PERCEPÇÕES DA COSTA OESTE DA LAGUNA DOS PATOS
Hélio Riche Bandeira, Porto Alegre, RS, 03 de maio de 2012.
Lembre-se de olhar para o céu. Isso expande os limites da mente e nos recorda que somos uma pequena parte do imenso Universo, que está sempre em movimento. (Pensamento zen budista)
A sociedade atual, nesta época de alta tecnologia onde nos preocupamos mais com o “ter” do que o “ser”, tem deixado pouco tempo para que o ser humano conviva e aprenda importantes lições de vida com a natureza. Refletindo sobre aprendizagem em contato com a natureza eu e o meu amigo Cel. Hiram Reis e Silva resolvemos empreender uma jornada de caiaque da Praia do Laranjal em Pelotas até a Praia de Ipanema em Porto Alegre, na qual pudéssemos prestar uma homenagem ao centenário do CMPA (Colégio Militar de Porto Alegre), local onde trabalhamos, e traçar uma radiografia dos locais percorridos.
Homenagear o Colégio Militar de Porto Alegre é um fato bastante relevante, ainda mais porque esta instituição representa com suas origens, sua história, seus personagens ilustres e seus mitos uma página com relevância histórica no cenário de nossa nação. Nele estudaram cinco ex-presidentes da República: Humberto de Alencar Castelo Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo. Também se destacaram Plácido de Castro, conhecido como o Libertador do Acre, o genial poeta Mario Quintana, o escultor Vasco Prado, dentre inúmeros outros personagens.
No ano passado já havíamos tentado esta travessia, mas faltando apenas 20 km para o final da Laguna dos Patos tivemos que desistir em decorrência de avarias em meu caiaque. Neste ano para cumprir esta árdua, mas prazerosa missão, realizei diversos treinamentos, principalmente no Lago Guaíba, saindo da Vila de Itapuã e fazendo variadas rotas, ora com o lago parecendo um espelho, ora parecendo um mar bravio com ondas e muito vento. Assim me preparei para novamente enfrentar a Laguna dos Patos com suas belezas e adversidades.
Acomodada sobre a Bacia Sedimentar de Pelotas, esta laguna possui um comprimento médio de 240 quilômetros, com largura variável de 10 a 60 quilômetros, recebendo em seus 9800 quilômetros quadrados a maior parte das águas das bacias do Sudeste do Rio Grande do Sul. Destaca-se a contribuição do Lago Guaíba (ao norte), o Rio Camaquã na porção central da costa oeste e da Lagoa Mirim (através do Canal São Gonçalo), ao sul. (SANCHIS, 2005, p. 10)
No dia 7 de abril, minha esposa Zaida e minha filha Dafne me levaram de carro para Pelotas. Hospedamo-nos no Laranjal Parque Hotel, local do início de nossa jornada e ponto de encontro, no dia 11, com o Cel. Hiram e a Srta. Rosângela Schardosim, apoiadora incondicional em diversos trechos da viagem.
Aproveitei este tempo para pesquisar sobre a cidade de Pelotas e fazer meus últimos treinamentos. A cidade de Pelotas apresenta características coincidentes com o Colégio Militar, neste ano ela completa 200 anos e o CMPA 100 anos, o seu apogeu arquitetônico coincide com a época da construção do Casarão da Várzea (prédio do CMPA) e ambos representam importantes centros culturais de nosso estado.
Meus dois últimos treinamentos antes da grande travessia foram um na Laguna dos Patos, num trajeto de 35 km de ida e volta da Praia do Laranjal até a Lagoa Pequena, e outro percorrendo as charqueadas do Arroio Pelotas, o Arroio São Gonçalo, o Arroio do Peixe e a Praia do Laranjal perfazendo 31 km. As charqueadas nas margens do Arroio Pelotas marcaram o apogeu econômico da cidade no século XIX e seus prédios permanecem ainda hoje como museus ao ar livre e como majestosos exemplares arquitetônicos e patrimônios culturais da história do Rio Grande do Sul.
À sombra das figueiras e das charqueadas, iluminada pela ânsia de progresso de sua gente e irrigada pelo sangue do boi e pelo suor do escravo, esta terra prosperou. (CURVELLO, 1999)
Ao sair para remar próximo da Praia do Laranjal encantei-me pela água da Laguna dos Patos, que nesta época recebe muita água do mar, ficando assim salgada e totalmente transparente. Suas águas permitiam se enxergar a areia do fundo a mais de um metro de profundidade, podendo desta forma ser comparadas com as das mais belas praias de Florianópolis ou de Paraty.
Em época de estiagem, a água do mar penetra na Lagoa pela barra de Rio Grande tornando a água lindíssima, clara e transparente, mas uma angústia para as culturas de arroz. A salinização pode chegar até Cristovão Pereira e ao Pontal de Santo Antônio; em casos muito raros até Itapuã.(KNIPPLING, 1993, p. 13)
A Praia do Laranjal se divide em balneários (Valverde, Santo Antônio, dos Prazeres e Colônia Z3) e a origem mais provável de seu nome se deve a um naufrágio de um navio carregado de laranjas junto de suas margens. Os balneários Valverde e Santo Antônio apresentam uma ótima infra estrutura turística e um grande calçadão junto de suas areias brancas graciosamente emolduradas por diversas figueiras, plátanos e palmeiras. Segue-se o balneário dos Prazeres com sua natureza exuberante, onde uma grande mata nativa chega junto às margens da Laguna dos Patos. Infelizmente neste santuário ecológico encontramos muito lixo, principalmente plástico, trazido pelas águas e também deixado pelos seus frequentadores, além da depredação de muitas de suas belas figueiras centenárias pela ação do fogo em suas raízes e caules.
