No início dos anos 40, Chiara Lubich, uma jovem com pouco mais de 20 anos, ensinava entre as carteiras das escolas do ensino fundamental de Trento - Itália. Tinha se matriculado na faculdade de filosofia da Universidade de Veneza, impelida pela busca da verdade, quando, justamente no clima de ódio e violência da Segunda Guerra Mundial, diante do desmoronamento de todas as coisas, descobre Deus como o único Ideal que permanece. Deus, descoberto como Amor, irá iluminar e transformar a sua existência e a de muitos outros, mostrando-lhe o objetivo da vida: colaborar na atuação das palavras do testamento de Jesus "Que todos sejam um".
HISTÓRIA
O Movimento, chamado oficialmente "Opera di Maria" (Obra de Maria), surgiu em 1943, durante a segunda guerra mundial, em Trento, Itália, fundado por Sílvia Chiara Lubich. No meio da destruição geral, causada pelos bombardeios, Chiara e um grupo de jovens companheiras se perguntou: "Haverá um ideal que não passa, que nenhuma bomba pode destruir”? E a resposta chegou: Sim, este ideal é Deus, que se manifesta no que realmente é: Amor. Decidiram que, se fossem vítimas da guerra, seria escrito em suas sepulturas: "Nós acreditamos no amor" (1 Jo 4,16). A data histórica do Movimento é 7 de dezembro de 1943, quando Chiara se consagrou ao Senhor.
Em pouco tempo, atingiu centenas de pessoas em Trento e, depois da guerra, espalhou-se pelo mundo inteiro, envolvendo diversas formas de vocação: Focolare Masculino e Feminino, Voluntários, Casados no Movimento Famílias Novas, Sacerdotes, Movimento Sacerdotal Seminarista, Movimento Gen, e numerosas publicações. A Santa Sé aprovou o movimento em 1962 com João XXIII e em 1965 com Paulo VI, com uma estrutura interna do conselho geral de coordenação, cujo presidente, por estatuto, sempre deverá ser uma mulher.
CHIARA LUBICH
Chiara Lubich, líder mundial do movimento, nasceu em Trento, Itália, em 1920; batizada Silvia, adotou depois o nome Chiara. Fundou o movimento católico ecumênico que se tornou conhecido por "Focolari" (palavra italiana que significa lareira), pelo fogo do amor evangélico experimentado. Destinado a promover a vida segundo os preceitos cristãos e contribuir para uma nova ordem mundial segundo os ideais de fraternidade e bens em comum. Sua atividade esteve inicialmente restrita a pequenas vilas italianas, principalmente no socorro prestado às vítimas do bombardeio de sua cidade natal em 1943/1944, durante a segunda guerra mundial. O apoio do influente político italiano Igino Giordani, porém, ajudou a propagar o Movimento a partir de 1948.
Em 19 de junho de 1996, Chiara Lubich, recebeu da Universidade Católica de Lublin, o título de "Doutor Honoris Causa em Ciências Sociais". Em 1977 recebeu em Londres o Prêmio Templeton para o progresso da religião.
LINHAS DOUTRINAIS
As linhas doutrinais inspiradoras da espiritualidade do Movimento estão contidas em doze verdades evangélicas:
1 - Deus-Amor é a primeira centelha inspiradora, a compreensão nunca tida antes de Deus como Amor.
2 - Fazer a vontade de Deus é a resposta que se dá ao Deus-Amor, à imitação de Jesus, o Filho que fez sempre a vontade do Pai.
3 - Entre as vontades de Deus destacam-se duas: o mandamento do amor aos irmãos; e a
4 - Reciprocidade do amor fraterno, exigida pelo mandamento novo de Jesus.
5 - A presença de Jesus entre os homens, quando estes, amando-se uns aos outros, se reúnem em seu nome, dá sentido à fraternidade universal que Jesus trouxe à terra para toda a humanidade.
6 - Jesus abandonado na cruz se manifesta, no cume das dores, como chave para recompor a unidade das pessoas com Deus e entre si, para sanar toda divisão.
