quinta-feira, 31 de março de 2011

CARTA DOS CLUBES MILITARES

Há quarenta e sete anos, nesta data, respondendo aos reclamos da opinião pública nacional, as Forças Armadas Brasileiras insurgiram-se contra um estado de coisas patrocinado e incentivado pelo Governo, no qual se identificava o inequívoco propósito de estabelecer no País um regime ditatorial comunista, atrelado a ideologias antagônicas ao modo de ser do brasileiro.
À baderna, espraiada por todo o território nacional, associavam-se autoridades governamentais entre as quais Comandantes Militares que procuravam conduzir seus subordinados à indisciplina e ao desrespeito aos mínimos padrões da hierarquia.
A história, registrada na imprensa escrita e falada da época, é implacável em relatar os fatos, todos inadmissíveis em um País democraticamente organizado, regido por Leis e entregue a Poderes escolhidos livremente pelo seu povo.
Por maiores que sejam alguns esforços para “criar” uma história diferente da real, os acontecimentos registrados na memória dos cidadãos de bem e transmitidos aos seus sucessores são indeléveis, até porque são mera repetição de acontecimentos similares registrado pela história em outros países.
Relembrá-los, sem ódio ou rancor, é, no mínimo, uma obrigação em honra daqueles que, sem visar qualquer benefício em favor próprio, expuseram suas carreiras militares e até mesmo suas próprias vidas em defesa da democracia que hoje desfrutamos.
Os Clubes Militares, parte integrante da reação demandada pelo povo brasileiro em 1964, homenageiam, nesta data os integrantes das Forças Armadas da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela Nação Brasileira.

P.s. Todos estes ex-presidentes, morreram recebendo, apenas, as suas aposentadorias. Não enricaram, ao contrário de: Sarney, Collor, FHC e Lula.
Pra mim, isto diz muito.

31 DE MARÇO DE 1964

Artigo no Alerta Total – http://www.alertatotal.net/

Por Raymundo Baraúna Tosta

Foto onde se pode ter uma visão da Marcha
da Vitória que percorreu a Avenida Rio
Branco até a Esplanada do Castelo,
1964, publicada no Suplemento Especial
daFolha de São Paulo, 1964, copiada da
Revista Nosso Século - 1960-1980,
Capítulo I, "Tempos de Populismo
e Agitação", pág. 76

31 de março de 1964 é data histórica que merece ser recordada e comemorada pelos verdadeiros brasileiros, por lembrar nossa 2ª Independência. Marca definitivamente a contra-revolução democrática que impediu a implantação do movimento comunista internacional do Brasil e, em consequência, na América do Sul.

Foi a Nação, essa sim, que, unida pelo mesmo ideal, exigiu dar-se um paradeiro à desordem generalizada, econômica e social, à preparação do autogolpe, à quebra da disciplina culminando no motim dos marinheiros e na agressão à hierarquia. Só assim se explica que o governante fosse deposto sem um só tiro disparado. Em 19 de março de 1964, na "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", cerca de 1 milhão de pessoas de terço na mão, desfilaram em São Paulo, implorando a proteção de Deus e das Forças Armadas contra o comunismo.

A contra-revolução por Minas Gerais. No dia 31 de março de 1964, tropas da 4ª RM (Juiz de Fora) e ID/4 (Belo Horizonte) marcharam para o Rio de Janeiro e Brasília sem encontrar qualquer resistência. Em 02 de abril, no Rio de Janeiro, foi realizada a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade" que reuniu espontaneamente milhões de pessoas em agradecimento as Forças Armadas, num movimento popular jamais visto. Com o apoio da população foi deflagrada a contra-revolução por Minas Gerais.

Pela versão dos revanchistas, o movimento revolucionário de 1964 foi sangrento e causou injustamente, a morte de muitas pessoas, tanto assim que hoje os familiares deles estão recebendo pensão do governo. E o reconhecimento das injustiças cometidas pela revolução, dizem.

Querem fazer crer esses revanchistas que eles, naquele tempo, queriam apenas o aperfeiçoamento das liberdades democráticas, que pretendiam fazer reformas de base capazes de modernizar o país e beneficiar os menos favorecidos. Para quem não viveu aquele período esses argumentos parecem verdadeiros. Só que não são O propósito dos revanchistas de hoje era instaurar no Brasil um governo comunista de modelo Cubano

E bom esclarecer que os 300 esquerdistas mortos em combate com as Forças da Ordem, praticaram o terrorismo e mesmo a guerrilha em regiões do Brasil Central, como foi, o caso do Araguaia. Mas essa taxa de violência, que hoje é imputada ao Exército como a maior das manchas, nada representa, por exemplo, em comparação com as 17 mil pessoas assassinadas pelo governo Cubano. Por outro lado os dois mil prisioneiros políticos que o Brasil teria chegado a ter naquela época foram um pingo d'água no mar se comparados aos 100 mil que entupiam os cárceres da pequena Cuba.

Querem dar também a entender os revanchistas que o dilema, em 1964, era entre a democracia e os chamados "anos de chumbo". Quer dizer, os esquerdistas defendiam a democracia e os militares um governo de força que sufocava a democracia. Engano. E coisa de menino, supor que, naqueles dias, a alternativa ao movimento militar fosse a normalidade democrática. Muito ao contrário, o "golpe" - como eles ainda o chamam - foi para defender a democracia daqueles que a queriam trocar por um regime comunista.

Essas deformações de fatos políticos, ainda não muito velhos são feitas por ranço ideológico dos que mesmo anistiados, que ocupando cargos importantes no governo, insistem nessas mentiras e, pior, patrulham os militares como se eles também não tivessem direito à anistia. A discriminação e o facciosismo são tamanhos que, embora muitos integrantes das Forças Armadas tenham morrido em combate com terroristas e guerrilheiros, ou por estes covardemente assassinados, ninguém de suas famílias tiveram direito a indenização, ao passo que as dos terroristas, dos guerrilheiros, dos assassinos frios e covardes, solicitaram e obtiveram indenizações milionárias.

Para eles o crime compensou.

Nós militares, sempre estivemos cientes que "Deus e o soldado só são lembrados nos momentos de perigo".

Raymundo Baraúna Tosta - CB (Fuzileiro Naval) Reformado. Artigo publicado no Periódico “O Militante”, de Março/Abril de 2001, informativo da AMIRFA - Associação de Militares da Reserva das Forças Armadas - Salvador, Bahia.
http://www.varican.xpg.com.br/varican/Bpolitico/Marco_31.htm

MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE

Na capital paulista, 500 mil pessoas participaram da Marcha da Família com Deus pela Liberdade em defesa da Constituição e das instituições democráticas brasileiras e de repúdio ao comunismo.
Veja aqui a versão em vídeo:

Hoje na História - 19 de março de 1964
Marcha da Família com Deus pela Liberdade
http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php
Edição: Ana Paula Amorim
Narração: Renata Amorim
Realização: www.jb.com.br

quarta-feira, 30 de março de 2011

GADO FARDADO

Na cultura e na tradição gaúcha, existem dois eventos que são muito comemorados nas estâncias (fazendas): a marcação e a castração do gado. No primeiro, o ferro em brasa com as iniciais do dono do rebanho queima o couro da rês para que todos saibam a quem ela pertence. No segundo, retiram-se os culhões dos touros, que passam a ser chamados de bois, com o objetivo de torná-los mais mansos e de engorda mais rápida, preparando-os para o abate. Os indivíduos que possuem características de boa performance e genética são poupados da castração para que se tornem reprodutores, garantindo ao proprietário melhores exemplares para o abate.

Dentro da sistemática da esquerda, ocorre algo semelhante. Indivíduos são marcados e castrados com a ideologia do partido. A marca, entretanto, só é perceptível quando a infeliz criatura abre a boca para repetir o batido discurso revolucionário, em apoio cego a toda forma de dominação intelectual, cultural, moral e religiosa. A castração ocorre quando, ao observar potenciais opositores, a esquerda trata logo de capar as lideranças, seja através de perseguição ideológica, seja pela utilização de cargos em estatais para retirar dos opositores a vontade de lutar pelo que acreditam. Assim, tal qual nas estâncias gaúchas, o gado fica sob controle, esperando a hora do abate.

Dentro dos quartéis não é diferente. Mesmo antes da chamada redemocratização, a esquerda foi progressivamente marcando sargentos, oficiais e comandantes para que abraçassem o seu ideal de "um mundo novo é possível". Progressivamente, a geração de militares nascidos e formados após a retomada do poder pelos partidos políticos foi sendo trabalhada para acreditar que o passado seria esquecido e que a anistia seria realmente para todos. Como coelhos, os cidadãos fardados foram caindo na armadilha. Foram marcados em sua mente, em sua alma para serem apolíticos, sem opinião ideológica formada. E pouco a pouco foram esquecendo os porquês da necessidade do movimento de 31 de março de 1964 e seu posterior enrijecimento. Passaram a acreditar na história contada por aqueles que perderam a batalha militar, mas venceram a guerra cultural.

Aos poucos oficiais de alta patente que ousaram tentar manter viva a história daqueles conturbados anos, o partido trataram logo de castrá-los. Retirando o comando de muitos, enviando para a reserva outros tantos, a regra do jogo ficou muito clara: aqueles que se posicionarem a favor da Revolução Democrática de 1964 não poderiam ascender aos postos mais elevados da hierarquia militar. E caso já os tivessem galgados, seriam castrados, ou seja, destituídos de seus grandes comandos e retirados para a inatividade. Assim, foi sendo minada a resistência militar aos mandos e desmandos da esquerda, ao mesmo tempo em que se promoveu o acovardamento dos comandantes. A moeda de troca? Cargos, dinheiros, e uma "boquinha" numa estatal como a Petrobrás ou a Vale. A esquerda tem, enfim, o seu rebanho fardado.

O ápice, porém não desfecho, deste processo pode ser observado em duas decisões recentes: a da POUPEX em não mais patrocinar o periódico INCONFIDÊNCIA e a do Comando do Exército em retirar do calendário, as comemorações alusivas à Revolução Democrática de 31 de Março de 1964. Além de não divulgar de maneira clara esta decisão para a tropa, fica evidente o acovardamento moral de nossas Forças Armadas diante desta manifestação clara de tentar forjar ainda mais a história. De olho em seus vencimentos, para não serem ejetados da vida militar e com possibilidade de arrumar um carguinho nas diversas empresas, agências, secretarias e ministérios do governo, os comandantes militares deixam de defender a história de seu país, deixam de lutar pela verdade dos fatos daqueles anos tão distorcidos pela historiografia oficial da academia.