A Colônia Z3, do tamanho de uma pequena cidade, é a maior colônia de pescadores do nosso estado e apresenta um canal artificial para abrigar as embarcações, diversos trapiches e muitos barcos coloridos. Praia do Laranjal, que seguidamente tinha suas águas impróprias para banho, teve sua situação muitíssimo melhorada com a construção de uma ETE e 45 km de rede coletora garantindo melhor balneabilidade da Laguna dos Patos para a população.
Da Praia do Laranjal a São Lourenço do Sul
1ª ETAPA: PRAIA DO LARANJAL – SÃO LOURENÇO DO SUL - 12/04/2012 |
Local | Distância (Km) | Horário |
Praia do Laranjal (praça norte) (31°45’20’’S 52°13’36’’W) | 00,00 | 5:40 |
Eco Camping Municipal (31°42’44’’S 52°10’24’’W) | 07,12 |
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Colônia Z3 (canal) (31°42’06’’S 52°09’16’’W) | 09,26 |
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Arroio Pseudônimo (31°40’56’’S 52°05’04’’W) | 16,38 |
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Laguna Pequena (centro da boca) (31°41’11’’S 52°03’57’’W) | 18,00 |
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Antiga Igreja na Ilha da Feitoria (31°41’34’’S 52°02’26’’W) | 20,57 | 7:57 – 8:30 |
Ponta da Feitoria (31°41’45’’S 52°02’00’’W) | 21,30 |
|
Ilha da Feitoria (1ª casa) (31°40’18’’S 52°01’27’’W) | 24,20 | 9:00 |
Estância da Sotéia (31°37’52’’S 52°00’55’’W) | 28,83 | 9:35 – 10:40 |
Arroio Corrientes (31°35’46’’S 52°00’38’’W) | 32,81 | 11:15 |
Arroio Grande (31°30’05’’S 52°00’26’’W) | 43,40 | 12:40 – 14:00 |
Arroio Divisa (31°25’53’’S 51°59’50’’W) | 51,50 |
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Arroio São Lourenço (31°22’42’’S 51°57’58’’W) | 58,40 | 15:48 |
Ponta do Parque (31°22’28’’S 51°56’49’’W) | 60,42 | 16:02 |
Hotel Cabanas Recanto da Lagoa (31°22’24’’S 51°57’25’’W) | 61,67 | 16:18 |
PESQUISA EM SÃO LOURENÇO DO SUL - 13/04/2012 |
No dia 12 de abril finalmente eu e o Cel. Hiram começávamos a nossa jornada. Saímos às 05h40min da Praia do Laranjal (31°45’20’’S 52°13’36’’W), ainda não havia amanhecido, caía uma chuva fraca e soprava um vento forte vindo do quadrante sul, que nos auxiliou em nosso deslocamento fazendo que alcançássemos uma velocidade média de mais de 8 km/h. Dirigimo-nos diretamente para a Ilha da Feitoria, distante 21 km, vendo passar ao largo a mata do Totó, o Eco Camping Municipal e a Colônia Z3, esta com um intenso movimento de barcos decorrente da fartura de camarão e tainha que nesta época aparece em virtude da salinização da Laguna dos Patos. Às 7h57min chegávamos à Ilha, próximo da antiga igreja (31°41’34’’S 52°02’26’’W), hoje abandonada e servindo de moradia para pescadores e demonstrando a decadência de um povoado que já havia sido muito próspero em épocas passadas e que foi se esvaziando com a criação da Colônia Z3 e depois de um incêndio vitimando três mulheres estando uma grávida.
A Ilha da Feitoria possuía até o início da década de setenta, atividades de comércio e organização social muito forte. No entanto diante das dificuldades de deslocamento à zona urbana, entre outros recursos, os moradores a abandonaram, migrando para a Colônia Z3 e para outras comunidades pesqueiras localizadas em cidades como São Lourenço do Sul. (MOURA, 2007)
Nesta parada fizemos contato com o Cel. Sérgio Pastl e o Sr Norberto Weiberg, nossos apoiadores neste trecho, para encontrarmo-nos na Estância da Sotéia distante 8 km. Ao longo de toda Ilha da Feitoria havia inúmeros acampamentos de pescadores aproveitando a excelente safra de camarão na Laguna. Este povo que enfrenta diversas situações adversas é muito solidário e está sempre disposto a ajudar os outros. Já próximo da Estância, um pescador aos nos ver vindo de longe em nossos caiaques nos fez sinal e nos chamou para descansarmos e tomarmos uma pinga com ele. Nós abanamos, agradecemos o convite, mas seguimos viagem. A este povo de boa índole, infelizmente lhes falta uma maior conscientização quanto ao lixo, pois o largam indevidamente junto das areias da praia. Chegamos à Estância da Sotéia (31°37’52’’S 52°00’55’’W) às 9h35min, colocamos nossos caiaques próximos de uma linda figueira centenária com enormes raízes que pareciam esculturas que iam até a beira da praia e, enquanto esperávamos nossos amigos, saímos para fotografar o antigo casarão em ruínas do século XIX cercado por paineiras floridas, mas ainda conservando bastante visível toda sua suntuosidade e beleza histórica.
