Gen Ex Walter Pires de Carvalho e Albuquerque
domingo, 26 de agosto de 2012
O PREÇO DO FUTURO ALMEJADO
"Estaremos sempre solidários com aqueles que, na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se opor a agitadores e terroristas de armas na mão, para que a Nação não fosse levada à anarquia"
Gen Ex Walter Pires de Carvalho e Albuquerque
Gen Ex Walter Pires de Carvalho e Albuquerque
Por Paulo Chagas
Estou fortemente convencido de que não é do interesse da Força ou de qualquer de seus integrantes e muito menos dos nossos Chefes de hoje e de ontem a divisão do Exército em “da ativa” e “da reserva”, muito embora tenha identificado atitudes pontuais, de ambos os “lados”, que, mesmo sem querer, fomentam a divisão.
São arroubos de indignação, na maioria das vezes motivados por desconhecimento, desinformação ou precipitação, dos companheiros inativos que, no dizer do Gen Octávio Costa, “têm a farda como outra pele, aderida à alma, irreversivelmente, para sempre”, o que pode não justificar determinadas atitudes e interpretações, mas as explica sobejamente!
São as mágoas e incompreensões dos camaradas da ativa que, por estarem em dia e em ordem com os acontecimentos, decisões, planos, projetos e circunstâncias não aceitam as críticas, devidas ou indevidas, dos que, mesmo errados ou enganados, só pensam e agem em favor do bem da Força e que merecem a complacência e a consideração de uma explicação que, na maioria das vezes, “está no site”, o que é sabidamente insuficiente!
Por outro lado, vivendo em Brasília e estando, portanto, mais próximo do que está a ocorrer no Exército, estou também convencido de que há bons motivos para acreditar que os dirigentes políticos, por piores que sejam, finalmente entenderam que as Forças Armadas são fundamentais e imprescindíveis para dar suporte e garantia aos compromissos internacionais e à conquista do espaço que o Brasil pretende e deve ter no concerto das nações.
Este entendimento, mesmo que não se respalde na lógica do estudo geoestratégico, fartamente conhecido por gerações de militares, se deve à conclusão, também lógica, de que, neste momento, as Forças Armadas são as únicas instituições sérias e confiáveis do País e que, portanto, precisam estar preparadas e equipadas de acordo com a importância das suas missões constitucionais.
A organização e a segurança dos grandes eventos assumidos pelo Brasil para os próximos anos, Copas e Olimpíadas, impõem seriedade e competência e, por isto mesmo, não poderão ser entregues a outras instituições que não às Forças Armadas, em particular ao Exército Brasileiro.
Seja por razões estratégicas ou por necessidade de garantia de sucesso nos eventos esportivos mundiais, a verdade é que as Forças Armadas nunca estiveram tão perto de conquistar as capacidades que sempre almejaram e que farão com que tenham, no momento oportuno e decisivo, o poder e a estatura compatíveis com as dimensões, as responsabilidades, a importância e as riquezas do Brasil.
Por outro lado, infelizmente, também constato que há um preço a pagar por esta perspectiva de conquista do futuro almejado, qual seja o esquecimento de uma parte importante e fundamental da história recente do País, na qual a Forças Armadas, em especial o Exército, desempenharam papel preponderante e asseguraram a preservação dos valores e dos pressupostos que sempre nortearam a evolução da nacionalidade e o amadurecimento político da Nação.
É triste ver velhos camaradas, apontados, até a pouco, como exemplos, que arriscaram suas vidas e expuseram suas famílias às ameaças de fanáticos terroristas, no estrito cumprimento do dever e das ordens recebidas, serem abandonados à própria sorte como se esse tempo, essas ordens, seus feitos e suas vitórias nunca tivessem existido e seu sangue nunca tivesse sido derramado!
Não existem, com certeza, dois Exércitos, mas, aparentemente, uma parte dele está sendo deixada para trás, sua lembrança e seus feitos estão sendo extirpados como se fossem cânceres da história e da memória ou como condição imposta para que o Exército tenha a dimensão e as capacidades que o Brasil precisa e o futuro exige.
Torço e rogo a Deus para que o que interpreto e lamento como fato seja mais um arroubo de indignação, motivado por desconhecimento, desinformação ou precipitação e que eu, mais uma vez, esteja errado!
Paulo Chagas é General de Brigada na reserva.
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