sexta-feira, 31 de agosto de 2012
30 DE AGOSTO, LUTO, LUTA, LUZIR, LIBERDADE
“Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas
aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso”.
Bertold Brecht
Por José Eugênio Maciel
Ainda que quisessem esquecer, não seria possível, as marcas da dor moral e física nos professores são ainda lancinantes. O 30 de agosto de 1988 tornou-se pela natureza dos fatos o dia do luto. A violência perpetrada pela Polícia Militar do Paraná, acatando ordens superiores, partiu para cima dos educadores acampados em frente ao Palácio Iguaçu, se constituiu na barbárie que atingiria os profissionais do ensino, as escolas, atingiria a educação, afrontaria a sociedade e desvirtuaria a ordem democrática.
A cavalaria galopou em cima dos manifestantes acampados, integrados também de estudantes, funcionários administrativos e familiares, dentre eles menores de idade, atingidos pelas bombas de gás lacrimogênio ou de efeito moral. A violência com cassetetes não poupou absolutamente ninguém, covardia maior quanto ao fato de muitos estarem deitados ou sentados, sem chance de qualquer reação. Policiais tiveram a preocupação de arrancar das mãos e destruir qualquer tipo de máquina filmadora ou fotográfica, com a clara intenção de evitar provas que pudessem incriminá-los. É por isso que imagens comprovando a violência são escassas, embora ricas o suficiente para comprovar.
O início da belicosa dispersão eu pude observar do terceiro andar do Palácio, eu estava lá para apanhar cópias de um documento para o gabinete do então deputado estadual Rubens Bueno. O meu espanto era de incredulidade inicial imediatamente seguido de repulsa, quando então fui ver mais de perto o desfecho da violência, os manifestantes corriam em direção ao prédio da Assembleia, buscando naquele momento se protegerem dos ataques.
Um dia de luto, sem dúvida. Os professores estavam em greve desde o dia cinco e a decisão de acamparem em frente à sede do governo do Paraná deveu-se a intransigência de Álvaro Dias em receber uma comissão, os educadores desejavam no mínimo serem recebidos em audiência. O governador Dias negou-se peremptoriamente ao diálogo. À época, ele estava em um encontro do BRDES - Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo-Sul. Imaginava-se até que ele não teria autorizado a ação da Polícia, entretanto, concretamente não agiu de modo contrário, não se preocupou, sendo lícito concluir que ele sabia e permitiria que tal fato ocorresse. Os que em um primeiro momento não acreditariam que ele fosse capaz, uma vez que tinha o título de professor e pela conjuntura caracterizada pelos ventos de liberdade que começavam a arejar em lugar da ditadura terminada formalmente em 1985 e pelo fato dos ricos debates em razão da nova Constituição que viria ser promulgada naquele ano de 1988, em outubro.
Um dia de luto, aquele 30 de agosto. Os dias seguintes foram de luta, precisamente por mais 20 dias, quando se intensificava a mobilização que deixara de ser dos professores, para ser da sociedade, perplexa e indignada pelo tratamento recebido como se fossem eles bandidos.
A cada 30 de agosto aquele acontecimento vem à tona com maior intensidade como o luzir do brio da luta, cabendo lembrar o mestre Paulo Freire, “a educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas transformam o mundo”. Os poderosos, quanto à história que não lhe convém, tentam escondê-la, destruí-la, maquiá-la, seja lá o que possa para acobertá-los. Assim sendo, tempos depois os vastos gramados deram lugar a jardins e árvores, tudo para inviabilizar outros acampamentos. A frente do Palácio passou a ter barreiras que, mesmo parecendo suaves, tinha o escopo de intimidar e não permitir que ali se instalassem qualquer grupo.
Os professores foram derrotados em suas lutas? Naquele momento? Sem fugir da resposta, até porque cabe a reflexão a todos, mas torna-se necessário lembrar um fato bem palpável, Álvaro Dias tentou por três vezes voltar ao Palácio, em todas elas perdeu a eleição. Os professores sozinhos talvez não façam a diferença nas eleições, mas assumiram para si a condição de se colocarem sempre contra ele, não em favor do Magistério em si, mas da educação outrora pisoteada por ele.
O 30 de agosto que a cada ano tem a marca da manifestação é para trazer, nos tempos de liberdade, que a luta é árdua, persistente que não merece trégua, mas é o único caminho. Além disso, os educadores que ingressaram tempos depois, assim como os demais na carreira de servidores públicos e a geração de estudantes necessitam conhecer a história, refletir, questionar e se inspirar naqueles acontecimentos.
O 30 de agosto seria em vão, caso fosse esquecido ou não fosse lembrado com a legítima eloquência, e se fosse em vão, estaríamos agora sendo covardes, omissos e desmerecendo todos aqueles que, por nós, estiveram na linha de frente do combate. O mínimo que podemos ter é o respeito, a gratidão, o sentimento de solidariedade e do aplauso.
Os 24 anos depois trazem no seu bojo uma luta que está atual mais do que nunca! E o exemplo maior e mais notável - histórica e atualmente - é a equiparação salarial, uma vez que o professor, tendo nível superior, possui uma condição salarial sempre inferior a qualquer outra categoria funcional do próprio poder público estadual. A luta não é para se obter privilégio, mas sim a igualdade salarial, uma questão de justiça, a exigir dos professores a luta tenaz, a exigir dos governantes respeito à Educação.
Pesquisando na Internet inserimos as fotos e vídeo que ilustram a matéria-vídeo do Blog: folha13-(PVeiga)
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