Após a chegada de nossos amigos em seu veleiro Hagar rumamos para a foz do Arroio Grande distante pouco mais de 14 km. Às 11h15min passamos pela foz do Arroio Corrientes (31°35’46’’S 52°00’38’’W) local que marca o final da Ilha da Feitoria e a divisa entre os municípios de Pelotas e Turuçu. O trecho entre os Arroios Corrientes e Grande, pertencente a Turuçu, se caracteriza por um ermo e belo litoral, com matas nativas bem preservadas e dunas de médio porte com areias brancas contrastando com as mais avermelhadas junto das águas transparentes da Laguna dos Patos. Às 12h40min paramos nossos caiaques junto à foz do Arroio Grande (31°30’05’’S 52°00’26’’W) próximo de uma figueira onde o Cel. Pastl nos preparou uma revigorante refeição. Fotografamos este belo arroio que marca a divisa entre os municípios de Turuçu e São Lourenço do Sul e que tem em sua foz pequenas ilhotas de areia. Depois deste descanso rumamos para São Lourenço do Sul, numa longa remada de aproximadamente 19 km até a praia próxima ao Hotel Cabanas Recanto da Lagoa (31°22’24’’S 51°57’25’’W), local de nosso pernoite. Na chegada do ponto final desta primeira etapa da jornada fomos recebidos pela nossa apoiadora Srta Rosângela e após levamos nossos caiaques para o hotel, onde fomos muito bem atendidos pelo seu proprietário o Sr Silvino Hubner, que nos forneceu valiosas informações sobre seu município. À noite ainda fomos jantar e nos despedir de nossos amigos Cel. Patl e Sr Norberto. No dia 13 de abril aproveitamos para fazer uma pesquisa turístico-cultural em São Lourenço do Sul. Visitamos o museu e a biblioteca do município, alguns casarios antigos próximos do Arroio São Gonçalo, a Fazenda do Sobrado, verdadeiro tesouro rural e arquitetônico construída no final do século XVIII e onde morou Donana, uma das irmãs de Bento Gonçalves, e os distritos de Boqueirão, São João da Reserva e Coxilha do Barão, locais da chegada dos primeiros colonos alemães e que deram origem ao município.
No dia 18 de janeiro de 1858, desembarcaram, oficialmente, 88 imigrantes em São Lourenço do Sul. A leva de homens e mulheres se encaminhou para as terras na Serra dos Tapes que logo se revelou coberta de matas virgens, muito diferente de suas terras de origem. (COSTA, 2008, p. 10)
De São Lourenço do Sul a Fazenda Flor da Praia
2ª ETAPA: SÃO LOURENÇO DO SUL – FAZENDA FLOR DA PRAIA - 14/04/2012 |
Hotel Cabanas Recanto da Lagoa (31°22’24’’S 51°57’25’’W) | 00,00 | 6:00 |
Ponta do Quilombo (31°20’01’’S 51°51’20’’W) | 11,00 | 7:40 – 8:00 |
Barra Grande do Rio Camaquã (31°16’44’’S 51°44’16’’W) | 25,23 | 10:07 – 10:37 |
Mata perto de captador de água (31°16’11’’S 51°38’40’’W) | 34,69 |
|
Ponta do Vitoriano (31°16’16’’S 51°36’55’’W) | 37,24 |
|
Fazenda da Chaminé (31°12’04’’S 51°38’33’’W) | 45,50 | 14:30 |
Fazenda Flor da Praia (31°08’25’’S 51°37’07’’W) | 52,33 | 15:30 |
No dia 14 de abril, às 6h nos despedimos dos nossos amigos Silvino e Rosângela na frente do Hotel Cabanas Recanto da Lagoa e partimos rumo a uma travessia de 11 km até a Ponta do Quilombo. Saímos antes do amanhecer com o céu nublado e com um médio vento contra. Começamos a remar pelo GPS do Cel. Hiram, porém após alguns minutos, bem na direção de nossa rota, abriu uma pequena fenda nas nuvens no horizonte pintada de vermelho pelo sol que iria nascer. A pequena fenda orientou nosso rumo até começar a tomar um tom amarelado quando ai já havia claridade suficiente para se ver a Ponta ao longe.
Chegamos à Ponta do Quilombo (31°20’01’’S 51°51’20’’W) às 7h 40min, paramos por 20 minutos para descansar e tomar o rumo para o Delta do Rio Camaquã em outra travessia de agora mais de 14 km. Conforme nos aproximávamos deste próximo ponto a chuva começou e o vento, agora de frente de través, aumentou.
O delta do Rio Camaquã é de fato impressionante pela sua extensão e configuração, abrangendo 5 MN da costa da Lagoa dos Patos. No seu curso extremamente sinuoso, antes de alcançar a Lagoa, forma um número infinito de ilhas, ilhotas e canaletes. Tem duas barras principais: a Barra Grande e a Barra Funda; mais uma Barra Falsa e várias outras menores. (KNIPPLING, 1993, p. 84)
Às 10h07min chegamos à Barra Grande do Rio Camaquã (31°16’44’’S 51°44’16’’W) e paramos num local usado para acampamento de pescadores, protegido por eucaliptos. Permanecemos ali por 30 minutos para um novo descanso, fazer um lanche e apreciar os inúmeros lambaris que nadavam junto da beira. Ao sair deste local rumo a Ponta do Vitoriano, distante 12 km, o vento novamente de frente aumentou para mais de 30 km/h e as ondas já passavam de 1,5 metros. Em razão disto nossa velocidade de deslocamento baixou para menos de 5 km/h e eu não sabia se estava remando ou gineteando. Na primeira parte deste percurso as praias eram bastante desertas com raras vegetações de porte, mas depois começaram a aparecer pequenos capões e depois outros maiores. No meio deste percurso encontramos uma bóia de sinalização jogada pelos ventos junto da praia e as ondas começaram a diminuir um pouco, mas o vento, a chuva e o frio não. Em razão disto tivemos que parar uns 3 km antes do Pontal, próximo de um captador de água, num capão bem protegido do vento e da chuva para descansarmos e para o Cel. Hiram colocar uma vestimenta mais quente. Após esta breve parada seguimos nossa jornada contornando a Ponta do Vitoriano (31°16’16’’S 51°36’55’’W) sem parar e sob a platéia de um enorme bando de biguás e rumamos em direção a Fazenda da Chaminé, antiga sede do IRGA, distante pouco mais de 8 km. Na Ponta havia mais uma bóia de sinalização abandonada junto de suas pequenas dunas praticamente sem vegetação. As ondas aumentaram novamente de tamanho, mas durante uns 5 km ajudaram o nosso deslocamento, pois nos pegavam de trás de través. Após este breve relaxamento nas remadas as ondas, agora com mais de 1,5 m, ficaram de lado, dificultando nossa estabilidade, mas felizmente com a grande maioria delas passando sem estourar.
