Ano: 1973 Páginas: 437
“Mais tarde soube pelo Fábio, de nós todos o mais informado, que o movimento de Economia e Humanismo fora fundado pelo Pe. Lebret e outro dominicano, o Pe. Desroches, que já deixara o hábito e se tornara resolutamente marxista. O Pe. Lebret morreu dentro da Igreja e da Ordem, e até disseram publicamente que foi ele o inspirador da Populorum Progressio.
Naquele tempo não se comentavam tais coisas em nosso grupo, e pouco sabíamos do que já era efervescência e quase explosão na Europa. Recalquei minhas impressões, e reconheci que nada do que ouvira do Fe. Lebret se enquadrava mal na doutrina sagrada. O que eu poderia dizer, se naquele tempo usássemos tal vocabulário, e que sua pregação era secularizante. Punha o centro de gravidade da vida nas coisas temporais. Aonde nos levaria, com o tempo, o interesse despertado e difundido pelo Pe. Lebret?" (CORÇÃO, p.28)
"Na década dos 50, contra meus mais consolidados costumes, aventurei-me a viajar pelo Brasil e a fazer conferências sobre as coisas do Reino de Deus. Lembro-me de uma viagem nossa a Belo Horizonte onde, com surpresa, vimos que os estudantes tinham colocado faixas pelas ruas, e espalhado camionetas pela cidade a anunciar as conferências do autor destas linhas. Toda a Juventude Católica estava conosco nesse tempo e não se percebia um só sinal de comunismo entre os moços. Perdão, havia o Luís Carlos. Foi uma maratona de conferências, entrevistas e conversas em círculo, sem interrupção. Creio que em 2 ou 3 dias fizemos mais de 12 conferências, às vezes com 400 ouvintes, moços universitários. Não começara a infiltração de estupidez. Os moços eram ainda adjetivamente moços, e não substantivamente e magicamente "jovens". O comunismo ainda não começara... Perdão, havia o Luís Carlos. Sim, o Luís Carlos. No segundo dia de batalha, ao meio-dia e trinta, consegui fugir dos moços, e já me esgueirava para chegar ao hotel, onde contava descansar um pouco e almoçar, quando senti travarem-me o braço. Era o Luís Carlos, que se apresentava e queria dizer-me uma palavra. Conversamos horas: ele tinha idéias comunistas, mas já desconfiava de seu quilate; queria mais. No dia do Corpo de Deus, numa grande festa em que mais de quinhentos moços confessaram e comungaram, lá estava o Luís Carlos, humilde e feliz. Meses depois recebi no Rio uma carta dos pais de Luís Carlos, e num farrapo de papel um agradecimento escrito a lápis e uma despedida marcando encontro no céu." (CORÇÃO, p. 29)
"Conto estas coisas porque esse Pe. Lage é hoje figura internacional. Há livros em francês mentindo sobre o Pe. Francisco Lage Pessoa, como mentem sobre Dom Hélder Câmara. E o que eu quero dizer, em poucas linhas, é que convivi, e dia a dia acompanhei a evolução desses padres que trocaram a Comunhão dos Santos pelo Partido Comunista. E assim como esses, vi de perto muitas e muitas outras degradações que julgava impossíveis. Começava para nós a Paixão da Igreja segundo o século XX." (CORÇÃO, p. 30)
Sobre o autor:
Do: Anatolli
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