sexta-feira, 28 de setembro de 2012
GORE VIDAL, POLÊMICO ATÉ O FIM
Por
Luiz Antonio Domingues
Gore
Vidal partiu no último dia 31 de julho de 2012, deixando um legado e tanto no
campo da literatura. Seus romances, ensaios, peças de teatro e roteiros para o
cinema, tiveram significante importância para a cultura norte-americana, sem
dúvida, mas foi como ativista político de língua muito afiada que ele incomodou
para valer. Para início de conversa, desconfiava da democracia e sobretudo do
sistema eleitoral que teoricamente a sustenta e justifica. Uma vez disse : “Parece
que um país democrático é um lugar onde são realizadas muitas eleições, a um
custo alto, sem discutir questões substantivas e com candidatos
intercambiáveis". E indo além : “De quatro em quatro anos, a metade
ingênua da população que vota é incentivada a acreditar que, se pudermos eleger
alguém simpático, tudo ficará bem. Mas não ficará" (alguma semelhança com
o nosso Brasil-sil-sil?). Candidatou-se contudo, duas vezes, em 1960
concorrendo como Deputado Federal pelo Estado de Nova York e em1982, ao Senado
pela Califórnia. Perdeu em ambas, mas ainda assim, sendo o candidato democrata
mais votado. Sobre George W. Bush, a quem naturalmente detestava, fez duras
críticas à época dos ataques de 11 de setembro. Um artigo seu no jornal
britânico, "The Independent", gerou enorme polêmica, pois Vidal
afirmou com todas as letras que Bush sabia dos ataques antecipadamente e
traçando um paralelo com Roosevelt,que supostamente também sabia de antemão que
os japoneses atacariam Pearl Harbour em 1941. E claro, que ambos tiveram
vantagem política em cima da vitimização e comoção pública em torno dessas
ocorrências. Alfinetando como sempre, disse uma vez que: "A América fora
inventada por homens inteligentes que nunca mais foram vistos depois de
Kennedy..." Tinha seus desafetos também no mundo literário. Brigava
constantemente com Truman Capote, que supostamente provocou-o primeiro ao
declarar que Vidal tinha sido expulso da Casa Branca por estar embriagado e ter
insultado a mãe de Jackie Kennedy. Retrucando, Vidal disse : “Capote elevou a
mentira à condição de arte, uma arte menor..." Suas brigas acabaram no
tribunal onde chegaram a se agredir e após muita discussão de advogados,
fecharam acordo de não agressão. Contudo, quando Capote faleceu, Vidal
ironizou, dizendo: "Uma boa iniciativa profissional..." Com Norman
Mailer, foi ainda pior, pois trocaram socos numa festa. A reação de Vidal foi
dizer que "faltavam palavras a Mailer..." É histórica também a
cabeçada que Mailer desferiu em Vidal nos bastidores de um programa de TV onde
se encontraram. Será que foi daí que Zinedine Zidane tirou a ideia? E o motivo
da cabeçada teria sido o fato de Vidal ter comparado Mailer a Charles Manson!!!
Sobre Jack Kerouac, foi cáustico ao afirmar: "Isso não é escrever, é
datilografar..." Convidado a contribuir na roteirização do filme épico
"Ben Hur", teria declarado que insinuou nas entrelinhas que os
personagens Ben Hur e Messala tinham tido uma relação homossexual no passado, o
que justificava a animosidade entre os personagens, culminando na famosa cena
de luta em bigas. O ator Charlton Heston que interpretou Ben Hur, negou
veementemente que tenha construído seu personagem baseado nessa premissa. Suas
brigas com jornalistas também entraram para a história. Com William F. Bucley,
o embate pegou fogo quando este o chamou de "veado" ao vivo na TV ,
com Vidal retrucando que Bucley era um "criptonazista". Com o
bate-boca esquentando, chamaram os comerciais... O crítico Harold Bloom certa
vez declarou: "A imaginação de Vidal sobre a política americana é tão
poderosa que produz reverência...” Viveu mais calmo na Itália, por muitos anos,
onde foi amigo pessoal do filósofo Ítalo Calvino e Federico Fellini (Vidal fez
uma ponta como figurante no filme "Roma") e gerou polêmica só quando
mandou retirar seu nome como roteirista dos créditos do filme
"Calígula", quando percebeu que o polêmico diretor Tinto Brass, com a
concordância do ator britânico Malcolm McDowell, tencionava inserir cenas de
sexo explícito na edição final. E assim foi embora Gore Vidal, reconhecidamente
um bom escritor, mas que notabilizou-se muito mais por suas provocações
incisivas.
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