Em decorrência deste quadro optamos por não descansar na Fazenda da Chaminé e seguir até a Fazenda Flor da Praia. Estes últimos 7 km de remada foram bastante penosos, pois o frio, a chuva e o vento não davam trégua e as ondas começavam a estourar por cima de nossos caiaques. Faltando uns 2 km para chegar, meu mestre na navegação, o Cel. Hiram, virou o seu caiaque Cabo Horn pela primeira vez em sua vasta experiência de remador ao se distrair olhando para um canal. Felizmente era raso e eu após resgatar seu boné, que havia ido para o fundo, segui para o destino final, enquanto meu amigo foi à beira da praia, esvaziar seu barco, para depois também concluir a jornada. Chegamos à Fazenda Flor da Praia às 15h 30 min e fomos procurar seu capataz o Sr Willi Wegner. Ele e sua família nos receberam com muita cordialidade, nos prepararam um café quente, nos relataram que na fazenda tinha muito jacaré, lontra, capivara e tatu e nos alojaram num grande galpão bastante confortável, mas, infelizmente, com diversos ratos.
Da Fazenda Flor da Praia a Arambaré
3ª ETAPA: FAZENDA FLOR DA PRAIA – ARAMBARÉ - 15/04/2012 |
Fazenda Flor da Praia (31°08’25’’S 51°37’07’’W) | 00,00 | 8:05 |
Casa Vermelha (31°07’45’’S 51°34’41’’W) | 04,12 | 8:40 |
Ponta com arroio (31°06’54’’S 51°32’15’’W) | 08,51 |
|
Figueira (31°06’38’’S 51°31’49’’W) | 09,28 | 9:20 – 9:50 |
Mata com captador de água (31°06’11’’S 51°30’03’’W) | 12,19 | 10:15 – 10:30 |
Mata antes do pontal (31°05’30’’S 51°27’18’’W) | 17,00 |
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Ponta Dona Maria (31°05’16’’S 51°26’19’’W) | 18,70 | 11:20 – 11:55 |
Barra da Lagoa do Graxaim (31°03’50’’S 51°27’58’’W) | 22,52 |
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Dunas com figueiras (31°01’34’’S 51°29’07’’W) | 27,62 | 12:58 – 13:58 |
Monumento Gal. Francisco Abreu (31°00’10’’S 51°29’35’’W) | 30,12 | 14:20 – 14:30 |
Ponte sobre o canal (30°57’06’’S 51°30’00’’W) | 35,75 | 15:15 |
Arroio Velhaco (Arambaré) (30°54’39’’S 51°29’42’’W) | 40,50 | 16:00 |
PESQUISA EM ARAMBARÉ - 16/04/2012 |
No dia 15 de abril, às 8h05min, nos despedimos do Sr Willi e partimos para a terceira etapa da jornada. Diferente do dia anterior o sol voltou a brilhar, a água estava calma e soprava um leve vento do quadrante sul, o que nos ajudava na remada. Remamos tranquilamente por pouco mais de 9 km até uma figueira perto de um riacho nas proximidades da divisa de Camaquã com Arambaré onde diversas batuíras corriam pelas areias. Antes da Ponta Dona Maria, distante 9,5 km, fizemos uma rápida parada em um belo capão perto de um captador de água para o arroz para fotografá-lo. Retornamos viagem, cruzaram sobre nós alguns talha mares e logo após três carcarás, e conforme nos aproximávamos da Ponta o vento ficou de lado e as ondas um pouco maiores. Chegamos à Ponta Dona Maria (31°05’16’’S 51°26’19’’W) às 11h20min, contornamos o pontal novamente aos olhares de inúmeros biguás que repousavam nas ilhotas de areia e paramos logo adiante no lado protegido das ondas e vento para fazer um lanche. Neste local o Cel. Hiram achou diversos ovos de cágados e perto dos juncos nadava um frango d’água solitário. Permanecemos na Ponta por 35 minutos e depois partimos em direção a umas altas dunas de areia distante 9 km. Novamente a direção do vento ficou por trás de través nos auxiliando e fazendo que nossa velocidade de remada fosse superior a 8,5 km/h.
Após uma tranquila e rápida remada chegamos às dunas (31°01’34’’S 51°29’07’’W) às 12h58min e lá permanecemos por uma hora para admirar sua belíssima formação e exuberante flora, em especial uma enorme figueira moldada pelo vento quase no topo da duna mais alta. Partindo deste local magnífico rumamos até o monumento ao Gen Francisco Abreu, 3 km distante, e após para o Arroio Velhaco na cidade de Arambaré, distante mais 10 km. A partir do monumento até a cidade uma rodovia corre próxima da orla da Laguna tornando o cenário menos atraente. Chegando à cidade de Arambaré entramos no Arroio Velhaco (30°54’39’’S 51°29’42’’W) às 16h e remamos até o Clube Náutico, local onde ficariam os caiaques. O Sd Marques Aliandre de Freitas Pinheiro, que também é canoísta e inclusive já desceu boa parte do Rio Camaquã, foi gentilmente nos receber e nos conduzir ao Posto da Brigada Militar, local conseguido pelo Cel. Pastl para nosso pernoite.
