Getty Images Ecce Homo, de Juan Macip, conhecido como Juan de Juanes (1510-1579): a redenção pelo martírio |
Dominic Buettner/The New York Times Jeselsohn, com a lápide: objeto sem preço, adquirido ao aca |
Não é, claro, que a comunidade científica acredite estar diante de uma "profecia". O texto vem se juntar com grande peso às evidências cada vez mais numerosas, e polêmicas, de que o surgimento de Cristo na Palestina de 2.000 anos atrás não foi um evento isolado e anômalo, mas estaria ligado de forma estreita à mística judaica do período e à atmosfera política de uma nação sob ocupação romana. Um dos mais ardorosos defensores dessa tese é Israel Kohl, professor de estudos bíblicos da Universidade Hebraica de Jerusalém. Segundo Kohl, o messias específico a que a lápide (que vem sendo denominada "Revelação de Gabriel", já que o arcanjo seria seu orador) se refere seria um homem chamado Simão, assassinado pelo exército do rei judeu (e colaborador romano) Herodes. O texto menciona o sofrimento como etapa necessária para a redenção – da mesma forma como os cristãos crêem que Cristo salva a humanidade do pecado com seu martírio. Na tradição judaica clássica, o messias tem, ao contrário, uma imagem triunfal.
A parte mais controvertida da lápide é o ponto em que aparece a frase "em três dias". Ada Yardeni e seu co-pesquisador, Binyamin Elitzur, consideram ilegível o trecho que se segue a ela; Kohl, especializado na linguagem da Bíblia e do Talmude, argumenta que ela forma o complemento "você viverá". Ou seja, ressuscitará. Vistas sob essa perspectiva, as várias profecias que Jesus fez sobre sua própria morte ganhariam um outro matiz – seriam não mais vaticínios sem um precedente histórico e cultural, mas noções já fincadas nas crenças de seu tempo e lugar. A lápide, é evidente, deve ensejar décadas de discussão. Mas sua autenticidade vem sendo dada como genuína – e esse já é um ponto fundamental.
Fonte: Revista VEJA
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