Cada vez mais rapidamente, as nossas Forças Armadas vão fazendo parte do grande rebanho esquerdista. São tratados como gados, marcados e castrados, para depois serem abatidos. Não levantam a voz em defesa de seus ideais. Não mexem uma pena para tentar resistir a esta sem-vergonhice socialista. Entregam suas almas ao partido. Quebram o sagrado juramento de lutarem em defesa da HONRA da Pátria, tão maculada por aqueles que hoje governam o país. Apenas baixam a cabeça e repetem o mantra: sim senhor (a).

Ignoram completamente que estão sendo vítimas de um processo que os levará à sua destruição. Em breve, os outrora defensores da democracia e da liberdade de 1964 serão acusados de torturadores, assassinos e genocidas pelos próprios militares. Estes simplesmente ignoram o mundo ao seu redor, limitando-se à rotina de batalhas fictícias contra um inimigo imaginário, enquanto o verdadeiro os governa e comanda.

O triste e preocupante é saber que a cada geração de novos generais a ignorância acerca das forças que atuam no mundo e no Brasil é cada vez maior. Não conseguem enxergar além daquilo que foram programados, além do que permite a marca ideológica imposta pela esquerda, mesmo quando eles sequer se dão conta que a possuem, como gados.

Os que reagem são castrados. Consequentemente, não deixam novas descendências. E o rebanho segue engordando, cada vez mais pronto para o abate.


Do Blog do Lenilton Morato - Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).

A SEGURANÇA DO PRESIDENTE EM CAMPO MOURÃO

Por José Eugênio Maciel

“Tua segurança se perde, se não ficas atento”.

Manúcio

Há poucos dias os meios de comunicação ao cobrirem a primeira visita do presidente dos Estados Unidos ao Brasil deram atenção ao grande esquema de segurança para Barack Obama.

Ao assistir o noticiário a respeito, me vieram lembranças de outro esquema de segurança estabelecido por causa da visita do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso a Campo Mourão, ocorrida há exatos 16 anos, no dia 13 de fevereiro de 1995. Foi a primeira visita feita ao Paraná, FHC tinha assumido em janeiro, portanto não tinha dois meses no cargo. Ele esteve aqui para dois compromissos, como professor proferir uma aula e lançar o programa do ministério da educação Acorda Brasil, ta na hora da escola; bem como inaugurar o Teatro Municipal.

Para se chegar naquele dia histórico foi necessário uma meticulosa preparação em termos de segurança, À época o prefeito era Rubens Bueno, que recebeu a chamada Equipe precursora, ligada ao gabinete da presidência, que veio tratar, entre outras questões, da visita. Eu, secretário municipal da educação e cultura e outros secretários também estávamos mobilizados para viabilizar como seria a presença do presidente em nossa terra.

Citarei os fatos sem neles me estender e apenas para dar quem sabe uma noção das preocupações e medidas tomadas que garantissem todas as condições de segurança ao presidente. A primeira delas, qual o motivo para ter sido o Colégio Dom Bosco, sendo que outros estabelecimentos de ensino também foram vistoriados? Antes de responder, mencionarem outros fatos pensados e decididos em torno da visita.

A Equipe precursora era composta por representantes dos órgãos de inteligência, de segurança e das Forças Armadas. Vieram antecipadamente profissionais de várias áreas, como técnicos de comunicações, um médico, logística e por aí segue uma lista.

Já que mencionei um médico, ele veio para vistoriar o Pronto Socorro, as condições da UTI, assegurar que houvesse um estoque de sangue do tipo do presidente. Na ocasião uma UTI móvel ficou à disposição quando da visita, caso precisasse de atendimento por algum problema que surgisse, seja da falta de saúde ou em decorrência de incidente ou atentado.

Entre os aspectos técnicos, operacionais e logicamente de segurança, sigo aqui uma ordem do funcionamento do esquema de segurança. O nosso Aeroporto ficou inteiramente à disposição da comitiva, duas horas antes nenhuma aeronave poderia sobrevoar ou aterrissar. Aliás, todo o sistema controlador de voo veio diretamente do SINDACTA de Porto Alegre, depois do trabalho, somente após uma hora o Aeroporto foi liberado.

As principais avenidas tinham policiais do Exército em todas as esquinas, e a decisão sobre qual a via a ser utilizada pelo presidente só foi tomada minutos antes. Lembro que nós da prefeitura estávamos todos com celulares para eventualmente nos comunicarmos. Porém, no dia nenhum deles funcionou, o sistema telefônico e de rádio foi isolado e apenas o da segurança presidencial exclusivamente operou.

O Colégio Estadual Campo Mourão foi visitado pela Equipe precursora. Eles examinaram o auditório, à época por só ter uma entrada, “se precisássemos retirar imediatamente o presidente não seria possível, pois só tem uma saída, que fica no sentido oposto”, disseram.

Levando em conta o trabalho da imprensa nacional que viria cobrir a visita, o Colégio Estadual Dom Bosco permitiria que ela fotografasse e filmasse tudo sem estar na sala de aula, uma vez que no lado de fora, no pátio foi montada uma mini arquibancada. Os pais que foram escolhidos para ter a aula com o presidente, tiveram que apresentar nome completo e outros dados antecipadamente para o serviço, o mesmo ocorrendo com todos os convidados do Teatro. No dia anterior, poucas pessoas, apenas os alguns funcionários, tiveram acesso ao Colégio, inclusive o controle de todo o quarteirão contou com uma varredora, até um detector de metal passou junto de uma lixeira.

Além do Teatro todo monitorado, no prédio da Faculdade da Fecilcam atiradores de elite discretamente estiveram posicionados tendo à frente o próprio Teatro. Outro detalhe que me lembro bem. Ao examinarem o espaço interno, foi solicitado que providenciássemos uma mesa para ser colocada num canto do palco, atrás de uma cortina, “precisamos instalar uma linha telefônica, caso o presidente tenha que falar ou receber uma ligação de algum presidente”. Naquele momento, iríamos pedir para a Telepar, então veio a resposta, “podem deixar, virá um técnico que fará toda a instalação, por razões de segurança”.

Tive o privilégio, depois da visita caminhar para o encerramento, já no Aeroporto, ouvir a guarda presidencial tocar a corneta e anunciar que o presidente deixava o solo paranaense. Em ordem todos o cumprimentaram no seu retorno, tendo viajado com ele o então governador Jaime Lerner e o Rubens Bueno.

Não houve qualquer incidente, mas o certo é que a segurança tinha o pleno controle da situação, caso precisasse agir, o nome de todo mundo, o papel de cada um, tudo previamente estabelecido, a Equipe várias vezes contou os passos que seriam dados pelo presidente no Teatro, o tempo levado, a cadeira na qual ele sentaria, assim como fizeram várias vezes o trajeto das avenidas, cronometrando o tempo, examinando cada quarteirão.

Quando estava longe de se tornar presidente, FHC esteve aqui como senador paulista. Claro, sem nenhum esquema de segurança, fato a ser relembrado numa outra oportunidade, com curiosidades.

A REDENTORA CONTRA-REVOLUÇÃO "BRASILEIRA"

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 31 de março de 2011.

“As ações armadas da esquerda brasileira não devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia”. (Daniel Aarão Reis Filho, ex-guerrilheiro do MR-8)

Comício Central do Brasil-1964 e Marcha da Família com Deus pela Liberdade (imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga)

- 31 de Março - Com a Palavra - a Mídia da época

“Seria rematada loucura continuarem as forças democráticas desunidas e inoperantes, enquanto os inimigos do regime vão, paulatinamente, fazendo ruir tudo aquilo que os impede de atingir o poder. Como dissemos muitas vezes, a democracia não deve ser um regime suicida, que dê a seus adversários o direito de trucidá-la, para não incorrer no risco de ferir uma legalidade que seus adversários são os primeiros a desrespeitar”. (O Globo de 31 de março de 1964)

“(...) Além de que os lamentáveis acontecimentos foram o resultado de um plano executado com perfeição e dirigido por um grupo já identificado pela Nação Brasileira como interessado na subversão geral do País, com características nitidamente comunistas”. (Correio do Povo de 31 de março de 1964)

“O Exército e os desmandos do Presidente. Se a rebelião dos sargentos da Aeronáutica fora suficiente para anular praticamente a eficiência da Arma, a subversão da ordem na Marinha assumia as dimensões de um verdadeiro desastre nacional”. (Estado de São Paulo de 31 de março de 1964)

Aquilo que os inimigos externos nunca conseguiram, começa a ser alcançado por elementos que atuam internamente, ou seja, dentro do próprio País. Deve-se reconhecer, hoje, que a Marinha como força organizada não existe mais. E há um trabalho pertinaz para fazer a mesma coisa com os outros dois ramos das Forças Armadas”. (Folha de São Paulo de 31 de março de 1964)

Basta! Não é possível continuar neste caos em todos os setores. Tanto no lado administrativo como no lado econômico e financeiro”. (Correio da Manhã de 31 de março de 1964).

“É cedo para falar dos programas administrativos, da Revolução. Mas é incontestável que um clima de ordem substituiu o que dominava o País, onde nem mesmo nas Forças Armadas se mantinham nos princípios de rígida disciplina hierárquica que as caracterizam”. (Folha de São Paulo de 31 de março de 1964)

- 31 de Março - Com a Palavra – os Ex-guerilheiros

Daniel Aarão Reis Filho, ex-guerrilheiro do Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), professor titular de História Contemporânea da UFF, foi um dos quarenta presos banidos para a Argélia, em troca do embaixador da Alemanha, por exigência das organizações terroristas que praticaram o sequestro.

“As ações armadas da esquerda brasileira não devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática”. (O Globo, 23/09/2001)

Renato Lemos, professor de História da UFRJ, acha que a esquerda deveria assumir suas idéias e ações durante a ditadura, afirmando:

Cada vez mais se procura despolitizar a opção de luta armada numa tentativa de autocrítica por não termos sido democratas”.

- 31 de Março - Com a palavra – os pesquisadores

Jacob Gorender, historiador do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), no seu livro Combate nas Trevas, no capítulo 8 - “Pré-revolução e golpe preventivo”, relata:

“Nos primeiros meses de 1964 esboçou-se uma situação pré-revolucionária e o golpe direitista se definiu, por isso mesmo, pelo caráter contra-revolucionário preventivo. A classe dominante e o imperialismo tinham sobradas razões para agir antes que o caldo entornasse.” (GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. 5ª edição, 1998).

Carlos Fico, professor de Teoria e Metodologia da História e coordenador do Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ, afirma ser ficção a idéia de resistência democrática. Fico ataca a crença de que a luta armada foi motivada pela imposição do AI-5.

