mil Reais, por cinco milhões de Reais, Lula pai favoreceu a Oi através de modificação na Norma Regulamentadora da ANATEL, possibilitando a Oi adquirir a BrT de Daniel Dantas.
Qualquer um em uso de sua capacidade mental pode ver que este meteórico progresso dos filhos de Lula não é normal sem que haja um forte componente de corrupção, falta de ética, de moral e de princípios de honestidade.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

MINISTRA IRINY LOPES DE DILMA DEFENDE ABORTO

Ministra petista diz: “Não dá para obrigar mulher a ter filho

Por Julio Severo
O governo de Dilma, a mulher que nunca renunciou ao seu terrorismo do passado, mal começou e o aborto já vira prioridade. De acordo com reportagem do jornal esquerdista Folha de S. Paulo, a nova ministra Iriny Lopes, escolhida por Dilma Rousseff para tratar das questões das mulheres, vai ter como preocupação defender exatamente aquilo que quase derrotou Dilma na eleição presidencial e aquilo que Dilma se comprometeu a não promover: o aborto. Veja a matéria aqui:
A deputada federal (PT-ES) e futura ministra
Iriny Lopes diz defender decisão pessoal de
não ter filho - (foto: Sérgio Lima/Folhapress)
“Não vejo como obrigar alguém a ter um filho que ela não se sente em condições de ter. Ninguém defende o aborto, é respeitar uma decisão que, individualmente, a mulher venha a tomar.” Essa é a posição pessoal declarada pela atual deputada federal pelo PT do Espírito Santo e futura ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, 54.
A informação é de entrevista de Johanna Nublat publicada na edição desta segunda-feira da Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Iriny tem histórico de militante dos direitos humanos e sua declaração toca num dos pontos mais explorados durante a disputa eleitoral. Para ela, o papel do governo federal na questão é cumprir a lei, e cabe ao Congresso definir políticas públicas.
O tema consta em programa do PT do início do ano. A futura presidente Dilma Rousseff, porém, se disse contrária a mudanças na legislação -que prevê o aborto apenas em caso de estupro ou risco à saúde materna.
Leia trechos da entrevista:
A sra. fala sobre o aborto?
Sim. Temos a responsabilidade no zelo da saúde pública, dentro da lei, de não permitir nenhum risco às mães.
A sra. tem uma posição pessoal sobre o assunto?
Minha posição é que temos que ter muitas políticas de prevenção e de esclarecimento. Agora, eu não vejo como obrigar alguém a ter um filho que ela não se sente em condições de ter. "Ah, é defesa do aborto..."
Ninguém defende o aborto, trata-se de respeitar uma decisão que, individualmente, a mulher venha a tomar.
Leia a reportagem completa na Folha desta segunda-feira, que já está nas bancas.
É impressionante. Em plena estação de Natal, época de pensar no bebê Jesus, e os petistas só estão pensando em aborto e derramamento de sangue!

PORTINARI, A VOLTA DO PINTOR DO POVO

“Estou com os que acham que não há arte neutra. Mesmo sem nenhuma intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social”.

Cândido Portinari

Após 54 anos o imenso quadro Guerra e Paz está de volta ao Brasil, em exposição prevista até 2013 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Guerra e Paz deixa a sede da ONU – Organizações das Nações Unidas em Nova Iorque e poderá ser vista pelos brasileiros. Configurada a sua inclinação muralista, Portinari necessitou de andaimes para pintar Guerra e Paz, iniciado em 1952 e concluído em 1956, medindo cerca de 14x10.

- Nós estamos planejando levar os paineis a Hiroshima,estou articulando para que o prêmio Nobel da Paz em 2012, na Noruega seja entregue na frente dos paineis-disse João Cândido Portinari, filho do artista e presidente do Projeto Portinari, à Rádio ONU como será o trajeto internacional.

Além da inegável importância do quadro posto na sede da UNU, presente do governo brasileiro, e do retorno ao Brasil na referida exposição, é oportuno ressaltar que os Estados Unidos impediram Portinari de entrar naquele País pelo fato de ser comunista. A pergunta foi feita ao pintor e ele confirmou ser comunista.

