Jansen Filho
Na paz noturna do meu bairro triste,
No mais humilde dos mocambos toscos
Que a vida ingrata com seu manto cobre,
Escuta o choro da infeliz coruja
Que toda a noite vem chorar queixosa
No meu gurúrio de estudante pobre!
Depois que a terra veste o luto feio
E o vento passa num langor profundo,
Cantando a valsa das carícias mortas,
Do vácuo escuro das taperas frias,
Ouve-se o rasgo da desventurada,
Jogando praga sobre as nossas portas...
Anda ferindo o coração das brumas
Presa ao remorso que conduz nas asas
- Talvez dos charcos ou dos pantanais...
Adora a noite porque vive sempre
Nessa constante exibição funérea.
"Exposta à fúria desses vendavais..."
Miguel JANSEN FILHO: Nasceu no dia 1º de maio de 1925, na cidade de Monteiro, Estado da Paraíba e faleceu em São Paulo, no dia 18 de julho de 1994; filho de Miguel Jansen de Paiva Pinto e D. Maria Virgem de Paiva Pinto. Iniciou o curso primário em Monteiro, no Grupo Escolar Miguel Santa Cruz, concluindo no Colégio Olegário Barros, em Taubaté, São Paulo, cursando, também, aí, no secundário, formando-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo. Jansen Filho começou a fazer versos, ainda criança, em Monteiro, influenciado pela presença dos violeiros e repentistas que freqüentavam as feiras livres do interior. Deixando o sertão, estabeleceu-se no Rio de Janeiro e, lá, qual um trovador medieval, era convidado a declamar as suas poesias nas mais nobres residências da Cidade Maravilhosa, sendo aplaudido e admirado por todos. Recebeu o título de Cidadão Honorário da Cidade de São José dos Campos; Membro Benemérito da Academia de Letras da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, de São Paulo; Troféu da Academia Paraibana de Poesia, de João Pessoa; homenageado com a criação do Grêmio Literário Jansen Filho, do Lyceu Paraibano; Membro da Academia Joseense de Letras de São José dos Campos, entre outros títulos e honrarias. Escreveu e publicou: Auroras e crepúsculos, 1948; A coruja do meu bairro, 1949; Céus da minha aldeia; Canções de Marizete, 1951, Negros que os meus olhos não viram, 1953; Procissão de sombras, 1956; Poesias escolhidas, 1957; Folhas que o tempo levou, 1959; Poemas de Jansen Filho, 1960; Guitarra partida, 1961; Poemas a meu pai, 1962; Rua sem nome, 1963; Mulheres perdidas s/d; Obras completas; Pétalas caídas, 1965; Um sonho em cada canteiro, 1976; Monteiro da minha infância, 1976; Alvorada brasileira, 1976; Caravana de estrelas, 1978; Mistura de vozes, 1979; Pedaços de mim mesmo, 1981; Quando a saudade se transforma em lágrima e Uma vida vivida em poesia, 1989; Vultos da Academia, 1993.
Tive o prazer de conhecer JANSEN FILHO, no início de minhas atividades radiofônicas, pela Colméia nos idos de 1959, e tive o grato prazer de entrevistá-lo, oportunidade em que ele recitou diversos poemas de sua autoria. Os seus decassílabos têm cadência invejável, além de real substância poética. Do seu livro "A Coruja do meu bairro", extraímos a poesia que dá o título ao livro.
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