terça-feira, 21 de agosto de 2012
O FIM DO MUNDO E A NOVA ARCA DE NOÉ
Por Reinaldo Azevedo in não abandone seu melhor amigo
Dia desses passou na TV o filme 2012, uma bobajada dirigida por Roland Emmerich. Todo filme-catástrofe é igual, né? Sempre há alguns doidos sem credibilidade que percebem o risco primeiro (é o mito da Cassandra: ela está certa, mas ninguém acredita em suas previsões), os crédulos de bom coração, que têm a certeza de que nada vai acontecer (é a massa ignara, que nunca se dá conta da verdade verdadeira) e os que sabem de tudo. Se o filme é americano, este terceiro grupo se divide, invariavelmente, em duas caricaturas: a dos democratas (no filme 2012, o homem de estado generoso é negro, entenderam?) e a dos republicanos, que são pragmáticos, cínicos e egoístas, como nos comentários de Arnaldo Jabor… Eita! Comecei a falar sobre o filme, e o ponto deste texto nem é esse. Quando sentei aqui para escrever, pensava em outra coisa.
Em 2012, os governos sabiam do fim do mundo. Por isso financiaram secretamente a construção de arcas de Noé para dar início a uma nova civilização tão logo o planeta se estabilizasse. Até a rainha da Inglaterra está lá dentro — uma nova ordem não pode prescindir da monarquia. Estava aqui a pensar… Se o mundo fosse acabar, quem a gente enviaria para a arca? Quem iria carregar as tradições do nosso povo, sua elevada moral, seu jeito único de fazer as coisas, as tradições, o caráter altivo, o coração generoso, a bondade, o espírito destemido, o faro empreendedor, o heroísmo dedicado, a coragem? Eu tenho uma resposta: OS RÉUS DO MENSALÃO!
Isto mesmo: se o mundo for acabar, eu e Lewandowski (vamos ver mais quantos) estamos convencidos de que nunca antes na história da humanidade houve tal conspiração de probos. José Dirceu tem de estar nessa arca. José Luís de Oliveira Lima, no STF, afirmou que “pedir a condenação de José Dirceu é a mais atrevida e escandalosa afronta à Constituição”. Entendi que o deputado cassado por corrupção é uma espécie, sei lá, de protótipo do “sujeito constitucional”. E um homem assim, com essa experiência, tem contribuição a dar à nova civilização.
Também há de estar lá José Genoíno — mesmo que fosse José Jesuíno, como o chamou às vezes seu advogado, Luiz Fernando Pacheco. Aprendi com ele que o petista, por sua honradez e caráter, é “um verdadeiro homem de esquerda” — e é claro que uma nova aurora, com os continentes redesenhados, não pode prescindir de um verdadeiro homem de esquerda e do impressionante senso de justiça dos esquerdistas.
Marcos Valério tem lugar garantido. Quem, afinal, vai cuidar, sei lá como chamar, da licitude dos negócios no Novo Mundo? Foi Marcelo Leonardo, seu advogado, quem garantiu sua passagem ao afirmar as qualidades empreendedoras de Valério, lembrando ainda que suas empresas jamais se envolveram em ilegalidade. Eu sei que a nova civilização fatalmente acabará criando “mídia”, essa coisa perniciosa, que persegue os honestos. Leonardo mandou ver: “Marcos Valério não é troféu ou personagem para ser sacrificado em altar midiático”. É isto: um novo amanhã precisa de alguém que carregue essa memória de resistência à canalhice jornalística para que não se caia na tola tentação de criar, de novo, uma imprensa livre. É verdade que o advogado admitiu que o empresário lidou com dinheiro de caixa dois, coisa menor. Quem sabe os homens do porvir percebam que dinheiro é sempre uma coisa… legal!
Que arca pobre seria essa sem um outro inocente, Delúbio Soares! Destaco este trecho da defesa de seu advogado, Arnaldo Malheiros: “O PT não podia fazer transferência bancária porque o dinheiro era ilícito mesmo. Delúbio não se furta a responder ao que é responsável. Ele operou caixa dois? Operou. É ilícito? É. Ele não nega. Mas ele não corrompeu ninguém”. Como um defensor fala pelo réu, Delúbio tem de estar no arca dos bons porque é, antes de mais nada, um homem sincero. A nova humanidade precisará de figuras que, diante da rigidez legal, conseguem saídas criativas, que tornam a sociedade mais funcional e maleável. Mas corromper? Isso nunca!
Os amanhãs que cantam precisam de razão e sensibilidade. Precisam de arte. Por isso José Carlos Dias garantiu a presença de Kátia Rabello, dona do Banco Rural, na arca dos sem-mácula. Uma frase sua me marcou: “Ela é uma mineira séria”. E eu não posso imaginar uma nova civilização sem a experiência de mineiras sérias — já que dois mineiros sérios, até aqui, têm assentos reservados: José Dirceu e Marcos Valério. Não podemos deixar a arte de lado. O advogado lembrou que ela é “uma bailarina, uma artista”. O novo homem, que nascerá dos escombros do velho, tem de acolher, além do bom e do justo, também o belo.
Destaco apenas alguns, mas espero que aqueles que não foram citados aqui não fiquem chateados. Todos merecem estar na arca porque estou convencido de que não são apenas inocentes… Isso é muito pouco. Seria só uma qualidade que se evidencia pela negação. Eu quero afirmar a qualidade positiva de todos eles: são verdadeiras referências morais; são exemplares do que a civilização brasileira produziu de melhor. Tanto é assim que a conspiração da maldade, da inveja e da maledicência os fez réus. Mas, para estes maus, não haverá lugar na arca! Não pensem que haverá jornalistas da imprensa independente dividindo lugar com girafas, rinocerontes e serpentes. Na galeria dos animais, só entrarão representantes do JEG. O poder que há de se instalar precisará de áulicos para reportar “a” verdade. Como só haverá uma, terá fim o conflito de opiniões, um dos males que corroem o sistema democrático — que vai acabar, é claro! Chega de bagunça!
Espero que os 11 ministros do Supremo tenham clareza da grande obra realizada por esses heróis. Mais do que a absolvição, eles merecem ser tratados como os fundadores de uma nova civilização. E, é claro, assentos serão reservados para os ministros que forem justos com essas grandes almas.
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