terça-feira, 24 de janeiro de 2012

MANOEL DO NASCIMENTO - "O MANECO DA FARMÁCIA"

Por ILIVALDO DUARTE

Dia 20 de janeiro a folhinha marcou o "Dia do Farmacêutico". Para homenagear a classe, estamos de volta com a tradicional ENTREVISTA DE DOMINGO e homenagem ao mais experiente farmacêutico em atividade em Campo Mourão. É o conhecido Manoel do Nascimento, o "Maneco da Farmácia" - na foto ao lado da sua esposa Lori.

Membro fundador do Rotary Club de Campo Mourăo e da Santa Casa de Misericórdia, Maneco atua a 56 anos no setor farmacêutico e com 74 anos ainda trabalha, atualmente na Farmácia Catedral, no centro da cidade. Nascido em Guarapuava, em 6 de julho de 1938, veio para a região de Juranda, e depois tentou a sorte em Campo Mourão. “Enquanto criança, criado na roça, eu trabalhava e tive uma infância sofrida. Desfiava a palha das espigas, alimentava os animais com milho debulhado na mão e cortava lenha com o machado. Não completei os estudos porque no interior de Guarapuava, onde eu morava, não tinha escola. Quase não me sobrava tempo para brincar”, conta.
Maneco é um dos fundadores do Clube 10 de Outubro e participou da Fundação do Rotary Club Campo Mourão, do qual ainda é sócio e participa. "Campo Mourão é uma cidade muito boa de se viver, é uma cidade tranquila. Sou amigo de todo mundo e só não me conhece quem nunca tomou injeção”, diz com satisfação.
Boa leitura, conhecendo ou relembrando um pouco da história deste cidadão simples, simpático, sensível e entusiasta que gosta das coisas certas e do que faz. Um exemplo a ser seguido. Gente da nossa terra, gente de valor.

QUEM É MANOEL DO NASCIMENTO?
Nasci no dia 6 de julho de 1938, sou filho primogênito de Maria Joana do Nascimento, que casou com o lavrador João Cândido Ferreira e tiveram mais quatro filhos: Júlio, Helena, Amélia e Salvador. Eu queria aprender e ser alguém na vida. Na comunidade São Francisco, em Guarapuava, moravam o farmacêutico e homeopata, Roldão Batista Braz e sua esposa, professora Helena Connor Braz, com os quais passei a residir e a trabalhar. Eles me adotaram e me registraram como filho legítimo. Cheguei à região, em Juranda, com meus pais e um irmão adotivo, no início de 1949, com 11 para 12 anos de idade. Lembro-me que existiam muitos animais selvagens, boa caça e cobras peçonhentas em quantidade. As mais comuns e venenosas eram a Cascavel e a Urutu-Cruzeiro.
O SENHOR É CASADO. QUANTOS FILHOS E NETOS TEM?
Sou casado com Lorí Goeettl desde 22 de julho de 1961, temos três filhas – Márcia, esposa de Olivaldo José dos Santos, Marisa (Assistente Social) casada com Diego Unicas Dias e Maristela, solteira, acadêmica de Medicina Veterinária do CIES. Temos quatro netos – Mariel, Mariane, Felipe e Luíza, e um bisneto Lorenzo.

