Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS
“Lembrando que nós não construímos o futuro pensando no passado; e não nos preparamos para o futuro com as mesmas estruturas do passado”.
(Nelson Jobim – Ministro da Defesa)
A repercussão de meu comentário a respeito do pronunciamento de Nelson Jobim na Academia Militar de Agulhas Negras continua provocando comentários acirrados. Baseei meu artigo em e-mails recebidos de oficiais superiores e oficiais generais, além, do jornalista Cláudio Humberto. Felizmente, oportuna e educadamente o Coronel Marco Antonio do Estado-Maior de Defesa enviou-me a íntegra do discurso proferido pelo Ministro da Defesa. Como se pode observar a frase pronunciada fora do contexto tem uma conotação bastante pejorativa e implicaria, sim, em uma censura clara e direta ao paraninfo da Turma. Jobim foi muito hábil, ardiloso e disfarçou, camuflou a polêmica afirmação no corpo do discurso, a frase foi trabalhada, arquitetada e colocada de maneira a deixar uma sutil mensagem somente aos bons entendedores. Só aqueles que sabem como trabalham as mentes dos “companheiros” conseguiram notar que o Ministro fazia “uma clara censura à escolha do General Médici como Patrono”.
Em nome do princípio democrático de permitir que se estabeleça o contraditório, reconhecendo que as fontes usadas informaram apenas uma frase fora de contexto e sujeita a diversas interpretações e em nome da verdade, publico o e-mail recebido e o controvertido discurso do Ministro.
E-mail do Cel Marco Antonio de Freitas Coutinho (EB)
Estado-Maior de Defesa
Prezado Cel Hiram,
Pelo bem da verdade dos fatos, distorcidos por um artigo do “jornalista” Cláudio Humberto, encaminho o discurso proferido pelo Ministro Jobim aos Aspirantes da Turma General Emílio Garrastazu Médici. Creio que devemos ser mais cuidadosos com informações deste tipo, principalmente de fontes de tão baixa credibilidade. Não farei qualquer comentário sobre o que disse o Ministro, pedindo apenas sua avaliação, e se julgado conveniente, divulgando o anexo em sua lista de e-mail.
Forte abraço.
Discurso do Ministro Nelson Jobim
Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em 04/12/2010
(...) Aspirantes da turma de 2010!
Creio que vocês encontrarão um Exército empenhado na busca de novos caminhos para a excelência operacional; uma sociedade que valoriza e respeita os seus soldados; um Brasil embalado na rota do crescimento sustentável e assumindo cada vez mais o protagonismo internacional.
Vamos terminar o ano, considerando os atos econômicos e a situação econômica do Brasil, com um crescimento em torno de sete e meio a oito por cento neste ano, o que representa uma grande reação à crise internacional, que não consegue crescer mais do que um por cento ao ano no mundo.
O cenário mundial, senhores aspirantes, agudiza as incertezas e aponta para as disputas de recursos essenciais. Essas circunstâncias, o conjunto dessas circunstâncias, exigirão de cada um de vocês, além dos atributos correspondentes aos soldados, o constante aperfeiçoamento profissional.
“Lembrando que nós não construímos o futuro pensando no passado; e não nos preparamos para o futuro com as mesmas estruturas do passado”.
Houve equívocos e erros nos processos e conflitos internacionais. Por exemplo, na Segunda Guerra Mundial, quando generais franceses prepararam-se para a guerra do passado e para o conflito do passado e encontraram, na Segunda Guerra Mundial, o conflito do futuro.
Hoje as ameaças mundiais são completamente distintas. Há uma distinção, e grande, entre a atividade convencional e necessidade de uma preparação assimétrica de rusticidade e de engenhosidade dos senhores soldados. Isso é o que os senhores enfrentarão: o estudo e a compreensão dos ambientes e das populações com quem trabalharem.
Nenhum soldado legitima-se se não tiver atrás de si a legislação do Direito e da Moral. A entrada no conflito precisa ter uma legitimação moral, a realização e os atos durante o conflito têm que ter uma legitimação moral. E também terá que ter uma legitimação moral a saída do conflito. Ou seja, aquilo que Santo Agostinho referia de jus in bello, jus ad bellum, jus in bello e jus pos bellum faz parte exatamente de um futuro incerto que nos vem pela frente.
O permanente zelo pela imagem da instituição a que pertencem também é um dos apanágios dessa necessidade. Também é importante considerar a claríssima defesa do Estado Democrático de Direito e a subordinação do poder militar à autoridade civil democrática instituída no país. Em qualquer situação nós teremos duas ferramentas que podemos socorrê-los: a firmeza de princípios, a honestidade de propósitos e o compromisso com as estruturas democráticas.
Senhores aspirantes, a metamorfose desta manhã em que devolvem o espadim para receber a espada do oficial representa a renovação dos sagrados compromissos com os valores que irmanam os soldados do Brasil.
E dirijo-me também especialmente aos aspirantes do Paraguai, da Venezuela, da República Dominicana e da Guiné Bissau, mostrando exatamente a internacionalização da formação militar em que o Brasil pode contribuir claramente com seus irmãos sul-americanos, com seus irmãos caribenhos e com seus irmãos africanos.
Senhor comandante desta academia, cumprimento a vossa excelência por esta solenidade e desejo a todos vocês, aspirantes, o futuro. E lembrem-se que daqui a quarenta anos, quando vocês estiverem neste palanque como generais e comandantes, será outro mundo, serão outras perspectivas e serão outros os desafios. Portanto, o que exige é que nós tenhamos flexibilidade, cabeça aberta e coragem de enfretamento.
Muito obrigado!
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E–mail: hiramrs@terra.com.br
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