A opção de pegar em armas é anterior ao ato institucional. Alguns grupos de esquerda defenderam a radicalização antes de 1968 - garante ele”.

Leandro Narloch, no seu livro “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, assevera que:

"A guerrilha provocou o endurecimento do regime militar. É muito repetida a idéia de que os grupos de esquerda decidiram partir para a luta armada porque essa era a única resposta possível à rigidez da ditadura. Na verdade, antes de os militares derrubarem o presidente João Goulart, já havia guerrilheiros planejando ações e se preparando para elas”.

- 31 de Março - Com a palavra - Lula Inácio Lula da Silva

Depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva, em 03/04/1997, a Ronaldo Costa Couto e publicado no livro “Memória Viva do Regime Militar. Brasil: 1964-1985 - Editora Record 1999”.

“(...) o regime militar impulsionou a economia do Brasil de forma extraordinária. (...) Se houvesse eleições, o Médici ganhava. E foi no auge da repressão política mesmo, o que a gente chama de período mais duro do regime militar. A popularidade do Médici no meio da classe trabalhadora era muito grande. Ora, por quê? Porque era uma época de pleno emprego. Era um tempo em que a gente trocava de emprego na hora que a gente queria. Tinha empresa que colocava perua para roubar empregado de outra empresa (...)”

“(...) acho que há uma coisa que a gente tem de levar em conta. Depois do Juscelino, que estabeleceu o Plano de Metas, os militares tinham Planos de Metas. O Brasil vai do jeito que Deus quer. Não existe projeto de política industrial, não existe projeto de desenvolvimento. E os militares tiveram, na minha opinião, essa virtude. Ou seja, pensar o Brasil enquanto Nação e tentar criar um parque industrial sólido. indústrias de base, indústrias de setor petroquímico (...). Isso, obviamente, deu um dinamismo. É por isso que os exilados, quando voltaram tiveram um choque com o Brasil. Porque o Brasil, nesse período, saiu de um estado semi-industrial pra um estado industrial (...)

- Reescrever a História (Alexandre Garcia)

“(...) Eu vivi aqueles tempos. Fui presidente de Centro Acadêmico em 1969. Fui jornalista do Jornal do Brasil de 1971 a 1979. Cobria política e economia e nunca recebi qualquer tipo de ameaça, censura ou pressão. Sei que havia censura. Comigo, nunca houve. Sei que havia tortura. Certa vez me chamaram para identificação no DOPS, de suspeitos presos por um assalto ao Banco do Brasil, que eu havia testemunhado. Os dois estavam no chão, gemendo, com sinais evidentes de tortura. Fiquei revoltado e não fiz o reconhecimento. Nada me aconteceu.

Nesse último carnaval, contou-se que o governador do Rio preparou uma claque para afastar o temor de vaia para o presidente Lula - que no Rio já havia sido vaiado na abertura do Pan, no Maracanã. O temor existia, mesmo com o alto índice do presidente nas pesquisas de popularidade. Lembro que o general Médici foi o mais duro entre os generais-presidentes. Mas ele entrava no Maracanã, de radinho no ouvido e cigarro no canto da boca, e quando aparecia na tribuna o estádio inteiro o aplaudia. E ele estava reprimindo os grupos armados de esquerda que seqüestravam e assaltavam bancos. Os carros dos brasileiros andavam com um plástico verde-e-amarelo que dizia “Brasil - ame-o ou deixe-o”. Alguém explica isso?

Os generais-presidentes foram todos eleitos pelo Congresso, onde havia oposição. O último deles, ao contrário de Fidel e Chavez que negam suas ditaduras, assumiu fazendo uma promessa: “Eu juro que vou fazer deste país uma democracia”. Coisa rara, um suposto ditador reconhecer que não governava numa democracia. Por tudo isso, já está em tempo de se esquecer a propaganda, os rancores, as mentiras, e reescrever nossa História recente. “História sem verdade não é ciência, é indecência”.

- Lula deixa o Maracanã sem comentar vaias

“Ao lado da primeira-dama, Dona Marisa, e outras autoridades, Lula assistiu à cerimônia. O presidente foi vaiado quatro vezes durante a festa. A primeira manifestação das mais de 90 mil pessoas aconteceu quando uma imagem do presidente apareceu nos novos telões do Maracanã no início da festa. Neste momento, a maioria dos presentes ao estádio protestou. Outro momento em que foram ouvidas vaias aconteceu quando o sistema de som anunciou a presença de Lula. No fim da cerimônia, o público presente protestou contra Lula mais duas vezes, constrangendo-o. Primeiro quando Nuzman agradeceu à presença do presidente, única autoridade citada por Nuzman vaiada. Por último, Lula foi novamente vaiado quando teve o seu nome citado por Vázquez Raña, que teve de fazer uma pausa no seu discurso por causa do barulho. Lula deveria declarar abertos os Jogos Pan-Americanos após o discurso de Raña. Mas não o fez”. (Globo Esporte.com - Rio de Janeiro (13/07/2007)

- Nomes e Homens

“É preciso não esquecer o que houve nas ruas de São Paulo e dentro do Morumbi. No Estádio Mário Filho, ex-Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, como dizia o outro, vaia-se até mulher nua. Vi o Morumbi lotado, aplaudindo o Presidente Garrastazu. Antes do jogo e depois do jogo, o aplauso das ruas. Eu queria ouvir um assobio, sentir um foco de vaia. Só palmas. E eu me perguntava: “E as vaias? Onde estão as vaias?”Estavam espantosamente mudas”. (crônica de Nelson Rodrigues)

- Lulinha - o “bem-sucedido Ronaldinho”

“Fábio Luís Lula da Silva, de 30 anos, um dos cinco filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, experimentava, até 2003, uma situação profissional parecida com a de muitos brasileiros: a do subemprego. Formado em biologia, Lulinha, como é chamado pelos amigos, fez alguns poucos trabalhos na área, todos com baixa ou nenhuma remuneração. Para ganhar a vida, dava aulas de inglês e informática. Atualmente, o primeiro filho do casal Lula e Marisa Letícia da Silva é sócio de três empresas que, além de prestar serviços de propaganda (pelo menos no papel), produzem um programa de games para TV. Somados, os capitais das empresas ultrapassam os 5 milhões de reais. Individualmente, de acordo com sua participação societária, Fábio Luís tem 625.000 reais em ações - mais do que os 422.000 reais que seu pai presidente amealhou ao longo de toda a vida, segundo a declaração de bens que apresentou em 2002 ao Tribunal Regional Eleitoral. Melhor que tudo: nessa fulgurante trajetória, Fábio não teve de investir um único real. O negócio foi bancado quase que integralmente pela Telemar, a maior companhia de telefonia do país. Com base em documentos obtidos em cartórios de São Paulo, e em entrevistas com profissionais do setor”. (Marcelo Carneiro, Juliana Linhares e Thaís Oyama - 13/07/2005)

- Elio Gaspari

Ao ver Lula defendendo seu filho que recebeu R$ 15 milhões de reais da TELEMAR para tocar sua empresa, o jornalista Élio Gáspari do Jornal O Globo, um dos maiores críticos dos governos militares, publicou essa história tirada do fundo do baú:

"Em 1966 o presidente Castello Branco leu nos jornais que seu irmão, funcionário com cargo na Receita Federal, ganhara um carro Aero-Willys, agradecimento dos colegas funcionários pela ajuda que dera na lei que organizava a carreira.

O presidente telefonou mandando que ele devolvesse o carro.

O irmão argumentou que se devolvesse ficaria desmoralizado em seu cargo.

O presidente Castelo Branco interrompeu-o dizendo:

- 'Meu irmão, afastado do cargo você já está. Estou decidindo agora se você vai preso ou não'”.

Referindo-se ao presidente Médici, em seu livro “A Ditadura Escancarada”, na página 133, escreve:

Passou pela vida pública com escrupulosa honorabilidade pessoal. Da Presidência tirou o salário de Cr$ 3.439,98 líquidos por mês (equivalente a 724 dólares) e nada mais. Adiou um aumento da carne para vender na baixa os bois de sua estância e desviou o traçado de uma estrada para que ela não lhe valorizasse as terras. Sua mulher decorou a granja oficial do Riacho Fundo com móveis usados recolhidos nos depósitos do funcionalismo de Brasília."

- Conclusão

“O Brasil deve ser pensado daqui ‘pra frente’. A anistia apagou as marcas dos dois lados. Se houver punição terão de serem revistas também as ações da esquerda, a exemplo do atentado a bomba no Aeroporto de Guararapes (Recife), em 1966”. (General Leônidas Pires Gonçalves)

Ouço, hoje, alguns pseudo-historiadores afirmarem que o período militar governou apenas para a classe média. Estes pobres infelizes não são capazes de verificar que todas as conquistas sociais e o desenvolvimento que vem propiciando a melhoria das condições de vida da população foram alcançados graças à adoção de uma política estratégica que implantou uma infra-estrutura sem precedentes “na história desse país”, nos “anos de chumbo”. O grande problema é que a história da nação foi reescrita pelos revanchistas derrotados pela Contra-revolução de 31 de março. Onde estão os caras pintadas? Precisam eles da mídia amestrada para mostrar suas caras, ou foram comprados e aliciados por “trinta moedas”! Acorda nação brasileira! Até quando permanecerás deitada em berço esplêndido?

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS). Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério militar (IDMM); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br - E–mail: hiramrs@terra.com.br

terça-feira, 29 de março de 2011

PEDRO DA VEIGA FALA E ESCREVE

Por Wille Bathke Júnior

“Minha paixão é a comunicação. Inauguramos serviços de alto-falantes e a Rádio Colmeia. Amo Campo Mourão desde que aqui cheguei. Com as células vivas, nos dedicamos de corpo e alma, às causas nobres da cidade, este grande Centro do Progresso, título do meu livro, que deixo como legado às gerações. Orgulho-me de ter filhos e netas, todos mourãoenses”.

Pedro da Veiga nasceu dia 9 de dezembro de 1938, no Distrito de Cinzas (atual Jundiaí do Sul), município de Santo Antonio da Platina (PR). “Jundiá quer dizer bagre e y é água (Rio do Bagre). Jundiaí foi criado na mesma data de Campo Mourão, 10 de outubro de 1947, pelo governador Moisés Lupion”, explica.

Pedro é filho do safrista de porcos e delegado de polícia, José Batista Leite Veiga (Nhonhô) e de Theodora Cardoso de Lima Veiga. Tem seis irmãos: Maria casada com Silveira Claudino, Terezinha, Paulo marido de Inês Hannel, Deodato esposo de Telma Vieira, Joana e Carlos Magno.