O neto Mariel e o bisneto Lorenzo

COMO FOI A SUA INFÂNCIA?
Tive uma infância difícil em Guarapuava. Enquanto criança, criado na roça, eu trabalhava e tive uma infância sofrida. Desfiava a palha das espigas, alimentava os animais com milho debulhado na mão e cortava lenha com o machado. Não completei os estudos porque no interior de Guarapuava, onde eu morava, não tinha escola. Quase não me sobrava tempo para brincar. Vim mocinho com a família Braz, que me adotou, para desbravar o sertão de Juranda. A família Braz lidava com safras de porcos que se criavam soltos. Plantaram os primeiros pés de café. As filhas: Rute casou com o pastor Higino Bento dos Santos e Odila com Elias Pinto Portugal (Ioio), que mais tarde residiram em Campo Mourão. “Trabalhávamos duro, de sol a sol, derrubando a mata no machado e serra manual”. Helena e Roldão deixaram Guarapuava movidos pela saudade dos filhos. Adquiriram 100 alqueires de terra em Juranda e abriram a “Fazenda Salmo 23”. Dali para Campo Mourão foi um pulinho. Aqui tentei a sorte e venci.
O SENHOR ESTUDOU ATÉ QUE ANO?
Estudei até o terceiro ano primário na escola em que dona Helena lecionava. Íamos juntos para a escolinha, não prossegui nos estudos porque logo comecei a trabalhar.
QUANDO PASSOU A TOMAR GOSTO PELA ÁREA DE FARMÁCIA?
O “seo” Roldão Braz manipulava remédios homeopáticos e os vendia em Guarapuava. Eu ajudava, quando então comecei a tomar gosto por farmácia, cuidar da saúde das pessoas e ganhar meus primeiros trocados. Fui incentivado pelo meu pai adotivo Roldão Braz e por Osvaldo Wronski.

QUANDO CHEGOU A CAMPO MOURÃO?
Em 1955 tentei a sorte em Campo Mourão. Queria minha independência, vim com o cobrador de ônibus, Nilo, que fazia a linha Campo Mourão/Ubiratã pela poeirenta estrada (hoje-BR-369). Quando chovia, parava tudo. O centro da cidade de Campo Mourão se resumia na praça com algumas casas de madeira em volta, que dava para contar nos dedos. Hospedei-me no antigo casarão do Hotel Paraná, que também era restaurante e salão de baile. A cidade mais se parecia com uma vila. Nada de conforto, sem pavimentação asfáltica, a luz elétrica era fraca gerada por um motor a diesel que ficava estacionado lá na Usina.
CONTE-NOS MAIS ALGUMAS CURIOSIDADES DA CIDADE NAQUELA ÉPOCA?
Cheguei aqui jovem e solteiro. Conheci os farmacêuticos Antonio Lourival Borba, da Farmácia Santo Antonio - ao lado da Relojoaria Fuchs-, o Valdemar Roth, da Farmácia Luz e o Nilo Ragugnetti. O Bar Caiçara do Hamilton Gonçalves era o mais movimentado e na madrugada servia uma canja de galinha especial aos boêmios. O melhor sorvete e frapê com coca-cola, preparado pelo Chafic, era do Bar do Malluf, ao lado do Cine Império, por ali onde está hoje a Tapovic. Tinha também o Bar Pinguim, muito bom, do Elói Leão, onde está o Banco Itaú, que ficava ao lado do Cine Mourão. Nesse tempo tinha o “Clube Operário 1º de Maio”, onde está a sede da Comcam/Acamdoze, que logo acabou. Foi quando começaram a construir o “Clube 10 de Outubro”, um enorme casarão de madeira, presidido, pela primeira vez, pelo Juiz de Direito, doutor Sinval Reis. O novo clube lotava e dava bailes super animados. Deram início a urbanização da “Praça Getúlio Vargas”, que antes se chamava “Praça 10 de Outubro”, onde estava o primeiro campo de jogo de futebol, na pura terra.

QUAIS FORAM OS SEUS EMPREGOS?

