sábado, 16 de janeiro de 2010

PELO PÃO, A PASTORA DA PAZ

José Eugênio Maciel

Apesar de tudo isto, sê tu generoso no teu ânimo para com o humilde, e havendo de lhe dar esmola não lha andes procrastinando.

Por causa do mandamento acode ao pobre: e não o deixes ir com as mãos vazias em atenção da sua indigência.

Perde o teu dinheiro por amor do teu irmão e, do teu amigo: e não o esconda debaixo duma pedra para ficar perdido.

Põe o teu tesouro nos preceitos do Altíssimo, e isto te aproveitarás mais do que o ouro.

Encerra a esmola no coração do pobre, e ela rogará por ti para te livrar de todo o mal. Ela pelejará contra teu inimigo defendendo-te mais do que o escudo, e mais do que a lança do esforçado.

Eclesiástico – Compaixão com os pobres.

Ela estava muito próxima de Jesus. No pensamento, na pregação, nas atitudes, sempre e cada vez mais ela se aproximava de Cristo. Necessariamente não indo ao encontro do profeta, e sim através dos seus semelhantes. Agora, Zilda Arns não está mais próxima de Jesus. Ela está junto do Cristo.

Quando foram a Jesus apresentados vários meninos, os “discípulos os repeliam com palavras ásperas, mas Jesus lhes disse: ‘Deixai os meninos e não embaracei que eles venham a mim, porque destes tais é o reino dos céus’. Zilda seguiu tal preceito bíblico, foi ao encontro das crianças, especialmente as que estavam desnutridas. Levou a elas o pão que alimenta o corpo e a esperança da vida com liberdade e justiça.

Na pequena e acolhedora paranaense Florestópolis, nascia a Pastoral da Criança. Zilda, como Jesus com seus profetas, ela iniciava a mobilização das mulheres, tanto as que careciam de auxílio imediato quanto aquelas que promoveriam o trabalho solidário. Iniciara também com a Pastoral a multiplicação dos pães e dos peixes. A ideia e ação foram se espraiando pelo Paraná e pelo Brasil, chegando ao nosso Continente e posteriormente a outros países, o que, aliás, tinha levado dona Zilda ao Haiti.

A caridade pelo próximo era o seu objetivo maior, valendo-se de uma linguagem simples singularmente cativante, a Pastoral da Criança se caracterizou rapidamente num projeto exequível graças ao envolvimento de um contingente de pessoas que juntavam as mãos de si com as demais para orar e para agir em favor do próximo. A fé inquebrantável e comovente de Zilda Arns fez com que a Igreja Católica avocasse a Pastoral que, no entanto, continuou o seu mister independentemente da crença ou da religião das pessoas atendidas.

Certa vez, ao chegar num prostíbulo da periferia de São Luís do Maranhão, Zilda Arns perguntou com a humildade e franqueza que lhe eram características, se aquelas meretrizes gostariam de sair de tal situação (crianças desnutridas, sem instrução escolar, esgoto a céu aberto, enfim, miséria total), “se gostariam de ver as crianças criadas num outro ambiente” inteiramente diferente daquele vivido e se as mulheres gostariam de receber dinheiro com o fabrico de redes. A vida delas se transformou, de prostitutas com filhos desnutridos e sem pai para uma nova realidade, onde a dignidade deixou de ser sonho.

A farinha da Pastoral, a conhecidíssima multimistura, já salvou e continua salvando muitas vidas indefesas. Aproveitando melhor os alimentos, incluindo parte deles que seriam jogados fora, tal preparo é ministrado às crianças, e, de tempos em tempos, uma cena marcante e, portanto memorável, a balança para pesar as crianças, a alegria de todos pelo progresso, e Zilda repetia palavras cristãs, “para que todos tenham vida e em abundância”.

Longe de qualquer dúvida, a morte da Zilda representa a perda de uma senhora de fibra, de audácia, de simplicidade e de arrojo, que acreditava no próximo, que pregada com ação a fraternidade. Do seu vastíssimo legado convém destacar a evidente necessidade e possibilidade de se pôr fim a distância abismal que separa o Estado da Sociedade. A lição que elas nos deixa é que ambos devem se organizar e que a razão de existir de um é justamente o outro.

Zilda Arns não ficará para a História. Ela é uma história que prossegue, pelas sementes e pelos frutos, pela Paz que não é somente a ausência de guerras ou conflitos, mas a do pão com liberdade e justiça.

Recebi via e-mail do meu amigo José Eugênio Maciel

Um comentário:

"Política sem medo" disse...

Concordo com voce em tudo o que disse sobre dra. Zilda Arns, Pedro. Ela era sim uma pessoa dedicada, incansavel, humilde e acima de tudo crista convicta. Suas atitudes sim se tomadas por governantes bem intencionados fariam realmente mudancas profundas na vida do pobre, nao as bolsas-familia que nao sao nada mais que compra de votos de politicos corruptos.