segunda-feira, 13 de agosto de 2012

PARA O PAI DE KAFKA, A CARTA JAMAIS ENTREGUE

Por José Eugênio Maciel
“Se tropeçar nas palavras escolha outras para se manter em pé” (Gudé).
“Meus escritos tratam de você, neles eu expunha
as queixas que não podia fazer no seu peito”.
Franz Kafka
Max Brod (1884-1968)-compilou e editou as
obras de Kafka depois sua morte. Kafka
pediu a Brod, seu melhor amigo e apoiador,
para queimar seus escritos. Mas, como mais
tarde observou Brod, Kafka sabia muito bem
que ele nunca faria isso
Franz Kafka (Praga, 3 de julho de 1883
Klosterneuburg, 3 de junho de 1924),
foi um dos maiores escritores de ficção
da língua alemã do século XX
             Escrita em novembro de 1919, com mais de cem páginas a carta de Franz Kafka manifesta toda a angústia e dor inerentes à relação que manteve com o pai Hermann, chamado de “deus”. 
         Além de jamais ter sido entregue, Kafka pediu ao amigo Max Brod que destruísse a carta. Porém, Brod tornou público o conteúdo em 1950, com a reunião das obras do escritor. A correspondência é objeto de análises literárias e psicológicas, o questionamento das intenções, do escopo argumentativo e o que levaria Kafka a escrever e não pretender nunca entregá-la.
         Carta ao Pai tem o tom de acerto de contas. O signatário descreve o pai Hermann como tirano, tão autossuficiente que bastava-lhe a própria opinião, dispensando juízos alheios, sequer os ouvindo. Entretanto, não deixa de reconhecer que a figura paternal consistia em uma pessoa forte, fiel e trabalhadora. Kafka cresceu com a personalidade influenciada e à sombra de Hermann. O filho reconhece as boas intenções do genitor e por mais acidamente que o criticasse, existia amor entre eles.
Hermann Kafka, o pai de Franz Kafka,
nasceu em 14 de Setembro 1852 na aldeia
Wossek (Osek) no sul da Boêmia e morreu
em 6 de Junho 1931 em Praga
          Se a correspondência seria um acerto de contas, não é no seu todo movida pelo sentimento volitivo da vingança e provavelmente tenha sido uma tentativa de compreensão de si mesmo a partir do pai. Não se estabeleceu um confronto, posto que a carta não chegou ao conhecimento do destinatário, embora Kafka pontuasse, “o amor muitas vezes tem o rosto da violência”.
         Seja pelo desabafo analítico em torno do que se tornaria a partir das escolhas que foram feitas pelo peso da influência do pai, ao escrever e forjar o calibre da tensão, Kafka pretendeu a paz ao deixar espraiar sentimentos típicos de um “morde/assopra”.
         Pungente, lírico, a carta põe a nu o bom escrever de um autor, bem como, destituído de tal condição literária, desnuda um ser na fase da florescência, na busca de situar o outrora menino, que amava o pai e o respeitava, sem saber ao certo até que ponto se era por medo, precaução ou uma forma de subserviência que seria ele liberto com a carta.   
         Independentemente de todas as outras condições, mas sobretudo como filho, o que hoje caberia a cada filho escrever ao pai?
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Olhos, Vistos do Cotidiano
 Intitulada Josés, nosso cronista de mão cheia, ou melhor, de caneta cheia, tanto de tinta quanto e principalmente de ideias, o Osvaldo Broza compôs um belo texto com humor e criatividade sobre os Josés na vida dele (como o pai) e na história. Na crônica, publicada na conceituada Revista Metrópole, Broza faz menção ao escrevinhador aqui como integrante no mundo das letras. Para se ter noção do conteúdo, ele citou, entre outros Josés, o Pochapski (professor e vereador mourãoense), o Aroldo Gallassini, presidente da COAMO e o padroeiro do Município. Me senti importante ao lado de tantos Josés. Valeu, Broza!

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