7 - A Palavra de Vida do Evangelho, como radical reevangelização do próprio modo de pensar, de amar, de viver, é apresentada cada mês com um breve comentário espiritual de Chiara.
8 - Na Eucaristia, instituída antes da oração pela unidade "que todos sejam um" Jesus é o vinculo da unidade, o mais poderoso coeficiente para a plena unidade.
9 - Maria, discípula por excelência, cristã perfeita, é modelo para cada membro do Movimento, sobretudo porque tem a função de gerar espiritualmente Cristo entre os homens. O Movimento foi aprovado como "Obra de Maria" e os seus encontros mais variados são chamados "Mariápolis".
10 - À presença de Jesus na Igreja hierárquica, "quem vos escuta a mim me escuta", não obstante todas as fraquezas humanas, exigindo realizar as suas ordens e desejos, se atribui a explosão mundial do Movimento. Mas a unidade com a hierarquia não impediu que o Movimento explicitasse cada vez mais as exigências dos diálogos: ecumênico, interreligioso e com os não crentes, em vista do ideal da unidade.
11 - No Espírito Santo o Movimento se reconhece a si mesmo pela típica atmosfera que ele difunde entre seus membros e por aqueles dons tão característicos da Obra de Maria: alegria, paz, luz.
12 - A unidade é o elemento mais típico e característico da espiritualidade do focolare e que lhe dá o seu nome particular: "espiritualidade da unidade". Todo o resto, todos os outros elementos estão finalizados para sua atuação, o grande ideal da espiritualidade focolarina, o seu objetivo único: "que todos sejam um, como nós somos um, eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim".
O MOVIMENTO NO BRASIL
Em 1958, um pequeno grupo de italianos, engajados no Movimento dos Focolares, de passagem por São Paulo, foi convidado a falar para cerca trinta jovens. Lia, Fiore e Marco contaram sobre a origem deste Movimento, expondo a "pequena grande história" de Chiara e de suas primeiras seguidoras. Já nesta ocasião, alguns daqueles jovens sentiram-se em sintonia com o novo modelo de vida que acabava de ser proposto, tornando-se seus primeiros adeptos. No ano seguinte, 1959, Fiore retornou e permaneceu em São Paulo durante alguns meses, fazendo florescer as primícias da comunidade.
O Movimento dos Focolares já havia lançado raízes profundas em Recife quando, em 1962, outros dois italianos ali residentes - Fede e Gianni - transferiram-se para São Paulo objetivando dar início ao setor editorial conhecido como "Cidade Nova". Desta forma, estabeleceu-se em terras paulistanas, o primeiro "focolare”. Eles foram convidados a apresentar esta nova experiência em um retiro dos "Congregados Marianos", entre os quais achava-se presente um jovem de nome Aloizio. Entusiasmado pela descoberta de uma promissora vida revolucionária e aventurosa, possibilitou à sua família um contato imediato com este novo estilo de vida. A partir de então, deu-se início a uma série de reuniões no bairro onde habitavam, o "Parque São Lucas".
No ano seguinte, chegam em São Paulo, Maddalena e Ginetta. Depois de muita procura, encontraram um apartamento simples e pobre no conhecido bairro do "Brás". Mesmo com escassos recursos financeiros, a comunidade nascente ajudou-os de todas as formas, doando o que podiam para mobiliar, ao menos com o mínimo necessário, o desnudo apartamento. Santa, por exemplo, mãe de Aloizio, colocou à disposição metade de seus talheres, lençóis e panelas. Uma testemunha desse período, conta: "Mesmo se tudo era simples, o focolare nos parecia o lugar mais lindo do mundo porque ali respirávamos um clima de Paraíso".
Em 1964 realizou-se a primeira Mariápolis paulista, na cidade interiorana de Lorena, que contou com a presença de 600 pessoas.
Voltando de uma viagem à Argentina, em 1966, Chiara passou algumas horas em São Paulo durante as quais pode observar a imensidão da metrópole. Estava acompanhada por alguns jovens brasileiros que tinham conhecido o Movimento. Deu-lhes um lema que ficou marcadamente impresso em seus corações, reportando-se às palavras contidas no Novo Testamento: "Não temais, ó pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai, dar-vos o Reino" (Lc 12,32).
