domingo, 9 de setembro de 2012

"UM CERTO GALILEU"

Versão ampliada da música 
"Um certo Galileu"
PE. ZEZINHO
Pe. Zezinho - Por que servir a Igreja
Amigos e adversários me perguntam por que sirvo à Igreja Católica, ontem e hoje tão controvertida. Isso mesmo, e já são quase cinquenta anos. Respondo que controvérsia existe por toda a parte. Se tivesse escolhido ser político ou servir algum exército verde ou vermelho também a encontraria. Além do mais, nutro a convicção de que sirvo é a Deus e ao meu povo e faço isso em uma instituição chamada Igreja Católica.
Ao escolher a vida que vivo, escolhi o sinal, a provocação, a controvérsia, mas também o diálogo, o estudo, a prece, a convivência e a paz. De alguma forma, sou mestre e sou visto como mestre. Se outros quiseram ser mestres em história, sociologia, filosofia, medicina, ciências biológicas ou políticas, eu quis ser um eco de Jesus; portanto, catequista e mestre de espiritualidade, o que não me parece coisa pouca nem pequena.
De homens e mulheres que assumiram crer e ensinar espiritualidade nasceram hospitais, creches, asilos, orfanatos, universidades, grandes obras de filantropia, grandes livros, grandes estudos, grandes descobertas, o processo civilizatório da Europa, da América Latina e de boa parte de outros continentes. Houve erros? Houve. E as ideologias de hoje também não impuseram e não erraram?
Os católicos iam lá anunciar o Jesus do jeito deles e lá criavam escolas e cidades. Aconteceu no Brasil, onde milhares de obras sociais têm o sinal da cruz nas suas paredes, onde famosas universidades de hoje nasceram de escolas católicas de ontem e onde, primeiro, existiu uma capela no lugar em que hoje se erguem pujantes metrópoles.
É a essa Igreja que eu sirvo, com todos os limites de uma agremiação de pessoas. Estamos no mundo há seguramente 20 séculos, ou, como querem alguns, há 17 séculos desde que nos chamamos católicos, o que é mais tempo do que tem a maioria dos países e continentes de hoje, mais do que a maioria das igrejas e mais do que a maioria dos partidos e instituições de agora. Se duramos tanto tempo é porque soubemos durar e não faltou a graça de Deus que, cheio de misericórdia, viu nossos pecadores, mas viu também os nossos santos e mártires. 
Não tenho porque me achar mais do que os outros por ser católico, mas também não tenho porque pedir desculpas por servir uma Igreja que modificou a história do mundo. Não devo encurralar ninguém com meus argumentos, mas também não tenho porque deixar me encurralar por este ou aquele autor que nos diminui. Mostro a quem me fala deles e de suas denúncias, centenas de outros que nos respeitam e admiram. Além disso, historiadores são humanos: há os que só destacam o lado bom e os que só acentuam o lado ruim. E há os honestos que mostram o poder, a glória e as derrotas. Fico com estes. Faço o mesmo diante dos pregadores de religião. Suas religiões e igrejas têm méritos e pecados, também a nossa. Respeito-os e espero ser respeitado.
Aos meus amigos que me questionavam em uma tarde fria de fogo a crepitar na lareira, disse mais: não escolhi ser sacerdote e aceitar que me chamem de reverendo e de padre apenas pelas honrarias e medalhas. Eu sabia que seria questionado porque teria de ensinar a doutrina da Igreja, que é muito mais do que confeitos, pudins e chantilis. Ela mexe com relacionamentos humanos e macropolíticas. Eu teria de anunciar e denunciar. Sabia disso há cinquenta anos e sei agora. Se aceitei, foi porque achei que a isso Deus me chamava.
Continuo não me achando melhor do que os outros, mas não silenciei nem escolhi o conforto da palavra que agrada. Abracei um caminho que às vezes fere primeiro o pregador. Sirvo a Deus, assim penso eu, numa Igreja rica de história e de martírios. Os pecados? Sou leitor de História. Sei o que houve com outras religiões, com as esquerdas e direitas e outras ideologias. Não fujo ao debate. Espero que eles também não fujam! Não se descartam 20 séculos com algumas frases feitas. Nem do nosso lado nem do lado deles!
Pe. Zezinho, SCJ - (Revista Rainha dos Apóstolos – Julho/2010)

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