Influenciado pelo líder Luiz Carlos Prestes, a quem admirava muito, Portinari se filiou ao Partido Comunista Brasileiro. Pelo PCB e para ajudar ao partido e contribuir pela volta da democracia, Portinari se candidatou a deputado federal em 1945 e no ano seguinte para o Senado, sem sucesso eleitoral. O posicionamento político-partidário não o impediu inteiramente de projetar a arte dele mundo afora, mesmo diante de tais obstáculos.

Outro registro fundamental sobre a vida e a obra de Portinari tem a ver com o também comunista Oscar Niemeyer. O arquiteto, de antes projetar Brasília, fez o conjunto arquitetônico da Pampulha de Belo Horizonte, Minas Gerais, a pedido do então prefeito Juscelino Kubitschek. Niemeyer convidou Portinari para realizar a decoração de tais espaços. Assim sendo, São Francisco e a Via Sacra, na Igreja da Pampulha, reforçaram o caráter social e trágico das obras de Portinari. São Francisco é retratado num cenário brasileiro onde aparecesse próximo ao Santo um cão vira-lata pintado como expressão da miséria da nossa gente. Somando-se o sentido daquelas obras e o posicionamento político, a Igreja Católica recusou a usar a famosa capela, “idealizada por dois comunistas!”, disseram. Hoje os noivos, mesmo não se casando lá, se dirigem até ela para orarem e tirar fotos.

O trágico era uma forte expressão da arte de Portinari, que o diga Retirantes, pessoas fugindo da seca, pelas estradas poeirentas e áridas com seus poucos pertences, esquálidas. Pintou também os negros e há neles uma particularidade que chega inicialmente a comprometer a chamada estética. Nos quadros sobre as fazendas de café, os pés e braços dos escravos estão pintados enormes e, portanto, desproporcionais ao corpo. Ao ser perguntado sobre qual o sentido, Portinari afirmou que era o olhar sob a ótica dos senhores dos escravos, “o que lhes interessava nos negros era a força bruta empregada para a exploração vil, braços, pernas e pés tinham valor como mão-de-obra”.

Guerra e Paz, após ficar pronto pelo mais expressivo artista brasileiro, só foi visto pelo próprio Cândido Portinari uma única vez, logo após terminá-lo. Ele morreu logo em seguida, em 1962 no Rio de Janeiro, seis de fevereiro, em consequência da progressiva intoxicação proveniente do contato com as tintas usadas nas pinturas. Portinari foi advertido pelos médicos do perigo iminente, no entanto, disse o pintor, “estão me impedindo de viver”.

A referida exposição aberta em dezembro, faz lembrar outro dezembro, o dia 29 de 1903, ano de nascimento do pintor, no interior de São Paulo, na pequena Brodósqui, filho de imigrantes italianos, numa fazenda de café. O café e o meio rural da infância seriam comumente retratados nas suas mais importantes obras.

Imagens da Internete - fotoformatação (PVeiga).

AÇÕES E REAÇÕES DO GOVERNO LULA

Aja como se suas atitudes fizessem diferença. Porque elas fazem (Dalai Lama).

Reaja inteligentemente mesmo a um tratamento não inteligente (Lao-Tsé).

Dias atrás recebi um e-mail de um artigo sobre meio ambiente que continha as duas preciosidades acima citadas. Tanto podia ser pensado, repensado e aprendido através dessas frases geniais, que nem sabia por qual tema começar.

Evo Morales-Hugo Chaves-Raul Castro-Lula

Podia ser político, educacional, de relacionamentos, comercial, amoroso, e nem poderia aqui enumerar os mais diversos sentidos para os quais as mesmas poderiam me arremeter em pensamentos. A poucos dias da posse da nova Presidente da República, a eleita Dilma Rousseff, resolvi enfocar o aspecto político destas.

Logo me peguei rindo, sozinho, ao me lembrar de diversos fatos ocorridos durante o governo do atual Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, que facilmente poderiam ser classificados como palhaçadas, como suas bebedeiras, sua divulgação insistente da não necessidade de estudo para ser presidente, da sua declaração de ser filho de uma mãe que nasceu analfabeta, e da poluição só existir porque a Terra é redonda.

