domingo, 31 de janeiro de 2010
D I Á L O G O
DIÁLOGO
A cruz dizia à terra onde assentava,
Ao vale obscuro, ao monte áspero e mudo:
– Que és tu, abismo e jaula, aonde tudo
Vive na dor, e em luta cega e brava?
Sempre em trabalho, condenada escrava,
Que fazes tu de grande e bom, contudo?
Resignada, és só lodo informe e rudo;
Revoltosa, és só fogo e hórrida lava...
Mas a mim não há alta e livre serra
Que me possa igualar!... amor, firmeza,
Sou eu só: sou a paz, tu és a guerra!
Sou o espírito, a luz!... tu és tristeza,
Ó lodo escuro e vil! – Porém a terra
Respondeu: Cruz, eu sou a natureza!
Antero de Quental.
Antero de Quental nasceu no dia 18 de abril de 1842, em Ponta Delgada, Açores. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra (1864). Revolucionário de temperamento, foi o ideólogo da sua geração literária, desempenhando papel central na Questão Coimbra e nas Conferências do Cassino. Como prosador deixou ensaios sócio-históricos e filosóficos. Como poeta, o seu lirismo de temática filosófica concentra-se na severidade do sonho, relatando o seu itinerário íntimo desde a dúvida religiosa até ao panteísmo de inspiração orientalista. A autenticidade dolorida do seu lirismo (Sonetos) só tem paralelo na lírica de Camões. Em Odes Modernas adota um tom mais revolucionário. Acometido de forte depressão, suicidou-se com dois tiros na boca, sentado num banco de jardim em Ponta Delgada, no dia 11 de setembro de 1891.
Fontes: “Odes Modernas” – Editora Martin Claret. – 2008. - Wikpédia e Artes & Emoções.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário