quinta-feira, 19 de março de 2009

DIA DE HERÓI

Foto sem crédito.

O poder corrompe e todo político é corrupto? Qualquer generalização é burra. Mas, convenhamos, as últimas notícias que nos chegam aqui na vala comum nos levam a crer que sim. A família Sarney voltou à cena e até Fernando Collor protagoniza um revival dos idos da Casa da Dinda. São velhos filmes tristes.

Mesmo assim, existem exceções? Elas existem, segundo Henry Kissinger, porém noventa por cento dos políticos dão aos dez por cento restantes uma péssima reputação”. Henry Kissinger sabia o que dizia, sendo velha águia que conhecia a realidade política do primeiro ao quinto mundos.

A escritora Marta Gellhorn conta que, das tantas guerras que cobriu (começando pela Guerra Civil Espanhola), aprendeu uma lição acerca da realidade política: “Era uma lição importante para mim porque eu decidi que tinha aprendido a mesma coisa repetidamente por tempo suficiente: a realidade política e a moralidade política não tinham nada a ver uma com a outra. A política deve ser mesmo uma profissão horrível, considerando os terríveis covardes morais em que a maioria dos políticos se transforma assim que arruma um emprego. É inútil jogar a culpa nos líderes em uma democracia, já que fomos nós que os colocamos ali, para começo de conversa, e, uma vez lá, eles estão sujeitos à lei: o poder corrompe. Mas não vejo necessidade de idolatrar como herói nenhum deles”.

No livro A face da guerra, a primeira escritora a cobrir uma guerra nos revela também a verdadeira face dos líderes políticos, que é a mesma em qualquer pocilga do planeta: “Nenhuma estatística mostra de maneira mais clara os erros na conduta do governo como este: o mundo gastou 36 mil dólares por ano por soldado e 1.100 dólares por ano por estudante. Os dados são de 1986, as estatísticas mais recentes, e notou-se um grande aumento em relação a 1984, quando se pagavam 29 mil dólares por ano por soldado. Podemos ter certeza absoluta de que o preço é mais alto agora e o contraste igualmente obsceno”.
Voltando à guerra nossa de cada dia, na política não temos nenhum herói a quem reverenciar? Mesmo sabendo que não temos, devemos idolatrar como herói nenhum deles?
De certa forma, herói foi o Clodovil, que morreu pobre. Não tinha nenhum bem atualmente e passava por dificuldades financeiras. Do salário de R$ 16,5 mil, recebia R$ 7 mil líquidos por conta de pagamento de empréstimo consignado em folha de pagamento. Segundo a advogada do costureiro, ele nunca foi um deputado de tramoia, pode falar dele o que quiser, menos isso”.

Uma história de vida puxa a outra e aqui no Paraná existiu um político que, se não foi um herói, teve o seu momento de heroísmo: o ex-senador Enéas Faria morreu pobre, aos 63 anos. Vereador, deputado estadual, deputado federal, seguiu para o Senado na vaga de José Richa. Formado em direito e filosofia, Enéas foi ainda secretário do Senado.

Para atualizar a biografia de Enéas Faria, a história de heroísmo que poucos conhecem: suplente do senador, certo dia o empresário José Carlos de Carvalho (o Carvalhinho) pegou carona no avião do Banco Bamerindus e voou a Brasília com o firme propósito de se tornar senador com uma bolsa de dólares. E não era uma bolsa qualquer, era uma legítima Louis Vuitton comprada em Paris.

Com aquele seu jeito espevitado, o elétrico Carvalhinho entrou no gabinete de Enéas Faria
como um fio desencapado:
Enéas, abra essa bolsa!

Enéas abriu a legítima Vuitton e, num gesto automático, precisou limpar os óculos para ver se estava enxergando direito.

Duzentos mil dólares, Enéas! Duzentos mil dólares para você se licenciar e eu me tornar senador. É o meu sonho! Você está quebrado, Enéas. Essa bolsa vai ajeitar a tua vida.

Enéas teve o seu dia de herói. O senador do Paraná ajeitou os óculos e respondeu:

Carvalhinho, estou quebrado, mas se depender de mim, você nunca será senador! A bolsa Louis Vuitton voltou como veio.

Dante Mendonça (19/3/2009) O Estado do Paraná.

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