O poeta e humorista Glauco Mattoso (sei do cacófato) falou e disse:
"Se você disser que poesia é tudo aquilo que não é prosa, os professores de literatura vão lhe demonstrar que existe um estilo poético denominado prosaico e outro conhecido como prosa poética.
Se você disser que poesia é rima, surgem aqueles que defendem o verso branco moderno e lembram que na Antiguidade a rima era praticamente desconhecida, ou seja, é coisa da Idade Média. Se você pensa que poesia é o próprio verso (isto é, um grupo de palavras formando linhas empilhadas a esmo ou segundo algum critério de "medida"), saiba que existem poetas que aboliram o verso e só trabalham a palavra isolada, ou nem isso: ficam nas sílabas e nas letras soltas no espaço da página. É o concretismo, ou poesia concreta, no seu estágio mais elementar.
Se você acha ainda que a poesia fica só nas letras, há os que preenchem o espaço com qualquer sinal ou figura, e até saem dos limites dimensionais do papel para pesquisar também outros materiais e novos resultados, que aparentemente nada têm a ver com a linguagem escrita. São desdobramentos do concretismo, chamados de poesia visual (ou semiótica) e poema-objeto, que no Brasil foram lançados com o nome de poema-processo.
Finalmente, se você concluir que a poesia estaria então na ideia transmitida, perceberá que qualquer ideia pode ser poéticamente transmitida, e voltará à estaca zero."
(extraído de "O que é poesia marginal", Glauco Mattoso, Ed. Brasiliense)
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