segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

SARGENTO ÁUREO

Hiram Reis e Silva, Novo Aripuanã, AM, 08 de janeiro de 2012.

CANÇÃO DO 5° BEC

(Letra: Cap Pastor, música: Panzerlied)

Ecoam no céu

Mil estrondos sem par

Na terra, no ar

Vê-se o progresso abrir seus véus

E a estrada avançando vai

A selva desbravando até o fim

É o Quinto que vai

Sem Temor, sem parar...

E rugem motores

No solo a rasgar,

Enormes tratores

Removem a terra sem parar

E a estrada cresce num olhar

Trazendo a Amazônia ao Brasil.

É o Quinto que vai

Sem temor, sem parar...

E juntos iremos

Na nossa missão

Civis e soldados

Mostrando a força da união

E a pátria agradecida vai

A todo esse trabalho enaltecer,

É o Quinto que vai

Se Sem temor, sem parar...

Hurra!

Imagem atual do quartel do 5º Batalhão de Engenharia e Construção, que desde 1999 recebeu a denominação de Batalhão Cel. Carlos Aloysio Weber. (Fonte: 5º BEC

- 5° BEC - Batalhão Cel Carlos Aloysio Weber

Fonte:www.5becnst.eb.mil.br.

30 de julho de 2011-5º BEC 46 anos
Flávia Weber descobriu o busto de
seu pai, coronel Carlos Aloysio Weber

Foi criado pelo Decreto Nr. 56.629, de 30 de julho de 1965, com sede em Porto Velho-RO, pela extinção do Batalhão de Serviços de Engenharia, de Campina Grande-PB, e da Comissão de Estradas de Rodagem Nr. 5 ( CER/5 ), de Cuiabá-MT. Instalou-se em dezembro de 1965 no Parque-depósito Central de Material de Engenharia, Triagem/GB. Deslocou-se para Porto Velho, onde se instalou definitivamente em 20 de fevereiro de 1966, recebendo os acervos do Batalhão de Serviços e da CER/5, com sede em Cuiabá-MT, ambos extintos. Em Porto Velho, ficou com a Cia Cmdo e a Cia Eqp Eng, instalando suas Cia E Cnst, respectivamente: 1ª Cia em Rondônia, 2ª Cia em Abunã e 3ª Cia em Rio Branco-AC. Instalou, também, residências Especiais em Cuiabá-MT e Parecis-MT. Em 26 de setembro de 1966, recebeu os encargos administrativos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, que a RFFSA passou para a Diretoria de Vias de Transportes. Instalado em Rondônia desde 1966, o 5° B E Cnst, pioneiro da Engenharia do Exército na Amazônia, já implantou mais de 1.600 Km de rodovias federais em revestimento primário. Dentre o acervo de suas realizações figura a consolidação da ligação Porto Velho - Cuiabá, através da construção da BR 364. Atualmente desenvolve, através de convênios com órgãos federais, estaduais e municipais diversas Obras de Capital importância para o desenvolvimento e manutenção do progresso na Amazônia.

- O Pioneiro Sargento Áureo

Fomos até a residência do Sgt Áureo, um dos pioneiros do 5° BEC, para uma rápida entrevista. O portão de sua casa ostenta a bandeira nacional e no jardim um mastro onde são hasteados diariamente, com a participação dos familiares, os pavilhões do Brasil e de Rondônia. O Áureo nos recebeu, impecavelmente fardado, e contou sua história de vida e alguns casos hilários de sua passagem pela Força Terrestre, que reproduziremos em parte.

Meu Coronel, com sua permissão, meu Coronel!

Nasci em Cruzeiro, onde, nos 7 de setembro, o 5° Batalhão de Infantaria - Regimento Itororó, da cidade de Lorena, SP, desfilava. Assistindo aos desfiles fui sendo contagiado pelo entusiasmo e vibração dos soldados do nosso Exército Brasileiro.

Mais tarde minha família mudou-se de Cruzeiro para Lorena. Nesta cidade tive a oportunidade de me aproximar do Batalhão. Todos os dias, por volta das onze horas, eu ia até o Quartel onde companheiros mais velhos já estavam servindo. Passei então a ser um “boca de rancho”, almoçava com os militares e depois da refeição ajudava lavando as panelas.