Suas intromissões em assuntos internos de outros países, como o apoio e guarida na embaixada brasileira do chapeludo Manuel Zelaya, de Honduras, ou a não intromissão quando esses países eram dirigidos por "companheiros", como no caso da negativa de apoio aos prisioneiros políticos de Cuba, em greve de fome quando de sua visita ao país caribenho.

Todas essas atitudes provocaram diferenças enormes no país, como o mau exemplo aos jovens quanto à bebida e aos estudos, as críticas de outros governos por suas intromissões, como a resposta do Irã sobre proposta de acolhimento, pelo Brasil, de uma prisioneira iraniana que seria apedrejada em seu país, ou pela falta delas, como quando foi contra tudo e todos em apoio ao programa nuclear do mesmo Irã.

Certamente provocaram também o afastamento de tradicionais parceiros comerciais, como americanos e europeus, quando nossa política externa apoia radicais como Mahmoud Ahmadinejad e seu programa nuclear. O prejuízo financeiro ao país é imensurável, pois além de perdermos parceiros tradicionais, perdemos aqueles mercados para outros países que passam a ser os fornecedores daquilo que, como retaliação, não nos compram mais.

Como Presidente da República de um país, Lula não reagiu com inteligência a um tratamento não inteligente que Bolívia e Paraguai tiveram com o Brasil, ao se apossarem dos diversos investimentos da Petrobrás na Bolívia e pressionarem o Brasil para a revisão de um contrato tarifário vigente sobre a energia de Itaipu.

Não reagiu com inteligência aos mais diversos crimes cometidos no país pelo MST, que durante seu governo invadiu diversos prédios públicos, o Congresso Nacional, o Banco Central, e destruiu diversas propriedades privadas, todas altamente produtivas, diga-se de passagem, como as invadidas e destruídas em diversos estados do país, inclusive com imagens mostradas pela imprensa da destruição de diversos hectares de plantação de laranja já em produção, da empresa Cutrale, a maior exportadora de suco do país, além da destruição de diversos campos experimentais de produção de sementes geneticamente modificadas.

Não reagiu com inteligência, também, ao receber o cineasta James Cameron, que estava no Brasil na condição de estrangeiro, dando opiniões e fazendo protestos contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.

Lula consegue, assim, passar para a história como um presidente que tanto agiu como reagiu erroneamente.

DESAFIANDO O RIO-MAR: INICIANDO A 3ª FASE

Hiram Reis e Silva, Rio Amazonas, RS

“Vê bem, Maria aqui se cruzam: este

é o Rio Negro, aquele é o Solimões.

Vê bem como este contra aquele investe,

como as saudades com as recordações”.
(José Quintino da Cunha)

Partida para Manaus

Surpreendentemente, a saída de Porto Alegre, pela Gol, saiu dentro do horário previsto, o mesmo não ocorrendo na conexão em Brasília onde o caos havia se instalado e parecia não querer arredar o pé. A todo o momento os passageiros eram orientados a buscar outros portões de embarque e não raras vezes em andares diferentes num desrespeito flagrante ao usuário e uma patente mostra da desorganização que reina no sistema aeroviário brasileiro, país que se propõe a sediar a Copa em 2014.

Manaus

Cheguei à tarde em Manaus com um atraso de quase uma hora e o amigo e Irmão gaúcho 1º Sargento Vaz se encarregou de me conduzir ao 2º Grupamento de Engenharia (2ºGpt) onde fiquei hospedado. O Vaz, gentilmente, convidou-me para tomar um chimarrão em sua residência e saborear, no jantar, uma pizza preparada por sua querida e habilidosa esposa.

Contratempos

No dia seguinte fiz questão de verificar as condições de meu caiaque modelo Cabo Horn, fabricado pela Opium Fiberglass, e fiquei surpreso e preocupado ao constatar, por estes amazônicos imponderáveis, que haviam extraviado os tampões dos compartimentos de proa e de popa, leme, pás do remo de reserva, e outros itens. Os tampões eu podia improvisar com um plástico grosso e extensores, mas o leme tem tamanho, peso e formato muito específicos e faria muita falta ao enfrentar os famosos banzeiros e ventos de través. Tentei, sem sucesso, rastrear o caiaque do mesmo modelo que meu parceiro, o Coronel Teixeira, vendera, há dois anos, em Manaus depois de minha descida pelo Solimões. Contatei o amigo canoísta Marcelo da Luz, o “peixinho”, para ver se ele conhecia alguém, em Manaus, que possuísse um modelo semelhante e ele me informou que havia comprado um e se prontificou a levar os tampões e leme até o 2ºGpt. Embora os tampões fossem diferentes, o leme era idêntico e ele se dispôs a emprestá-lo. Eu já havia encomendado ao mestre Fábio Paiva, da Opium Fiberglass, o material, mas certamente ele não chegaria antes de minha partida, dia 23 de dezembro, minha jornada nem começara e eu já amargava um prejuízo de mais de mil reais.

