domingo, 20 de novembro de 2011

DEUS NEGRO - NEIMAR DE BARROS

Por Pedro da Veiga

Navegando pela Internet, encontrei hoje um poema de Neimar de Barros: “Deus Negro” e recordei-me do Movimento de Cursilhos, introduzido pelo Bispo Dom Eliseu Simões Mendes, com 1º Cursilho da Diocese, realizado de 27 a 30/06/74.

Decorria o ano de 1973, Pe. Oscar (João Oscar Nedel), pároco da Catedral; Dom Eliseu Simões Mendes, Bispo Diocesano; Dr. Renato Fernandes Silva, Prefeito do Município e eu, Diretor de administração da municipalidade, quando fui convidado, juntamente com o amigo Osmar Ferrari, in memoriam, para participar do 23º Cursilho da Arquidiocese de Londrina, por indicação do então cursilhista Dr. Renato, de 23 a 26/08/1973, onde tive acesso aos livros de Neimar de Barros.

O que é Movimento de Cursilhos? Fruto da ação de Deus e da decisão dos homens, os Cursilhos de Cristandade são um Movimento da Igreja, desde as origens, fiel ao testemunho de uma comunhão firme e convicta em filial relação com o Papa e com o Bispo diocesano.
Nasceu em 1944, na espanhola Ilha mediterrânea de Palma de Maiorca e, graças aos frutos surpreendentemente conseguidos e entusiasticamente divulgados, cedo começou a ser exigida a sua realização, primeiro no espaço ibérico, quase simultaneamente em vários países da América latina, para logo depois se implantar "com carta de cidadania" na grande maioria das dioceses da Igreja de Cristo. O primeiro Cursilho Masculino no Brasil foi realizado na cidade de Valinhos/SP, em 1962.

O Cursilho é um retiro de três dias, é um momento forte de conversão pessoal, proposto para oração e reflexão através de palestras.
O Retiro acontece em nível Diocesano, onde as pessoas são convidadas pela Paróquia para participar.
O movimento de Cursilho tem como ponto de apoio para reflexões, a Ultréya, que normalmente é realizada todos os meses.
Quem pode participar e como é feita a escolha?
Podem participar todos os católicos participantes ou não. Para participar do MCC a pessoa tem que ser indicada por alguém que já é Cursilhista.

Voltando ao personagem Neimar de Barros. Pesquisando no Google, acessei o sitio Wikipédia e reproduzo abaixo algumas informações:

Neimar de Barros foi muito conhecido como produtor de televisão da equipe de Silvio Santos. Até o início da década de 1970, criou e produziu vários programas de grande audiência, como Cidade contra Cidade, Boa Noite Cinderela, entre outros. Em 1971 foi convidado a participar de um encontro dentro da Igreja Católica, na época chamado de Cursilho da Cristandade. Como ateu, ele aceitou desafiar o convite dizendo que só acreditava no que podia ver. No terceiro e último dia, depois de ter aprontado e atrapalhado o encontro, entrou na capela e algo o fez ajoelhar-se, uma grande emoção o tomou e ali naquela hora aconteceu sua conversão.

Quando voltou ao seu trabalho na TV, sentiu que como cristão não podia aceitar muitas coisas que aconteciam. Entrou em conflito com Silvio Santos e acabou se desligando do grupo. Foi quando se tornou famoso também como escritor de livros religiosos, onde podemos citar o best-seller Deus Negro, que vendeu mais de quatro milhões de exemplares. Em 1975 contraiu uma tuberculose e foi aconselhado a se tratar em Campos do Jordão, onde posteriormente resolveu residir por 11 anos. Lá fundou o Instituto M.E.A.C., missionários para envangelização e animação de comunidades, sendo o principal pregador, e durante 14 anos desenvolveu um incrível trabalho missionário dando cursos e palestras em mais de quatro mil cidades. Suas palestras lotavam ginásios de esportes, auditórios, igrejas e teatros. Seu trabalho teve tanto destaque que esteve na capa da revista Família Cristã, a maior publicação católica do Brasil, editada pela editora Paulinas. Visitou o Vaticano, publicou mais de 10 livros, sendo vários em espanhol. Como leigo conseguiu quebrar vários paradigmas, sendo uma forte referência dentro da Igreja Católica. Depois disso, chegou uma fase ruim em sua vida, e como um ser humano normal teve várias desilusões. Contudo, trabalhava e viajava muito e uma profunda crise entrou em sua vida, associando ao estresse do trabalho e sua separação no casamento, o que potencializou ainda mais o seu estado emocional.