Infância – Quando menino gostava de nadar no Rio Jundiaí e brincar de “mocinho e bandido”, influenciado por heróis do “far-west” que via no cinema local. Lembra-se dos filmes de Tex Ritter, Roy Rogger, Rock Lane e dos seriados do Zorro, Deusa de Jôba e Flash Gordon. “Comecei a trabalhar de locutor nos serviços de alto-falantes do cinema e da igreja matriz de São Francisco de Assis, padroeiro da minha cidade natal. Fazia reclames (comerciais), anunciava filmes, animava quermesses, tocava os sinos às dezoito horas, rezava a Ave Maria e rodava músicas até pouco antes da missa das sete da noite”. Pedro da Veiga foi “coroinha” e “congregado mariano”. “Eu ajudava frei Henrique de Trevíso - que me batizou - depois o padre Carlos Weiss, a celebrar as cerimônias e auxiliava na limpeza da igreja”, recorda feliz. “Meu primeiro emprego, com doze anos, foi com José Milani, dono da Casa Popular, um senhor de idade, alegre e sacristão. Nós dois co-celebrávamos as missas”, sorri.

Estudante – Pedro da Veiga iniciou os estudos aos sete anos. Concluiu o primário no Grupo Escolar Governador Moisés Lupion. “A diretora era Uacy Machado Pereira e minha professora, Eliza Armindo Pinto, que me marcou muito no dia da formatura. Meus colegas ganharam presentes das madrinhas, menos eu. Eliza era a minha. Esperei meio jururu, e nada. Quando a cerimônia estava terminando ela veio sorridente, me parabenizou, me beijou e deu um abraço tão gostoso, um dos maiores presentes que já recebi na minha vida”, relata emocionado. “Fiz o exame de admissão ao ginásio e estudei o primeiro semestre em Santo Antonio da Platina – Jundiaí não tinha ginásio e a outra metade do ano em Apucarana, mas tive que parar por mudanças da família”, conta Pedro.

Curitiba – Aos 16 anos deixou Jundiaí do Sul. “Meu pai comprou uma pensão perto da Praça Ozório em Curitiba, em sociedade com a irmã Maria Batista Veiga de Oliveira (tia Mariquinha). Não deu certo. Em 1955 viajamos com destino a Campo Mourão, de trem até Maringá. Quando estávamos em Londrina a composição descarrilou. Foi uma parada brusca e um choque violento. Apavorante! O vagão onde eu estava com a família, pendeu violentamente e por pouco não tombou”, conta assustado.

Campo Mourão – “Desembarcamos na estação ferroviária de Maringá. Seguimos de ônibus por uma estrada mal conservada e poeirenta. Atravessamos o Rio Ivaí de balsa e chegamos a Campo Mourão. Moramos com o avô materno, Egydio Cardoso de Lima, cafeicultor, no Distrito de Barreirão do Oeste, atual município de Boa Esperança. Tudo era sertão, habitado por animais selvagens. Meu pai gostava de caçar pacas, de carne macia e gostosa”, narra Pedro da Veiga. O desbravador, Egydio Cardoso de Lima, denomina uma rua no Jardim Country Clube de Campo Mourão. A família Veiga chegou a Campo Mourão no início da década de 50. “Amigo de Moisés Lupion, meu pai foi nomeado guarda florestal, designado para vigiar as matas e coibir a invasão na inóspita terra de Cascavel. Ficamos sozinhos em Campo Mourão. Morávamos em uma casa de madeira, sem luz, água de poço, na Avenida Goioerê, no meio das capoeiras do cerrado, perto do antigo Armazém do Licínio Rodrigues, entre o atual Supermercado Carreira e o Mercado Municipal”, localiza. “Meu pai ficava dias sem nos ver por causa das dificuldades das estradas, que praticamente não existiam entre as vastas regiões de Cascavel e Campo Mourão”, recorda.

Av. Irmãos Pereira (1950) trecho entre Rua Brasil e Francisco Albuquerque-clique na imagem p/ampliar

Disão de futuro – “Desde que avistei Campo Mourão - um vilarejo de poucas casas que se resumia ao miolo da praça - me impressionou o traçado da cidade despovoada. Tive certeza que aqui seria um verdadeiro Centro de Progresso, pela posição estratégica na geografia do Paraná. Esse slogan foi escolhido pela comunidade na década de 70, no auge da economia do café, da madeira e início da agricultura mecanizada. Nesse período Campo Mourão expandiu-se rapidamente e, nos últimos anos deu uma parada. Faltam mais empresas e mercado de trabalho”, observa Pedro.

Educação e trabalho – Com residência fixa em Campo Mourão, Pedro da Veiga voltou aos folguedos, estudar e trabalhar. “Sempre gostei de banho de rio. Com meus amigos nadávamos perto da Laje Grande (bica) e na voltinha do Rio do Campo. Fui orador da segunda gestão do Grêmio Lítero Esportivo Barão do Cerro Azul (GLECA) presidido por Wille Bathke Júnior e presidente da Turma Brasília, a segunda de formandos do Ginásio Campo Mourão, propriedade do professor Ephigênio José Carneiro, perto do Estádio Municipal”, relembra. Estudou com pioneiros do ensino ginasial de Campo Mourão: “Egydio Martello, Nicon Kopko, Áurea Margarida Carneiro, Nilton Bussi, Hains Ravache e Iran Martins Sanches”, nomina. Em 1956 trabalhou na Casa Nossa Senhora Aparecida de Nicolau e Nabi Assad, uma casa de madeira perto do Bar Aparecida. “Fiquei só três dias. Colocaram-me em um depósito fechado a fim de espanar a poeira das mercadorias. Quase morri afogado de tanta poeira e saí fora”, risos.

Alto-falantes – O primeiro alto-falante (caixinha de som) instalado em Campo Mourão no início de 1950, ficava no alto da porta do Bar Estrela de Pedro Gênero – hoje Drogaminas - na esquina da Rua Brasil/Avenida Irmãos Pereira. Só se ouvia músicas caipiras. O segundo, com locução e músicas, foi o da Bicicletaria Central, na esquina da Avenida Irmãos Pereira/Rua Francisco Ferreira Albuquerque. O terceiro era “A Voz Amiga da Cidade” do Cine Mourão, de Teodoro Methcko, e o quarto o do Cine Império de Chafic Bader Maluf. “Até 1958 não existia a Rádio Difusora Colmeia”, justifica. Os serviços de alto-falantes operavam cerca de duas horas por dia: no horário de almoço e no final da tarde, com anúncios comerciais, músicas populares, programação e síntese dos filmes em cartaz. “A convite do Theodoro Metchko, fui locutor da Voz Amiga da Cidade e o Danúbio Vieira do Cine Império. Depois passei a trabalhar nos dois cinemas”, conta da concorrência. “Não tinha salário. Investia em discos e meu lucro era a sobra da venda dos comerciais”, sorri.

Rádio Colmeia – Na primeira semana de agosto de 1958 a Rádio Colmeia foi ao ar em caráter experimental. A primeira voz ouvida foi a do professor Hainz Ravache, que falava desde a casa do transmissor e da antena, em frente ao antigo almoxarifado municipal. A primeira música transmitida foi Cu-cu-ru-cu-cu Paloma, cantada pelo mexicano Miguel Aceves Mejias. “Oficialmente, a Rádio Colmeia inaugurou dia 2 de agosto de 1959”, registra Pedro da Veiga, primeiro locutor assalariado, contratado pelo diretor Otávio Rottili. “Fizeram parte da primeira equipe de funcionários: Elza Brisola Maciel (discotecária), Aroldo Tissot (locução geral), o gerente J. Ambrósio Neto (locutor esportivo e comercial), Natália Domanski (secretária), Raimundo Spacki e Osvaldo Morais (técnicos de som). A Rádio Colmeia foi instalada ali, no Edifício Gênero da Rua Brasil”, aponta Pedro da Veiga.

Jornalismo – O primeiro jornal falado da Rádio Colmeia chamava-se “O Mundo em Foco”, inicialmente apresentado por Pedro da Veiga e J. Ambrósio Neto e depois com Aroldo Tissot. “Por muitos anos continuei como âncora do Mundo em Foco. As notícias eram quentes, captadas pelo telegrafista Carlos Mareck, que eu buscava, de bicicleta, no Correio da Rua Harrison José Borges, onde antigamente tinha a CAFE do Paraná pouco acima da Móveis Rio Grande e depois na casa do Odilon Jofre Tayer, na esquina da Rua Brasil/Avenida Goioerê, perto do Colégio Marechal Rondon. Muitas vezes furamos o famoso Repórter Esso, apresentado por Heron Domingues, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro”, conta vitorioso. “A primeira agente do Correio em Campo Mourão foi Jovita Messias Marques e o segundo, Carlos Mareck, ambos de fundamental importância aos noticiosos da Rádio Colmeia. O único problema era traduzir os telegramas cifrados, porque não dava tempo de redigir os artigos, pontos e vírgulas. Felizmente sempre me sai bem nas leituras”, sorri realizado.

Desfile na gestão Dr. Renato Fernandes
Silva, PV e Wille Bathke Jr. narrando
pelos microfones da Rádio Colmeia

Imprensa escrita - Em 1962, Pedro da Veiga, deixou a Rádio Colmeia. Trabalhou como chefe de escritório da Casa Rosa, contratado pelo gerente Laurindo Rosa Gameiro. “A Casa Rosa, filial de Apucarana, propriedade de José de Oliveira Rosa, vendia secos e molhados, materiais de construção e confecções. Abriu o primeiro supermercado na cidade, na Rua Mato Grosso, ali no Edifício Erica. Depois ampliou e se instalou ao lado, onde funcionaram o Riomar, o Daimaru e recentemente o Mercadão”, localiza Pedro da Veiga. Em sociedade com Getúlio Ferrari e Wille Bathke Júnior comprou e foi editor do jornal Folha de Campo Mourão, fundado pelo londrinense José Marcelino Monteiro. Escreviam para a Folha: José Egídio Quintal (sociedade), Adinor Cordeiro (Jibóia), Osvaldo Broza (estudante), Deodato Veiga (colunista) e o Wille (esportes, com o pseudônimo Wibaju). “Fazer jornal na época era idealismo. Raras empresas investiam em propaganda. A montagem era tipográfica, letra por letra, artesanalmente impresso em uma plaina gigantesca, difícil de acertar o nível da tinta para compor o papel. Gráfico em jornal tinha que ser artista”, brinca. “Deixei a Folha para trabalhar na Prefeitura, nomeado pelo prefeito Horácio Amaral e, em meu lugar na Folha, entrou o Celso Romualdo Ferrari. O jornalista Maurino de Souza, respondia pelas matérias publicadas. A Folha de Campo Mourão ficava no térreo do Edifício Leila, esquina da Rua São Paulo/Avenida Manoel Mendes de Camargo, hoje farmácia do Val”, recorda.