Quando chegou minha idade de servir eu já conhecia todos os oficiais do Batalhão. Foram eles que, gostando do meu trabalho, me incentivaram a servir no então 5° Regimento. Fiz meu alistamento, inspeção de saúde e me saí muito bem, naquela época eu já praticava artes marciais. Alistado fui destacado para a Companhia de Petrecho Pesado e destacado para o rancho da OM (Organização Militar), meu velho conhecido, e volta e meia executava algum trabalho na residência dos oficiais até ficar, definitivamnete, à disposição do General Ernani Moreira de Castro e responsável pelo Salão Nobre do Regimento.

Um dia o General Túlio me chamou e disse que, infelizmente, meu tempo de serviço estava terminando, na época nove anos, e que para eu permanecer na Força precisava ser transferido para o 5° BEC, comandado pelo Coronel Carlos Aloysio Weber, onde eu teria o privilégio de participar efetivamente do desenvolvimento da Amazônia. O General Túlio redigiu uma carta de apresentação para ser entregue ao Coronel Weber e na minha despedida determinou que eu me dirigisse à tropa formada pelos meus pares e subordinados:

Meus Cabos e Soldados!

O exército é um só “um por todos e todos por um”. Cheguei à minha graduação de Cabo graças ao empenho dos senhores que permitiram que eu levasse a bom termo todas as minhas missões e a sabia orientação de meus superiores. (...)

Logo em seguida o Comandante me entregou uma placa de bronze do 5° RI e determinou que eu desse meu último comando e me despedisse.

Atenção a Companhia, Companhia Sentido!(...)

Atenção a Companhia, em continência à sua Excelência, General Ernani, Apresentar Armas!

Com licença Excelência, sinto-me honrado e satisfeito de apresentar-me a Vossa Excelência, meu comandante do 5° RI, Lorena, com muito entusiasmo e vibração.

Cabo 149 Áureo, Cabo de Ordens a Vossa Excelência, peço permissão para retirar-me e dar-lhe um último abraço já que estou indo para Porto velho, RO, trabalhar no desenvolvimento da Amazônia. (...)

Preparei meu material e embarquei em um Búfalo, da Força Aérea Brasileira, com escala no Rio de Janeiro e depois direto para Cuiabá. Lá apresentei a tropa ao Cel Weber, e conheci o Cel Aquino, Major Tibério e o Capitão Pastor.

Áureo acompanhou o Cel Weber na camionete veraneio, sempre à frente do comboio. O primeiro grande obstáculo que encontraram, depois de três dias, foi nos areais de Vilhena onde foi necessário construir pinguelas para poder continuar a jornada. Em Barracão Queimado os bueiros construídos precariamente com tambores de combustível tinham sido levados pelas águas das chuvas. Em alguns lugares foi necessário improvisar balsas para a transposição de cursos d’água, a chamada estrada era apenas um precário e improvisado caminho de serviço. Depois de uma odisséia de 21 dias o 5° BEC, finalmente chegou a Porto Velho. Logo após a chegada em Porto Velho o Cel Weber e o Major Tibério, Chefe da Seção Técnica, partiram para uma missão de reconhecimento mais acurada da BR 364 acompanhados pelo Cabo Áureo.

- Sargento Áureo e a Onça do Comandante

O Cel Weber conseguiu uma onça e determinou que eu tomasse conta dela. Eu ia até o rancho e conseguia um pedaço de fígado ou de rim e alimentava o animal. Depois de dois meses a onça já me conhecia e permitia que eu entrasse na sua jaula sem problemas. Seis meses depois de capturada, no mês de agosto, entrei na gaiola e a onça estava meio alvorotada, quando coloquei a comida ela levantou a pata rosnando e eu resolvi sair devagarzinho olhando nos olhos dela e conversando com a bichana, sem virar as costas, rumo ao portão. Se eu virasse ela certamente me atacaria. Quando cheguei ao portão, para sair, ela deu o bote, como faço karatê meu Coronel, dei um golpe no pescoço dela e a onça caiu dura e ficou estremecendo no chão.

Chamei o Tenente veterinário e contei a ele o que havia acontecido dizendo que tinha dado uma batidinha no pescoço dela.

- Uma batidinha?

- Sim senhor.

O veterinário examinou cuidadosamente o animal e disse que ela estava com uma vértebra quebrada além de hemorragia interna. Fiquei alarmado, seria expulso do Quartel, era para tomar conta da onça e acabei matando o bicho. Procurei o Cel Weber para explicar o acontecido.

- Cabo Áureo, quer dizer que não teve jeito.

- Meu Comandante infelizmente eu peço o seu perdão. A onça veio para cima de mim e eu ao me defender bati com a mão no pescoço dela.

