domingo, 27 de março de 2011

DESAFIANDO O RIO-MAR - A GUARDIÃ DA ESPADA


Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 26 de março de 2011.

"Uma raça, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida”. (Rui Barbosa)

O Marechal Cândido Mariano Rondon no seu hercúleo trabalho de demarcação de fronteiras, no extremo norte do país, esteve em Roraima e lá deixou sua espada como prova de amizade aos índios da etnia Macuxi. A guardiã da relíquia de Rondon é, até hoje, a índia Macuxi Avelina Pereira, de 90 anos.

A Tuxaua Avelina e demais Lideranças Macuxi apresentaram a espada de Rondon, no dia 24 de março de 2011, na abertura do 2° Fórum Mundial de Sustentabilidade ao ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger. Aproveitando a oportunidade entregaram a ele uma “Carta Aberta” denunciando os conflitos gerados pela equivocada e entreguista demarcação contínua da Terra Indígena Raposa e Serra do Sol.

Infelizmente a grande mídia mercenária e submissa deixou de reportar o fato. Reproduzimos, na íntegra a Carta Aberta que foi redigida em inglês, macuxi e português.

- Carta ao Guerreiro Arnold Schwarzenegger

Macuxi - população: 23.182 - Como
vivem em uma região com períodos
prolongados de seca e de chuva,
os Macuxi alternam entre dois modos
de vida bem distintos. Durante a
estiagem, formam grandes aglomerações
e aproveitam para caçar, pescar, criar
gado, cultivar alimentos e coletar
madeira e argila – algumas aldeias
também garimpam ouro. Na estação
chuvosa, espalham-se em pequenos
grupos que vivem dos alimentos
armazenados durante a seca (Artur Lopes)

Guerreiro Americano, que vive na América como nós,

Saudações

Milhões cresceram vendo você vencer sozinho quadrilhas poderosas e políticas injustas em seu país. E agora o vemos dedicando tempo e trabalho à causa amazônica. É por isso que admiramos você. Essas ações inspiram em nós o desejo de lutar pelo que é certo e justo. Ficamos felizes e vimos saudá-lo, porque somos de paz.

A espada que Rondon deixou em Roraima representa amizade, união e solidariedade; jamais a beligerância e a intransigência étnica. Além disso, a presença do grande desbravador entre nós marca a época em que muitos do meu povo vestiram roupas pela primeira vez e podemos nos proteger do frio e das picadas de insetos.

Vivíamos em paz: índios, caboclos, colonos, viajantes. Até que determinados religiosos decidiram implantar a discórdia e o racismo em nome de Deus e de Jesus Cristo.

Na Raposa/Serra do Sol, na Missão do Surumu, índios do meu povo foram doutrinados para praticar a injustiça a fim de expulsar muitos cidadãos brasileiros que lá viviam. E, com a conivência de instituições brasileiras, usaram a polícia para separar famílias em índios e não índios, desprezando a relação ancestral de parentesco entre índios e não índios, ribeirinhos, mestiços em geral, não só em Roraima, mas em todo o Brasil; usando apenas o olhar da discriminação; sem nenhum critério científico para distinguir índio de não índio.

Destruíram casamentos, separaram maridos de suas mulheres e de seus filhos, criando feridas que jamais serão saradas, num dantesco gesto de desumanidade.

O Deus do ocidente prega o amor, a união, não o ódio nem a separação de povos. Por isso, vimos nos unir a você, Guerreiro, Para, juntos, combatermos a coação, a injustiça, a violência com que demarcam terras indígenas só para atender a metas propostas e decididas em fórum como esse, sem consulta livre, prévia e informada das minorias que, em termos quantitativos, são a maioria desprovida dos direitos fundamentais.

Somos humanos, somos irmãos, somos parentes. Temos inteligência, emoção e vontade própria. Por que impor aos índios uma vida diferente e precária, se há décadas organizações pedem dinheiro e realizam convênios em nome de acabar com essa miséria e abandono? Por trás disso, está a ambição, não a preservação das nossas culturas. É impossível preservar tradições quando juntam etnias diferentes para justificar a demarcação de territórios maiores?

Será coincidência o interesse das mineradoras estrangeiras nessas mesmas áreas? Será coincidência estarem discutindo a exploração mineral em terras indígenas e reformulando o estatuto do índio? Escolhemos o Guerreiro Americano para levar nossa mensagem, na esperança de que as organizações nacionais e estrangeiras reflitam sobre o que é imposto aos povos indígenas, aos amazônidas em geral e ao país onde vivem nossos compatriotas, a partir de eventos mundiais como esse aqui.

Finalmente, por meio destas singelas palavras, manifestamos nossas aspirações, dizendo que queremos: desfrutar os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade; desenvolver boa educação, boa saúde, boa economia, boa cidadania, bons trabalhos; dispor de boa alimentação, boas casas, boas estradas, bons transportes e de energia elétrica confiável; direitos cívicos como todos que desejam ter desenvolvimento e liberdade. Nós queremos gozar os direitos fundamentais e os direitos humanos, assegurados na Constituição Federal e nos diversos diplomas internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Grande guerreiro americano, nós precisamos e nós acreditamos em você... Talvez você possa vir a ser nosso? Agente? Para conseguir fomento para suprir nossas necessidades nas áreas de educação e na segurança alimentar, prover financiamento para compra de máquinas e equipamentos, para execução dos nossos projetos sustentáveis.

24 de março de 2011, Raposa\Serra do Sol, Brasil

– Blog e Livro

Os artigos relativos à “3ª Fase do Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Amazonas I” estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog http://desafiandooriomar.blogspot.com desenvolvido, recentemente, pela minha querida amiga e parceira de Projeto Rosângela Schardosim. O Blog contempla também as duas fases anteriores de minhas descidas pelo Rio Solimões e Rio Negro de caiaque.

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br), Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre ou ainda através do e–mail: hiramrsilva@gmail.com

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br-E–mail: hiramrs@terra.com.br

Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga)

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