Arambaré, antigamente chamada Arroio Velhaco, que é o nome do arroio que deságua junto à localidade. É um lindo lugar, com belas praias, grandes figueiras e camping. (...) Existem ainda os restos de um trapiche, onde antigamente, antes do advento da BR116, encostavam as barcaças que transportavam o arroz produzido em grande escala na região. (KNIPPLING, 1993, p. 78)
No dia 16 ficamos pesquisando em Arambaré. Pela manhã o 1º Sgt Juliano Silveira de Oliveira e o Sd Rogério Terra Soares nos levaram até o distrito de Santa Rita, onde visitamos a igreja, uma escola e um grande engenho de arroz e depois fomos à sede da Fazenda da Quinta. Esta bela fazenda possuía duas casas do século XIX, uma com razoável estado de conservação, com lindas figueiras na sua frente e próximo alguns banhados onde nadavam jaçanãs e marrecas piadeiras. À tarde fomos conhecer a cidade, com suas inúmeras figueiras centenárias, em especial a gigantesca Figueira da Paz, enquanto aguardávamos a chegada de nosso fiel apoiador Cel. Pastl acompanhado do Sr Norberto. No fim da tarde passou um enorme bando de maçaricos rumo ao sul e recebemos a visita de nosso amigo e apoiador na travessia do ano passado o Sr Pedro Auso Cardoso da Rocha. Já era noite quando chegaram nossos amigos em seu veleiro Hagar. Conseguiram entrar no assoreado Arroio Velhaco graças à ajuda de nosso novo amigo Sr Charles Rodrigues Berçot que sinalizou sua entrada após contato por rádio com os navegadores. Completando o dia nos reunimos para saborear um delicioso jantar preparado pelo Cel. Pastl.
De Arambaré a Tapes
4ª ETAPA: ARAMBARÉ – TAPES - 17/04/2012 |
Arroio Velhaco (Arambaré) (30°54’39’’S 51°29’42’’W) | 0,00 | 6:30 |
Dunas com mata perto do pontal (30°52’43’’S 51°23’27’’W) | 10,93 | 8:20 – 9:15 |
Ponta Dona Helena (30°52’25’’S 51°22’08’’W) | 13,31 |
|
Dunas com mata (30°50’05’’S 51°23’29’’W) | 18,31 | 10:30 – 11:15 |
Canal (30°48’27’’S 51°23’47’’W) | 21,30 | 12:20 – 13:25 |
Canal com silos (30°46’55’’S 51°24’13’’W) | 24,44 | 13:50 |
Arroio Capivaras (30°42’43’’S 51°23’58’’W) | 31,75 | 14:55 |
Camping Fagundes (início cidade) (30°41’52’’S 51°23’45’’W) | 33,97 | 15:12 |
Clube Náutico Tapense (30°39’59’’S 51°23’27’’W) | 37,84 | 15:45 |
PESQUISA EM TAPES - 18/04/2012 |
No dia 17 de abril saímos às 6h30min do Clube Náutico de Arambaré. O sol ainda não havia nascido. Conforme remávamos ele foi surgindo no horizonte em forma de uma bola amarela na direção que rumávamos, dando um tom prateado às águas da Laguna e seus raios formando um tapete estendido para o nosso deslocamento. Assim remamos por 11 km, com um vento moderado contra, até umas dunas com uma linda mata nativa (30°52’43’’S 51°23’27’’W) perto da Ponta Dona Helena.
Chegamos neste magnífico local às 8h20min e permanecemos nele por quase uma hora para descansar e fotografar suas dunas de areia branca rodeadas por uma mata nativa diversificada com palmeiras, figueiras, cactos e outras espécies em perfeita harmonia com a natureza. Ao som de ruidosas tachãs que sobrevoavam o local partimos em direção a Ponta Dona Helena (30°52’25’’S 51°22’08’’W) distante apenas 2,5 km.
Continuando a jornada cruzamos pelo Banco dos Desertores, que entra quilômetros Laguna adentro, sob a platéia de inúmeros biguás e gaivotas. Após o contorno da Ponta o vento passou a ficar de lado com ondas estourando sobre nossos barcos. Remamos mais alguns quilômetros e o Cel. Hiram teve que parar para ajeitar uma bagagem que estava em cima do seu caiaque e eu, ao me distrair com o evento, virei meu caiaque. Já havia virado algumas vezes na Jornada de 2010, mas esta foi a minha primeira experiência em sair de um caiaque virado usando a saia. Fui para a beira, sequei meu barco e continuei a jornada, agora até umas dunas serpenteadas com vegetação nativa (30°50’05’’S 51°23’29’’W) distantes 5 km da Ponta Dona Helena.
Paramos às 10h30min neste local de rara beleza com muita orquídea e bromélia, principalmente nos galhos das grandes figueiras. Infelizmente perto deste local havia uma grande plantação de pinus, que pela ação do vento, já estava invadindo esta área. Este novo vilão da mata nativa, plantado em grandes quantidades nesta região principalmente como matéria prima da celulose, não obedece aos limites de suas matas e cercas, se prolifera através do vento e invade os santuários ecológicos juntos da Laguna dos Patos, modificando assim sua bela flora e fauna. Sanchis (2005, p. 103) argumenta que:
Estes investimentos de bosques exóticos, como o pinus e o eucalipto têm levado a descaracterização de uma quantidade considerável de ambientes dunários de nosso litoral, cujos prejuízos ecológicos e turísticos necessitam de uma melhor avaliação.
Permanecemos neste local por 45 minutos fotografando e refletindo por quanto tempo a natureza nativa suportaria este invasor. Depois partimos em direção a um canal artificial para irrigação (30°48’27’’S 51°23’47’’W) a 3 km de distância onde o Cel Pastl e Seu Norberto nos esperavam para o almoço.
Chegamos junto de nossos amigos às 12h20min, almoçamos e ficamos conversando por mais de uma hora. O canal estava cheio de lambaris e perto passou um joão grande voando e planando graciosamente no ar.
Descansados e bem alimentados partimos para a última parte da remada do dia, eram 16,3 km até o Clube Náutico Tapense. O vento estava mais fraco e as ondas menores e agora de frente de través, o que apesar de exigir maior esforço, melhorava nosso deslocamento. Neste trecho a mata nativa, apesar de bonita, ficava restrita a uma faixa de poucos metros, como se podia observar ao passar pelas pequenas clareiras, e só ficando um pouco mais espessa próxima ao Arroio Capivaras. Fazendo um excelente desempenho de mais de 7 km/h com vento contra, chegávamos às 15h45min no Clube Náutico Tapense (30°39’59’’S 51°23’27’’W) local onde ficariam nossos caiaques.
