Acabamos de assistir a esta novela hondurenha, em que a imprensa mundial insistiu em falar em golpe, quando o presidente foi deposto pelo Congresso e pelo Judiciário. O único erro foi terem deportado-o. Mas tem sido sempre assim, quando se justificam as mortes causadas por Guevara, friamente, nos primórdios da Revolução cubana e pelos integrantes da luta armada no Brasil, que são apresentados como que heróis “na luta contra a ditadura”. Farsa, desonestidade. Em primeiro lugar, vivemos um período autoritário, mas nunca ditatorial. O Congresso funcionou, com raras interrupções, como a feita por ocasião da edição do AI-5 e no governo Geisel. No entanto, ficou aberto nos três demais governos. Em segundo, é que nem os membros da luta armada negam que eram comunistas, revolucionários e queriam implantar modelo de governo à semelhança de Cuba.
Agora, uma cortina de silêncio é imposta aos nossos militares em relação ao 27 de novembro, data da Intentona Comunista no Rio, Natal e Recife. Episódio histórico, em que oficiais chegaram a ser assassinados por companheiros enquanto dormiam. Os acontecimentos foram fartamente noticiados na ocasião, livros foram escritos – inclusive o de Helio Silva, insuspeito historiador da República – e os militares sempre lembraram seus mortos, como alerta para que a ignomínia nunca venha a se repetir.
Getúlio Vargas, depois, a todos anistiou. Muitos voltaram à vida política e à partidária, até 64 e depois da anistia de 79, com João Figueiredo. São muitos os depoimentos que confirmam a violência e a barbaridade do movimento. Mas os militares, que escolhem a carreira por amor à Pátria e desprendimento, nunca foram buscar nos cofres públicos benesses para as famílias dos seus mortos ou de seus heróis, como o Brigadeiro Eduardo Gomes, no Rio, e o então Tenente Dinarte Mariz, no Rio Grande do Norte.
No entanto, não faltam os que desejam negar os fatos, na mesma linha que hoje os radicais iranianos querem negar o holocausto. Todos vinhos da mesma pipa, como se diz popularmente. Mentem, sabem que estão mentindo, mas aprenderam assim com Lênin e, assim, vão continuar. No caso brasileiro, negam-se a leitura dos jornais, muitos que ainda circulam, que noticiaram 35 e depois 64, que foi um movimento cívico, com respaldo militar.
Lembrar 35 é importante, é ético e moral. Saber o que alguns pensam desta página de nossa história também é importante para avaliação. Não podemos esquecer os riscos que corremos no passado e que não estão de todo afastados da América Latina, que sofre um retardo social e econômico em relação às nações mais cultas. E mais: demora a assimilar as mudanças do mundo, como a democracia que alcançamos e que pode ser usada, nesta fase, para o controle das liberdades de empreender (pela via das restrições ambientais e violações do direito à propriedade, por exemplo) e de imprensa. Aliás, esta foi a grande surpresa das esquerdas, já que a imprensa resiste a uma nota só, embora ainda se mantenha presa ao passado cuidadosamente costurado ao longo de décadas. Temos uma nova geração, independente, mas ainda envenenada pelo martelar de anos de mistificação. Muita gente chegou a pensar que nos EUA não existiam comunistas nem esquerdistas, pois estes, quando no poder, com Franklin Roosevelt, passaram a ser denominados de “liberais”, na melhor técnica da dialética leninista.
(*) Aristóteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
De e-mail que me enviado pelo amigo Élio Simionato
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