sábado, 15 de setembro de 2012
PAPEL
Por Júlio Teixeira de Lima – Cavaleiro Solitário
Quando olho no espelho, envelheci. Tenho como certo que envelheci. Mas por dentro, não obstante a marca no rosto, até me acrianço; infantilizo-me e choro de ternura as coisas que os adultos desprezam. Também admiro cenas da natureza, que os adultos detestam, e rio-me muito quando alguém lê alguma coisa minha e não se dá conta da presença do encoberto, ao longo das páginas escritas. Rio-me por um motivo e lamento por outro: rio-me por ser invisível a minha escrita, e lamento por não encontrar alguém que me tendo lido, perguntasse: - “quem é aquele oculto ser que ora paira, ora se esconde e meio sem ser nada está lá em silencio, mas eloquentemente fala muito alto?”. E anseio muito isto, por duas razões: primeiramente porque tenha alguém lido meus escritos; e depois porque entendera o sentido metafísico daquilo que dissera o encoberto, e que até eu próprio às vezes o ignoro. Ainda que ao que tenha dito o dissesse com absoluta clareza, e não importa quem o dissera, pois até eu próprio, através do outro meu eu desconhecido e encoberto, que nem sei bem se existe, mas concretamente fala em meus textos! É fato que está mesmo lá, mas eu não tenho consciência nem domínio sobre ele e sequer o conheço! Atrevido, de repente transcende minha linha de criação, surge diáfano com atitudes desafiadoras independentes, e às vezes meio ator rebelde, mas sempre cínico e crítico... Só isto é possível descrever do encoberto, uma das várias personagens meio ocultas e meio mágicas que permeiam irreverentes o meu discurso. Mas não é nenhum deles um ser inteiro; isso não é. Facetado impressiona a sua integridade essencial aparente, mesmo sem ter qualquer forma que o identifique. Oculto e sem deveras criar, de fato se auto gera momentaneamente. E não seria possível dar outra pista a quem o quisesse descobrir, caso me lendo ele viesse a ser totalmente revelado, no caso de ser encontrado. Até eu gostaria de revelá-lo, mas deixaria de ser o encoberto e as palavras na sua língua seriam as palavras como outras quaisquer. Melhor então deixá-lo onde está que aí até se pode dizer que ele é marginal e responsável pelo desvio da linha de raciocínio lógico, impondo-me uma guinada radical que me leva para outras zonas de pensamento, alheio à minha vontade. E é assim que me faz dizer coisas que não pensei, adquire vida própria com uma tão forte marca, que é possível distinguir-lhe algo como cor, e uma ideia de um nome. Este ente, para diferenciá-lo de outros eus em mim, possui a síntese de todos e às vezes confunde-se comigo; e até atrevidamente assume meu lugar. Mas como é mascarado e de difícil identificação, torna-se mágico, metafísico, encoberto. Mas certamente, por estar numa zona de boa fluência e fluidez, é de natureza andrógino: guerreiro enquanto espadachim das palavras, e mãe enquanto língua falada. Porém de tão oculto inspirou o tempo, que hoje se fez encoberto. Nesta região geográfica da linha do Equador o tempo escuro é magnífico, porque o sol poderosamente é aqui feroz. E para terminar esta prosa, digo ter sido translada pela via escrita ao papel, consagrando a este artífice todas as homenagens pelo precioso papel que prestara enquanto secretário. E enquanto vegetal transformado se empresta honrosamente e serve à língua.
acrescentei imagem da Internet-PVeiga.
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