Em Tapes o Cel. Pastl partiu de ônibus para Porto Alegre para cumprir seus compromissos e nós fomos para uma casa no balneário Pinvest, de propriedade do Sr Valdir, local de nosso pernoite e onde o Sr Norberto nos preparou para o jantar uma massa com galinha.
No dia 18 de abril permanecemos em Tapes. Pela manhã o Cel. Hiram ficou em casa e eu fui com o Sr Norberto até o centro da cidade, tomamos café e logo após ele seguiu viagem para Canela, cidade onde mora e trabalha. Depois fui conhecer e pesquisar sobre a cidade. Ao caminhar pelo centro observei diversos prédios bem conservados do início do século XX e enormes depósitos abandonados onde era o antigo porto, demonstrando que a cidade já tivera grande relevância no passado. Depois visitei a prefeitura e a Casa da Cultura.
A posição privilegiada do porto de Tapes trouxe ao povoado, como natural consequência, acentuado surto de progresso. Decorreram desta situação vários empreendimentos, como por exemplo, o planejamento urbanístico da povoação. De acordo com a medição e a demarcação do alinhamento procedido no povoado de Tapes em novembro de 1895. (MARTINS, 1999, p. 11)
No final da tarde nos deslocamos para o Clube Náutico Tapense, local de nosso pernoite e saída na manhã seguinte.
De Tapes ao Morro da Formiga
5ª ETAPA: TAPES – MORRO DA FORMIGA - 19/04/2012 |
Clube Náutico Tapense (30°39’59’’S 51°23’27’’W) | 0,00 | 6:30 |
Travessia terrestre do Pontal (30°44’34’’S 51°17’47’’W) | 12,75– 12,89 | 8:05 – 8:37 |
Acampamento Sr Willi (Pr. de Fora) (30°43’01’’S 51°17’39’’W) | 16,08 | 9:07 |
Acampamento pescador (pequena mata nativa entre pinus) |
| 10:00 – 10:25 |
Fim mata de pinus na Praia de Fora (30°37’27’’S 51°18’11’’W) | 26,47 | 10:50 |
Eucalipto isolado na praia (30°32’37’’S 51°17’33’’W) | 35,44 | 11:55 – 12:17 |
Mata com dunas (bivaque 2011) (30°29’56’’S 51°16’27’’W) | 40,82 | 12:57 – 13:20 |
Eucalipto (resgate caiaque 2011) (30°28’16’’S 51°15’33’’W) | 44,30 | 13:48 |
Falésias (30°26’07’’S 51°14’19’’W) | 48,86 | 14:24 – 15:10 |
Praia do Pimenta (30°25’14’’S 51°08’46’’W) | 57,84 | 16:10 |
Pescadores Pr. do Canto do Morro (30°25’34’’S 51°08’31’’W) | 58,70 | 16:20 |
No dia 19 de abril saímos às 6h30min do Clube. O sol ainda não havia surgido, mas a claridade era boa e soprava uma leve brisa a nosso favor, o que tornou nossa travessia do Saco de Tapes, de pouco menos de 13 km, tranquila e rápida, numa velocidade um pouco maior do que 8 km/h. Chegamos ao ponto da travessia terrestre do Pontal de Santo Antônio (30°44’34’’S 51°17’47’’W) às 8h05min. Levamos nossas bagagens e depois nossos caiaques por este trecho de aproximadamente 100 metros. Na praia da margem leste avistamos muitos mexilhões dourados, mortos e com mau cheiro, assinalando a presença de mais um invasor exótico de nosso meio ambiente.
Novamente embarcamos em nossos caiaques e seguimos por um longo trecho de 22,6 km até dois eucaliptos isolados na beira da praia. Na primeira parte deste percurso uma enorme mata de pinus tomou conta das altas dunas que havia outrora. Só quase no final desta mata exótica é que encontramos um pequeno capão de mata nativa onde residia um solitário pescador com onze cachorros e que por curiosidade paramos para fotografar. Sanchis (2005, p. 15) mostra o efeito do pinus nas dunas através de um relato de um antigo morador:
Era coisa mais linda. Areia que não acabava mais. Quando eu era pequeno a gente se jogava lá do alto e caía direto na água. Os cômoros estão cada dia diminuindo mais, desde que colocaram os pinus.
Depois desta breve parada seguimos até os dois eucaliptos solitários (30°32’37’’S 51°17’33’’W) onde paramos às 11h55min para descansar e fazer um lanche. Nesta área predominam dunas de areia com vegetação rala, embora já apareçam alguns pequenos pés de pinus trazidos pelo vento. O tempo nublado, o vento e a água continuavam favorecendo nosso deslocamento. Assim seguimos por mais 5 km até um belo capão (30°29’56’’S 51°16’27’’W), local de nosso bivaque e final de viagem na nossa primeira tentativa de vencer a Laguna dos Patos pela costa oeste. Paramos neste local às 12h57min e lá permanecemos por quase meia hora para relembrar as adversidades climáticas que enfrentamos no ano passado e admirar as suas belezas naturais.
Em seguida rumamos até as falésias (30°26’07’’S 51°14’19’’W), distantes 8 km e localizadas no município de Barra do Ribeiro, o último da Laguna dos Patos pela margem oeste. Chegamos às 14h24min e permanecemos por 45 minutos neste local de rara beleza e difícil de descrever tamanha sua formosura. Dunas gigantes de areia branca, vegetação nativa exuberante, água clara e límpida e uma harmonia divina. Subimos suas enormes dunas de areia, parando em alguns pontos para recuperar o fôlego, fotografamos o local e seu entorno que mostrava ao longe a Ilha do Barba Negra e o Morro da Formiga e contemplamos este verdadeiro santuário ecológico.
