terça-feira, 4 de agosto de 2009

Extinção das Escolas Especiais-MANIFESTO DE JOSÉ TUROZI

Está nas mãos do senhor Ministro da Educação Fernando Haddad, o parecer CNE-13/2009, o qual estabelece a matrícula obrigatória dos alunos com deficiências mentais, transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação nas classes das escolas comum do Brasil.
Somente o fato de estabelecer obrigató
ria, já nos faz refletir se estamos vivendo em uma sociedade realmente democrática. O Conselho Nacional de Educação não considera os interesses das famílias e das pessoas com deficiências, e, em nome da inclusão decide que o melhor lugar para a pessoa com deficiência mental é na classe comum, colocando assim as famílias, as pessoas atendidas e as entidades como meras expectadoras das mudanças que afetarão seus direitos e liberdades fundamentais. As pessoas, as entidades e as famílias não foram ouvidas e não opinaram a este respeito, então a decisão do CNE é unilateral.
Não se pode promover uma inclusão escolar plena a qualquer preço, e por decreto, inclusive à custa da extinção das Escolas Especiais do país, como se isso fosse a garantia de que as pessoas com deficiências teriam ali a verdadeira educação inclusiva. A Escola Especial funciona legalmente amparada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em vigor. Extingui-la não garante o sucesso da inclusão, nem tampouco a qualidade da educação devida às pessoas com deficiência.
Segundo dados do próprio MEC, informações oficiais retiradas do Censo Escolar de 2007, apenas 18% das escolas públicas no Brasil têm banheiros adaptados a deficientes, 12% apenas possuem rampas e acessos adequados.
Ora, se as escolas públicas não possuem nem acessibilidade a pessoas com deficiências físicas (cadeirantes e outros), como irá atender ainda as pessoas com deficiência vis
ual (cegas) e auditiva (surdas), que precisam de bibliotecas e materiais suficientes na linguagem Braile, professores intérpretes na linguagem de libras, e, qual será o tipo de atendimento que uma pessoa com deficiência mental terá em uma escola comum?
Das 25,5 milhões de pessoas com deficiências no Brasil (dados do IBGE), as APAEs atendem menos de 400 mil pessoas. O MEC deveria conhecer melhor as Escolas Especiais e o tipo de atendimento que é oferecido. O atendimento é especializado e muitas das escolas das APAEs foram construídas com dinheiro da comunidade e sem dinheiro público. Então porque o MEC não se torna um grande parceiro da Educação Especial?
O discurso do CNE e do MEC, é que as APAEs segregam e criam nichos segregatórios, e que assim não fazemos inclusão. Discordo veementemente, pois temos dados e
statísticos no Paraná, por exemplo, nos últimos 5 anos(2004 a 2008) as APAEs do Paraná, incluíram no ensino comum cerca de 3.984 educandos e colocaram no mercado de trabalho cerca de 1.668 alunos que foram trabalhados na Educação Profissional das Escolas Especiais mantidas pelas APAEs. Tivemos também o regresso às APAEs de 394 alunos que não adaptaram-se à escola comum.
O MEC não conhece os resultados da Educação Especial realizada pelas ONGs. Seria muito bom que o Ministério da Educação divulgasse os seus dados estatísticos e indicadores de pesquisas oficiais que demonstrem para a sociedade que a inclusão na sala comum garante a aprendizagem e a participação de todos.
Fazer inclusão, não é apenas estar na Escola, é oferecer atend
imento educacional e total à pessoa com deficiência, desde a infância, adolescência, idade adulta e amparo na velhice. É isto que as APAEs fazem, e com certeza farão sempre melhor, com apoio das esferas de Governo.
As APAEs não são inimigas do MEC, são parceiras, assim como as Pestalozzis, Escolas Especiais de Cegos, Escolas Especiais de Surdos, que em milhares de estabelecimentos no Brasil, construíram há mais de 50 anos a Escola de Educação Especial, que pode não ser ainda o lugar ideal,
mas o espaço necessário para que as pessoas com deficiências tenham um atendimento educacional e profissional adequado com todo o respeito e a dignidade que toda pessoa humana merece.
A inclusão social e educacional é necessária e precisa ser construída com o diálogo com as famílias que também é comprometida com a educação dos seus filhos, segundo nossa Carta Magna. Há ainda que respeitar os direitos de ir e vir dos cidadãos garantidos pela Constituição Federal.

Assim, esperamos que haja sensibilidade e coerência do Senhor Ministro da Educação, antes de homologar o parecer, pois milhares de famílias estão angustiadas e apreensivas com o futuro de seus filhos.

José Turozi
Presidente da Federação das APAEs do Paranáfoto - blog do Ilivaldo Duarte
Fonte: Coluna do Ely

2 comentários:

carla renata disse...

Eu concordo plenamente com José Turozi, pois meu filho tem "apenas" DISLEXIA E DEFICIT DE ATENÇÃO, é excluído de atividades com colegas e alguns professores jurássicos não dão o devido atendimento, por falta de informação e formação adequada! Devemos levar tudo isso a público e pedir para que seja votado pela população que é a maioria e não uma minoria que gosta de opinar e baixar regras pelo que desconhece!
Brasil mostra tua cara e bota a boca no mundo!!!!!
Renata

Anônimo disse...

Sou professor especializado do Estado do Ceará e estou assistindo perplexo a toda essa irreponsabilidade e falta de compromisso em achar que vai resolver tudo numa canetada. Dá pra ver da Lua que isso vai terminar em exclusão e quebra de um processo construído a duras penas dia-a-dia em sala de aula. Para alguns alunos ou famílias poderá ser tão traumático ao ponto de não haver como retroceder. No fundo mesmo é mais uma medidida simplista visando "economizar" recursos, na contramão do investimento que deveria haver. Poucas são escolas regulares que conseguem atender às necessidades dos alunos ditos "normais". Não é só contruindo rampas que se resolve o problema. Está claro que 2010 é a transição para a extinção das escolas especiais em 2011. Parabéns, Lula!
prof.casimiro@hotmail.com