Essa viagem ao Brasil inspirou-lhe o que veio a chamar de: "Economia de Comunhão na Liberdade", um setor do Movimento Focolare destinado a criar uma rede de indústrias e agentes comerciais que, pondo em prática os preceitos de união e compartilhamento que orientam o Movimento, promovem o respeito às leis do País, salários justos, e mútuo apoio com capital e tecnologia partilhadas também entre as nações e continentes.
No estado de São Paulo, o Movimento logo ganhou inúmeros membros. Surgiu uma obra social em uma das favelas de "Pedreira", próximo ao centro da metrópole paulistana.
Jovens e adolescentes encontram, na proposta de unidade (fundamento da espiritualidade que anima o Movimento dos Focolares) a motivação para viver por algo grande.
Mas, em breve tempo, o Movimento dos Focolares iria além do território paulista, chegando aos estados limítrofes de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e também ao Mato Grosso do Sul.
MOVIMENTO JUVENIL PELA UNIDADE
Fundado em 1985, o Movimento Juvenil pela Unidade, é a expressão juvenil do Movimento dos Focolares no Brasil, promovendo atividades, iniciativas e manifestações, junto com muitos outros jovens dos cinco continentes, que contribuem para a construção da unidade do movimento no país e em todo o planeta.
Muitas foram as atividades em favor da Paz tais como coleta de assinaturas em adesão ao "Apelo à unidade dos povos" encaminhadas à ONU, criação de um Comitê Pró-Paz em Petrópolis-RJ, caminhada pela paz em São Simão-SP, participação na Inauguração da Primeira Praça da Paz Mundial em São Paulo e divulgação do Time-Out.
Nestes mais de 20 anos de história, estes jovens buscam caminhos para responder às graves desigualdades entre ricos e pobres levando, por exemplo, "Pão com Leite" para os moradores de rua da cidade de São Paulo e arrecadando cestas básicas para famílias carentes.
Promovem ainda iniciativas em favor dos povos atingidos por calamidades naturais tais como: enchentes, ciclones, terremotos ou as provocadas pelo homem, como as guerras. Realizando pedágios, gincanas, bazares e festivais para arrecadar, roupas, mantimentos e medicamentos para as vítimas. Também estão empenhados em ajudar pessoas doentes, abandonadas, marginalizadas, através do trabalho voluntário em hospitais, azilos e orfanatos ou promovendo "Oficinas Culturais e Esportivas" para crianças de favelas. Além disso, prestam auxílio solidário em várias partes do mundo, através de projetos específicos, como o "Projeto África", por exemplo.
A respeito de Chiara Lubich, o Papa João Paulo II, teria dito: "Na história houve muitos radicalismos do amor: O radicalismo de Francisco, de Inácio de Loyola, de Charles de Foucauld. Existe também o radicalismo de Chiara..."
Promotora da Paz
Tendo por base o que Chiara chama de "cultura da partilha", o movimento lançou um projeto conhecido como "economia de comunhão na liberdade", segundo princípios que expôs pela primeira vez justamente no Brasil, em 1991. A idéia foi acolhida imediatamente. Hoje mais de 700 empresas aderiram à economia de comunhão no mundo inteiro. Cerca de 80 delas se encontram no Brasil. Nesse projeto se entrevêem linhas sociais e econômicas que articulam princípios nunca antes justapostos: economia, solidariedade e liberdade. A economia de comunhão foi tema de dezenas de teses em várias universidades do mundo.
Chiara Lubich faleceu em Rocca de Papa (Itália), em 14 de março de 2008, onde está situado o Centro Internacional do Movimento dos Focolares. É autora de inúmeras obras de caráter espiritual, traduzidas em 21 línguas.
Para saber mais sobre a origem do Movimento dos Focolares, leia o Livro: "E a Vida Renasce entre as Bombas" de Silvana Veronesi. – Ed. Cidade Nova ou visite o Site: www.focolare.org
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