domingo, 6 de novembro de 2011

CLARINHA, SINGULARIDADE HUMANA

Nem tudo que é preciso é preciso. Precisamente não? (Gudé)

Por José Eugênio Maciel

“... Deveria chamar-te claridade pelo modo espontâneo, franco e aberto com que encheste de cor meu mundo escuro...”

Vinícius Moraes

O desfechar da vida é a marcante e definitiva despedida, última de todas. As despedidas são intencionais ou do destino, breves, longas, intensas, reveladoras ou misteriosas. O tempo indica o quanto elas são ou não determinantes. A última despedida reúne ou aparta todas as demais.

No dia oito de setembro deste ano, ao terminar a minha fala para os pequenos estudantes e os pais deles, além dos professores e funcionários da Escola Municipal Constantino Lisboa de Medeiros, agradecendo a todos e olhando no relógio para não me atrasar nas aulas que ainda ministraria naquela noite no Colégio Estadual Campo Mourão, cumprimentei e me despedi da professora Clarinha Wencel Casemiro. Acompanhada do esposo Osvaldo, foi a última vez que eu a vi com vida. Clarinha demonstrava naquele momento com a própria presença, a crença na educação capaz de proporcionar positivamente todo ser humano. Senti-me honrado. Entretanto, não deixei de refletir, ainda que não quisesse, que se avizinhava a despedida derradeira, agora lastimável e inevitavelmente concreta.

Quando a conheci a então diretora da Escola do Alto Alegre só tinha ouvido falarem muito bem dela. E sempre apenas ouvi o enaltecimento abundante a respeito da figura humana e da profissional capaz e dedicada. À época como secretário municipal da educação e da cultura mourãoense, supunha que Clarinha fosse um modo carinhoso pelo qual todos a chamavam, seguramente um justificado afeto. Clarinha era mesmo o nome de batismo e não existiria outro melhor que coubesse a ela.

Clara a vista de todos. Da claridade, o ser que emite ou reflete luz, portanto, ilumina e é iluminado. Claro como fácil de entender. Clarinha como expressão diminuta da palavra nominada e empregada como manifestação de chamamento carinhoso, qualidade do clarear, brilhar.

O raiar da morte é principiado na última aparição do sol, a luz anunciando o horizonte do infinito, a hora sempre profundamente indesejável e inelutável do adeus. A despedida faz-nos homenagear o ente querido. O deslinde de uma vida nos dá o estro para fazer menções verdadeiras e singulares de alguém tão importante que prosseguirá guiando como uma luz, Clarinha a se multiplicar nos incontáveis e notáveis exemplos da professora a escrever limpidamente a letra cursiva e pedagógica no quadro das tantas salas que atuou com envolvimento profissional, o tratar a todos seus alunos como se fossem filhos, com comprometimento, paciência, entusiasmo e ofertando um saber que lhes desse mais do que conhecimento, e sim o sentido de vida.

Clarinha tinha trajetória dinâmica da professora que trabalhava o dia todo e depois à noite era estudante, tendo concluído brilhantemente nível superior. A esposa e mãe dedicada, gentil, esmerada de um amor incondicional ao marido Osvaldo, filhos Adriana, Felipe e Luana e demais familiares pesarosos, com eles se somam o sentimento do luto dos muitos alunos de várias épocas, dos colegas de magistério. Juntam-se também os que a admiravam como ministra da igreja, católica convicta tinha sempre a palavra e as obras da fé, o conforto fraternal e zeloso.

A trajetória de vida da Clarinha, digna e humana, passou ser a claridade do céu, perene.

Reminiscências em Preto e Branco

Desnudar os pés. Caminhar na terra crua, sentir húmos, folhas, verdes, secas. Andar primivitamente em direção do ser em si rebrotado, humanamente vivo a saborear o fruto colhido, sugado do suco do sulco.

Imagens do Google - fotoformatação (PVeiga).

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