Em 1986, entretanto, Neimar concedeu uma entrevista bombástica à revista Veja, revelando que sua conversão teria sido uma farsa. Disse ter sido contratado por uma loja maçônica internacional (P2), para se infiltrar na Igreja Católica e repassar informações sobre a conduta de religiosos. A maioria de seus admiradores não acreditou nessa história, e sabemos que a Revista Veja teve recordes de venda naquela semana, ultrapassando 900 mil exemplares. Depois disso, Neimar escreveu dois livros contando a mesma história, sem sucesso e que nunca foi comprovada.

Oculto por alguns anos ele depois reapareceu na equipe de Silvio Santos, trabalhando novamente como produtor. Hoje leva uma vida simples, e é claro que quem conheceu Neimar de Barros, sabe que tudo que aconteceu depois de 1986 não foi de sua natureza. Sabe-se hoje que foi o princípio de problemas neurológicos que afetou sua personalidade e fica a dúvida se o autor de “Deus Negro” de fato existiu ou foi um personagem de uma história ainda incompleta. Mas não há dúvida de que sua obra foi um marco na vida de toda uma geração que leu seus livros, em especial

“DEUS NEGRO”.

Eu, detestando pretos,
Eu, sem coração!
Eu, perdido num coreto,
Gritando: "Separação"!

Eu, você, nós... nós todos,
cheios de preconceitos,
fugindo como se eles carregassem lodo,
lodo na cor...
E, com petulância, arrogância,
afastando a pele irmã.

Mas,
estou pensando agora,
e quando chegar minha hora?
Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã?
Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,
se eu chegasse lá e um porteiro manco,
como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,
e eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei?
Se a sua mão tateasse pelo trinco,
como as mãos do cego que não ajudei?
Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei?
Se uma criança me tomasse pela mão,
criança como aquela que não embalei,
e me levasse por um corredor florido, colorido,
como as flores que eu jamais dei?
Se eu sentisse o chão frio,
como o dos presídios que não visitei?
Se eu visse as paredes caindo,
como as das creches e asilos que não ajudei?
E se a criança tirasse corpos do caminho,
corpos que eu não levantei
dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,
que era vagabundagem, mas era fome?

Meu Deus!
Agora me assusta pronunciar seu nome.
E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,
da prostituta que eu usei,
ou do moribundo que não olhei,
ou da velha que não respeitei,
ou da mãe que não amei ?
Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,
porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,
sei lá, só dei desgosto?

E, no fim do corredor, o início da decepção.
Que raiva, que desespero,
se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,
o maldito funcionário, e até, até o padeiro,
todos sorrindo não sei de quê?
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.

Deus não está vestido de ouro. Mas como?
Está num simples trono.
Simples como não fui, humilde como não sou.

Deus decepção.
Deus na cor que eu não queria,
Deus cara a cara, face a face,
sem aquela imponente classe.

Deus simples! Deus negro!
Deus negro?

E Eu...
Racista, egoísta. E agora?
Na terra só persegui os pretos,
não aluguei casa, não apertei a mão.

Meu Deus você é negro, que desilusão!

Será que vai me dar uma morada?
Será que vai apertar minha mão? Que nada.

Meu Deus você é negro, que decepção!

Não dei emprego, virei o rosto. E agora?
Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?
Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?

Deus, eu não podia adivinhar.
Por que você se fez assim?
Por que se fez preto, preto como o engraxate,
aquele que expulsei da frente de casa?

Deus pregaram você na cruz
e você me pregou uma peça.
Eu me esforcei à beça em tantas coisas,
e cheguei até a pensar em amor,

Mas nunca,
nunca pensei em adivinhar sua cor...

Neimar de Barros

Clemente Drago - Deus Negro


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