Lúcio Batista Guaraldi Eblin

Meu grande amigo Coronel Ebling foi, mais uma vez, meu ponta de lança me apoiando nos deslocamentos em Manaus para comprar alguns itens complementares e tive a oportunidade de almoçar com ele por três vezes. Novamente, ele doou ao Projeto um kit completo de reparação para eventuais avarias na fibra de vidro do caiaque.

Partida para Costa de Santo Antônio

(23 de dezembro de 2010)

O 2ºGpt havia providenciado um apoio substancial ao meu deslocamento, de Manaus a Santarém, em homenagem aos 40 anos do Grupamento. O Coronel Aguinaldo da Silva Ribeiro, meu ex-cadete, comandante do 8º Batalhão de Engenharia de Construção, sediado em Santarém, deslocou o B/M (Barco a Motor) Piquiatuba para me apoiar durante toda a jornada. A embarcação regional possui um convés principal e um convés superior, dispõe de cozinha, dois camarotes, dois banheiros, freezer, máquina de lavar roupas e televisão. Eu ia contar, graças aos discípulos de Vilagran, de um conforto que jamais havia imaginado e resolvi dormir embarcado, na véspera da partida na nau para evitar qualquer tipo de atraso. Improvisei tampões para o caiaque, montei minha barraca e a fixei solidamente no convés superior criando mais um aposento como alternativa. A zelosa tripulação era formada pelos soldados Mário Elder Guimarães Marinho (Comandante do B/M), Walter Vieira Lopes (Sub-comandante do B/M), Edielson Rebelo Figueiredo (Chefe da Casa de Máquinas) e Marçal Washington Barbosa Santos (cozinheiro) nosso bom Gourmet.

Acordei às 4h45, antes do amanhecer, e iniciei minha navegação pelo Rio Negro partindo do estaleiro do senhor Oziel Mustafa onde estávamos ancorados. Saí cedo tentando evitar a agitação que se seguiria. Às 5h45, o sol apontou, ainda preguiçoso, no horizonte, exatamente no alinhamento de minha proa, no mesmo instante em que eu passava na frente da estação de São Raimundo, fui, então, agradavelmente surpreendido com os maravilhosos acordes de nosso Hino Nacional, a magia do emocionante momento me envolveu e senti uma elétrica vibração percorrer minha epiderme. Continuei minha navegação e tive, mais de uma vez de desviar de pilotos, mal-educados que teimavam em sair de sua rota simplesmente para criar marolas que prejudicassem meu deslocamento. Eu já presenciara este comportamento condenável por diversas vezes no Guaíba onde pilotos de lanchas e Jet Sky, contrariando normas estabelecidas e o bom senso não priorizam as rotas de remadores e velejadores. Passei pela área do Porto do Chibatão onde, no dia 17 de outubro deste ano, ocorreu o deslizamento do barranco, provocado pela ação das águas, arrastando containers e carretas para o leito do Rio Negro.

Fiz a primeira parada na ilha Marapatá em frente à Refinaria de Manaus, recebi um telefonema da minha filha Vanessa, às 7h07, e enviei uma mensagem para o Coronel Colbelo do 2ºGpt informando minha posição, foi o último contato que pude estabelecer nos três primeiros dias de viagem. A equipe de apoio do Piquiatuba me ultrapassou e ficou aguardando à jusante da ilha, continuei minha navegação e logo em seguida pude observar o encontro das águas.

Encontro das Águas


“Vê como se separam duas águas,
Que se querem reunir, mas visualmente;
É um coração que quer reunir as mágoas
De um passado, às venturas de um presente.