Servidor - De 1º de abril de 1971 a fevereiro de 1993, Pedro da Veiga, foi diretor e secretário administrativo da Prefeitura de Campo Mourão. Inicialmente, nomeado Diretor do Departamento Agropecuário (Portaria 17/71) por Horácio Amaral e empossado pelo prefeito em exercício Getúlio Ferrari, então presidente da Câmara Municipal. “Tive a honra de trabalhar como secretário e mestre de cerimônias dos prefeitos Horácio Amaral, Renato Fernandes Silva, José Pochapski e nas duas últimas gestões de Augustinho Vecchi. Aposentei-me por tempo de serviço, no início da gestão do Rubens Bueno”, relata.

Conquistas - “Por onde passei deixei minha contribuição. Sempre vesti a camisa das empresas onde trabalhei. Na prefeitura não foi diferente. Em 1975 fundamos e presidimos a Associação dos Servidores Municipais e a Cooperativa de Consumo 1º de Maio. Implantamos o organograma das secretarias, com atribuições a cada cargo. Implantamos o Regime Único dos Servidores. Elaboramos o Sistema de Avanços de Carreira. Organizamos a Previdência Municipal (Previscam) dirigida pelo doutor Roberto Pedro Ribeiro de Castro, ao qual sucedi. Durante o período de Secretário Administrativo mantivemos o teto de vinte salários mínimos ao primeiro escalão e o salário mínimo municipal acrescido de pelo menos quinze por cento a mais que o piso nacional. Foi o prefeito Augustinho Vecchi, quem legalizou todas estas melhorias”, elogia Pedro da Veiga.

Diocese – “Fato marcante para mim, foi a criação da Diocese e a posse do Bispo Dom Eliseu Simões Mendes, dia 23 de abril de 1960, quando a Catedral de São José estava edificada pela metade, lotada de fiéis. Depois a sagração de Dom Virgílio de Pauli, na Catedral de São Carlos (SP) em 1982 e a sua posse na Catedral de São José, em cerimônia presidida pelo núncio apostólico de Roma no Brasil, Dom Carlo Furno. Solenidades que tive o privilégio de transmitir pela Rádio Colmeia. Colaborei por vários anos com Dom Eliseu, nos Cursilhos da Cristandade e atuei na qualidade de Ministro da Eucaristia junto aos fiéis de Campo Mourão”, enfatiza.

Esporte – “A equipe de esportes da Rádio Colmeia entre 1964 e 1976 era espetacular pela qualidade e profissionalismo: Anísio Morais (narrador), Wille Bathke Júnior (comentarista), Manoel Rodrigues Correia (técnico de apoio) e Pedro da Veiga (repórter de campo). Transmitimos todos os jogos da Associação Esportiva e Recreativa Mourãoense desde a primeirona até a 1ª divisão do futebol paranaense. Entrevistei craques famosos como Pepe, Ramos Delgado e Negreiros do Santos F.C., Djalma Santos e Luiz Chevrolet da S.E. Palmeiras, dentre outros.

Fundamos a primeira Comissão Municipal de Esportes de Campo Mourão ao lado de Alcyr Costa Schen, Wille Bathke Júnior, Vicente Piazza, Álvaro Gomes e José Aladic, criada pelo prefeito Renato Fernandes Silva, que realizou a memorável 30ª Edição dos Jogos Abertos do Paraná em 1976, oportunidade em que inaugurou o Ginasião BC e o Ginasinho JK, construídos na sua gestão.

Transmiti a abertura e os Japs pela Rádio Colmeia e o Wille pela TV Tibagi ao lado de Fiori Luiz. Na imprensa, nosso maior interesse sempre foi o de divulgar o nome de Campo Mourão, sem receber nada em troca”, recorda eufórico.

Política - “Como servidor público fui neutro em política. Atendia as pessoas sem discriminação partidária. Participei da fundação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e do Partido Popular (PP).

No 1º plano, Dr. Horácio Amaral,
discursando: no 2º plano, da esquerda:
Pedro da Veiga, Bento Munhoz da
Rocha Neto, Dr. Renato Fernandes
Silva e Prof. Ephigênio José Carneiro

Fui conselheiro e tesoureiro da Fundação de Ensino Superior de Campo Mourão (Fundescam) na presidência de Dom Eliseu, na dura batalha que precedeu a implantação da Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam). Desempenhei cargos de secretário, coordenador de campanha eleitoral e delegado partidário, mas nunca aceitei concorrer a cargo eletivo”, descarta Pedro da Veiga.

Sociedade - “Atuei como diretor da avenida de comunicação do Rotary Club na gestão de Aiton Dezan. Tive a honra de transmitir desfiles de misses e shows dos cantores Jorge Goulart, Nora Nei, Agnaldo Raiol, Mazaropi e Agostinho dos Santos. Narramos dezenas de apurações de resultados eleitorais e desfiles cívicos nas datas festivas de Campo Mourão, ao lado de importantes autoridades como Moisés Lupion, Paulo Pimentel, Ney Braga, Jayme Canet Júnior, deputados e secretários de Estado, inclusive, entrevistados por mim, através da Rádio Colmeia”, registra Pedro da Veiga.

Casamento – Com Vilma Bathke, filha de Maria da Conceição e do cartorário Vile Bathke, casou-se no dia 30 de maio de 1963, depois de sete anos de namoro. Pedro da Veiga é pai do empresário Adriano, casado com Cristina Matsumi; do advogado Adalberto, esposo de Aparecida Simohigashi; Andrea (assistente social), Alessandra (economista) e Alexander (músico e radialista). “Tenho cinco netas, quatro mesticinhas, lindas: Marcela, Débora, Kristine e Karine e mais recentemente nasceu a Mariah”, conta orgulhoso. Divorciado, hoje tem como companheira Geni Berbet (servidora municipal), mãe de: Deivide, Maykon (in memorian) e Pablo.

Folclore – “A famosa zona do meretrício, as “damas” e as charretinhas que só a elas serviam; a Boite Sorriso da dona Lucrécia, as canjas de galinhas das madrugadas nos bares do Mineirão (na zbm), Caiçara e Aparecida no centro de Campo Mourão; os suculentos sanduíches de pão francês com pernil de porco no Bar do Verdadeiro ao lado do Posto do Tanaka retratam a época dos coronéis, gigolôs e boêmios de Campo Mourão. A cidade sempre teve figuras folclóricas, carinhosamente adotadas pela população. Nas décadas de 40 e 50 era o temperamental e meigo “mudo” Emílio, com apenas um dente de ouro na boca, andar pesado, chapéu grande desabado na cabeça, arcado e mãos cruzadas nas costas. Contemporâneo do Mudo havia o famoso Adão - Filósofo Perebinha - que pontuava num canto do balcão do Bar Estrela e a todos que entravam oferecia um verso sem rima, a troco de uma pinguinha. Adão de Tal tinha estatura pequena, esquálido, cabelos de índio e pele cor de cuia. O Macuco, “malandro” carioca, batuqueiro, massagista do Madrugada FC, foi trazido pelo advogado sindicalista Wilson Brandão e trabalhava em seu escritório. O elegante e polêmico Orlandinho, ex-goleiro da Portuguesa de Desportos, que quando não estava “mamado”, era prestativo e trabalhava aqui e ali. Seo Flor, o mestre dos jardins, com sua filosofia própria sobre a natureza, plantas, tipos de grama e flores, que defendia tenazmente. Hoje vemos a briguenta e xingadora dona Dolores e o andarilho Vardo (Sujinho), que corre pelas ruas, descalço, não conversa, pede café nos portões, limpa as ruas de fora pra dentro, jogando as sujeirinhas nos quintais particulares. Isso pode parecer nada, mas são marcas registradas de uma cidade”, rindo muito das simpáticas figuras.

Hoje – “Vivo a vida que pedi a Deus. Dei minha contribuição a Campo Mourão. Editei o livro histórico e documentário, “Campo Mourão Centro do Progresso”, revisado por Egydio Martelo e prefaciado por Milton Luiz Pereira. Continuo garimpando nossa história e pretendo lançar outras edições, se encontrar respaldo. Dá muito trabalho, mas eu gosto. “Pena que a maioria da população não tem o hábito da leitura e poucos se ligam à nossa história e tradições”, lamenta Pedro da Veiga, ao elogiar o Projeto Raízes, “corajosa e feliz iniciativa da Tribuna do Interior”, concluiu.

Wille Bathke Júnior – Tribuna do Interior – Projeto Raízes

Imagens Acervo e fotoformatação (PVeiga).

BARCELONA USA SISTEMA SUBTERRÂNEO PARA DESCARTAR LIXO


A ideia de um sistema subterrâneo de coleta de lixo em Barcelona é de 1992, quando a cidade sediou os Jogos Olímpicos. Desde então, o projeto tem sido implantado sistematicamente e 70% da área metropolitana já possui bocas de lixo conectadas diretamente aos centros de coleta. Plástico, latas e papel são reciclados e o lixo orgânico vira energia. Em cinco anos, a capital da Catalunha eliminará definitivamente os caminhões de lixo.

O sistema acaba com a sujeira nas ruas, com as latas de lixo e com a coleta - um método que geralmente custa caro e polui o meio ambiente. Ao menos 160 caminhões de lixo deixaram de circular. (Jornal Nacional, 08/05/2010)

DESAFIANDO O RIO-MAR - SIMBOLISMO DA CERÂMICA SANTARENA

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 26 de março de 2011.


“A ocorrência da representação de animais na decoração de alguns utensílios e principalmente em urnas funerárias, e a identificação dessas espécies na fauna da região, possibilitou que se atribuísse um caráter mágico-religiosos à essas representações, que estariam ligadas a histórias míticas, com base em analogias etnográficas”. (Denise Schaan)

– Símbolos

Os pesquisadores ao longo dos tempos tentaram em vão identificar o simbolismo dos adereços antropomorfos e zoomorfos que compõem a refinada Arte de Santarém. Cada traço, cada representação geométrica ou imagem tem o seu significado, a sua motivação. Os animais representados em cada peça não foram selecionados aleatoriamente, alguns deles são seres místicos cultuados pelos nativos, outros, identificam o clã a que pertenceram os ancestrais reverenciados nas urnas funerárias. Depois de comparar, analisar os Costumes, Organizações Sociais e Ritos Fúnebres de diversas etnias vou esboçar uma teoria a respeito dos ícones cultuados pelos incríveis Tapajó. Infelizmente os desbravadores e religiosos do passado se preocuparam mais em condenar sua “idolatria” do que entender sua cultura, do contrário não estaríamos aqui, hoje, tentando montar este intrincado mosaico na tentativa de interpretar sua magnífica arte cerâmica e seus elaborados ritos pretéritos.

