sábado, 20 de dezembro de 2008

OS HELENOS E OS BÁRBAROS

Os helenos e os bárbaros
Por: Gilberto Milan Bueno (*)

Em nosso tempo, o destino do homem encontra seu significado em termos políticos” (Thomaz Mann)

Era proverbial o orgulho dos gregos, na referência aos povos do além fronteiras, os chamados bárbaros. No pano de fundo estava o contraste entre dois modos de organização política. Os habitantes da Hélade, ao ousarem instituir a polis, a forma mais elevada de convívio entre os homens, fundaram-na sob o império da Justiça. A democracia e a liberdade eram realidades do cotidiano do cidadão. Já os bárbaros, submissos a um déspota, eram vistos como os “não-civilizados”. Vivia-se o Século de Péricles, o século V a.C., quando essa civilização, referência cultural para o Ocidente, fundou a política, tal qual a entendemos hoje.
Após a erosão da cidade-Estado, aqueles primeiros vagidos de democracia como que hibernaram, para renascerem, com nova roupagem, já no final do século XVIII, através da Independência Americana, em 1776, e da Revolução Francesa, em 1789, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Engendrou-se, então, o Estado-nação, tal como vige até os nossos dias, o qual configura o ideário civilizatório grego, ao resgatar o sentido de reunião do povo, para legitimar o poder e a lei.
Entretanto, no Brasil, ultimamente, esses fundamentos básicos da cultura política ocidental ensejaram, para alguns, uma leitura de “bárbaros”. A manha dos seus discursos “politicamente corretos” esconde a lógica perversa de interesses escusos. Seriam esses “bárbaros”, dentro das nossas próprias fronteiras, incompetentes para enxergar a realidade política e histórica do nosso país? Por que será que certas ONGs “vocacionadas” para as culturas indígenas, não dispõem do mesmo entusiasmo pelo sertão nordestino com o seu drama da seca? Qual é o sentido de cultuarem uma ideologia que rompe com o tecido social, desfraldando a bandeira maniqueísta da esquerda do bem contra a da direita do mal? Qual é o interesse de disseminar a dissensão nos campos, nas florestas e nas cidades, com omissão ou meias verdades, ao arrepio da lei e da ordem, numa época em que as utopias revolucionárias fazem parte do museu da barbárie do século XX?
Felizmente, para contrapô-los, temos os “helenos” contemporâneos, orgulhosos da memória de uma Guararapes, ao identificar aquele caldo de miscigenação, presente hoje na nacionalidade do brasileiro, o qual não necessita do artificialismo vexatório das “cotas”; temos, nestes mesmos “helenos”, o referencial da histórica espada de Caxias, como emulação à convicção pacifista na solução dos contenciosos políticos, e, ainda, o ideário de Rondon de “integrar para não entregar” os povos autóctones, sem usar a dicção canalha de “nação indígena”.
Portanto, sempre haverá um “heleno”, como o Gen. Heleno, vigilante, corajoso, de espírito e de ação, para alertar a “maioria silenciosa” de que Estado não se confunde com governo; que aquele é o resultado de um pacto político-social para o homem sair do estado de natureza, logo, tem o caráter perene de um tratado de paz, enquanto que o governo, subordinado a esse ordenamento jurídico, se identifica como um grupo do poder estatal, sob a forma democrática, articulado com políticas consentâneas com à Nação; que o sentido desta Nação guarda características de uma consciência coletiva, ou seja, de uma consciência nacional dominante no povo ou nos povos, com suas culturas próprias, integrados pela organização estatal do país; portanto, os índios brasileiros são, no máximo, povos da nação brasileira; que o uso do sentido de raça, a não ser para discriminar e dividir, não tem valor científico, já que a miscigenação desfez este particular; que, em resumo, a Nação brasileira não é só o presente, mas também, as gerações passadas e futuras, com sua herança cultural fomentando o aqui e o agora e idealizando o futuro.
Não há dúvidas de que há muitos outros “helenos” nacionais, todos atentos para bradar, tal qual fez Maquiavel, na sua exortação ao príncipe para livrar a Itália das mãos estrangeiras,: “Já está fedendo, para todos, esse domínio de bárbaros”.
(*) Gilberto Milan Bueno
Coronel de Cavalaria; cursos: ECEME e Bacharel em Filosofia pela UFRGS

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