Meu primeiro emprego e salário ganhei como frentista e lavador de carros no Posto Brasil Esso (atual Pingo d’Água), na esquina da Rua Araruna com a Avenida Irmãos Pereira. O segundo emprego foi de balconista comissionado na Loja Aparecida (atual Loja Nunes), com Nicolau e Nabi Assad. A moda na época era chapéu Prada, Ramezoni e Panamá. Camisas 3 Patinhos, Volta ao Mundo, Ramezoni e cuecas “samba canção”. O terceiro e mais duradouro emprego, por 13 anos onde me aprimorei como prático farmacêutico foi na Farmácia América, no sobrado comercial do Osvaldo B Wronski, ao lado do Edifício Alvorada, perto da antiga Pelicano, que depois foi Morifarma, a qual eu adquiri mais tarde. As primeiras farmácias quando cheguei a Campo Mourão eram a do Nilo Ragugnetti na Rua Araruna (Hidrobombas) e a do Valdemar Roth (Farmácia Luz) na esquina da Rua Roberto Brzezinski (antiga Rua Curitiba) com a Avenida Manoel Mendes de Camargo, que depois foi comprada pelo João Seratiuk.
E A SUA PRIMEIRA FARMÁCIA, QUANDO E COMO FOI?

Em 1969 inaugurei a Farmácia Estrela, em sociedade com Antonio Malluf, no térreo do Edifício Mourão. Então, em 1975, abri a sociedade e fiquei como único proprietário. Vendi a Farmácia Estrela ao Guilherme Campos Martins – Tio do Ilivaldo Duarte – e comprei a Morifarma em sociedade com o Paulo Passos. Em 1980 inaugurei a CAMPOFARMA em frente ao Hospital Bom Jesus, na Avenida Manoel Mendes de Camargo, que mantive até 1996 quando passei a trabalhar na Farmácia Nova dos amigos Tereza e Haru. Eles posteriormente abriram a Farmácia Catedral, no centro de Campo Mourão, onde trabalho atualmente.

O SENHOR É UM DOS FUNDADORES DE VÁRIAS ENTIDADES NA CIDADE?
Sim, sou um dos fundadores do Clube Social e Recreativo 10 de Outubro. Não só participei da fundação como ajudei a carpir o mato da quadra ali onde ele está, serrei muita madeira para erguer a construção, uma das primeiras coberta de telhas. Na segunda gestão do presidente Domingos Maciel Ribas, foi iniciada a construção do prédio em alvenaria, que ali permanece até hoje, em seu projeto arquitetônico original. Não pertenço mais ao quadro social, nem mesmo com o reconhecimento de sócio-remido. Depois que me casei, nunca mais fui convidado a participar de qualquer evento naquele clube, assim como tantos outros fundadores relegados ao ostracismo. Há mais de 30 anos participei da Fundação do Rotary Club de Campo Mourão, ao qual sou afiliado até hoje e participo ativamente sempre que o tempo me permite.

Sou um cristão temente a Deus e frequento a minha igreja evangélica – Presbiteriana do Brasil – religiosamente, com a minha família. Participo e ajudo em tudo que posso na área social. Contribui muito com as creches, com o Asilo São Vicente de Paula e com a Santa Casa de Misericórdia, principalmente quando empresário e, atualmente, sempre que minhas posses permitirem.

QUAL SEU ESPORTE PREFERIDO E TIME DO CORAÇÃO?
Futebol: sou santista e vi o Santos jogar em Campo Mourão, aos 17 anos, contra o CAFE de Cianorte no estádio RB.

POR QUE O NÚMERO TÃO GRANDE DE FARMÁCIAS E QUANTAS TÊM EM CM?

Está muito desgastante e diferente dos tempos antigos. Há muita concorrência desonesta, temos mais de 50 farmácias entre as de manipulação e hospitalar.

SER ROTARIANO É...
É motivo de muita honra, participo desde a fundação do Rotary Campo Mourão, o mais antigo da cidade.

Ao lado de Ademar Batista de Melo, companheiro do Rotary Campo Mourão e governador do Distrito 4630 no ano rotário de 1991/92.

