sábado, 22 de setembro de 2012
A GRANDE BROCHADA
Por
Luciano Pires in Café Brasil–indicação de Jurema Cappelletti
Estamos
vivendo um momento importante na história do Brasil com o julgamento do
Mensalão. Surpreendentemente os nobres juízes estão condenando cada um dos
réus, demonstrando a independência que precisamos para que a república funcione
como deve ser: de forma justa. E começa agora a fase do julgamento onde o bicho
vai pegar: os réus do núcleo político começam a ser julgados. Em especial José
Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, a trinca de figurões do PT.
O
retrospecto do julgamento não é bom para os réus. A manter-se a lógica, teremos
uma condenação histórica que servirá como uma lição para a sociedade
brasileira, de que o poder não é absoluto e de que ainda há juízes em Brasília.
Mas é outro retrospecto que me incomoda.
Em
minha palestra O Buraco da
Fechadura trato do jeitinho brasileiro, nossa maior qualidade e maior defeito
ao mesmo tempo. E mostro que o Brasil tem uma história repleta de anjos e
demônios, fazendo um retrospecto de certos fatos recentes:
Em
1984, fomos às ruas com mais de 300 mil pessoas pelas Diretas Já, o nosso anjo
salvador. Entusiasmados vimos o demônio da Câmara não aprovar a emenda.
Brochamos.
Em
1985 elege-se o primeiro presidente civil após anos de governo militar:
Tancredo Neves, o anjo salvador. E vem o demônio para matá-lo antes da posse.
Brochamos.
Assume
José Sarney, que lança o anjo sob a forma do redentor Plano Cruzado. Que logo
vira o demônio dos oitenta e seis por cento de inflação ao mês. Brochamos.
Aí
vem a Constituinte. O anjo Ulisses Guimarães conduz o povo às ruas e a gente
muda tudo. Para ver o demônio nos dar uma montanha confusa de leis que tornam o
país quase inviável. Nova brochada.
Surge
então o anjo salvador: Fernando Collor de Mello. Que vira demônio e dá no que
deu. Brochamos.
Então
vem FHC, o anjo que coloca o país nos trilhos em seu primeiro mandato, para
virar o demônio do segundo, abrindo caminho para a oposição. Nova brochada.
E
então chega Lula, o anjo e seus comerciais. E traz com ele o demônio do
Mensalão, da corrupção institucionalizada. Brochamos mais uma vez...
Que
coisa! Parece sina: grandes mobilizações populares criando uma expectativa
imensa que é depois transformada em decepção. E olha que eu só comecei em 1984.
Se olhar antes tem mais.
Por
isso estou acompanhando o julgamento do Mensalão com um entusiasmo contido.
Comemoro cada pequena vitória, mas controlo imensamente minhas expectativas
sobre o que vem pela frente. Enquanto lidaram com banqueiros, assistentes e
políticos de menor expressão nossos juízes aplicaram a lei como deve ser. Mas
chegou a hora dos tubarões e a partir de agora minha expectativa é zero.
Não,
não é pessimismo. É apenas um pequeno truque que aprendi com o pioneiro da
ciência da informação Saul Gorn, que um dia disse: “Sempre espere ficar desapontado. E você não ficará”. To me poupando
de outra grande brochada.
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