Alguns elementos são muito constantes nos vasos de gargalo e cariátides tais como: o Urubu-rei, o Mutum–cavalo, o Jacaré, o Morcego e a Rã. Estes animais são reverenciados, respeitados ou temidos, por diversas etnias, por uma série de razões que elencarei a seguir. Logicamente os Tapajó consideravam estes seres tão importantes quanto as demais tribos tendo em vista se encontrar muita semelhança nas lendas e costumes destes povos.

– Urubu–rei

O urubu–rei recebe destaque especial no imaginário indígena que o considera como o dono do fogo, chefe das demais aves e o mestre dos ventos. Ele faz parte do repertório das Lendas e Mitos de diversos povos como os Parintintins, os Kamaiurá, os Kuikúru, os Tembé e certamente estava incorporado às Lendas Tapajó.

- Mutum–cavalo

Algumas etnias consideram que a constelação do “Cruzeiro do Sul” é na verdade um enorme mutum no vasto campo do céu, outras acham que a cobra grande pode nascer de um ovo de mutum. Segundo os Mayoruna, que antes só comiam terra, o Mutum os levou para sua terra onde ele lhes mostrou o que comer e como preparar os alimentos.

– Jacaré-açu

O Jacaré-açu pode chegar até setes metros de comprimento e o seu tamanho descomunal, ainda nos dias de hoje, provoca medo e respeito nos povos ribeirinhos. O magnífico réptil, além de ocupar o topo da cadeia alimentar, não encontrava adversários, à sua altura, nem mesmo entre os formidáveis guerreiros Tapajó. Ele era respeitado, talvez até adorado e, por isso mesmo tão presente nos adornos dos vasos rituais.

- Morcego

Franz Kreüther Pereira, no seu livro Painel de lendas & mitos da Amazônia faz o seguinte relato a respeito do morcego:

O Cão era é uma espécie de “morcegão”, um morcego muito grande do porte de um urubu, que pode sugar todo o sangue de uma pessoa adormecida sem que ela desperte e, em seguida, devorá-la. Adélia Engrácia dá-nos três versões desse mito, recolhidas junto aos índios Mura. Nela encontramos a informação que o Cãoera habita os buracos na terra e surge quando se faz “misturado de jabuti e outras carnes, no mato” ou “quando se queima pêlos ou penas de animais”. Também, pode surgir - adverte Adélia - quando “se joga espinha de peixe n'água” ou até quando “se grita na mata”. Aparentemente a área de abrangência do mito é a região fronteiriça às Guianas, território das famílias Aruak, Karib e também Tupi, porém a estudiosa dos Mura ressalta que, em suas viagens pelos rios Negro e Xingu, jamais ouviu referências a esse sobrenatural. O Cãoera é descrito por Hurley como capaz de suspender “sem grandes esforços, um boi nas garras e o vae devorar nas alteirosas itacangas dos contrafortes de Tumúquehumáque”, o que nos faz lembrar do mitológico pássaro Roca, das “Mil e Uma Noites”. Parece-nos claro que este mito recebeu influência dos povos andinos, incorporando elementos que o associam ao Condor.

- Rãs

É fácil entender porque a pequena rã amazônica recebia tanto destaque na cerâmica ritual de Santarém. A secreção peçonhenta do pequeno batráquio intimidava os adversários e permitia aos Tapajó sobrepujarem todos os seus oponentes no campo de batalha. Eles eram os únicos, naquela região, a dominar a tecnologia de envenenar as flechas e isso os colocava em condições de vantagem sobre as demais tribos. O veneno, certamente, não era o curare pelos motivos vou expor a seguir.

Curare

Carvajal, Acuña, Heriarte dentre outros cronistas e pesquisadores pretéritos mencionam o uso de flechas envenenadas por diversas tribos da Amazônia. A maioria dos relatos menciona que o veneno utilizado era o curare. A primeira referência escrita sobre o veneno foi feita pelo médico e historiador italiano Pietro Martire d’Anghiera. Anghiera narra na sua obra “De Orbe Novo”, publicada em 1516, que um soldado foi mortalmente ferido por flechas envenenadas pelos índios numa expedição ao Novo Mundo.

Em 1833, Ignácio Accioli de Cerqueira e Silva na sua Corografia Paraense, ou, Descrição física, histórica, e política da Província do Grão Pará faz as seguintes considerações a respeito das flechas ervadas (envenenadas):

O uso das flechas envenenadas remonta a mais alta antiguidade, pois já era conhecido na Ásia muitos séculos antes de Alexandre, na Itália antes da fundação de Roma, na America antes - da chegada de Colombo: algumas tribos Indígenas desta Província apenas se servem delas para as caçadas e não nas guerras, semelhantes nisto aos antigos Gallos. O Padre Plumier na sua obra “Nova plantarum Americanarum species”, dá o nome de Mancanilla, que é o “Hippomanes vegetal de Brown”, a certo arbusto que se encontra nas Antilhas, e ilhas de S. João do Porto Rico, de cujo suco se extrai famoso veneno pelos Caraíbes: este arbusto ainda é mais perigoso que o “verari” porque a ejaculação da “seve” produz cegueira, e algumas vezes a morte subitamente. O “verari” porém, ou curare, segando (cortando) outros, sem a mesma comisturação (mistura) de outras partículas vegetais e animais é mortífera. Pertence à classe dos cipós, dá-se nos lugares pantanosos, suas flores tetrapétalas são de cor amarela pálida, às quais sucedem pequenos frutos do formato de uma fava, numa cápsula periforme: os índios são ciosos em patentear a maneira do fabrico; todavia este consiste na extração por meio do fogo dos sucos venenosos da casca que lhe escabrosa, e raízes colhidas no tempo de verão, tomando na ação do cozimento uma forma espessa, à qual então reúnem outras substâncias vegetais venenosas, e formigas tocandeiras, guardando depois o veneno em pequenas panelas, onde se conserva em continua fermentação que perde pelo trato do tempo, tornando então a sofrer nova ebulição no fogo, misturando-se-lhe o tucupi (ácido cianídrico) ou sumo da mandioca.

Tocandira (Paraponera clavata): é um inseto himenóptero classificado na grande família dos formicídeos, subfamília das poneríneas. De cor preta, chega a medir 25 mm de comprimento. Ocorre da Nicarágua à Amazônia, região onde é também conhecida como tucandeira, tucanaíra, formiga-agulhada, formiga-cabo-verde, formiga-de-febre, formigão e outros nomes. Dentro das matas, onde vive, a tocandira constrói ninhos subterrâneos na base das árvores, cujas copas utilizam para forragear. A maioria de suas atividades restringe-se ao período noturno. As picadas no homem causam manchas e calombos na pele, mal-estar generalizado e vômitos. A dor, profunda e penetrante, é sentida por períodos de 12, 24 ou até 48 horas. Compressas de água quente, na região atingida, auxiliam a difusão e conseqüente neutralização do veneno. (www.biomania.com.br)

Conhece-se a perfeição da composição tocando com qualquer ponta impregnada no veneno, pois que este adquire sangue fresco, em este uma instantânea coagulação; se o contrário, porém sucede torna para o fogo, e são mui prejudiciais os vapores que exala, durante a decocção, aqueles que os recebem pela boca ou nariz, operação esta que os mesmos índios previdentes ou encarregam às velhas decrépitas e inúteis. Conservam as flechas impregnadas por longos anos a sua força, e costumam os índios antes de as disparar metê-las na boca para as salivarem, do que nenhum dano resulta, pois que o perigo consiste em ferir a cútis: então segue-se rapidamente a morte, porque o sangue toma uma coagulação súbita, ou, o que importa a mesma coisa, uma secreção da linfa doa glóbulos sanguíneos: os sintomas dos mortos com esse veneno não diferem dos da mordedura de qualquer cobra; o sangue coagulado nos grandes vasos entende-os excessivamente, e a linfa amarela introduzida nos capilares faz aparecer sobre a cútis manchas lívidas. Não se conhece antídoto contra tal veneno, o açúcar passa pelo melhor, posto que noutros países o sal seja mais eficaz, como se experimentou em Leide, em 1744, com as flechas levadas por Condamine. Sabe-se por Celso que os Romanos costumavam diminuir a força do veneno, chupando a parte ofendida: é provável que a saliva, introduzida assim na chaga, contribua também a diminuir pelo seu sal alcalino a ação do veneno; não é, porem nociva a carne dos animais mortos com esse veneno conhecido no país por hervadura. (SILVA)

Em 1839, o Major Antônio Ladislau Monteiro Baena, no seu Ensaio Corográfico Sobre a Província do Pará, faz um pequeno relato sobre a preparação do curare:

O veneno vegetal, de que se servem para peçonhentar as ponta das flechas dos murucuas e dos curabis, é extraído de um cipó chamado uirari, grosso, escabroso e guarnecido de folhas parecidas com as da maniva. A sua manipulação consiste em mascotar a casca, borrifá-la com água fria, destilá-la e fervê-la ao lume até ficar o sumo espessado em ponto de linimento. Para aumentar a energia do tóxico, adicionam-lhe sucos espremidos de outros cipós e vegetais que sejam de natureza venenosos. (BAENA)

Marcelo Coutinho Vargas (Professor adjunto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFSCar) e Marcelo Fetz de Almeida (Mestrando do PPGCSo/UFSCar) escreveram um interessante artigo a respeito do “curare” denominado “Biodiversidade, Conhecimento Tradicional e Direitos de Propriedade Intelectual no Brasil: por uma abordagem transcultural compartilhada”. O artigo, reproduzido abaixo, deixa claro que a ingestão oral do curare não gera efeitos nocivos embora alguns pesquisadores defendam que pode ocorrer intoxicação quando se ingere quantidades muito grandes e que a paralisia é sua principal manifestação.

