domingo, 15 de novembro de 2009

ESTRADA BOIADEIRA -CONQUISTA DE MATO GROSSO

O despovoamento dos campos de Guarapuava, da cria de gado, cuja população decrescia de ano para ano, levou o destemido guarapuavano, Manoel Mendes de Camargo (foto ao lado), a estabelecer intercâmbio comercial com o Estado de Mato Grosso, única solução para a melhoria dos negócios de gado vacum para o Município.
Manoel Mendes de Camargo, natural de Guarapuava PR, filho do Sr. Domingos Mendes de Araújo e da Srª. Ricardina Mendes de Camargo, nascido a 30 de janeiro de 1864, iniciou a sua carreira como fazendeiro, deixando este ramo para instalar a sua casa comercial (1900), que, em curto prazo, conquistou um nome de relevo, disseminando pelo interior de Guarapuava diversas filiais, cujas operações tomaram proporções vultosas. Movimentou e intensificou o comércio naquela zona e desenvolveu a lavoura e a indústria pastoril. Exausto da sua imensa lide comercial, passou o seu estabelecimento ao Sr. Frederico Werneck, para adquirir a propriedade intitulada Fazendinha, no Município de Tibagi, onde residiu durante dois anos. Vendida esta propriedade ao Sr. Ovidio Guimarães, voltou para Guarapuava e readquiriu a casa comercial que fundara, a qual, daí a dois anos, transferiu ao Sr. Francisco Missino. Neste ínterim foi incumbido pelo Presidente do Estado do Paraná, Affonso Alves de Camargo (1916/20) para a construção da estrada de tropa que de Guarapuava vai ter aos campos de Mato Grosso, empresa dificílima, para a qual já haviam sido feitas três tentativas, pelos Srs. Carlos Thati, Colle, Weiss & Cia. (1908/10), que levaram a exploração até ao Porto São João, tentativas essas abandonadas, sem atingir o resultado desejado. O governo do Dr. Affonso Alves de Camargo, interessado em levar avante esse grande empreendimento que colocaria o Paraná em contato com o Estado de Mato Grosso, para estreitar os laços amistosos e estabelecer entre os dois Estados vantajoso intercâmbio comercial, principalmente no tocante à exportação da grande produção pecuária matogrossense, lembrou se do nome do grande amigo e conterrâneo, Manoel Mendes de Camargo, que aceitou a tarefa, a qual se realizou devido a audácia, ao arrojo e à persistência do bravo pioneiro.
A estrada foi atacada, de Pitanga a Campo Mourão, por um traçado seu, deste ponto em diante, obrigado pelo seu contrato com o governo a atingir o Porto Xavier da Silva, no rio Paraná, obrigou-se a aproveitar o traçado já explorado pelos Srs. Colle, Weiss & Cia.
A 10 de julho de 1918 a ligação fora feita.
Executado o contrato, construída a estrada por 300 km de sertão, Mendes de Camargo instalou outro porto abaixo, denominando-o Porto Presidente Camargo, no entanto, para transpor o rio Paraná, teve que descer 24 km a fim de aproveitar o Porto Lescano, na margem matogrossense, o único que poderia servir de ligação aos dois importantes trechos.
Por essa estrada passaram algumas tropas de mulas vindas do Rio Grande do Sul, e uma de bois de Mato Grosso conduzida por Manoel Mendes de Camargo, com a qual foi inaugurada a Estrada Boiadeira no ano de 1921.
Em1925, o Sr. Mendes de Camargo importou uma manada de 120 bois, depois, em 14 de agosto de 1926, trouxe uma nova boiada de Mato Grosso, conduzindo a Guarapuava, em número superior a 400 bois.
Nessa via pública o denodado bandeirante fundiu muitas economias e recebeu, pelo contrato, 15.000 alqueires de terras povoadas de ervais e pinheirais às margens da mesma.
Após desobrigar se da importante incumbência, Manoel Mendes de Camargo verificou a dificuldade de comunicações que havia do Porto Lescano Cué ao Porto Presidente Camargo, e, prevendo o grande e risonho porvir que estava assegurado à uma via Paraná Mato Grosso, na qual se empenhavam os governos estadual e federal, propôs ao governo explorar o rio Paraná acima até encontrar um porto que melhor se coadunasse com o traçado da estrada.
Acatada sua proposta, Manoel Mendes de Camargo iniciou nova campanha contra a selva, e, depois de dois anos de contínuas explorações nos famosos e intransponíveis banhados de Mato Grosso, onde, segundo a opinião de abalizados Engenheiros, era impossível a locação de qualquer traçado, foi pelo sertanejo audaz João Bento, um seu empregado, encontrado um porto a que deu o nome de São João, por ter sido encontrado no dia de festa daquele santo. Logo em seguida, nas margens do rio Paraná, próximo da barra do rio Paranapanema, foi encontrado outro, denominado Porto São José.
