segunda-feira, 7 de março de 2011

OS BRASILEIROS "AFRO-DESCENDENTES"

Por João Bosco Leal

Não pretendo, com este texto, chatear, incomodar, e muito menos ofender alguém, mas trazer à tona um assunto que tem me incomodado em nosso país. O debate sobre preconceito racial, raças, cores, e outros ligados ao tema.

Quando criança, fui levado à inauguração da nova arquibancada, de concreto -o que na época era um luxo-, da APEA- Associação Prudentina de Esportes Atléticos, que para essa inauguração, havia convidado o Santos Futebol Clube, para jogar contra o time dono do campo.

No time do Santos havia um preto, já muito famoso, que usava a camisa 10. Logo no início do jogo, o tal preto que a todos punha medo, errou um gol e foi muito vaiado. Gritavam “uuuu”, e alguns mais excitados gritaram: “aí negão” ou “fora negão”. Uma ofensa na época. Foi o que bastou, o preto, ao ser chamado de “negão”, ficou nervoso, e marcou quatro gols no time que afinal, estava recebendo o seu como convidado, uma deselegância do preto achara os donos da casa.

Contei assim o fato, para que entendam o que quero dizer, pois realmente ando incomodado com os rumos que esse debate vem tomando em nosso país. Aproximadamente quarenta anos depois do ocorrido, sou cobrado para que use essa nomenclatura, de modo inverso. Se chamar alguém de preto, serei preso, pois preto é cor e raça é “negra”, dizem, e, portanto, devo me referir a essas pessoas como “negras”. Exatamente o inverso do que era.

Nunca soube, naquela época que alguém reclamasse de ser chamado de preto, mas chamá-lo de negro era briga na certa. Digo isso com tranqüilidade, pois para a casa de meus pais eles trouxeram, de uma propriedade rural, o filho de um campeiro, um menino, preto, com seis anos de idade. Ele foi criado como irmão dos outros cinco filhos do casal, e dessa casa só saiu no dia de seu casamento, quando já era um advogado. Convivemos como irmãos por mais de vinte anos e nunca tivemos nenhum problema de relacionamento. Sabíamos que ele ficava muito chateado, bravo mesmo, quando algum estranho, em um jogo de futebol ou em uma brincadeira de criança ou jovens, o chamava de “negro”.

Agora, como algum “estudioso” de algum gabinete de Brasília achou que isso tinha que ser alterado, invertido, e agora não posso mais chamar o preto de preto e sim de negro, ou ainda, de afro descendente. Mas o negro pode me chamar de branco, a um índio de vermelho, e a um asiático de amarelo. Ora, branco também é cor, assim como o vermelho e o amarelo, e nenhuma das três é uma raça. Mas assim nos chamam. Não há algo errado? Ou será que teremos que exigir que nos chamem de luso, hispânico, ameríndio, ou asiático-descendentes?

Danilo Gentili, do Programa CQC disse em seu Twitter: “O que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto", pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro?”.

Se preto é uma cor, e, por esse motivo, não pode ser ligada a uma raça, temos que também repensar, além do nome de outros seres humanos, o nome de alguns animais, como os bovinos da raça Guzerá e Brangus, bastante conhecidos no Brasil e em diversos países do mundo, como raças de animais pretos. O nosso tamanduá bandeira é preto. A pantera negra, e o urso negro, são assim chamados por serem pretos, sua cor, e não sua raça.

O negro precisa deixar de se menosprezar, se inferiorizar, de querer crescer por cotas, quando, na prática, possuímos centenas de negros vereadores, prefeitos, deputados, senadores e ministros. E todos lá chegaram sem cotas, por méritos próprios. Os que inventam essas diferenças, é que provocam o isolamento do negro, o racismo, e até a ira de outros, que vieram dos mesmos bairros, vilas escolas e cidades e não têm esse privilégio.

Somos todos seres humanos, os chamados animais racionais, e, racionalmente falando, de qualquer cor, somos brasileiros, e todo o resto sim, é que é racismo.

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