A presa envenenada por curare tem sua morte causada por asfixia, uma vez que este provoca o relaxamento e a paralisia dos músculos esqueléticos associados à respiração. Contudo, o veneno somente funciona se inoculado diretamente no sangue, não gerando efeitos nocivos ao ser ingerido por via oral. Durante o envenenamento por curare, conforme observado por Benjamin Brodie, em 1811, o coração da presa continua a bater, mesmo quando a respiração cessa, o que significa que a função cardíaca não é bloqueada pelo curare. O horror do envenenamento por curare estaria no fato da vítima permanecer consciente, sentindo a paralisia tomar-lhe conta progressivamente de todo o corpo. Os principais elementos químicos do curare são alcalóides que afetam a transmissão neuromuscular. Entre estes alcalóides, o mais comum é a curarina e a tubocurarina. Isolada em 1897, sua forma cristalina só foi obtida a partir de 1935, passando a ser comercializada com os nomes de Tubarine, Metubine Iodine, Tubadil, Mecostrin, Atracurium e Vecuronium, indicados como relaxante muscular. Sua utilização como anestésico teria início apenas em 1943, quatro anos depois que o princípio ativo da d-tubocurarine foi isolado. As drogas derivadas desta substância são utilizadas como um poderoso relaxante de músculos esqueléticos durante cirurgias “de peito aberto”, especialmente as cardíacas, para controlar possíveis convulsões. (COUTINHO e ALMEIDA)

Curt Nimuendajú afirmou categoricamente que o veneno usado nas flechas dos Tapajós não era o curare, pois os efeitos registrados eram muito diferentes dos provocados por esta toxina. O Padre João Felipe Bettendorf confirmava esta teoria informando que os Tapajó adicionavam veneno aos alimentos para eliminar pessoas indesejáveis.

No final das contas escapamos quase sem problemas, ainda que tenha sido morto outro companheiro nosso chamado Garcia de Soria, natural de Logronho. Na verdade não lhe entrou a flecha meio dedo, mas como estava já com peçonha, não suportou nem vinte e quatro horas e rendeu a alma a Nosso senhor. (CARVAJAL)

Garcia Soria, da equipe de Orellana, morreu quase um dia depois de ser atingido por uma flecha Tapajó. Como já citamos, anteriormente, a ingestão oral de curare não gera nenhum efeito nocivo, qual seria, portanto, o veneno usado pelos temidos Tapajó? O outro veneno, utilizado por diversas tribos amazônicas, advinha da secreção de pequenas rãs venenosas. Algumas delas, com o passar do tempo e privadas de alimentos altamente tóxicos perdiam, pouco a pouco, sua letalidade e isto justificaria a longa agonia de Garcia de Soria. A preparação do curare, por sua vez, obedecia a um processo rígido e uniforme perfeitamente dominado pelos pajés e de eficácia comprovada.

Muiraquitãs

Desde a colonização foram encontrados objetos manufaturados com pedras verdes no norte do Brasil. Estes pequenos pingentes imitando, na sua maioria, batráquios fascinaram os pesquisadores nacionais e estrangeiros.

Barbosa Rodrigues (Muirakitã, Estudo da Origem Asiática da Civilização Amazônica – 1889) defende que o amuleto é a mais evidente prova da origem asiática das antigas civilizações amazônicas, pois acreditava que até então, na Região, como no restante do continente americano, não havia ocorrência de jazidas de jade, ou que ele aqui tenha sido trabalhado, o que faz acreditar que os artefatos do mineral pertencem à mesma civilização e origem. Esta teoria apaixonou pesquisadores brasileiros, havendo muita discussão sobre o assunto, em virtude de se desconhecer jazidas do mineral (jadeíte) no continente americano. Relatos de Gabriel Soares de Sousa (1558) e Frei Ivo d’Evreux (1613) contradizem a afirmação de Barbosa Rodrigues e revelam a existência de “pedras verdes” nos sertões brasileiros, tese confirmada mais tarde por Simoens da Silva, em sua obra Nephrite in Brazil, apresentando ocorrências do mineral em Amargosa (BA) e peças encontradas em Campinas (SP), Piuí (MG), Pinheiros (RJ), Óbidos (PA) e Olinda (PE). Outros pesquisadores também jogam por terra a origem asiática da civilização amazônica, inclusive a arqueóloga Ana Roosevelt (Revista VEJA - 24 de abril de 1996), que afirma, em recente descoberta, ser Monte Alegre (PA) o berço do homem americano. As traduções do nome variam (mira-ki-tá, botão ou nó de gente, muira-kitá, nó de pau), assim como a própria lenda do Muiraquitã pode ser contada de outras maneiras. Esta que acabamos de ler é uma das versões. Neste contexto, outras controvérsias pairam sobre a origem do artefato pré-colombiano, quer em formato de peixe, sapo e tartaruga, geralmente arredondado, que até hoje fascina o imaginário popular. Sua história romântica se propaga através dos tempos, fascinando ouvintes, leitores e até mesmo os que não acreditam em lendas, que podem sentir o poder mágico do talismã em estudos arqueológicos mais ortodoxos e nas peças expostas em museus. (Apolonildo Brito)

Os muiraquitãs foram encontrados nas bacias dos Rios Tapajós, Trombetas e Nhamundá, mas a maior parte foi encontrada na bacia do Tapajós onde habitavam os Tapajó. A maioria dos artefatos representava pequenos batráquios o que nos leva a acreditar que os Tapajó ou outros povos antes deles estavam homenageando o animal que garantia sua supremacia guerreira, a rã venenosa. A secreção era usada nas pontas das flechas e lanças e, provavelmente, como ainda hoje o fazem algumas etnias em rituais místicos e de cura. A espécie responsável pela hegemonia bélica dos Tapajó jamais será descoberta. Novas espécies são descobertas e catalogadas enquanto outras são levadas à extinção por diversos fatores.

– Vacina do Sapo – Aplicação “Medicinal”

A aplicação das secreções produzidas pela Phyllomedusa bicolor (rã Kambo) é conhecida popularmente como Vacina do Sapo. O paciente é queimado com um cipó nos braços ou nas pernas, sobre estes pontos se aplica o veneno que desta maneira atinge a corrente sanguínea. Os indígenas acham que a “vacina” possa acabar com a má sorte na caça ou na pesca e afastar os espíritos que causam doenças. As substâncias contidas na secreção da rã Kambo são venenosas, causando diarréia, vômitos, taquicardia e colapso sistêmico, levando ao óbito de pessoas saudáveis por overdose ou anafilaxia.

Anafilaxia: aumento da sensibilidade do organismo diante de determinada substância, provocado pela aplicação prévia (injeção ou ingestão) de uma dose, embora mínima, dessa substância.

A vacina fazia parte do conhecimento ancestral dos katukinas, do Acre. O seringueiro Francisco Gomes Muniz que convivera muito tempo com os katukinas aprendeu a aplicar a vacina e a identificar a rã. Ao regressar para a cidade, na década de sessenta, foi o precursor da aplicação da vacina entre os não-índios. Desde então o “remédio” ganhou os centros urbanos do país.

- Terribilis Phyllobates

A título de exemplo vamos citar aquela que é considerada a mais mortífera de todas as rãs. A rã-flecha amarela ou rã amarela venenosa (Terribilis Phyllobates) é endêmica da costa do Pacífico da Colômbia e é considerada como um dos animais mais venenosos do planeta. O veneno da rã-flecha, batraquiotoxinas, bloqueia a transmissão dos impulsos nervosos podendo levar à insuficiência cardíaca ou fibrilação. O veneno, alojado em glândulas sob a pele da rã, pode ser armazenado durante anos mesmo que ela seja privada do alimento que seja fonte dessa toxina. Alguns pesquisadores acham que a criatura que transmite os alcalóides assassinos para a rã é um besouro da família Melyridae. Os indígenas Emberá Choco, da Colômbia, usam seu veneno nas flechas para caçar. Os Emberá prendem a rã pelas patas e aproximam, cuidadosamente, uma fonte de calor até que ela exale seu líquido venenoso. As pontas das flechas embebidas no líquido mantêm o seu efeito mortífero por mais de dois anos.

– Clãs

Precisamos analisar outro aspecto antes de concluir qualquer tipo de hipótese sobre o simbolismo dos vasos rituais dos Tapajós (cariátides e gargalo). Considerando que sua cultura se perdeu nas brumas do passado precisamos recorrer à sofisticada organização social e aos rituais fúnebres de outras etnias indígenas cujos costumes lembram, um pouco, a dos Tapajó. Além dos animais reverenciados pelos Tapajó teríamos aqueles que simbolizavam o clã ou mesmo a genealogia do morto.

Tikuna

“Yo’i fez um caniço e usou como isca para pescar o caroço do tucumã maduro, os peixes quando caíam na terra se transformavam em animais, novamente o herói experimentou outra isca, dessa vez, usou a macaxeira, com essa comida os peixinhos começaram a se transformar em seres humanos. Yo’i pescou muita gente, mas seu irmão não estava entre essas pessoas. A mulher pegou o caniço e pescou Ipi, este saltou para a terra e pescou os peruanos e outros povos que acompanharam o herói e foram embora na direção do poente. Da gente pescada por Yo’i descendem os Tikuna e também outros povos que rumaram para a direção do nascente, inclusive brancos e negros, daí vem a autodenominação dos Tikuna que se chamam Maguta, o povo pescado”. (GRUBER)

“Mas Yo’i separou-as, colocando as suas a Este e as de Ipi a Oeste. Então ele ordenou que cozinhassem um jacururu e obrigou todo mundo a provar o caldo. E assim cada um ficou sabendo a que clã pertencia, e Yo’i ordenou aos membros dos dois grupos que se casassem entre si”. (NIMUENDAJÚ)

Ao descer o Solimões, em 2008, conheci os formidáveis Tikuna. Através de textos de conhecidos antropólogos e do cacique João Farias Filho, da Comunidade Feijoal, conheci suas Lendas, Costumes e Organização Social. A sociedade Tikuna está dividida em Metades exogâmicas (Metade Plantas e Metade Aves), cada qual composta por Clãs patrilineares. Para ser reconhecido como Tikuna é necessário falar a língua Tikuna, pertencer a um Clã e casar obedecendo às regras dos Clãs.

Exogâmica: regime social no qual os casamentos só se podem realizar com membros de outras tribos ou Clãs.

Patrilinear: sucessão por linha paterna.

Curt Nimuendaju estudou os Costumes e Organização Social dos Ticuna na década de quarenta e, na oportunidade, identificou quinze Clãs para a “Metade Plantas” e vinte e um para a “Metade Aves”. Os Ticuna identificam esses grupos através do nome de árvores, animais terrestres e insetos (“Metade Plantas”) e aves (“Metade Aves”). O fato da “Metade Plantas” ser composta por elementos tão distintos, segundo Nimuendaju, encontra amparo na mitologia Tikuna que acredita que a alma de algumas árvores vagueiam à noite, assumindo a forma do animal com o qual mais se identificam. Segundo os Tikunas, as formigas saúvas pertencem, também, a “Metade Plantas” simplesmente porque elas têm o costume de subir nas árvores. Alguns pesquisadores, no entanto, defendem que os critérios para pertencer a este ou àquele Clã eram baseados apenas entre os grupos de animais de “Pena” e dos grupos “Sem Pena” o que simplificaria muito a classificação, mas que, ingenuamente, deixaria de levar em conta o misticismo Tikuna.