- Não tem importância, vamos partir para outra.

- Sargento Áureo e o 5° que vai

No Batalhão tinha um Soldado grande, forte, negro que nem carvão, no escuro só apareciam os dentes. Um dia ele passou na frente da “Casa da Anita”, onde as mulheres eram todas de fora, gringas de pele clara e olhos azuis, e entrou. O estabelecimento tinha umas mesas compridas colocadas uma ao lado da outra e o Negro avistou uma gringa solitária que deveria estar esperando um parceiro e sentou-se do lado dela. A mulher olhou para aquele negro enorme e perguntou o que ele queria ao que ele respondeu que queria ficar com ela e a mulher enraivecida disse:

- O que, seu chiclete de onça?

Ele deu-lhe um tapa no rosto e os outros frequentadores botaram-no para fora. Depois de o identificarem como praça do 5° BEC chamaram a patrulha que era comandada por mim. Cheguei logo em seguida, atirei o Soldado na caçamba, e perguntei:

- O que é que houve?

- É que eu dei uma paradinha na Anita para fazer um amor e se deu a confusão.

Duas semanas depois ele voltou à Casa e disse ao entrar:

- Eu estou aqui novamente, mas hoje eu não quero ficar não.

- Hoje é o 5° que vai.

Entrou chutando as mesas e as cadeiras e dando porrada em todo mundo que encontrava no caminho enquanto as mulheres, em pânico, o xingavam. Chegando ao fundo da sala ele voltou dizendo:

- Agora é o 5° que vem.

E voltou chutando e batendo como o fizera na entrada.

- Sargento Áureo e as Três Marias

Eu estava plantando grama nos canteiros do Pavilhão de Comando do Quartel do 5° BEC. Uma equipe de vinte homens retirava grama e outra, com mesmo efetivo, plantava. Carregava a grama e despejava, de caçamba, no Batalhão para a equipe encarregada de plantar, quando comecei a notar que o serviço de plantio não estava rendendo. Um dos guerreiros encarregados do plantio se aproximou e explicou:

- Cabo, quando o senhor volta para pegar mais grama os soldados pulam a cerca da Vila Tupi, onde tem um mato maior, para se encontrarem com a Maria Batalhão, Maria Regimento e Maria Mela Cocha e ficam na maior festa, beija daqui, encosta dali.

Sabendo o que estava acontecendo, joguei a grama para os plantadores e fingi que ia trazer mais uma carrada, que, em média, demorava quase meia hora. Voltei antes e peguei a soldadesca no flagrante.

- Opa! Alto lá! Sentido! Então eu trabalhando duro e vocês soldados e as senhoras aí na maior sacanagem. Não é possível. As senhoras têm de entender que o meu pessoal está trabalhando. Eu tenho uma missão a cumprir, não compliquem minha vida. O sentido da coisa é o seguinte, as senhoras querem “fuder”, não querem? Então, vamos fazer o seguinte: Todas as três para a boleia (cabine) da caçamba.

- Ai Cabo o senhor tá nervoso.

- Mas eu tenho que estar, eu saio para trabalhar e vocês ficam atrapalhando meu serviço. Atenção equipe de plantio, equipe embarcar!

Embarcaram os vinte soldados na carroceria e dirigi até a granja do Batalhão onde tem um mato grande.

- Ai Cabo para onde o senhor vai nos levar.

- Não se preocupem vocês vão para o Hotel das Estrelas!

Ao chegar determinei que as senhoras desembarcassem, ocupassem posições estratégicas e se posicionassem adequadamente para o ato. Dirigi-me aos Soldados embarcados e comandei:

- Ordem ao grupamento desembarcar! Coluna por três, cobrir!

- Atenção as senhoras, permaneçam na posição correta, por favor. Os Soldados vão dar uma “trepadinha” com as senhoras. Atenção quem vai com a loura aqui, quem vai com a morena coluna ali e quem vai com a morena mais escura acolá.

- Ordem ao grupamento retirar o calção! Atenção preparar a “bicuda”! Ordem ao grupamento começar!

- Cabo quem foi com a morena pode ir com a loura, quem foi com a loura pode ir com a morena mais escura e quem foi com a morena.

- Atenção outra coluna, revezamento!

O pior Coronel é que a noite as três estavam a postos para mais uma jornada de trabalho.

- Livro

O livro “Desafiando o Rio-Mar - Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS - PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic - Colégio Militar de Porto Alegre. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:

http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Vice-Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Blog: http://www.desafiandooriomar.blogspot.com

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

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