É também realçada como uma espécie de analgésico a aprovação da PEC 379/09, que tramitava anexada à do aumento do número de vereadores. Ela manda reduzir de 5% para 4,5% do orçamento municipal o dinheiro que as prefeituras são obrigadas a gastar com as câmaras. A medida pode significar uma economia de R$ 1,4 bilhão em seu primeiro ano, segundo cálculos dos patrocinadores desse monumental trem da alegria disparado na contramão do bom senso. Mas, gato escaldado, o contribuinte já perdeu há muito tempo a ingenuidade e sabe que essa limitação – como todas que tratam de gastos de recursos públicos – não resistirá mais do que um ano. A sanha ampliadora de vagas de vereadores é uma reação dos políticos a uma decisão saneadora do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, em 2004, mandou dar um basta à verdadeira farra em que tinha se transformado o crescimento das câmaras municipais. O tribunal mandou cortar mais de 9 mil vagas para adequar o número de vereadores aos ditames da Constituição Federal.
Desde então, o Congresso vem sendo pressionado por milhares de suplentes de vereador para passar uma lei recuperando as vagas perdidas. Militantes mais próximos das bases eleitorais dos deputados e senadores, esses políticos municipais são cabos eleitorais preciosos que, com a PEC, passarão a ter remuneração paga pelos cofres municipais. Só isso explica a velocidade que a tramitação da matéria ganhou neste ano pré-eleitoral: não faz 40 dias que passou pelo Senado e já vai ao plenário da Câmara, com total possibilidade de aprovação. Mas, até agora, ninguém levantou se a medida é mesmo necessária. Em longa série de reportagens, o Estado de Minas revelou, há menos de dois meses, que, na maioria dos municípios mineiros, especialmente nos de pequeno porte, as câmaras se reúnem no máximo uma vez por semana e, assim mesmo, apenas para carimbar, sem discussão, os projetos do prefeito. É claro que na Câmara dos Deputados e no Senado ninguém pesquisou o que pensam aqueles que vão pagar por mais essa farra. O mais provável é que já saibam a resposta e, por isso, não querem ouvi-la.Editorial O Estado de Minas
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