Metades

Plantas

Aves

Clãs

Auaí

Arara

Saúva

Mutum

Buriti

Tucano

Onça

Urubu Rei

A origem dos Clãs está intimamente ligada ao mito da criação do mundo segundo a versão Tikuna. Os irmãos e Ipi são os personagens centrais da Criação da Humanidade. Yo’i resolveu, um dia, pescar seu povo usando como isca uma fruta de tucumã, os peixes logo que saíam da água se transformavam em queixadas, porcos do mato e outros animais. Yo’i resolveu trocar a isca para a macaxeira e os peixes se transformaram no povo Maguta (povo pescado do rio). Os Maguta pertenciam a um único Clã e as pessoas, consequentemente, não podiam casar-se. Yo’i fez, então, um caldo de jacururu e distribuíram ao povo para que o provassem. Os primeiros que provaram a mistura passaram a ser reconhecidos como “Clã da Onça”, depois o “Clã da Saúva”, e desta maneira foram criados os diversos Clãs.

Apinagé

Arthur Ramos de Araújo Pereira, médico psiquiatra, psicólogo social, etnólogo, folclorista, considerado o pai da Antropologia Brasileira escreveu uma obra monumental - “Introdução à Antropologia Brasileira” - que deveria ser o livro de cabeceira dos que se candidatam, nos dias de hoje, ao estudo da antropologia. Vamos reportar suas considerações sobre a organização social dos Apinagé, um dos ramos do povo Gê.

O estudo mais recente e mais completo sobre a organização social dos Gê se deve a Curt Nimuendajú No seu trabalho citado sobre os Apinagé, vemos que são Matrilocais e organizados em Metades. (Moieties) Matrilineares (Me-Ga-Tcha), cada uma das quais ocupa inicialmente uma determinada parte da aldeia.

Matrilocal: o marido, depois do casamento, é obrigado a seguir a mulher, passando a morar na localidade dela.

Matrilinear: sucessão por linha materna.

O todo é disposto em circulo, sendo a metade superior (Kol-Ti) localizada ao norte e a metade inferior (Kol-Re) ao sul. Os Apinagé de hoje, embora topograficamente não mais obedeçam aquela localização, ainda se referem a Kol-Ti e Kol-Re, como sendo a “Aldeia de Cima” e a “Aldeia de Baixo”, respectivamente. De acordo com a lenda, Kol-Ti foi criado pelo Sol e Kol-Re pela Lua. As cores são o vermelho para os primeiros e preto para os segundos. Os chefes são sempre Kol-Ti tendo esta “metade” a preeminência na vida social de todo o grupo, embora nos grandes festivais, cada “metade” tenha o seu próprio chefe. As metades Apinagé não são exogâmicas, sendo o casamento regulado por um sistema diferente.

Cada “metade” possui uma série de nomes pessoais “grandes” e “pequenos”, masculinos e femininos. Esses nomes são transferidos do tio materno ao filho da irmã, e da tia materna à filha da irmã. A avó materna ou sua irmã podem tomar o lugar da tia, enquanto que o avô materno pode tomar o lugar do tio. Acontece que, impacientes, o tio ou a tia materna se apressem a transferir o nome, antes de a criança nascer e pode suceder que a menina fique com o nome masculino e vice-versa. Os portadores de nomes gozam de privilégios de acordo com a sua categoria. E há festas com dança e música especiais, não só nas cerimônias de transferência dos nomes, como em ocasiões futuras quando o portador do nome se obriga a certas tarefas

Independentemente da organização dual, em “metades”, a tribo Apinagé é dividida em quatro Kiyé, nome que significa “lado” ou “partido”. Estes Kiyé não são Sibs unilaterais, mas unidades bilaterais, constituídas no modelo familiar, isto é, os filhos seguem o pai, as filhas seguem a mãe. São exógamos, os homens de um Kiyé só podem desposar as mulheres de outro Kiyé. Suponhamos os quatro Kiyé, A, B, C, D; os homens de A só podem se casar com as mulheres de B; os homens de B com as mulheres de C, etc. As mulheres seguem o caminho inverso: as de B só podem casar com os homens de A; as de C com os homens de B; as de D com os homens de C. (RAMOS)

– Ritos Fúnebres

Novamente Arthur Ramos, na obra já citada, faz referência ao rito fúnebre dos Bororo e da importância do clã neste momento em que cada membro utiliza as cores e ornamentações especiais de cada clã e, logicamente, estes mesmos cuidados são levados em conta em relação ao clã a que pertencia o morto.

Os Ritos Funerários, a avaliar pelas descrições de Karl von den Steinen e do Padre Colbacchini, são bem complexos entre os Bororo. Quando um índio está muito mal, o Bari (feiticeiro da tribo) é chamado e prediz a sua morte. Daí em diante, o índio não toma nenhum alimento. Se a morte não chega no dia previsto, o Bari encarregasse de mostrar a exatidão da sua profecia, sufocando o moribundo. Quando o índio morre, seu corpo é ungido de urucu e imediatamente coberto a fim de que as mulheres e as crianças não o vejam. Começam então os altos lamentos das mulheres. Os parentes demonstram a sua dor, talhando o corpo profundamente com conchas cortadiças, de maneira a fazer correr profusamente o sangue. O número dos ferimentos é proporcional ao afeto que se tributava ao morto. Os ferimentos são depois tratados com a polpa do fruto do jenipapo.

Começam os cânticos fúnebres, cadenciados ao ritmo do Babo, instrumento feito de uma cabaça elíptica oca, contendo no seu interior algumas sementes duras, e um cabo de madeira. Enquanto isso, o morto é envolvido numa esteira com os objetos que lhe pertenciam, inclusive o arco e as flechas quebrados.

O cadáver é em seguida transportado ao Baimannageggeu, espaço de terreno, no centro da aldeia, onde se iniciam os funerais oficiais, que duram toda a noite. Os cânticos são dirigidos pelo chefe da aldeia, ornado com o Pariko. O cântico principal é depois seguido dos cânticos de cada Clã. A sepultura, de 30 a 40 centímetros de profundidade, é cavada próximo ao Baimannageggeu. Nela é depositado temporariamente o morto, e coberto de terra e água, enquanto que os parentes novamente retalham o próprio corpo, em altos gritos.

Diariamente os parentes vêm lançar água à sepultura, para apressar a putrefação do corpo e poderem retirar os ossos. O luto é observado pelos parentes, da maneira seguinte: arrancam ou cortam os cabelos e depois, à medida que vão crescendo, não os cortam na fronte e ao nível das orelhas, enquanto dura o luto. Abstêm-se de pintar o corpo com urucu. A duração do luto é de alguns meses a um ano e mais.

Na mesma tarde do enterramento, o Aroettowarari (médium) evoca as almas para saber a localidade onde se encontra a caça. Partem então todos os índios para essa caça religiosa-mágica em honra do morto. Os animais mortos são levados aos parentes do defunto e são comidos numa refeição comum. Duas semanas depois do enterramento, recomeçam os cânticos e as danças especiais – Mariddo, Aige e Aroe Maiwo – e por fim, ao som de um cântico especial, o morto é desenterrado, ainda putrefeito, e os ossos são extraídos e lavados no rio próximo. É organizada uma refeição social, para a qual são convidadas as almas dos mortos. As mulheres não tomam parte nesta refeição.

Os ossos são então pintados de urucu e ornados com as cores do Clã do morto. O crânio é também adornado cuidadosamente com penas. Tudo é colocado num cesto, também ornado com as cores do Clã, e na manhã seguinte, os ossos, dentro do cesto, são entregues à sua sepultura definitiva, no rio próximo ou num lago, mas sempre num lugar determinado, o Aroe Gari, ou “morada das almas”. Durante todo o tempo dos funerais, os índios adotam as ornamentações especiais, já descritas, e que variam para cada Clã. (RAMOS)

Logicamente os vasos de gargalo dos Tapajó reproduziam, também, embora de forma secundária, o animal que representava o clã do defunto. Muitas vezes o animal que representava o clã do finado fazia parte da lista dos animais místicos. O fato de as aves se apresentarem com as asas abertas ou fechadas pode sugerir que o falecido havia morrido em combate ou simplesmente de velhice na segurança de sua aldeia. As figuras antropomorfas que, eventualmente, faziam parte dos ornamentos representando adultos ou crianças indicam a idade do homenageado.

– Blog e Livro

Os artigos relativos à “3ª Fase do Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Amazonas I” estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog desafiandooriomar.blogspot.com desenvolvido, recentemente, pela minha querida amiga e parceira de Projeto Rosângela Schardosim. O Blog contempla também as duas fases anteriores de minhas descidas pelo Rio Solimões e Rio Negro de caiaque.

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, rede da Livraria Cultura, Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre ou ainda através do e–mail: hiramrsilva@gmail.com.

Fontes:

ACUÑA, Christóbal de – Nuevo Descubrimiento del Gran Rio de las Amazonas – Espanha – Madrid – Ed. García, 1891.

BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Ensaio Chorographico do Pará - 1839 - Brasil - Brasília, 2004 - Senado federal.

Bettendorf, João Felipe – Chronica da Missão da Companhia de Jesus em o Estado do Maranhão (1698) - Belém: Secult, 1990.

CARVAJAL, Gaspar de – Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande Descoberto Pelo Capitão Francisco de Orellana – Brasil – Consejería de Educación – Embajada de Espana – Editorial Scritta, 1992.

GRUBER, J. G. - O livro das Árvores. Benjamim Constant, AM: Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngues. Global, São Paulo, 2000.

NIMUENDAJU, Curt – Os Tapajó. In: Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi – vol X, Belém, 1948.

RAMOS, Arthur - Introdução à Antropologia Brasileira as Culturas Européias. Livraria Editora da Casa do Estudante do Brasil, Rio de Janeiro, 1961.

SILVA, Inácio Accioli de Cerqueira e - Corografia paraense ou descrição física, histórica e política da província do Grão Pará (1833) - Typografia do Diário, Salvador, 1833.

VARGAS, Marcelo Coutinho e ALMEIDA, Marcelo Fetz de - Biodiversidade, Conhecimento Tradicional e Direitos de Propriedade Intelectual no Brasil: por uma abordagem transcultural compartilhada – UFSCar, 2006.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br-E–mail: hiramrs@terra.com.br