Após prosseguimos por mais 10 km até a Praia do Canto do Morro da Formiga (30°25’34’’S 51°08’31’’W). O vento havia aumentado um pouco e as ondas também, mas remávamos bem e sem incidentes. Cruzamos pela Ilha do Veado a nossa direita e pela Praia do Pimenta a nossa esquerda. Desembarcamos às 16h20min no acampamento de pescadores onde fomos muito bem recebidos por esta gente de grande coração e muita hospitalidade. O Sr Vladimir S. Rodrigues nos convidou para pernoitarmos em sua cabana e nos preparou um delicioso jantar com arroz, feijoada e muitos filés de variados peixes. Ficamos conversando com diversos pescadores que nos relataram que ali havia muito graxaim, tatu, guaxinim, javali, jacu e saracura, e depois fomos descansar.
O Morro da Formiga marca a divisa entre o Lago Guaíba e a Laguna dos Patos, portanto desta forma, ali terminávamos a travessia da Laguna dos Patos. Foram mais de 250 km percorridos em apenas 5 dias de remada. Faltavam apenas 58 km, já dentro do Lago Guaíba, para nosso destino final.
O Morro da Formiga avança majestoso na Lagoa dos Patos no extremo sul da Península da Faxina, tendo uma altura máxima de 108 metros. É coberto por uma mata virgem impenetrável e circundado por rochedos com algumas poucas e lindas praias encravadas entre eles. (KNIPPLIG, 1993, p. 53)
Do Morro da Formiga a Vila de Itapuã
6ª ETAPA: MORRO DA FORMIGA – VILA DE ITAPUÃ - 20/04/2012 |
Pescadores Pr. do Canto do Morro (30°25’34’’S 51°08’31’’W) | 00,00 | 7:25 |
Ponta do Morro da Formiga (30°26’13’’S 51°08’08’’W) | 02,08 |
|
Praia do Morro da Formiga (30°25’45’’S 51°07’37’’W) | 03,56 | 7:50 |
Ilha da Ponta Escura (30°22’36’’S 51°06’02’’W) | 10,04 | 8:40 |
Duna da Ponta Escura (30°21’50’’S 51°05’43’’W) | 11,80 | 8:55 – 9:47 |
Ilha do Junco (30°21’13’’S 51°04’01’’W) | 15,09 | 10:10 – 11:00 |
Ilha das Pombas (30°19’31’’S 51°02’17’’W) | 19,39 | 11:35 |
Vila de Itapuã (30°17’01’’S 51°01’24’’W) | 25,06 | 12:15 |
PESQUISA NA VILA DE ITAPUÃ - 21/04/2012 |
Amanheceu, o Sr Vladimir saiu em seu barco de pesca o Belo Antonio e nós em nossos caiaques. Eram 7h25min do dia 20 de abril, o dia estava lindo e a água e o vento calmos. Contornamos o Morro da Formiga onde um majestoso maguari repousava no alto de uma grande árvore no meio da mata nativa que é reserva ecológica. Passamos pela pequena Praia do Morro da Formiga, pela Ilha da Ponta Escura e fomos parar, às 8h55min, nas dunas da Ponta Escura (30°21’50’’S 51°05’43’’W), distante 11,8 km do acampamento dos pescadores. Neste local subimos nas dunas para ver se avistávamos o Cel. Pastl agora acompanhado do Maj. Carlos Miguel Brasil Mello que vinham de Tapes no seu veleiro Ana Claci. Estas grandes dunas de areia dourada contrastavam com a areia branca de sua margem, tinham como moldura uma rica vegetação nativa e do alto se tinha uma bela vista do Lago Guaíba e do Parque de Itapuã. Permanecemos neste local por 50 minutos e após rumamos para a Ilha do Junco (30°21’13’’S 51°04’01’’W), distante pouco mais de 3 km. Chegando à Ilha, já no município de Viamão, ficamos esperando nossos amigos por mais 50 minutos até chegarem os fiscais do Parque de Itapuã, do qual a Ilha faz parte, que gentilmente solicitaram para sairmos do local que é uma reserva natural e, portanto, proibido o desembarque. Imediatamente arrumamos nossas coisas e zarpamos para a Vila de Itapuã. A formosa Ilha do Junco possui uma exuberante vegetação nativa, um morro, praias de areia branca, rochedos e campos e é também para Knippling (1993, p. 26) a mais bela do Guaíba:
É mais um paraíso que uma simples ilha entre o Guaíba e a Lagoa dos Patos. Sem exagerar, fascinaria qualquer observador mais ou menos atento. Envolvida na mais completa solidão, com um perfeito equilíbrio ecológico, a maior das virtudes que tem é justamente não ter ninguém; tendo em contrapartida uma natureza virgem, indescritivelmente deslumbrante.
Nesta última remada do dia, com vento a favor neste trecho de 10 km, passamos pela Praia da Onça, onde escutamos ruidosos roncos de bugios, e pela Ilha das Pombas, ambos pertencentes ao Parque de Itapuã. Chegamos tranquilamente à pacata Vila de Itapuã (30°17’01’’S 51°01’24’’W) às 12h15min. Hospedamo-nos na Pousada e Camping dos Quiosques, de propriedade de Jorge Cirne e Ângela Ferreira, e ficamos aguardando nossos amigos, que chegaram pelo meio da tarde e em seguida, em um quiosque oferecido pela pousada, o Maj. Brasil nos preparou uma deliciosa tainha assada. Após o almoço nossos amigos seguiram viagem e eu e o Cel. Hiram fomos descansar.
No dia 21 de abril tomamos café na pousada e depois o Cel. Hiram seguiu para a Ilha do Francisco Manoel enquanto eu fiquei esperando a visita de meus familiares na pousada. Perto do meio dia chegaram minha filha Dafne, minha esposa Zaida, meu cunhado Ademir e sua esposa Dinara e minha sogra Marli. Almoçamos juntos e na hora de partir para me encontrar com o Cel. Hiram veio a viração do tempo e o Guaíba ficou repleto de carneirinhos (ondas) que me pegariam de lado. Então, como ainda tinha tempo para o término da jornada, resolvi ficar mais umas horas matando a saudades com minha família, pernoitar mais um dia na Vila de Itapuã e partir ao encontro com o Cel. Hiram no dia seguinte pela manhã.