Do Porto São José, até atingir a estrada ligando o Porto Presidente Camargo a Campo Mourão, o Sr. Mendes de Camargo construiu uma variante de 150 km. na qual gastou 50 contos. Embora a variante servisse a seus fins, tendo por ela passado um rebanho de 500 bois conduzidos pelo Sr. Argemiro Camargo, 200 vacas pelo Sr. Manoel Pacheco e diversos bois de um ano que se achavam na fazenda do Sr. Osório Ferreira, em Guarapuava, decidiu o Sr. Camargo construir uma segunda variante, que encurtou 70 km. e na qual gastou 30 contos.
Segundo o livro "Pelas Selvas e Rios do Paraná", escrito por Coelho Júnior, ele, em companhia do Agrimensor Edmundo Mercer, em 1911 partiu para a região do Piquiri, a fim de efetuar o primeiro levantamento topográfico “do extenso e atormentado vale do caudaloso rio, até então quase desconhecido, completamente desabitado e coberto de luxuriante selva, desde suas nascentes nos contrafortes da Serra de Pitanga, até a sua confluência pouco acima dos Saltos de Guaíra”. Na introdução do livro (editado em 1946), Coelho Júnior informa que o mesmo foi escrito “través dos sertões do Paraná - desde 1919 quando lhe abrimos no âmago ermo, picadões em todos os quadrantes, até os seus confins nas lides de Mato Grosso e países de fala castelhana, com o traçado da estrada por onde Manoel Mendes de Camargo pretendia trazer gado para os campos despovoados do Paraná”. Tendo partido de Campo Mourão, Coelho Júnior descreve a abertura de uma picada através de uma faixa de mais de cem quilômetros de “matas virgens, vegetação intrincada, de exuberância tropical, onde os anhapindá espinhos do diabo ou unhas de gato tornavam a mata ainda mais agressiva”, num desafio brutal ao grupo de homens que se dispunha a devassá la, dentre eles, destacados pioneiros mourãoenses, João Bento, Ernesto Mateus Tavares, José Silvério do Nascimento (vulgo José Gonçalves) e Francisco Martins Tavares que, com mais de trinta camaradas, compunham a equipe de Manoel Mendes de Camargo, tendo na linha de frente, para ultimar os trabalhos do cotidiano: Carlos Alberto Coelho Júnior e Edmundo Mercer (Topógrafos), Oto Trompichinski (Agrimensor), Pedro Mendes de Abreu (administrador), Francisco Teles (feitor) e João Bento (chefe da equipe).
Fica assim, marcada na história de Campo Mourão, a intrepidez de Manoel Mendes de Camargo, auxiliada pela capacidade de trabalho do destemido sertanista e pioneiro mourãoense João Bento, que tanto fez pelo então Distrito. Rasgando os sertões para aumentar o conceito do Estado do Paraná e da nossa Pátria, afrontaram as feras, a fome, a sede e a palustre, nas margens do rio Paraná, conseguindo entregar ao público, uma magnífica estrada que, partindo de Guarapuava vai ter aos campos de Mato Grosso.
Todavia, citando o Professor Júlio Moreira, profundo conhecedor da história das estradas do Estado, a despeito do êxito da empresa, a Boiadeira foi uma estrada frustrada já que depois de algumas viagens ela foi abandonada, tal o estado miserável em que os bois chegavam aos Campos Gerais após atravessar a floresta bravia e indomável”.

Manoel Mendes de Camargo, casado em primeiras núpcias com a Senhora Querobina Mendes de Araújo e, em segunda núpcias com a Senhora Carolina Taques de Camargo, faleceu na Capital do Estado, Curitiba, com a idade de 79 anos, a 26 de junho de 1943.

Fonte: "Campo Mourão centro do progresso" (págs 85 a 87), de autoria de Pedro da Veiga.


4 comentários:

Anatoli. disse...

Maravilha, Amigo Pedro !!!

Um trabalho fantástico que você vem realizando pró-memória de Campo Mourão, região e Paraná.
Estes exemplos precisam ser contados para que a nossa juventude entenda que o presente sempre será fruto de um trabalho pesado, dignificante e honrado realizado no passado.
Que este exemplo lhes sirva de alerta para suas responsabilidades com as próximas gerações.

Unknown disse...

Parabens Pedro da Veiga. Certamente nossa história é mais que bem representada por você!
Abraços do amigo Juma Durski

Unknown disse...

Linda página! lindo trabalho Parabéns

Unknown disse...

reparabens pela página! trabalho excelente...Parabéns