É um simulacro só, que as águas donas
D’esta região não seguem o curso adverso,
Todas convergem para o Amazonas,
O real rei dos Rios do Universo;

(José Quintino da Cunha)

O Negro enfrentava a maior estiagem dos últimos quarenta anos e não era páreo para o formidável Solimões. Na altura da Ponta das Lajes o limite entre ambos era nítido, as alfaces d’água, aguapés, pequenos pedaços de madeira marcavam a fronteira entre os formidáveis mananciais, aqui e ali as águas leitosas do Solimões penetravam céleres no flanco direito do Negro, os ataques se tornavam cada vez mais frequentes e violentos à medida que eu avançava. Minhas fotografias aéreas, certamente da época da cheia do Negro, mostravam suas águas progredindo, cada vez mais estreitas, até a altura de Itacoatiara, a 200 quilômetros da foz. Hoje as águas do Negro guardavam apenas uma pálida lembrança do pujante afluente. As águas do Solimões passava o comando para o Amazonas que continuava não dando trégua ao arqui-rival e o comprimia sem clemência de encontro à margem esquerda, até que não restasse nenhum vestígio das águas “negras como tinta”. Há séculos a luta entre estes dois titãs vem encantando a poetas, naturalistas, pesquisadores e a todos que tem a oportunidade de admirá-las. E pensar que no século XVI o nome do Amazonas de Orellana, a montante de Manaus, foi alterado para Solimões tendo em vista na época se desconhecer em qual dos dois titãs se encontraria a nascente natural do Amazonas.

O Conto Águas

Mais uma vez caí no “conto das águas”. A tripulação do Piquiatuba informou que a água do reservatório era de boa qualidade e eu acreditei, infelizmente, minhas vísceras não. Estava tresnoitado ao iniciar minha jornada e além da desidratação, provocada pela disenteria, o sol causticante forçava-me a beber a água contaminada. Só então me dei conta que a água deveria ser a causa e me acerquei da embarcação de apoio para pedir que enchessem meu cantil com refrigerante. Procedi da mesma forma em mais duas oportunidades, era muito bom poder contar com este tipo de ajuda em pleno rio sem a necessidade de aportar.

Puraquequara e Missão Novas Tribos

A passagem pelo Puraquequara sinalizada, nitidamente, pelo Farolete Maronas trouxe-me gratas lembranças do Curso de Operações na Selva do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), exemplos de superação, de camaradagem, de coragem, de fé e, sobretudo, determinação dos companheiros do COS A/99. Dedicarei um capítulo especial em meu futuro livro a respeito deste Centro de Instrução que é considerado, indiscutivelmente, o melhor do gênero em todo mundo.

Na boca do Puraquequara existe uma instalação da controvertida Missão Novas Tribos do Brasil, filiada à Sociedade Internacional de Linguística, que mereceria um capítulo à parte, mas cujo objetivo pode ser resumido como - aniquilar povos e culturas e salvar línguas. A ONG exerce sua nefasta ação na Amazônia com a total conivência e omissão das autoridades “(ir)responsáveis” e já foi processada por ter invadido área indígena dos Zo’e provocando a morte de 40 silvícolas por infecções respiratórias. A Associação Brasileira de Antropologia acusa os membros da famigerada seita fundamentalista também pela destruição cultural, promover a desagregação social, realizar prospecção mineral e contrabando. Vários países latino-americanos, mais atentos, já expulsaram os vis missionários de seus países.

Costa de Santo Antônio

A viagem continuou sem grandes novidades pela face Norte da enorme Ilha do Careiro (40 km de extensão) e chegamos ao nosso local de destino por volta das treze horas depois de remar por 70 quilômetros durante 7h30. O Porto era um pequeno igarapé na Costa de Santo Antônio, um quilômetro a jusante do igarapé de mesmo nome da Costa, exatamente na parte mais estreita compreendida entre a margem esquerda do Amazonas e a Ilha das Onças. A tripulação foi pescar com a tarrafa que eu adquirira em Manaus e à noite, no jantar, degustamos o fruto de seu labor. Uma chuva torrencial iniciou à tarde, felizmente depois de estarmos perfeitamente atracados, protegidos e instalados na foz do igarapé.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E–mail: hiramrs@terra.com.br

Imagens da Internet – fotoformatação (PVeiga).