QUAL PROJETO GOSTARIA DE REALIZAR QUE AINDA NÃO ACONTECEU?
Se pudesse voltar no tempo, jamais teria o vício de fumar.
CITE PERSONALIDADES (FORTE DO ESPORTE) EM CAMPO MOURÃO?
Itamar Tagliari, Rosinha do Banco do Brasil, Francisco José Filho, o “Gordinho”.
A CAMPO MOURÃO DO PRESENTE É...
Uma cidade acolhedora...
A CAMPO MOURÃO DO FUTURO SERÁ?
Uma grande cidade depende das administrações.
CAMPO MOURÃO É...
Uma cidade que amo, onde nasceram minhas filhas e a maioria dos meus netos. Vivo feliz com a minha família e tenho milhares de amigos. Campo Mourão é uma cidade boa e vai ficar melhor ainda. Campo Mourão é uma cidade muito boa de se viver. Ganhou modernidade, organização administrativa e sentiu um grande impulso na gestão do prefeito Milton Luiz Pereira. Daí pra frente seus sucessores só tiveram trabalho de dar continuidade com altos e baixos. Campo Mourão é uma cidade tranquila. Sou amigo de todo mundo e só não me conhece quem nunca tomou injeção.

Os agradecimentos do Blog aos historiadores Pedro da Veiga e Wille Bathke Júnior, pela importante colaboração para a publicação desta ENTREVISTA DE DOMINGO.
Fonte: Blog do amigo Ilivaldo.

4 comentários:

Adoniran disse...

Mais uma iniciativa feliz do Pedro da Veiga e do Ilivaldo em apresentar uma pessoa,um ser humano de relevancia na história de Campo Mourao.Como mesmo disse Maneco,"só nao me conhece quem nunca tomou injeçao".Sou contemporaneo ao Maneco,e,como ele,sócio remido e fundador do 10 de outubro,que alguém fez com que virasse propriedade particular?Lembro-me bem,eu nao tinha completado ainda 18 anos,podia entrar no 10 com a açao do seu Miguel,meu pai,mas o seu Domingos insistiu,e comprei a prestaçao minha açao.De repente,fica propriedade de meia dúzia,vendem o patrimonio, e os sócios,como ficam????Isto Campo Mourao tinha que investigar.Mas,parabéns Maneco,Deus o tenha sempre o bom amigo que sois.

TININHO disse...

A primeira injeção que tive de tomar foi aplicada pelo Maneco, isto lá pelos anos de 1956/58. Eta Maneco véio, continua o mesmo, pessoa alegre e amiga. O meu pai Faustino, sempre em casa comentava do amigo Maneco da farmacia. Abração Maneco.

Adoniran disse...

Vendo mais atentamente uma das fotos do maneco,no balcao da farmacia america,com o oswaldo wronski,lembrei que neste mesmo balcao foi onde o paulinho gordo(o garçon do 10,o homem que caiu no poço etc) acendeu uma bomba que o sergio miguel tinha preparado.Explico e fui testemunha ocular:estávamos no caiçara,tomando caipirinhas como sempre,e o sergio miguel e o kfuri,acenderam uma bomba do tamanho de uma dinamite,mas na realidade era um traque metido numa massaroca de papel;todo mundo correu pra fora do bar,e a esperada explosao nao ocorreu,só foi o som do traque.Aí o Paulinho pediu ao sergio miguel uma igual para soltar na farmacia do oswaldo.Só que o sergio entregou a ele uma pura,uma bomba autentica e coorrelata ao seu tamanho.Vai o Paulinho,acende,joga no balcao da farmácia e fica esperando o som do traque.Só que a explosao foi de dinamite.Oswaldo chamando policia,Paulinho correndo tanto que dava para jogar truco no seu paletó,vidros quebrados das vitrinas.É uma das passagens que este mortal presenciou em campo mourao.E hoje o sergio miguel é tao serio...será??????

Alessandro ( Joao Lucio) disse...

Olá muito legal ver essa historia pois meu pai tbem faz parte dela.. na terceira foto ele é o que ta agachado e chama-se João Lucio começou a trabalhar em farmacia com o maneco , estavamso aqui conversando fui ver se achava algo e vi a materia.. Muito legal mesmo até hj meu pai trabalha com farmacia e eu segui os passo s dele ... tudo isso graças ao Sr Maneco.. Obrigado