Da Vila de Itapuã a Praia de Ipanema
7ª ETAPA: VILA DE ITAPUÃ – PRAIA DE IPANEMA - 22/04/2012 |
Vila de Itapuã (30°17’01’’S 51°01’24’’W) | 00,00 | 8:40 |
Praia no Morro do Coco (30°16’34’’S 51°03’36’’W) | 03,73 | 9:10 |
Ponta da Reserva do Lami (30°15’37’’S 51°06’17’’W) | 08,31 | 9:50 |
Ponta do Quati (30°16’10’’S 51°08’01’’W) | 11,34 | 10:16 |
Ilha do Francisco Manoel (30°15’44’’S 51°09’50’’W) | 14,52 | 10:40 – 11:28 |
Ponta do Arado (30°14’28’’S 51°11’31’’W) | 18,97 | 11:55 – 12:45 |
Ponta Grossa (30°11’11’’S 51°14’56’’W) | 26,83 | 13:45 – 13:50 |
Praia de Ipanema (barcos) (30°08’31’’S 51°13’38’’W) | 32,55 | 14:45 |
Chegava o último dia de nossa grande jornada. Amanhecera um pouco mais frio, o céu parcialmente nublado e as ondas e o vento quase iguais à tarde do dia anterior, ou seja, parecendo nossa orla marítima e o Guaíba com carneirinhos em toda sua extensão.
Tomei café na pousada, o Sr Jorge me ajudou a carregar o caiaque para a beira da praia, amarrei o remo a uma corda caso virasse e parti rumo ao Morro do Coco. Nesta travessia as ondas estouravam de través de frente quase que de lado obrigando-me a navegar em constantes ziguezagues. Passei pelo bem preservado Morro do Coco que Knippling (1993, p. 24) bem o caracteriza:
O Morro do Coco avança no Guaíba entre o Lami e a Vila de Itapuã. Do lado leste tem uma belíssima praia, parte de um sítio pertencente a uma congregação religiosa. O morro tem uma vegetação exuberante. Bem na ponta sul, e é preciso passar perto para ver, tem uma minúscula prainha, totalmente isolada de qualquer acesso.
Prosseguindo me dirigi para a Ponta da Reserva do Lami. Para minha felicidade, aproximadamente na metade deste trecho, as ondas começaram a diminuir e o vento começou a ficar um pouco mais de frente, facilitando minha estabilidade e segurança. Ultrapassei a Reserva do Lami e me direcionei para a Ponta do Quati e ao final deste percurso o vento ficou forte e totalmente de frente fazendo ter que remar com mais força. Porém, ao contornar esta Ponta, o vento e as ondas ficaram por trás de través facilitando meu deslocamento. Assim, apesar das dificuldades, consegui vencer os 14,5 km em apenas 2 horas e chegar a Ilha do Francisco Manoel (30°15’44’’S 51°09’50’’W) às 10h40min para novamente encontrar-me com o Cel. Hiram.
Na Ilha descansei e fiz um lanche. Partimos às 11h28min para o trecho final de 18 km. Rumamos para a Ponta do Arado, onde paramos numa praia protegida do vento, mais para matar tempo do que para descansar, pois era cedo e a chegada estava prevista para as 15 horas. Após esta pausa seguimos em direção a Ponta Grossa. As ondas agora estavam totalmente por trás e após me pregarem susto e apreensão na primeira parte do dia agora me forneciam a possibilidade de vir brincando de surfar nelas. Fizemos uma rápida parada numa prainha ocupada por pescadores na Ponta Grossa, onde um socó nos observava. Nela contatamos com o pessoal da chegada e partimos rumo a Praia de Ipanema (30°08’31’’S 51°13’38’’W), agora com a água calma protegida dos ventos pelos grandes morros da Ponta Grossa. Remamos lentamente para chegar no horário previsto e assim às 14h45min chegávamos ao nosso destino final, onde o Cel. Araújo, representante do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) nos aguardava.
Terminávamos a nossa grande jornada, percorremos muitos quilômetros, conhecemos e pesquisamos várias cidades, analisamos a bela fauna, flora e relevo da região da Laguna dos Patos e Lago Guaíba, detectamos alguns “vilões” ecológicos como o pinus, o mexilhão dourado e o lixo, principalmente nas diversas formas de plástico, vivenciamos uma aventura inesquecível com alegrias e algumas dificuldades, e enfim, estávamos satisfeitos por ter conseguido cumprir esta difícil missão, gratificados pelas belas paisagens percorridas, pelos conhecimentos adquiridos e, principalmente, pelas novas amizades conquistadas.
- Referências Bibliográficas
COSTA, Jairo Scholl; DIETRICH, Breno; ALMEIDA, José Sidney Nunes de. 150 Anos de Imigração Alemã-Pomerana em São Lourenço do Sul. Porto Alegre: Comunicar, 2008.
CURVELLO, Edgar José. Pelotas Retomando a História. Pelotas: Fama, 1999.
KNIPPLING, Geraldo Werner. O Guaíba e a Lagoa dos Patos. Porto Alegre: Edição do Autor, 1993.
MARTINS, Wilarzy. A Trajetória, Tapes 100 anos de História. Tapes: Lamarca, 1999.
MOURA, Amanda; BAIRROS, Jacqueline Valle; SPERLIG, Urania Pereira. Estudo Sobre a Viabilidade Turística na Ilha da Feitoria a Partir de Entrevistas Realizadas com Ex-moradores. 2007. UFPEL, Pelotas.
SANCHIS, Miguel Angel Zuazo. A Instalação dos Bosques de Pinus e suas Consequências nas Dunas do Pontal de Tapes RS. 2005. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências da UFRGS, Porto Alegre.
- Livro
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na AACV – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva; Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
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